Em Forma De Asa (Florações Do Ócio)
Laerte Antônio
Escrevivi meu penúltimo ciberlivro (sempre o penúltimo) com a alma prenhe de vida: transmutação do ócio em sinergia com intenções de dar flores e frutos a pedido de um sonho em mim — poder colorir noites brancas ou enfadonhas tardes lendo-o de qualquer ponto: do meio para o começo ou fim, de qualquer ponto para quaisquer outros, contanto que tivesse um sentido — isoladamente-e-em-conjunto- -em-conjunto-e-isoladamente: tudo soltamente preso por um nexo interior tão necessariamente ontoconsciente que nem se percebesse isso, nem se visse ou notasse tal como a longe flor que se abre sozinha no cerrado e só a brisa a embala e o hialino orvalho a visita fazendo-a coabitar com o brilho ébrio dos astros — e assim pudesse ler o meu livro, pudesse lê-lo inacabavelmente, inesgotavelmente — até que me inteirasse de que isso nada com isso tudo é um livro que sabe rir — sim, sabe não ter fim nem ter começo ou meio, porque é um todo dentro de um tempo que sabe brotar do atempo e apenas ter saudade do futuro, já que a realidade não é mais do que a nossa incapacidade de poder suportar o sonho. LA 21/02/0010
Necessidade urgente de florir no íntimo do ser humano — emprenhar-se de vida e parir-se em deslumbres que vão da larva às asas de brisa feitas do brilho das estrelas e dos sonhos maduros do mistério. LA 12/008
Viajar, viajar! já que tudo é uma viagem dentro de outras viagens. Na mão o caderno e o lápis para o diário de bordo. LA 12/008
Em pleno viajar, em pleno viajar por terra, mar e ar e lá por dentro em nós em pleno viajar LA 12/008
Se fores até ali adiante, percebes nosso escopo e talvez goste da caminhada e a empreenda por alguns passos LA 12/008
Se alguém faz arte, faz para saber de si — conhecer-se, organizar-se e transcender-se. O autor é o primeiro e mais assíduo leitor de qualquer obra. O primeiro que se beneficia do sonho tornado em coisa, gestado pelo sopro, irmão daquele que lhe insuflaram. A arte está para a vida como o tempo para o ser. A empatia é o espelho que faz o outro se ver e saber que também sabe, senão fazê-la, crescer com ela. LA 12/008
Entre tu e mim, o poeta é intérprete. Para contar — finge-se eu porque encarna o outro, finge-se o outro para esconder a si — apenas um intérprete da realidade. Sim, o seu gozo é contar para conhecer a si e ao outro enquanto volta sem pressa para Ítaca, onde o espera o sonho ressonhado. LA 12/008
Zaidi, Zaidi, seus sapatos voaram em direção ao nosso desabafo — desabafo antológico coroando este final de ano. Zaidi, Zaidi, você lembrou Davi — Davi versus Golias. As suas sapatadas, ó ex-obscuro, carreguem meu chulé de aprovação, como também o daqueles (mais de mil advogados!) que presto se ofereceram para — gratuitamente — o defender. Zaidi, Zaidi, seus sapatos voaram em direção ao dono dessa guerra — em pouquíssimos segundos tornaram-se sapatos de renome. Lançada está a marca: Sapatos Zaidi, os que fazem para ti o que não terias coragem de fazer. LA 12/008
Mais Uma Vez...
Mais uma vez dezembro. Mês das compras compulsórias que chamam de Natal. Natal que tem mudado e nos tem encontrado outros — nem melhores nem piores: outros. Apenas outros, seu Dom Casmurro. E o resto é como o resto que ainda não era resto mas que agora nos resta. E como somos muitos mais, compramos mais. Só isso. E isso é muito bom, dizem os sábios. Comprar-vender-comprar é tudo o que sabemos — e o quanto importa. Assim o mundo se mantém em órbita e fica tudo joia. E quem faz joia se chama ourives. E não te prives do brilho de as comprar. Pois isso é bom, bom e catártico, dizem os sábios, vender-comprar. Felizes compras! (Só não nos esqueçamos de dar alguns centavos para a comida dos pobres. Assim todos parecemos nos preocupar uns com os outros e a nossa consciência não fica rindo de nós enquanto nos esbaldamos ao lado dos miseráveis.) Mais uma vez Natal. Felizes compras! LA 12/008
Senhores viajantes, se preparem para mais uma órbita. Sim, vamos para mais um ano. Todos querem um ano melhor, sob todos os aspectos: melhor. Sim, todos se preocupam por um ano melhor, mas é raro, raríssimo ver alguém preocupado em ser melhor. Pois é. Hoje é dia de fazer tremer o orbe com pólvora. Feliz 2009, cambada! Com muito amor no bolso e, nas mãos, muito dinheiro, muito dinheiro pra conservar tanto amor. LA 01/009
Não cante nem assovie ao lado do desgraçado. LA 01/009
André aconselhava aos sabichões: Antes de se entregar à difícil tarefa de ajudar as pessoas a mudar, dê uma olhada nas três últimas semanas da sua vida. LA 01/009
Buracos. Sempre os eternos buracos. Em cima, embaixo, por fora e dentro: em nós, nas coisas, no mundo: só buracos. Negros, brancos, rosados, amarelos — obsessivos buracos. A vida? O universo? Só buracos mais buracos. Misteriosos, deliciosos, charmosos, perigosos, instigantes buracos. Buracos. LA 01/009
Agora, sim: com a secretária trilíngue sua empresa ia bem. LA 10/009
Se usas luvas para colher rosas, ainda não sabes dialogar com a vida. LA 01/009
Conserva os amigos amigos, e livra-te dos outros. LA 01/009
Laura, Laura, quando você me vinha, só de lhe pronunciar o nome minha língua lambia mel no céu, no céu da boca. Laura, Laura, tobogã de venturas entre colinas e colunas. LA 01/009
Há um descompasso desproporcional no uso de nossa boca e ouvidos. LA 01/009
Uma tardinha Dorothy me liga: “Por que você não vem? Esta chuvinha... este frio gostoso... a noite vai estar boa, deliciosa pra não dormir.” Lembro-me bem que mal acabou de pronunciar a última palavra eu já estava lá. E foi amor, vinho e chuva até sábado virar domingo e domingo segunda-feira. LA 01/009
A vida é uma luta desigual num brigar pra não morrer, num teimoso sobreviver. LA 01/009
Sim, a vida é esse delicioso comerem-se uns aos outros. LA 01/009
A única esperança da vida seria o homem ser humano. LA 01/009
Entre pães e brioches, ó manhosa Antonieta, conserva o riso, os broches e a tua... LA 01/009
Devagar, minha nega, devagar, assim a gente chega descansado. LA 01/009
André? Comia com pena e tudo e ainda mostrava os ossos. LA 01/009
Antes uma no dedo que mil delas causando sobressaltos musicados por belos saltos. LA 01/009
O Maneco? Sempre nos ombros do muro. Nunca foi disto nem daquilo, mas aprecia jogar tijolos na cabeça dos que estão tanto de um lado como de outro. LA 01/009
Tudo o que não entendemos é o que mais nos atrai. Ainda bem, pior se fosse o contrário. LA 01/009
Um tiro pela culatra. Marginalizaram tanto o professor, que a educação ficou doente de cama. Os professores (do fundamental e médio) eram tratados (filosófica, psicológica, política e socialmente com a astúcia de quem implanta as ruínas de uma profecia autorrealizadora) — eram tratados como incompetentes por finórios treinados para isso — para fazê-los se crer merecedores de salários aviltantes e se tornarem babás da sociedade, com muita gente doente, arrogante e induzida: usada (entre tantas coisas) para descer-lhes o pau, fazer-lhes sentirem-se indignos e pô-los contra a parede — chamar-lhes de caretinhas despreparados, malformados, matadores de aula... E assim foi, assim se cumpriu, a profecia se autorrealizou: cumpriu-se o talante e a vontade dos manipuladores do sistema, cujos mandantes eram (naqueles dias e em sua maioria) homens e mulheres ali chegados pela política, por conchavos, influências e interesses puramente egóticos — carreiristas-carreiristas-carreiristas vigilantemente militantes. Tais indivíduos, os gulatras, tornavam (tornam) a escola o que Foucault já havia dito sobre as Instituições Totais (a escola, o hospital, o presídio... lembra?). Dá só uma olhada: a nossa educação no mundo está lá atrás, bem lá atrás, atrás, atrás, atrás, atrás, atrás, atr... at... a...
Pois é, seus finórios, a sua profecia autorrealizadora tem se cumprido. LA 01/009
Professores, a sua profissão não é um ‘sacerdócio’, é trabalho árduo e difícil, trabalho muito duro — precisa ser bem pago, sem piadas psicológicas, sem promessas amanhecidas nem chantagens — precisa ser bem pago. Sim: requer cabeça-equilíbrio-e-fôlego — conhecimento-atualização sem fim. Professores, o seu trabalho precisa ser bem pago. Bem pago e reconhecido. LA 01/009
O entendimento de lado das coisas é o que chamo de intuição — sabedoria íntima: uma espécie de ponte magnética com outros degraus da Vida. LA 01/009
Foi Beber A Ternura...
Foi beber a ternura dos teus olhos e já meu coração trançou as pernas — subiu aos céus e cavalgou escolhos, cantou, dançou nas praças e tabernas.
Foi príncipe e bufão entre os refolhos do teu corpo por horas mais que eternas em que o tempo mugia a comer molhos de feno em tuas mãos cruéis e ternas.
E declamou às pedras e aos espinhos poemas que desfiava de si mesmo e sabia voar com os passarinhos...
E se pintou de branco e carmesim, dançou como tiziu lá no seu esmo... E fez rir muito mais que um arlequim. LA 01/009
A Loucura Dos Sãos...
A loucura dos sãos é preocupante, muito mais que a dos loucos de verdade, já que aquela ainda traz o tal desplante de ter o charme da genialidade.
Aquela é muito mais contagiante e buscada por toda a humanidade — a arte, o crime, o belo, o hilariante: tudo o que nos agrade ou desagrade.
Aquela tem um dom mais que instigante — o salto para mais: mais claridade que dê sentido ao nosso escuro instante.
A loucura dos sãos é a realidade sobreposta ao real... e desgastante — algo como a mentira da verdade. LA 01/009
Quantas vezes naufraguei tentando cruzar o cabo de sonhar-te Só me restava um pedaço de madeira que me levava até a praia onde não estavas E assim fui destruindo as minhas naus na tentativa de dobrar o cabo de sonhar-te Foi então que me lembrei de trocar o nome de Cabo Do Amor Perdido para Cabo Do Amor Encontrado E na próxima vez que naufraguei mandaste-me tuas sereias e ninfas levarem-me a nado para o teu castelo em cuja cama da princesa, a tua, me adulavam até a hora da sesta E me vinhas generosa e feliz da vida com uma bela corbelha de cheirosas jabuticabas, jabuticabas de uma pele negra, lustrosa e fina que eu ia degustando grato e eternamente devagar LA 01/009
A convicção é como a fé — antevisão. LA 01/009
Magia é o Demiurgo dar corpo de realidade ao sonho que Ele vê lá em nosso íntimo depositado em Suas mãos — nossa vontade-ousar inseminados em Seu querer. Assim é que nascem as belas obras. LA 01/009
Negar a existência de Deus é negar a si mesmo três vezes. LA 01/009
Aprendamos uns com os outros sem fazer de ninguém nosso modelo. Contenhamos sempre a tempo a tentação de ensinar. Não nos levemos tão a sério, até porque é dentre o humor e o riso que podemos extrair a seriedade que acrescenta. LA 01/009
Empreguemos bem nosso riso. Vamos precisar muito dele, inclusive em nossa própria terapia. LA 01/009
Eta vidinha jurássica! Sempre entre o rastejo e o voo. LA 01/009
— Eta-pau! Mas é boa demais! Boa demais, eta-ferro! — Quem é que é boa aí, Leônidas?! Era a mulher do Meia-efe, um cara desse tamanhinho, que sai da roda de amigos e explica: É a goiaba, Zulmira, a goiaba que Zé Pedro me deu e acabei dinguli. — Ah, bão, Leo, ah, bão! Agora vem lavá a ropa e arrumá a cuzinha! LA 01/009
Domingo, depois das duas, o amor pratica jiu-jítsu até a tarde fazer beicinho. LA 01/009
Marli? Um pêssego entre róseo e amarelo — com aquela pilosidade... quase invisível a olho nu. LA 01/009
Os que se têm por chiques, vão se decepcionar. E a maior decepção é aquela que se tem em relação a si próprio. Sim, este será o galardão dos mamíferos de luxo — verem-se nos primeiros degrauzinhos. LA 01/009
O coração humano é belamente enganoso como um shopping esplêndido. Sonhos gerando sonhos sonhando ressonhados acasalando-se em transonhos — belos, sempre belos, maravilhosamente belos, tão belos quanto falsos. LA 01/009
Se o cara diz que vai subir pra cima, temos um pleonasmo. Se diz que vai subir pra baixo, temos um patonasmo, isto é, um caso patológico ou de quem esteja vendo as coisas por um sistema de sifão romano. LA 01/009
Por vezes falar bobagem arranca-nos do fluxo de pensamentos maus. Por isso é que São Pelustro vezenquando dizia: Cará!.. Cará!!... Cará!!!... em meio aos muitos discípulos que pela entonação e seu cenho muito franzido percebiam não se tratar de um mero e simples legume. LA 01/009
A Todos Os Bípedes Implumes
Bombas contendo urânio, fósforo branco e outros pistaches que nem sabemos — sejam proibidas! Não porque sejam incômodas às pessoas, mas por fazerem mal à natureza. As pessoas desaparecem e o mundo nem nota (não é mesmo?), mas a natureza fica a nos dar o troco, não é mesmo? Por isso apelamos ao eu-logístico das pessoas: Nada de danificar nosso Ninho voador, sim? Nada de danificar nosso Ecos enquanto se deliciam em se matar uns aos outros, sim? LA 01/009
Aprendi que os homens não acreditam que o que eles plantam isto mesmo têm de comer e deglutir — metabolizar em corpo e inconsciência. LA 01/009
Se você não dá linha ao amor, ele não sobe, não voa, não bebe o vinho azul na taça de fogo das manhãs, não explode em vida em si mesmo, não respira o que quer — e morre. E você fica sem o que jamais teve. Por outra, se você lhe dá a linha de um coração confiante, o amor então sobe e voa e bebe os delírios azuis no cristal incendiado do ouro em chamas que já lhe queima a linha... e veja: agora é alma de vento leve solto livre em sobe-e-desce longe, sempre mais longe entre desejos que tentam alcançá-lo e uma ágil mão que há de querer ligá-lo a uma linha e tê-lo para ela-dela tal como você tentou fazer. LA 01/009
Por estreitos sempre dantes, rosas semidesfolhadas, amoras já sugadas — que fazer, senão buscar por um não-saber zen? Fingir-me barco por tais estreitos, brisa e vento por tais rosas e pássaro de amoras passas? Em minha ex-adolescência, que pedaço de mar já não foi singrado? Que pétala restou intata? Que amora não foi bicada? Que fazer senão recompor pelo sonho o que me foi roubado? E dar graças à vida por saborear o já saboreado, isto é, o que me foi deixado? Por mar, rosas e amoras sempre dantes, eis-me novo Ulisses empreendendo o nostos para a sua Ítaca. LA 01/009
De Musa Para Amante...
De musa para amante, minha Nina, é o que vai da garrafa para o vinho. Uma é o brilho da taça cristalina, a outra é o vinho e a ressaca, com carinho.
Uma é o sonho na concha nacarina contado pela voz azul-marinho... A outra é tango dançado na Argentina e o fim de festa: a luz e seu espinho.
Uma é brisa acenando em cada palma — delícias de não ser... chiliques d’alma, fogo da arte, dom do imaginar...
A outra, o sonho feito realidade com o vivê-lo farto e com vontade e já: velhas cobranças a chegar.
LA 01/009
Se ela chegou e lhe disse que tem outro, você já sabia que chegaria esse dia — sabia de soslaio, ou bem de frente, de frente lá no fundo de você — bem de frente: sem mais nem de repente. E agora? Agora é chorar e cantar como puder — chorar porque perder um afeto dói. Cantar porque o canto é a força dos que sofrem. Não fomos ensinados a perder, por isso os olhos vazios fazem-nos doer em alma-coração — doer até termos vergonha de nós, muita vergonha por não concordar com a vida que viver é um perder-ganhar, um ganhar-perder — assombrações de um ontem e de um amanhã que teimamos em não trocar pelo hoje-agora da existência com medo talvez de não caber no hoje o que chamamos de felicidade. Se ela se foi (ou ele), o próximo alguém será no mínimo bem mais interessante — pelo fato de vocês ainda não se conhecerem e portanto serem um sonho bem bonito e louco, louquinho por viver. Agora é tudo mais belo, porque sonho-fé no anjo que moverá as águas do tanque de Siloé. O homem sonha, Deus escreve a peça, a vida representa. Saber ousar não se ensina — aprende-se quebrando a cara. LA 02/009
As pedras têm a cabeça dura, mas algumas são bonitas. LA 02/009
O apaixonado André um dia deu à sua então Marilda um anelzinho gracioso com uma pedra verde, não bem da cor dos olhos de Esmeralda (que eram castanhos e espertos) com quem quase se casou não tivesse conhecido Marta que depois de sete meses lhe apresentou Marli de cuja irmã (depois de um ano) se apaixonou eternamente até lhe ver a prima Maria (depois de um ano e meio) com quem vidradamente namorou e como um doido amou amou amou... Até que o noivo dela, o Bob, (depois de um ano e três meses) veio lá dos States e casou (cartório e igreja) e foram para o Texas onde ele tinha uma fazenda chique só de touros reprodutores. Nesse meio tempo, veio vizinhar com ele (com nosso André) Horácio, seu primo irmão do peito (gente de casa), recém-chegado da Espanha e casado com uma andaluza bem mais velha que ele — um tipo tórrido, mulher esguia cujas sandálias lhe cantavam sob as pernas dançarinas a lhe ondular as saias de granada... ..................................................................
Só um momento, por favor, já volto — estão batendo lá fora e chamando por mim. LA 02/009
Faça a sua poesia, a sua. Examine tudo o que se fez e não se fez sobre Ela — e faça a sua. O poeta precisa ser-se. Escreva principalmente para você — pra dilatar os odres da consciência: atilar a aparelhagem de ser-navegador no multiverso cósmico da vida. LA 01/009
Os homens, inteligentes ou imbecis, adoram ensinar — principalmente o que não sabem. É que quem ensina, ensina sobretudo o que gostaria de saber. LA 01/009
Sabe o que é duro? A ternura das pedras que se fingem de coração. LA 02/009
Não vai me dar um beijo, nem nada ou coisa alguma de alguma coisa?! Se eu tivesse um durômetro, mediria seu coração. LA 02/009
Se deixas o amigo entrar, vais ter problema. Quem te disse que os amigos são para se levar pra casa?! LA 01/009
Quem ousa leva o passo para outro degrau, ou para uma base ao lado e, natural, perca o equilíbrio (por décimos de segundo) ao mudar o seu passo para o insólito... Quem ousa quer-se outro num sonho-mais. Sem ousar não se cresce, não se transcende a si e ao mundo. Mas nem por isso ousar é aventurar-se. Sempre que se ousa põe-se em perigo a si e a outros. O ousar não deve ter excessos — não deve ser demais afoito nem covarde. É um verbo sem imperativo. Mandar alguém ousar é o maior descaramento, a não ser que se pudesse oferecer a própria cara por parachoque. Cada um deve saber a hora, onde e o porquê de ousar. LA 01/009
Águias De Plástico
Na Europa explode a empáfia. Lê-se nas laterais dos ônibus da Espanha: “Provavelmente, Deus não existe. Viva e goze a vida.” Tal onda ateísta-hedonista não dimana de uma ou outra mente solitária, mas de associações de ateus, de grêmios publicitários de ressentidos e frustrados numa investida contra o divino. Não fosse hilário, seria trágico: tragicamente imbecil. Sem o sentimento do Sagrado, certos departamentos da consciência ficam como que fechados, “desabitados” — o ser como um todo se prejudica: não dispõe daquele vinho que lhe dilata os odres do entendimento: a rosa mística é pisada, o mistério é debochado e o intercâmbio entre humano e Verbo não se dá — não há como ser visitado pela Sabedoria ou pelo Espírito de Deus. ..................................................................... Na literatura de hoje (e de há pouco) uma meninada de cabeça branca e cara morta de tédio também brincam de odiar a Deus — reafirmam a cada dez linhas (em balbucios manhosos) a absoluta Falta de Sentido: aquele absurdismo de Camus, que só via uma saída para o homem — jogar-se pela janela. A vida? Um amontoado de protoplasma sem nexo, sentido ou finalidade. Isto, desde eméritos de universidades a pobres diabos com tiques e chiliques de fazedores de arte (alguns com pleno domínio da técnica que exercem: por isso aliciadores, galãs da mídia). Vivem em feudos e clãs, encastelados em instituições — uma espécie de sociedade secreta, podre de narcisismo: algo assim... como Sociedade dos Vates Vivos (parodiando aquele belo filme). Os que não vão pelos seus passos não serão reconhecidos. Cegos de ressentimentos guiando cegos de ressentimentos. Lembram aqueles fariseus — “... não entram nem deixam entrar.” Claro que tais bípedes sedutores têm o direito de balbopensar, isto é, de se julgarem livres pensadores (presos à gagueira do seu pensar: do seu balbopensar). O que não lhes dá (ou “daria”) o direito de vomitar em mananciais aonde vão se abeberar centenas de milhares de adolescentes e adultescentes — suas aliciadas crias, incautas presas. Empáfia, empáfia pífia e podre. Só têm a oferecer a sujeira que lhes engordura os sentidos que não veem senão falta de sentido com uma única saída — jogar-se pela janela. LA 02/009
Os momentos em forma de asa passam ruflando, ruflando em direção ao passado, a maioria, e uns poucos deles, bem poucos, ousando tecer seus ninhos nos beirais do futuro que tem como fundo uma bela canção... ouvida gostosamente em alma... canção apenas ouvida pela intuição. LA 01/009
As tempestades nos fortalecem. O que não pode nos matar nos retempera — está certo o bigode do filósofo. Os enganos nos dão astúcia e as mentiras nos incitam a buscar a verdade. A traição nos leva a procurar pessoas dignas. A fraqueza nos ensina a ousar com prudência — e assim nos superamos: não para a vingança, mas para a miseridórdia. LA 02/009
Não gostamos da realidade, preferimo-la superada — sonhada maior e melhor: moldada pela cultura e remoldada pelo transcender-se da arte. A realidade é banal, preferimos o irreal imaginativo — o insólito ressonhado de um pensamento a ultrapassar-se. O real é o pó, o irreal é o fluido — ambos dão nova e versátil argamassa: uma transrealidade a transmudar-se no âmago da mente. LA 02/009
Trabalhemos, Construamos...
Trabalhemos, construamos nossa choça, que além de nosso mundo é bem-estar. O mais seja o que a vida nos esboça — ensinemos as dores a cantar.
E cocemos os mimos, nina-moça, que amanhã não se tem o que coçar. A gente frua tudo quanto possa enquanto muda a vida, o chão e o ar.
Amigos? Sim: só os que são amigos. Assim, bem menos riscos e perigos. Longe dos santos quanto dos ateus.
Aprendamos a dar longas risadas, e ponhamos a vida e outras nonadas no lugar certo, isto é, na mão de Deus. LA 02/009
Relacionar-se a dois é tão difícil, que faz por merecer aquele prêmio chamado sexo. LA 02/009
Há pedras que fingem pulsar. LA 02/009
As amizades quanto mais estreitas mais tendem a acabar. É que para continuar crescendo cada um tem de tomar seu singular caminho interior. LA 02/009
Sim, a amizade acaba quando se torna biodesagradável. LA 02/009
A beleza de tudo ter um fim está no próprio fato de tudo ter um fim. LA 02/009
O efêmero nos seduz porque o temos como prazer que sabemos estar por acabar. LA 02/009
Entre a rosa e os espinhos nossas mãos se deliciam em ir colhendo a vida. LA 02/009
Passamos para as rosas a beleza do nosso medo de morrer. 02/009
Entre o amor, a rosa e nosso medo a vida passa cantando, ora de dor, ora de contentamento. A vida canta porque sabe que a morte será vencida pelo amor. LA 02/009
Entre porcos e diamantes existe sempre algo que encobre e dá liga: a lama. LA 02/009
Uma pessoa é sempre muito diferente de outra, ainda bem! Somos iguais apenas nas desigualdades. LA 02/009
A vida não é um jogo. Não é acasos acasalando acasos, mas um processo de auto-e-panconsciência. LA 02/009
Entre os homens estão degraus, principalmente degraus interiores. LA 02/009
Há momentos em que só nos resta exercermos o direito de ser idiotas. Quando chegar tal hora, não tenhamos escrúpulos — sejamos requintados idiotas. LA 02/009
No jogo há o jogo e dentro dele as jogadas — que decidem o jogo. A vida é o jogo, o viver, as jogadas. Jogadas? Jogadas e por jogar. LA 02/009
Cá entre nós: que se vão os anéis, que se vão os sapatos, o Rolex (falso) — mas nos restem as mumunhas, as manhas, os mimos da amada. LA 02/009
Coisas Da Vida
Lembro-me sempre (era menino de tudo): numa noite de chuva e muito vento, ele (o noivo) chegou bem mais tarde e esquisito, pela primeira vez eu o vi assim... Disse que precisava da presença de todos... e olhando para minha tia (ele numa cadeira, ela ao lado, no sofá), olhando para a minha tia, falou-lhe calmo, terrivelmente calmo: Eu sinto muito, fulana, eu sinto muito mas já não sinto nada por você... eu... Houve um silêncio interior geral gelado... Só minha avó fez uma frase interrogativa, num tom suave, manso, sem força nem esperança: Você precisou de oito anos, meu filho, para sentir que não sentia nada por minha filha?! Ele foi se esgueirando ensaboado com palavras flexíveis e gentis... Nunca mais o vimos. Minha tia casou-se logo, era moça bonita: um pedaço. Casou-se com o filho do seu Paulo, funcionário da Mogiana, bom vizinho, viúvo havia muito, havia sempre... Casou-se com seu filho mais velho, moço elegante, alegre, professor... e foram dar aulas os dois bem longe, longe, lindamente longe. Sim, lindamente longe. Quando chegavam as cartas bonitas de minha tia eu as saboreava como fossem barras de chocolate (e pedia fossem lidas outra e outra vez) — a distância misturada com as idéias que eu fazia ia dando às palavras aquele sabor mágico das lonjuras... LA 02/009
Marilda sabia temperar a carne. Sabia pô-la em marinada, deixá-la curar nos condimentos de finas especiarias a esticar a fome... Aí, quando o apetite queimava, ela levava o material ao fogo até a degustação, e satisfação total. LA 02/009
Por dúvida das vias, veja bem aonde põe os pés ou as rodas. LA 02/009
Se acreditas no te-amo-você-me-ama, já és um bípede semidepenado. Para amar amar amar... não precisas crer, só amar amar amar... LA 02/009
Crer, só em Deus? Depende do Deus. LA 02/009
Mas Deus não é um só? Um só entre muitos. LA 02/009
Quem é Deus? Se eu soubesse, já não seria eu, mas Ele. LA 02/009
Quem espera sempre se cansa. Quem não espera nem o cansaço alcança. LA 02/009
As guerras vêm e vão para não ser em vão guerrear. Já o amor vai e vem pra mostrar que seu bem é amar amar amar LA 01/009
Se o amor não vai bem das pernas, dá-lhe uma cadeira de rodas — das simples, tu o empurras; das motorizadas, ele te foge. Escolhe o que for melhor. LA 02/009
Os que se veem raramente têm a doce impressão de serem bons amigos. LA 02/009
Em termos de amizade, a distância mantém as coisas no lugar. LA 02/009
Uma saudade de Teresa tirando a roupa e olhando-se no espelho... Tirando a roupa bem devagarinho como se estivesse sozinha. Teresa sabia, ah, se sabia! LA 02/009
A beleza das coisas é dizermos que elas são belas até acreditarmos
no que outros acreditaram — como eles, que a vida vale as penas do seu voo. LA 02/009
Felizes dos que viram antes!... Não precisaram de um depois sem esperança. LA 02/009
Toda vez que não fomos felizes será que realmente desejávamos tê-lo sido? LA 02/009
Não ser feliz tem suas compensações — vive-se eternamente buscando sê-lo. E nesse buscar ousado pode-se até dizer que se é, que se é feliz ao menos em querer sê-lo. LA 03/009
Aos adversários se vence insuflando-lhes a dúvida sobre o que pensam de nós. LA 02/009
Uma visita tumultua as águas do nosso lago — física e metafisicamente. LA 02/009
Não ter conhecido muita gente não me fez falta — já que não as conheci. LA 02/009
Fale bem dos seus inimigos até levarem a seus ouvidos que você fala bem deles. Logo você verá que até eles precisam de cafuné. LA 02/009
Se não acredita na mentira dos outros, como é que arranjará amigos? LA 02/009
Se exiges que cada amigo o seja de verdade, que vais fazer com tanta? LA 02/009
As crianças adoram palhaços, amam os arlequins — gostam da vida como ela é. LA 02/009
Seriedade é bom. Quem gostaria de ver um coveiro feliz da vida? LA 02/009
Claro! Adequação, proporção, na hora certa, faz bem e conserva o emprego. LA 02/009
Esperar quem não vem põe espinhos na espera. Desejar ser amado é sentir um vazio com a saudade do que gostaria que tivesse sido. A fé de que isso é possível vai moldando no sonho as mãos do provável. Se a mente persiste a crisálida ganha asas. LA 02/009
Quem poderia garantir que o que sonhaste, e não foi, seria bom ou ruim, caso fosse? LA 02/009
Muitas vezes choramos o que pensamos ter perdido sem nunca tê-lo nosso. LA 02/009
Se pudéssemos nos desamarrar do passado ressentido, certamente daríamos rumo e alento às nossas possibilidades de hoje. LA 02/009
A indecisão não cria — amarra. Torna-se fé sem obras. LA 02/009
A mente canalizada para um propósito e fim faz toda a diferença. LA 02/009
O viver disciplinado lembra o discípulo-ourives a receber das mãos da vida o ouro do entendimento e a transformá-lo em raras joias. LA 02/009
Vida-vento-barco-vela, se navego, vou a ela, se fico, ela está comigo. LA 02/009
Em geral um comboio descarrila depois de ter forçado rodas, trilhos e estruturas por muitos anos e vezes. O maquinista atual tem tanta culpa quanto o primeiro. LA 02/009
As tais frases “bonitas” são as que dizem aquilo que queremos ouvir. LA 02/009
Meu pensamento é mais que barco, meu sentimento é mais que vela — não preciso de passagem cada vez que quero vê-la. LA 02/009
Se esperas só um pouco, nem precisas te matar. E enquanto esperas
inventa um pouco de alegria — e morre, sim, mas de prazer, morre de amor. LA 01/009
Melhor que uma mulher? Só nenhuma. Nenhuma em sua casa e muitas pela vida — todas loucas por repartirem-se, doarem-se copiosamente. LA 01/009
Os homens estão podres, mas as sementes se aproveitam. LA 02/009
Você mora aqui? Estou só de passagem. E mora onde? Estou só de passagem. LA 02/009
Todos querem o céu, mas não querem morrer. LA 02/009
Berlim. O filme “La Teta Asustada” leva o Urso de Ouro em festival. Mas não foi só o ouro (disse Marilda, fazendo assim... com as mãos) que La Teta levou... aliás, foi pelo que levou que lhe adveio o ouro. Aí o pai a interrompe: Conheces, Marilda, o mito andino sobre “o susto”? — Não, meu herói. — Então cuidado com as batatas! LA 01/009
Não estamos de passagem — estamos nos construindo. LA 02/009
Se a pedra que rolaste até o cimo da montanha caiu, deixa-a lá embaixo, que é lugar dela, e vira, vira logo a página, e já não estarás entre a montanha e o vale. LA 02/009
O estado místico é, para mim, esse sentir que Deus nos é, e poder vê-Lo e caminhar com Ele em nossas sensações — que é já estar em Casa: em Sua-nossa Casa. Sentir Sua presença, esse queimor no sangue, é desfrutar do gozo de ser: ser-Nele-por-Ele-com-Ele — viver no Seu amor e vê-Lo em nosso amá-Lo. LA 02/009
Sim, Deus é espírito e verdade e o nosso coração é o templo onde podemos adorá-Lo — sempre em espírito e verdade. De modo algum estamos sós em nossa caminhada — há sempre um caminho dentro do caminho: um caminhar por dentro, um caminho-caminhante. LA 02/009
Não é de hoje que metemos os pés num caminho que vai se transformando no que somos. LA 02/009
Fazemos sexo porque fazer sexo é bom, como foi bom para aqueles que nos presentearam seus genes. Para o homem, basta a mulher ser bonita. Para ela, também é isso com algo mais que lhe é ditado pelo prístino instinto de segurança. A arte é o velho modo, sempre em pauta, de encontrar reconhecimento e atrair o sexo oposto. Macho e fêmea se gratificam de modo bem diferente — para ele, o prêmio basta. Para ela, o prêmio deve ser suplementado por gestuais encomiásticos — flores, passeios, presentes, poesias e reafirmações do amor. E, claro, por mais outras coisas que a gente com o tempo adivinha ou não. LA 02/009
É nas crises que se conhece o potencial criativo dos Estados e dos seres humanos que os compõem. Se a crise é mundial, o emergente (que se preparou em silêncio) poderá surpreender. No que toca ao indivíduo, a crise serve de termômetro de sua força de vontade e de inventividade. LA 02/009
Os que se julgam sábios cometem um engano antigo: sabedoria não é brinquedo de tolos. LA 02/009
Os homens de boa vontade são os que constroem para a alegria e para a paz — os que buscam o que é bom para si sem prejudicar o outro. Amam a Deus, a si e ao outro. São mansos e altruístas — vivem e ajudam a viver. Leves, sabem e ensinam a canção que ajuda na travessia. LA 02/009
Sessenta anos após as bombas, e os “zoinhos” já refizeram tudo. Tudo de derrubar o queixo. Isso é que é dar a volta por cima! Não há como não lembrar aquela Fênix renascida das próprias cinzas. Se o amor humano fosse ao menos do tamanho de sua vontade ressentida, por certo a convivência humana teria hoje o mesmo brilho mágico dessas duas cidades japonesas. Beleza pura. Pena que o que um homem ergue, não demora, vem outro homem e derruba. Mas mesmo assim sempre vale a sua força de vontade (principalmente a ressentida). LA 02/009
Não, pão de pobre não cai com a manteiga para baixo — porque não tem manteiga. E sorte dele — essa musse amarela não é coisa saudável. LA 02/009
Quando ela via o vizinho, quase caía de susto. E foram sustos e mais sustos, até que um dia o marido não aguenta: Por que se assusta, Marilda, sempre que vê o Francisco?! — Eu!?... Nada não, meu bem, é que ele, ele me lembra meu finado avô... — Mas você não me disse... — Sim, ele morreu moço, só o vi em fotografias... Ele era, era de matar de amores, dizia minha avó. — Matava tanto, que morreu, Marilda? — Sim, benzinho: morreu baleado. Ah! Ele era irresistível, palavras de minha avó. LA 02/009
Ele vivia o que aprendeu a viver, embora os adversários lhe detestassem a vivência. LA02/009
A filosofia virou teologia, a dialética da fé — que se foi diluindo, diluindo até homeopatizar-se — pela manipulação. LA 02/009
Agostinho é tão platônico, que Platão diria que Agostinho teria sido seu melhor aluno e o encarregado de publicar (mais tarde) o resumo do que escreveu — transfusemas teofilosóficos. LA 02/009
A igreja nascente procura amamentar o Cristianismo despontante com a fé-ciência-razão buscada e parafraseada dentro da filosofia grega — tal filosofia, dialetizada e sincretizada, servirá de travamento (desde cedo e cada vez mais incrementado) da doutrina cristã. Suas vigas mestras lhe são colunas de um tempo virtual a preservar o seu núcleo (que ela-Igreja pretende intocável) enquanto fortalece as estruturas continentes com Aristóteles (readmitido) a partir do século 12 e de Platão desde sempre incorporado. A filosofia buscada nos pagãos criou estruturas e respostas para todo o seu corpo doutrinário. Agostinho, antes doidivanas, encontra sua fé (e se converte) num livro de filosofia (Hortensius) escrito por um tal Cícero... Sim, se converte, se refugia numa quinta ( escreve e estuda dia e noite), até que aos 33 anos se faz batizar por Ambrósio. Dali a poucos anos era ordenado padre, depois de mais um pouco era bispo de Hipona. E quando os vândalos fazem ruir o Império Romano, ele tem na mão sua pródiga pena donde saíra o melhor da Patrística e o mais sólido da Escolástica. Platão e Aristóteles são os pais ideológicos do ocidente e a carne da sopa do oriente. LA 02/009
O homem adora ensinar o que não sabe — é que vê lá consigo que precisa aprender. LA 03/009
O maior bem é termos por companheiro de viagem-aprendizagem e crescimento-entendimento o Espírito de Deus. LA 03/009
Os genocidas, os ditadores, os assassinos, os torturadores, os predadores do corpo e da alma têm uma terrível dívida com toda a Humanidade. LA 03/009
Se a água que tens na tua mente é sagrada, então entra no Ganges — serás curado. LA 03/009
Se lá na tua fé não há grilhões — então és livre. LA 03/009
Cala para o amigo e para o inimigo — não deixes que ninguém pise o território do teu coração. LA 03/009
Saber, ousar e calar formam um tripé antigo — desprezado pelos tolos. LA 03/009
Sim: há mais coisas entre o céu e a terra do que o próprio céu e a terra. LA 03/009
Lê tudo o que puderes, passa pelo crivo, pelo tamis do teu entendimento. Um multiler, panler — leituras, releituras, transleituras e vai agregando ao teu acervo: agregando e reciclando em remoalhos de remoalhos metabolicamente reprocessados pelo tempo e a memória — até que tudo, tudo vá se transformando na tua própria alma: teu ser em ser-se. LA 03/009
As pedras nos olham com uma cara de quem sabe mil e mil coisas mas que não adiantaria nos contar. LA 03/009
As pedras sabem que por dentro também somos de pedra. E nos saúdam sem que percebamos: Olá, irmãos do avesso, olá! LA 03/009
No fundo, no fundo sabemos que as pedras são menos duras que a dureza que lhes atribuímos. Aliás, não são bobas, sabem que a dureza que vemos nelas serve para nos justificarmos. LA 03/009
Excelência, também queremos Cartão Corporativo para a nossa tapioca, jantarezinhos românticos e (ninguém é de ferro) para as nossas esticadinhas até (agora o roteiro é este) os principados árabes. Dubai é mesmo divino, bem que Vossa Excelência nos falou. LA 03/009
Se der certo, está certo. Se der errado, está certo. Sim, as nossas incertezas são paridas de certezas que certamente pensamos estarem certas. Onde não cabe a dúvida também não cabe o certo. Onde não caberia o ódio não cabe o amor. A rosa sem espinho só é mais uma flor. LA 03/009
O vento abraçou tão forte o jasmineiro, que arrancou seus lencinhos perfumados e brancos e os levou a outras árvores mocinhas dizendo-lhes que os trouxera da primavera do outro lado do sonho. LA 03/009
Água de morro abaixo, fogo de morro acima... se a mulher quer viajar, seu moço, não a reprima. LA 03/009
Ah, que vontade, nega, de conjugar com você o verbo amar até bem madrugadinha! LA 03/009
Marilda? Matou um do coração e mais de cem do bolso. LA 03/009
Sim, vale bem mais que as penas quando quem dança é a mulata. LA 03/009
Castanha em chapa quente pede outras mãos que a tirem. LA 03/009
Entre as pedras não ficará uma erva que se preze. LA 03/009
As pernas de Marilda tanto que correram que chegaram bem antes do seu corpo e se atiraram nos braços do garotão ali na praia. Ele as deixou sobre a toalha sob o guardassol e foi surfar. Dali a muitas horas um turista cor de pimenta explica ao garotão: Olha, eu fiquei com a parte de cima e a dona mandou pegar o resto... Posso levar? — Claro! E leve-lhe isto, sim? Era algo enrolado numa toalha, duro como uma pedra e com a forma (tateável) trivial conhecida de todos. LA 03/009
Uma vagina inteligente conserva a casa, sim: toda a casa de pé. LA 03/009
Para podermos ver temos que subir nos ombros que se nos oferecem. LA 03/009
Gosto do penates e de suas penas. LA 03/009
Gosto de Rosa e de todas as suas pétalas. LA 03/009
Gosto do vinho e de suas risadas, belas nonadas. LA 03/009
Também acho mais bela a mulher do vizinho, mas só isso. LA 03/009
Se houvesse o nada ia ser bem melhor que tudo — exatamente por ser nada. LA 03/009
Você, Marilda, faz lembrar uma banana amarela e pintadinha no auge de ser comida. Mas sossegue — se a banana amanhã está passada, você só vai estar melhor. LA 03/009
Belas, gostosas praias! Delícias gaias sem blusas nem saias. LA 03/009
Que prenda, chê! Parece um pêssego do avesso. Com uma fruta dessa você tem sucos no verão e geléias no outono-inverno. LA 03/009
Em cena uma diva dessa, a gente não vê praia, não vê mar... A cabeça tilintada de coruscantes martelinhos — só pensa no verbo amar. LA 03/009
Modéstia à parte, todas as nossas praias são lindonas: risonhas faces fofozudas. LA 03/009
Saúde e felicidade demandam contínuo movimento — movimento por fora e por dentro, como uma viagem dentro de outra viagem. LA 03/009
Um pouco de felicidade é necessário e bom. Muita não: atrapalha — a busca é bem melhor que a coisa, posto que a coisa achada já não é que outra coisa de quando era sonhada — achar é vermos que não era senão enquanto achávamos que era. É entre buscar e achar que nós mudamos e, mudando, somos outros num mundo que também já é outro. LA 03/009
Nenhuma idade nem perspicácia ou saber algum nos basta para lidar com as mumunhas do amor. LA 03/009
O amor são nossos belos enganos, nossos chiliques e fricotes de mistura com os pistaches de nossos narcisismos e ridículos. Mas tudo isso é bom, sim, bom demais — e o quanto temos. LA 03/009
O arlequim e seus ridículos, o amor e suas maiêuticas. A tradução dos mistérios depende das hermenêuticas. Se Platão disse nonada, também disse o que santos foram buscar (noite cerrada) com a cara deslavada e tradução ajeitada. LA 03/009
Senhor Proust, modéstia à parte, também já vivi à sombra das raparigas em flor. LA 03/009
Laurinha era um bem-me-quer. Desfolhei-a, desfolhei-a toda — até encontrar a mulher. LA 03/009
O amor se foi? Pois dê graças a Deus. De que outra forma poderias arranjar outro e ver que este de agora é bem melhor? LA 03/009
Nosso mal é pensar que pensamos e não sabemos pensar nem as nossas feridas. LA 03/009
Mariana era bela como um poema zen — vaziamente bela. LA 0/009
Ela era crocante, crocante como um biscoito. Só que o marido preferia brioches... que nem aqueles de Maria Antonieta. Claro que lhe guilhotinaram o que um homem mais preza. LA 03/009
Um dia lhe disseram que ela havia recasado. Ele então se enforcou... e no outro dia contou o sonho ao analista que lhe responde: Não foi sonho não, André, eu e Marilda nos casamos. LA 03/009
Viva O Tempo!
Quando ela era moça voava por sobre cercas, grades e muros. André, o maridão, olhava o seu relógio de bolso... e sorria. E quantas vezes não afagou com os olhos e dedos seu precioso relógio de bolso e sorriu num silêncio dourado! Sim, quantas vezes. Até que um dia ela cessou seus vôos. O próprio telefone emudeceu, emudeceu, emudeceu até perder a voz de vez. Daí por diante sempre que o relógio da sala (era um belo casarão) dava as suas horas alegremente sonoras, ele tirava do bolso seu Ômega de ouro maciço e sorria com ele na concha da mão a ouvir-lhe o fino tinir entre rubis... Era um olhar luminoso e um sorriso transparente — pareciam amar e agradecer carinhosamente o tempo, o tempo que fazia tudo o mais ser esquecido com uma alegria que tilintava e dançava em sua mente como as peças em constante harmonia no universo confidente do amigo cúmplice e fiel — seu precioso relógio de bolso. E sempre que taças tiniam cristalinas num efusivo brinde ele pensava: Que viva o tempo e, dentro dele, a espera calculada. LA 03/009
Bons tempos aqueles. A filha da vizinha (todo domingo às quatro e meia) tomava banho com a mangueira no quintal — só de calcinha (que no meio do ritual ela abaixava para ensaboar...). Os meninos enfiávamos os olhos pelos desvãos do muro e viajávamos por montes e vales, por montes e vales, por montes... sempre com a mão muito ocupada. LA 03/009
O beijo de Rosinha tinha gosto de goiaba, sem as sementes, claro. LA 03/009
Osvaldinho era tão alto que era comum Laurinha namorar sentada no pilar do portãozinho. LA 03/009
O Largo da Boa Morte era enorme. O Alemão, filho do médico do Posto, tinha uma Baratinha pé de bode tão bonita que toda mocinha queria dar uma volta. De vez em quando ele dava uns trocados pro Juca, que era bom no estilingue, pra quebrar (antes do anoitecer) a lâmpada do poste em frente da casa da Rita. Aí os dois namoravam invisíveis dentro da Barata bordô, sempre impecavelmente brilhando, coruscando com as rodas de raias niqueladas e pneus faixa branca. LA 03/009
... e o pensamento passou, passou sozinho — sim, não pude alcançá-lo com outro e outro: perdi-o para sempre — não haverá o poema. Nunca mais pensarei outro tal como ele — viajando sozinho, desgarrado dos seus afins. LA 03/009
A melhor droga é vivermos sem ela. É sabermos inventar (ou provar) aquele gozo em buscar as delícias do intelecto — o sentimento-razão de passar pelos sentidos outras gamas de saboreá-los — a beleza de não se precisar mais que da graça de viver para crescer rumo a outros em nós e outros fora de nós — numa interdependência vital que galvaniza os homens e as coisas. LA 03/009
Não, senhor, Deus não morreu, foram os homens, muitos homens que morreram no que Ele lhes era. Sim, tais homens já não deixam que Deus os seja. O problema vai ser quando o homem já não tiver amigos, nem forças, nem ninguém a seu lado. Quem lhe há de ser o mestre e amigo naqueles dias em que já não sabe? Quem lhe irá falar no silêncio de sua alma? Em que braço vai segurar e que voz vai ouvir que lhe alegre e aqueça o coração naqueles dias frios e sozinhos? Finalmente, quem irá junto com ele naquela viagem em que os que nos amam não podem nos acompanhar? Não, não acreditem que Deuspai morreu — são os sonhos dos homens que já não sabem sonhá-Lo, por isso se esqueceram de que Ele os é à espera de que eles O sejam. LA 03/009
Ser homem é bem mais que ser macho — envolve mil e mil coisas mais, principalmente ser humano. O mesmo vale para a expressão ser mulher. LA 03/009
Escrevo para pôr ordem na casa — reorganizar-me, sim, colocar as coisas em seus muitos lugares. Muitos? Sim, sempre que mudamos, as coisas já demandam outros lugares lá em nós. Desconstrução-reconstrução — isto mesmo: renascemos de nossos próprios escombros: de nós outra vez caos a recriar nosso cosmos. Escrevo para saber o que não sei por fora de mim consciente — o inconsciente só sabe quando quebra a casca do sonho e sente o sopro da vida para então poder voar com as penas que a vida impinge depois de nos depenar. Escrevo para continuar vivendo — escrevivendo. LA 03/009
Quando o bilionário expirou, desligaram os aparelhos que o mantinham ofegando. Tão-logo tiravam as borrachas sondas cateteres agulhas ataduras gazas esparadrapos viram que seus despojos lentamente se transformavam em notas e moedas sujas e ensebadas, de todas as fases de sua vida e das partes mais ricas do mundo: moedas e notas (coisa estranha!) em visível putrefação. De sorte que seus filhos (todos banqueiros) puseram tal húmus monetário num saco plástico, meteram-no num esquife (lacrado) e, velando-o rapidamente, enfiaram-no num jazigo, sem palavras, sem olhos embaçados. E voltaram correndo para seus postos porque tinham aprendido com os enfermos tiranos do mundo que tempo, tempo é dinheiro. LA 03/009
Passarão dias e noites, mas meus gozos de amá-la, esses serão comigo. Sua lembrança em mim é como o caroço entranhado na doce carne do pêssego. Extraí do seu corpo os tesouros do efêmero. E assim vinguei-me da morte: antes que ela viesse, morri de amores. LA 03/009
Tudo o que carregamos em alma-coração — isto é nosso: seja bom, seja mau — isto é nosso. A nossa volta para casa será mais longa ou menos longa a depender do que levamos em alma-coração. LA 03/009
O rio é em nós. São águas escuras e profundas que temos de atravessar. Se os bolsos do desejo vão cheios do ouro da ambição, como iremos transpor as nossas águas? Para nos livrarmos da correnteza precisamos aprender a ser leves — alijarmo-nos de nós e do mundo. LA 03/009
A Vida É Graça...
A vida é graça sem alternativa. Uma vez dada, vai restar vivê-la. E qualquer que te seja a bela estrela, só a verás de longe e sempre esquiva.
Sopraram-te no barro com saliva — ao menos a metáfora é singela. E, aí, começa-te a medonha e bela saga no mar do tempo que te ativa.
... mas tens o amor e o humor na caminhada. Ambos podem tornar a tua estrada nas delícias da infância em tobogãs.
Vai devagar! Sim: vê se não te cansas. Até porque as nossas esperanças são amanhãs manchados de amanhãs. LA 03/009
Fim de verão vai se imbricando com o início do outono — duas jarras a misturar seu conteúdo. O épico vai dando entrada para o lírico — a Cavalgada das Valquírias vai se perdendo no desfiladeiro... e entre ramos e folhas já se ouve a Berceuse de Brahms. Apesar de tratada por algozes, a natureza ainda é pontual. LA 03/009
Amy tanto canta como espanta. E é pelo espanto que encanta. Amy é louca, loucamente interessante. Amy é um caso dela para com ela. Amy n’est pas son amie, c’est-à-dire — n’est pas amie de soi-même. Est-ce qu’elle est francaise? Oh, no! Sh’is english. LA 03/009
Por que a senhora me deixou ir à escola descalço, tão malvestido e sujo? Por que não me amparou quando mais precisei? Por que me entregava ao algoz que por pouco não me matava fazendo vazar meu sangue e meu mijo me molhar as pernas? Por que a senhora deixou o algoz me arrancar da escola e me levar criança de tudo para o trabalho forçado? LA 03/009
Quando você se suplanta e mostra o de que é capaz criando obras de talento, então seus inimigos são outros: os de intelecto insuficiente e perfidamente invejosos. Despreze-os sem se esquecer deles — tenha-os no rabo do olho, senão destroem você. Mas não os persiga nem lhes faça mal algum — eles cairão por si mesmos. LA 03/009
Ama a Deus, a você e ao outro. A vida é muito preciosa para usurarmos o amor. LA 03/009
Se não gostas do que vês, estás no caminho certo. E mãos à obra junto com aqueles que também não gostam do que veem. LA 03/009
Sem o sentimento da verdade e a procura da beleza, o homem é muito pequeno. LA 03/009
Se você coleciona doenças, falarão de sua pessoa encarecidamente e até com simpatia. Se coleciona êxitos, tentarão enterrá-lo com pazadas e pazadas de silêncio. LA 03/009
O fraco é aquele que apanha cansado de bater. LA 03/009
Querer que nos compreendam é uma baita de uma noia. Muito egoísmo, e um dos estrepes do relacionamento. Respeitar e julgar-se respeitado, amar e julgar-se amado — já não é bastante, chê? LA 03/009
Deuspai ao criar o homem Se exaltou ao máximo, por saber talvez que o homem já nasceria com inveja Dele e a querer dia e noite passar-Lhe a perna e fazer-Lhe pirraças. LA 03/009
A melhor maneira de se entender uma mulher é usar o sétimo sentido. LA 03/009
Acabar com uma amizade é mais fácil que começá-la? Não sei não. Já vi amizades acabadas sobrevivendo no puro ódio. LA 03/009
A arte é útil quando você está bem. Bem inútil quando estamos sem fulcro em nós mesmos. LA 0/009
A verdade e a mentira das coisas somos nós. O tempo existe para nós e não o contrário disso. Existe como conduto essencializador da vida. O tempo torna o ser plástico: ontoviajável por multiversos de si mesmo. Perceber-se e perceber as coisas é expandir-se dentro e fora em registros reprocessados e interligados ao que sabemos e ao que estamos a caminho de saber. LA 03/009
O melhor da arte é subirmos degraus por nós mesmos — pondo luz nos esconsos do nosso antigo castelo. Quem a faz lucra, quem a manuseia, igualmente: lá no fundo precisamos das mesmas coisas para nos realizarmos nas nossas diferenças. LA 03/009
Sexo e cheque precisam de fundos. LA 03/009
A insatisfação, a não-conformação são os tesouros dolorosos da alma. LA 03/009
Morrer por uma coisa é uma pena, mas se você insiste... posso até ir ao enterro. LA 03/009
Morrer é chato, sempre muito chato. Mas, pensando bem, não fazemos outra coisa — morremos a vida inteira. LA 03/009
Progredir é gostar de enganar-se — é tentar fugir de algo mais essencial. Progredir só é necessário para não se ser atropelado, mas só isso. Quando não acertamos os passos interiores com os de fora, estamos nos enganando. LA 03/009
Para os outros nossas tragédias são comédias. LA 03/009
Querem-nos coerentes para nos pear, nos dirigir como a seus cães. LA 03/009
Querem-nos francos, sinceros, para colher-nos os pensamentos como num confessionário — para usar nossa pessoa contra a nossa pessoa. LA 03/009
O paradoxo mostra que os opostos se explicam e se resolvem em um novo conceito. LA 03/009
Os pobres só não são ricos porque os ricos não deixam. Os primeiros são arrogantes, os segundos invejosos e esses dois vivem igualmente de se explorar. Os miseráveis sobrevivem das ridículas migalhas desses dois. Já a elite os teleguia a todos eles. LA 03/009
Fale bem dos seus inimigos, eles ficarão embaraçados, não saberão o que fazer. Mesmo assim não os poupe — fale sempre bem deles. LA 03/009
Experiências é o nome que damos às nossas cabeçadas, ao nosso quebrar a cara. Dizem que elas ajudam, mas eu preferia não me machucar tanto. Tenho muito que aprender e uma só cara. LA 03/009
Não ver as coisas como elas são, de duas uma — ou você é um louco ou um artista. LA 03/009
A estupidez, a tristeza, a falta de apetite deviam ser pecado. LA 03/009
Não é o são, mas o enfermo que precisa do amor que geralmente não há. LA 03/009
Sim, as mulheres são esfinges — ou as deciframos ou nos matam de prazer de não nos dar prazer. LA 03/009
Os homens são terríveis. Sim, tão terríveis que inventaram a sociedade — esse comerem-se uns aos outros. LA 03/009
A melhor maneira de nos vingarmos da morte seria sermos felizes. LA 03/009
Sim, ser feliz, não raro, dá um trabalho danado. E a maioria prefere não fazer nada. LA 03/009
Em geral a beleza não é sadia, mas mesmo assim adoramos seu narcisismo. Sua loucura trivial. LA 03/009
Agradeça a Deus quando não responde às suas preces. É que em vez da resposta Ele decidiu livrá-lo de bobagens. LA 03/009
Ouvir música é bom — arranca-nos de nós e leva-nos para onde ela quer: tornamo-nos seus reféns, isto é, reféns do passado que ela desenterra. LA 03/009
O maior erro é vermos as coisas muito de perto. LA 03/009
A soberba acumula, já a dor despe as máscaras. LA 03/009
A fraqueza ou a força de uma pessoa tem base no seu passado. LA o3/009
O objetivo de viver é vermo-nos, é percebermo-nos de dentro para fora, de fora para dentro. Quem se vê vê o outro, vê o tempo e o que há fora dele: o espaço. LA 03/009
Sim, temos uma tarefa com nós mesmos, que é acompanharmos no tempo nosso desenvolvimento e crescimento e nos tornarmos criadores de situações benéficas e favoráveis a nós, à vida em nós e à nossa volta. LA 03/009
Sou a única pessoa no mundo com quem me assento e posso despir todas as máscaras sem que isso me faça mal ou me destrua. LA 0/009
Perder amigos é bem normal — principalmente quando se cuida com disciplina do próprio crescimento. LA 03/009
Quem é o homem, que hoje está e amanhã já não existe? Entre a vida e a morte só podemos viver enquanto a vida nos é dom e graça. O mais... que sabemos do mais? Neste momento a grande atriz (ceifada tão de repente) vai precisar de outras luzes que não apenas as da Broadway. LA 03/009
Sem a ilusão o violino teria menos uma corda. LA 03/009
Simples ou complexa, a vida é o que é: dom e graça. LA 03/009
“Sinceridade”, “sinceramente” são hoje imagens de cera no museu do cinismo humano. LA 03/009
As pancadas vindas de fora nos ferem, doem bastante, mas a gente as vai curando, curando até que outras novas as fazem esquecidas. O diabo são aqueles machucados vindos de nossas próprias mãos... Ah, esses doem demais! LA 03/009
Você já teve aqueles amigos sérios e adultos, tipos que sentam virados para você e falam mirando nos seus olhos? Pois até isso eu já tive! LA 03/009
“Te juro!” “Siceramente...” “Francamente...” “Pela saúde de meus filhos!” Pela alma da minha mãe!” Frases assim a experiência nos faz chamá-las de arcaísmos morais. LA 03/009
Aquele que deixou de ser medíocre vai perder muitos amigos. LA 03/009
O engano, a desilusão são hóspedes assíduos do amor. LA 03/009
Há músicas que fritam bolinhos na cozinha do nosso passado. LA 03/009
Citar idéias é fácil, o duro é pô-las em prática ou transformá-las em obra. Por isso muitos nos dizem: “Tenho tantas idéias tão bonitas!”... julgando que não as temos. LA 03/009
Fui deixando aqueles amigos que me alugavam para ouvir suas genialidades e jamais admitiriam que o que diziam eram copiosas bobagens. LA 03/009
O melhor desta vida não nos vem por esforços hercúleos, mas pela graça — dons que alegram o coração e nos remoçam as esperanças. LA 03/009
Hoje se sabe que o mundo se equilibra sobre um vender-comprar, comprar-vender — e nada, nada mais. Cabe a cada um desconfiar que a vida é muito mais do que a sociedade nem se importa de saber. LA 03/009
O mentiroso é sempre fascinante, sempre eloquente, explica e sabe tudo, sempre doutor em transparência, de tal sorte que aquilo que nós vimos não era aquilo que nós vimos, mas outra coisa que não a coisa daquilo que imaginamos ser a verdade da mentira... E o mundo o adora e aplaude — pedra de canto da sociedade. LA 03/009
A maioria dos homens hominizam o diabo, deixam o pobre possesso de hominidades — e fazem horrores em nome dele. LA 03/009
Perdoar ao inimigo é fazer-lhe o maior dos desaforos. LA 03/009
Quem hoje se envergonha de seus velhos ridículos não está fazendo outra coisa senão ridicularizar-se. LA 03/009
Nossos ridículos nos enriquecem — passam-nos e repassam-nos pelo filtro da consciência, pelo crivo do nosso entendimento — fazem-nos ver com lentes de aumento. LA 0/009
Tive uma bela vizinha que se casou com um fantasma. Pouco depois da lua de mel ele desapareceu. LA 03/009
A política é a arte de saber vender imagens — arquétipos que respondam aos sonhos e esperanças de um povo nas premências do seu tempo: no exato momento em que verdade e mentira se fazem desinteressar. LA 03/009
Ninguém domina mais as mulheres que as próprias mulheres. LA 03/009
Sem mistério, meu caro: você é o que pensa, o que sente, o que sonha, o que espera no que faz — isto é você, não há como negar-se para você. LA 04/009
A miserabilidade nunca teve argumento. E o que não tem argumento segue igual — não muda e, não mudando, não acaba. LA 03/009
Uma doença mais antiga que a lepra (e pior que ela porque não se vê com os olhos) é o narcisismo. É doença nefasta, doença de lesa-humanidade. É a doença do “eu mereço”, “não tenho culpa”, “não há pecado”, “faria tudo de novo”, “acabo com você”, “só me arrependo do que não fiz”, e por aí vai — tripudiando na vida e no mundo. LA 03/009
A morte não sei o que é. A vida também não sei. Mas entre as duas sinto o eterno da poesia. Se a morte é coisa da vida, deve ter seu lado bom. O mistério (para mim) são as delícias de não saber. LA 03/009
A morte é um jeito que, aliás, a vida encontrou pra ser chata em outra parte — lá onde ninguém sabe nem viu nenhum tigre que rugiu nem os pulinhos do tiziu. LA 03/009
A morte é dose forte. O bom é não tomar, isto é, poder adiar. LA 03/009
A morte é tão boçal, que a gente se envergonha — fica sem graça. LA 03/009
Não, não pulo o teu muro. Quero te amar, e não mifur! LA 03/009
Laura é divina, perfeit... Isto é, seria perfeita não fosse o seu excesso de caráter. LA 03/009
Era ocultista — namorava a vizinha em projeção astral. LA 03/009
O amor tem essas coisas... essas doces coisas. Que se cuidem os diabéticos! LA 03/009
O charme do amor é ele ligar mais para o dinheiro que para si. LA 03/009
O amor, como as crianças, — adora se molhar. LA 03/009
Sim, o amor é cego, mas só do terceiro olho. LA 0/009
Não... o terceiro olho não fica aí embaixo, mas entre as duas sobrancelhas — um poucochinho acima, palavra de gurus. LA 03/009
Depender de um guru é ser fantoche de não se conhecer. LA 0/009
A necessidade da bênção é do tamanho do medo da maldição. LA 0/009
Não, você não precisa de um guru para saber “seu grau de iluminação”, “a grandeza da sua estrela”, “seu lugar cósmico na vida”... Apenas volte atrás três dias e de lá ao seu momento-agora, lembre o que pensou, sentiu, falou, viu, ouviu, imaginou, comeu, bebeu e fez — tudo o que fez, e deixou de fazer, isto é você. LA 03/009
Em papinha de homem e mulher só Maria da Penha bota a colher. LA 03/009
Ensinaram-me que a culpa é da culpa que a inculpa — portanto: de ninguém tal culpa senão da culpada culpa que, se pedir desculpa, torna-se inculpe culpa e evapora-se não-culpa. LA 03/009
Ensinaram-me que o erro foi um treino do acerto — portanto: equívoco do certo que chamaram de erro não tendo outro nome decerto para justificar que o erro não foi nem erro por certo. LA 03/009
Ensinaram-me que a verdade é o avesso da mentira que, pensando ser verdade, se gaba por ser mentira — sendo a mentira na verdade uma verdade de mentira, é que a mentira é uma verdade. LA 03/009
Ensinaram-me que o amor é tão um só com o ódio, que em geral vira odiento amor e o amor amoroso ódio — de sorte que o belo amor é um lindo poema de ódio que se traduz por amor. LA 03/009
Ensinaram-me que a vida é concubina da morte que, tendo inveja da vida, prepara-lhe negra sorte — pois que amarga ou doce a vida, por existir a morte, é sensato sorrir pra vida. LA 03/009
Não, não gostei do pôster. Esta pose de semidesmaio é muito século-XIX. Prefiro a femineza viva: aquela emanação-mulher com olhos e sorriso sem vergonha. LA 03/009
Nossos olhares se cruzaram no ar e foi aquela gala de beija-flores. LA 03/009
O maior bem do amor é podermos esquecê-lo. LA 0/009
O mais belo do amor é não precisar nem sê-lo. LA 03/009
As loucuras do amor são mais gostosas de lembrar do que fazer. LA 03/009
Se não investimos no amor, como depois lembrar-lhe o charme, as delícias e as desfalcadas poupanças? LA 03/009
Mesmo não tendo dado certo o amor é a coisa mais certa dentre as nossas incertezas. LA 03/009
Misture as lembranças más com as boas e faça dar um saldo positivo. LA 03/009
Exija pouco da vida, que não gosta dos fracos nem dos tais delicados, e aprenda, cara, aprenda a ser feliz mesmo na desventura. LA 03/009
Melhor é adaptar-se do que decaptar-se pelo machado do mundo ou pela guilhotina da vida. LA 03/009
Os amores que inventamos são logo desinventados pelo relacionamento. LA 03/009
Mas que é que se vai fazer por esses sertões de Deus senão amar amar amar até dar calo no desejo? LA 03/009
De fodapse em fodapse HIV vai dando os seus pulinhos. Manha, esperteza e charme. Vai poder! Sim, cientistas afirmam que o vírus da aids faz como as sinapses neuroniais para saltar de uma célula imunológica a outra. E assim esse espertinho se espalha por todo o corpo. Conclusão: o safado é mesmo pulador. LA 27/03/009
Chuvas
Saudade, nega, uma saudade-vontade daquelas chuvas e dos bolinhos com café fresquinho nas tardes saborosamente longas de jamais te esquecer. Saudade, nega, uma saudade-falta do fumegar daqueles sonhos entre amor, café, bolinhos e a nossa facilidade de fazer, fazer, fazer chover. Lá fora o vento, o vento que gemia entre os ramos despojados Outono-inverno bocejavam seu frio e brumas pelo ar... Aqui dentro: amor, bolinhos, café ou vinho entre almofadas e asas de fogo ou almas, almas que sobem e desaparecem subindo da lareira... E a beleza, minha nega, a beleza sem tempo ou pressa de podermos fazer fazer fazer chover. LA 03/009
Malas Prontas
Vou-me embora pra Dubai, lá me disfarço de rei... et cetera e mulheres mais mulheres e gostosamente mais mulheres: das formais às mais triviais, das bem sentimentais, das racionais — aquelas entre siderais e terrenais: mulheres e mulheres mais mulheres bem universais ou bem tribais, doidonas e normais, sempre atuais, mulheres mais mulheres: sempre mais porque jamais iguais. LA 03/009
Sonhei que tua piscina tinha secado, virado pó como um rio do agreste. E me alegrei, não sei por que me alegrei. Depois já não era piscina o que secara, mas algo sem forma interior em mim — sim, era em mim que secaram as águas que se conformavam em todos os teus contornos. Sem maré cheia como chegar ao teu castelo? LA 03/009
Devastação
Devastação geral. Não querem ver vegetal de pé. Orla de mares, margens de rios, riachos, regos, tudo passa pela fúria em derrubada dos gulatras. De geração em geração — da pedra ao machado, do fogo ao veneno, da serra às bombas, aos mísseis nucluares: devastação geral. Quem os segurará? Uma raivosa síndrome das derrubadas. Até o púbis humano, faz tempo, entrou em derrubada ciliar. Parecem mais é minhocas, regos d’água — deslavados, desenxabidos em aridez nua e crua, minhocando/lesmando num deserto... Na mulher só restou (quando restou) uma ilheta de comprido, logo acima do sorriso vertical. Ficou com a cara escanhoada como soldado recém-chegado da guerra. Devastação geral. LA 03/009
Haiti
Arrasado pela guerra, pelas chuvas, pela lama, furacões, doenças e a perene miséria, o Haiti tem sobre a sua cabeça uma nuvem negra, espesso-felpuda. Sua gente por muito tempo sofre tais sombras, tais horrores. Sua terra sofreu a mão de ferro do mundo, a ladra opressão dos donos. Esta desventurada terra, a mais pobre do continente, praticou e pratica a magia negra — o vodu, feitiçarias das pesadas em pactos medonhos. Foi o modo que encontraram de resistir (passivamente) aos donos: ódio com trevas vivas. (E só sairá desse caos pelo oposto do que praticou.) Este país lembra bem aquele adágio latino — um abismo chama outro abismo: Abissus abissum invocat. O Haiti precisa de ajuda. O Haiti está sendo ajudado. LA 03/009
Quando Rosinha, lá do outro prédio, me manda beijos, também disparo minha ternura e nos acasalamos no ar numa explosão de afetos. No caso, não usamos antimísseis, mas pró, pró-mísseis. LA 03/009
O que é de poetas brasileiros ensinando a fazer poesia — não dá nem pra computar. O que eles fingem não saber é que os professores de literatura e seus críticos nunca sabem fazê-la. LA 03/009
Com a Internet quem ama a poesia (e a faz) como processo de autoconhecimento já não depende dos donos — é só dar-lhe as asas de um site. O ideal é publicar dois ou três livros, distribuí-los ao redor e o mais, o mais é ir pondo aos olhos do mundo inteiro através de um caprichado site. Bons tempos! É o fim dos clãs, dos feudos. Bons tempos! A poesia já não precisa do papel, é ar, é mundo, é luz — entra e sai pelas retinas e vive a um clique de nós. LA 04/009
A literatura, sendo um processo, não dá para ensinar a fazê-la. É um processo autófago: quando você vai ver, já não está, — comeu-se. E ela não se congela no tempo, jamais se congela — o leitor a atualiza a seu modo e a seu tempo. LA 03/009
É como a busca do novo, quando você o consegue ele já não o é. LA 03/009
Sim, as coisas não duram — ou se devoram ou mudam em e por si mesmas. LA 0/009
O melhor que fazemos é não saber das coisas. Sim, não sabê-las para poder intuí-las por um saber de lado — o que vê por outras gamas e constrói por mãos interiores. LA 03/009
Como você acaba de ver, ensinar é a maior das tentações. Ninguém escapa. LA 03/009
O melhor de nossos tempos é existir a Internet. Pelo nosso site todos sabem quem somos e fazemos ou pensamos ser e fazer. Literalmente, virtualmente — outros tempos: triunfo dos que amam escrever, mas se recusam a bajular. LA 03/009
Queensboro. Passarás por ela várias vezes, mas nunca te encontrarás no outro lado. É apenas uma ponte por fora de nós — só leva a lugar nenhum, embora já faz cem anos nos concede travessias. Temos de construir a ponte do nosso ultrapassarmo-nos, assim nos veremos outros tão-logo nos transpomos. Queensboro está cansada. Também nós estamos cansados de atravessarmos pontes sem irmos nunca além de nós. LA 03/009
Moda
A moda pegou nos States. Mais um gajo faz chacina. Hoje, num asilo de idosos: doentes do mal de Alzheimer. Sim, a moda pegou. Um narcisismo que extrapola. Mesmo como assassino hediondo, o indivíduo quer refletir-se, quer desesperadamente aparecer. Doença pura, doença humanofóbica, psicoegolatria: pessoal e social. Esta foi a terceira chacina na terra de Luther King neste mês de março. Apenas relato. Não julgue que penso dessa gente isto ou aquilo, apenas vejo um modo diferente de matar. Cada povo com os seus modos loucuras, os nossos não são menos perversos. Sim, o homem é o homem onde quer que seja. LA 29/03/009
Conhecimento e autoconhecimento devem ser busca assídua do dia-a-dia ao lado de outras mil e mil necessidades. LA 03/009
Não precisas descobrir algo por que morrer, mas saber por que viver. LA 03/009
Sempre tirei um tempo para fazer o que mais gosto — ler-escrever. E jamais negligenciei minha profissão pela arte. Dava a cada uma o que é de cada uma. Não fui fantoche de nenhuma delas. LA 03/009
Em geral construímos o cenário de nossos dias — o da ribalta e o do poscênio. LA 0/009
Não saberemos nunca o que dói mais — se a calúnia dos inimigos ou o silêncio dos amigos. LA 03/009
Quem nos dias maus não se desespera nem se faz arrogante na prosperidade alcançou o equilíbrio. LA 03/009
Não se levar muito a sério é um modo de não despencar no narcisismo tolo. LA 03/009
Se não podemos fazer o melhor, pelo menos o que fazemos deve ser feito com um sentimento de verdade. LA 03/009
Não duvidemos, nunca duvidemos que um amanhã vem vindo aí diferente de todos os amanhãs porque trazendo sonhos gerados num futuro transonhado. LA 03/009
Se não puder ser feliz, invente um modo de sê-lo e viva-o como se fosse a sua verdade. LA 03/009
Os inventivos, pequenos e anônimos, não raramente, beneficiam a maioria. LA 03/009
Odiar é enfraquecer-se, além de se fazer do tamanho do inimigo. Neutralizar a ofensa pelo perdão é livrar-se dela e do ódio nela imanente. LA 03/009
O que eu tinha, o que eu tinha nas mãos... um tanto me vazou por entre os dedos, outro punhado me roubaram e muita coisa a ferrugem comeu. Mas meus melhores amigos e companheiros de jornada: o amor, a fé, a esperança — estes meu coração soube guardar. Guardei também (aliás, mais que guardei: assimilei em alma-coração) as palavras do Galileu, o Cuspido e Pregado, de modo que eternamente em mim eu-as-sou-elas-me-são — num só corpo, num só espírito. Sim, não reclamo, gozo de boa companhia. LA 03/009
Aquela cela especial para bacanas está para acabar. Se passar mesmo a lei vai ficar bem difícil pro cara salvaguardar o “seu”. Claro: isso não valerá para a elite. LA 03/009
André dizia que as mulheres que não existem são as que mais adoramos. LA 03/009
Velho Tipo
André casou nove vezes e foi baleado por dezesseis trabucos. Felizmente, dizia sua mãe, só pegava de raspão, quando pegava. André era do tipo sonso, calmo, sorriso fácil, jovial, sempre afagando com os olhos... Podre de rico (desde os tataravós), fazia o estilo vagabundo, largadão. Na média e velha cidade não eram poucas as mulheres que desfaziam dele quando estavam com o marido. ....................................................... E assim foi, assim foi, assim... André (para usar termos da época) pintava, bordava e chuleava. E assim foi, assim foi, assim...
Aos cinquenta e poucos, foi para a Europa... e adivinhem!... Entrou para sempre na Ordem dos Franciscanos. LA 03/009
Mais Uma Reunião
G-20 chegou anteontem, pegou o rango na casa da rainha, reuniu ontem e hoje voltou pra casa. Claro: quem era rico voltou rico, quem emergente, emergente, quem sub, sub. Nem faltou o espetáculo colorido dos protestos — o pau comeu solto em Londres. E vamos ao que importa, espiemos, por uns segundos, a reunião: ................................................................ ????!!!!????!!!!???...............? !!!!!??????!!!!??!!....!!!???... .............??!!!!......????!!!!!...... ......................?...........................!!!!..........? !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Risos, risos, muitos risos ....................................................................................
Mais uma vez o reaprendizado: choveram no molhado, jogaram pó no deserto. Mas nem por isso menos esclarecidos, menos convictos — é cada um pra si e muitas nuvens para todos. O chefe da nação líder fez um discurso muito menos simpático que seu sorriso e pessoa, que resumo num adágio, já que o adágio é coisa antiga: Para a vida e a economia não existe garantia. LA 02/04/009
Passei lá na Daspu e te trouxe estes paninhos. Disseram-me que é só vesti-los e eles se tornam visíveis. Toma, nega, veste logo, que tô que tô! LA 04/009
Tinha-o como braço direito, mas nunca soube que ele era canhoto. LA 04/009
Velha Dança
O homem não soluciona, apenas modifica. Sim, tais modificações, nem bem ainda feitas, já começam a clamar vorazmente por outras — abismos engolindo abismos. Mais uma vez os grandes tropeçam na sua empáfia, caem nas próprias armadilhas. Fingiram que o mercado fosse auto-regulável. Fingiram não ouvir o ruir por todo o mundo da ideologia do capital. Dominadores, sem a maromba, vacilam pelo arame que pensavam ter armado para outros. Os dominados — no chão, na lama, na vala. A sujeição das nações e das pessoas aos interesses das elites — os donos, a minoria predatória. Desemprego, terrorismo. Os ricos fazem o mundo dançar. O mundo inteiro dança, dança sobre o insustentável — a mesma dança à mesma música, o mundo inteiro dança, dança sobre o insustentável — só mudam os requebros de cada povo. LA 04/009
— Entre os chipanzés, meu bem, ninguém é de ninguém. — Entre os homens também. LA 04/009
Há mulheres que ouvem cantadas todo o santíssimo dia — são as mulheres dos tenores. E aquelas que jamais ouvem — são as surdas. LA 04/009
Melhor que comer pudim é não sofrer de diabetes. LA 04/009
Melhor que uma mulher é nenhuma, que seja a nossa. LA 04/009
Uma no dedo é melhor que mil delas na passarela. LA 04/009
Sério mesmo, só a morte. O resto a gente faz rir. LA 04/009
Meu amigo tinha uma cara de quem amava o sofrimento — curtia, adorava o status de corno. LA 04/009
Uma amiga me disse que não fazia nunca em pé. Sofre (perguntei) de labirintite? Não! É que o cara pensa que não valeu. LA 04/009
André corrigia a canção: Ninguém é de ninguém — deu brecha, a gente traça. LA 04/009
Amanhã será um outro dia. — De quem é mesmo esta frase? — De uma mulher muito ferida, após perder tudo o que nunca teve. É a frase dos infelizes, dos orgulhosos vencidos. LA 04/009
Os acostumados a ganhar são aqueles a quem a Vida olha com certo riso... porque sabe que quando perdem alguma coisa se esquecem de tudo o que ganharam. LA 04/009
A beleza da vida são as suas incertezas — que encarecem o momento. LA 04/009
Se um dia eu te perder, perco o que nunca tive. LA 04/009
Se um dia você me trair eu me mato de rir por você não ter tido tempo de tê-lo feito bem antes. LA 04/009
Os óculos escuros nos permitem não revelar o que sentimos pelo morto, além de atocaiar os vivos. LA 04/009
Se te matas, como vais rir do que fizeste? LA 04/009
Não, não te mates. Vais precisar levar um relatório consciente de tua estada aqui. LA 04/009
O que somos é coisa nossa. Sim, temos de saber o que fazer com o que somos. LA 04/009
Nosso julgamento será nossa consciência bem dentro de si mesma vendo-se no cristal de seus atos com uma lucidez que dói. LA 04/009
Fez muito bem, Amy, muito bem em tirar os trapinhos e mostrar os coelhos pra gente. Lamentável foi não mostrar o resto, Amy. LA 04/009
Ensaios Sensuais
Fulana foi convidada a posar nua, mas o marido pagou duas vezes mais, e ela abriu mão. Uma vez, pela revista. Outra vez, por não ter se mostrado. Não demorou surgiu outra proposta e outra mais e mais outra e outra... que o esposo ia cobrindo duplamente, ia cobrindo, ia cobrindo até que... Faliu. Aí fulana teve que posar para ampará-lo: deu-lhe cinco por cento e o botou num asilo. Um mês depois casou com o dono da tal revista. LA 04/009
A Marilda? Era doida dos dois lados — do avesso e do direito. O cara se apaixonava por fora e por dentro dela. LA 04/009
Quando o amor dói muito o caboclo então finge que não é nada. Assim o amor, que só era de uma parte, já não dói — porque vira desaforo. LA 04/009
Marilda me disse que com a língua do Gene Simmons não precisava de mais nada. As amigas, que a ouviram, gritaram juntas: Aaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!... Aaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!... Aaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!... Aí quem gritou foi o dono da boate: Acabaram?!?!?!... Já que estão acabadinhas, vão trabalhar!!! LA 04/009
O futuro se escreve no presente, sim: não está escrito — somos nós que o escrevemos. LA 04/009
Os Crievos
Quanto mais se desentendem os crievos — criacionistas e evolucionistas, tão mais depressa verão que não podem edificar sobre os seus terremotos. A falha tectônica há de ser preenchida com o meterial dos dois lados. Sim, tais conteúdos sísmicos abalarão desde os cemitérios até os berçários da mente. Muitos potes se quebrarão até que a água se torne fluente, bem filtrada e potável. Os copérnicos e galileus reaparecem de tempos em tempos para desengordurar teorias e doutrinas e reforçar, reassestar as lentes no cosmos a bailar em seus giros e elipses estonteantemente perfeitos, até que outros reparos já sejam requeridos pela renovação do nosso entendimento, nessa eterna ourivesaria a tilintar e a brilhar em glória e graça divinas. Só precisamos (mais uma vez) focar a nossa aparelhagem (o que somos lá em nós) mais para o centro da verdade. E enquanto não se torne pacífico de onde é que a água brota, para onde ela vai e quando é ou não potável, vamos lendo, relendo e translendo ( e certamente aprendendo) por entre as cataratas de loucuras, cascatas de arrogância que se vão despejando da boca dos crievos. E é claro: dando graças por vivermos outros tempos. LA 04/009
Infelizmente há muitas exceções, mas a mulher quanto mais civilizada tanto mais, sim: muito mais deliciosamente sem vergonha. LA 04/009
Assim como a beleza depende de quem a vê, também o amanhã jamais seria sem o suporte do hoje. LA 04/009
Não esperava, mas ela veio. Virou um barraco minha mansão de sonhos. LA 04/009
Era tão bela nua que o marido lhe queimava dia sim, dia não toda a roupa. LA 04/009
Os ridículos do amor são o que há de mais belo no amor. Sem eles só haveria bocejos, longos e insuportáveis. LA 04/009
Tinha os olhos de quem acorda chupando jabuticaba. LA 04/009
Tinha um marido torto, tão torto que andava em elipses que ela orbitava tranquila com um coração de ouro e sorriso de diamantes. LA 04/009
Uma amiga me disse, com um riso bem sem vergonha, que tamanho não é documento — daí o elefante não ser o dono do circo. LA 04/009
Disse-me também a tal amiga que seu pai era demais da conta severo e ia explicando os motivos de ter aberto um prostíbulo — só para vingar-se dele. LA 04/009
Padre Antônio dizia na missa (e isso aborrecia os fiéis) que o que fazemos por vingança são antes as delícias do que adoramos fazer — sim, que a vingança era um pretexto para a nossa particular saciedade. LA 04/009
A folha que cai lembra a que vai nascer, logo não dói vê-la cair. LA 04/009
Assim como as pedras percutem a água do riacho e a fazem cantar em infinitos tons, também nosso pensar vai desfiando notas de uma canção que não sabíamos existir. LA 04/009
Na geometria de uma poesia sem aporia meu coração te espia todo alegria na mesma via por onde ia a tua forma esguia que não me via... e quando um dia me viu, em elegia a tarde já descia — chora a rosa que ria. LA 04/009
A vida é sempre cara e coroa, por isso não deves nunca atirar a moeda. LA 04/009
Num sorriso o lábio superior é compreensão, o inferior — desdém. LA04/009
Os olhos escondem a alma. LA 04/009
A vida é uma esquina sem nenhuma placa. O mundo, ao contrário, o mundo é só placas. LA 04/009
Se o amor não existisse as pedras o inventavam. LA 04/009
Ainda bem que ninguém sabe o quanto fingimos não sofrer. LA 04/009
O prosador arma laços, o poeta se faz de besta. No fundo são dois bobos falando de si mesmos na vida dos outros. Bobos da corte. LA 04/009
Toda vez que tentamos nos esconder nas palavras elas nos dedam pela criança em nós que recorda. Sim, a infância é um dedo duro por toda a nossa vida. LA 04/009
Só podemos crescer quando esquecemos de fazê-lo pela via que o mundo nos oferta. LA 04/009
Se me varres da memória te encontro lá no avesso de lembrar. E haverá um duplo outro que não sabíamos existir. LA 04/009
Marilda era vidrada pelos gêmeos Pedro e Paulo do Largo da Boa Morte. E dizia que ambos se completavam em suas deliciosas diferenças, a ponto de lhe serem uma só e deslumbrante chave de seu castelo de fantasias — os pães e vinhos do amor. De modo que ela os tinha como um só amante, e eles a dividiam sem se lembrar de divisão nem de multiplicação, de sorte que cada um tinha a sua Marilda total — tamanha a habilidade de nossa psicóloga-amante, que os fazia sentirem-se únicos, cada qual o mais amado. Sofósio (lembra-se dele?) chamava a isso de diarreia de hormônios. Já André (ah, quase me esquecia do André!), André não dizia nada apenas tentava ser o terceiro amante — já que provara ser o terceiro gêmeo roubado pelo obstetra que fizera o parto (como se diz por aí: uma longa história.). E tinha uma cara tão honesta, um tal jeito de bom moço, que Marilda acreditava em tudo o que dizia olhando dentro dos seus olhos enormes e gulosos. E viveram gostosamente cada qual com seu quinhão e ela com seu kit três-em-um, felizes de nem saber. LA 04/009
Se sabes andar nas nuvens não dês ouvido aos amigos que não podem fazê-lo. LA 04/009
Aquilo que recriminam em nós é porque foge ao que gostariam que fôssemos para tirarem proveito. LA 04/009
Os que te chamam de ingrato queriam-te refém de seu interesse e vaidade. LA 04/009
Receber de mão amiga significa ter que pagar em eternas prestações. LA 04/009
Que a mulher não deva ao homem, se não queira lhe pagar com a moeda do seu corpo. Agora, se for o caso, que invista alto. LA 04/009
Estão dizendo aí
que o espirro é erótico — Tomem cuidado quando forem apresentados a pessoas “muito simpáticas”. LA 04/009
Murro no nariz do outro é entretenimento. LA 04/009
Busquem antes os desordeiros, os traficantes e ladrões, só depois as prostitutas — um policial orienta seus homens. LA 04/009
Muito vento, pouca chuva. Quando muita, é bom correr, que lá vem a enxurrada. Às vezes dizemos coisas só para fazer barulho no silêncio. Escrever é buscar a sensação de não estar sozinho. Se ao menos surgisse algum ET pra repartir conosco a sua desventura! LA 04/009
O Sr. Evo Morales está fazendo greve de fome. Como muitos que já fizeram, vai acabar mais gordo. LA 04/009
Chove, chuva, na minhalma e vê se apagas a lembrança dela, dela que é bela e alegre como a palma, como a palma sorrindo ao vento. Chove, chuva, e vê se apagas meu pensamento dela, dela que nem as ondas, nem as vagas, nem a fúria da procela me arrancam do sentimento que lhe sente o gosto e o cheiro. Chove, chuva, devagar, que ela agora está dormindo. Posso ouvi-la respirar ao meu peito bem baixinho. Chove, chuva, a musicar o sorriso e os sonhos dela, dela que é bela, mas tão bela que é impossível não lembrar. LA 04/009
Há momentos em que o tempo não anda — quando se tem dor de dente, quando se está inadimplente, quando se dorme na casa da sogra, quando o cunhado lhe diz por telefone precisar de um favor seu, quando a psicóloga (amiga da patroa) diz que vem para jantar, quando o seu amigo do peito quer que vá ver com ele um imóvel para alugar, quando seu empregado o convida para ser padrinho do casamento, quando o irmão caçula o visita pra lhe dizer que foi mandado embora, quando a empregada lhe faz saber que está sem comida, roupa de frio e a luz para cortar... Sim, em momentos de assalto ou de ridículo o tempo não anda. LA 04/009
Libertação
Se a dor é muita agora, e te sufoca, não te esforces para entendê-la no momento. Nem a esboces em tela, música ou poema. Apenas sofre-a procurando minorá-la desfocando-te o mais que puderes de seu centro, de modo a não sentir autopiedade, mas vendo as coisas com olhos de quem vê a vida, a vida que é bela, sagrada quanto inexplicável. Vendo as coisas como quem vê um rio, o mais longo deles, — o que passa sem passar, o que não passa passando e a um tempo é passado, presente e futuro e outros desvios nem sonhados. O que é um, o que é vários em si mesmo, o que segura em suas mãos de água o tempo, esse invólucro do ser a deslocar-se por duplo espaço: interior e exterior a buscar multiversos de uma realidade interligada a múltiplas gamas de si mesma, dentro do infinitamente grande como igualmente dentro do infinitamente pequeno. Sim: como um rio que nos leva e nos atravessa pelo simbólico em nós como nele marulhosamente infinito: bebendo-se e florindo espécies que nunca vimos, belezas que não sabíamos que sabíamos. Como um rio que nos é e a quem somos em busca de oceanos que nos seremos um no outro, um pelo outro, um com o outro: muitos e singularmente um. Sim, um rio é nós por dentro e por fora pelo sinuoso e infindo caminho do sentido que vem do mar e marulhando volta a ele sempre na concha nacarada que faz sonhar com o sentido, sempre com o sentido. Uma realidade tão fascinante quanto não podermos entendê-la. Mas nem por isso nem mais ou menos verdadeira. Nem por isso mais ou menos nós: uma realidade sempre nós-mesmos. Pessoal e coletivamente nós: nós-mesmos. Diluída e concentradamente nós: nós-mesmos. Realidade a chegar e já chegada, existente e por existir, por existir e já existente. Aqui-agora e longe-além, e com o ser e a vida, com a vida e o ser num infinito zumbir de asas por veredas e caminhos perfumados de uma libido santa através de um viajar-se-construir-se que é uma viagem dentro de outra viagem, um sonho dentro de outro sonho, ser pelo Ser na odisséia que gera a volta, o nostos, que já não é volta, mas ver o aqui-agora já partido, já viajado de ser a ser-se, de ser a ser-se, de ser a ser-se... até onde não mais exista onde, nem aqui-espaço exterior, nem espaço interior: o tempo. Libertação. LA 04/009
Orgulho, amor-próprio, autoestima, tudo isso é bom, sim: muito bom. Agora, se você deixa que essas muletas virem arrogância, tudo isso então é mau, sim: muito mau. LA 04/009
Passou tanto, tanto tempo, que agora vemos que não passou tempo nenhum — fomos nós que passamos pelas coisas, mesmo porque os tempos estão bem vivos, sim, moram dentro, moram bem dentro em nós. LA 04/009
Cá estão, mais uma vez, tempos em que não sabemos para onde estamos indo. Nem bússolas, nem astrolábios, nem as estrelas já nos não ajudam — nossa falta de rumo é interior. Progresso é bom, mas para onde nos levará? A falta de rumo se repete dentro dos tempos. Babel se instala e desinstala com a rapidez dos sonhos. Mas uma vez, vivemos tempos sem janelas nem portas. Só nos resta esperar que novos tempos dissolvam as incertezas feitas de sal ao sol. O fio do sentido (que é escarlate) sempre ressurge e cose os tempos. Aí o homem sente de novo o chão, tão necessário. LA 04/009
Quando partir não olhe para trás, senão leva com você o que pensa estar deixando. Quando partir só leve o sonho de partir e siga leve e solto — livre dos grafitos que lhe tatuaram nos sentimentos. Quando partir faça-o como a brisa entre os lírios e o sol que acaba de lhes dar seu ouro, a provisão de mais um dia. Quando partir vá pela mão da alegria e pisará com firmeza o seu caminho. Quando partir só tenha o partir por companheiro e o sonho aceso em novidade de vida. LA 04/009
Pernas de baobá, seios de moranga, e habilidades de quem faz omeletes nos saltos finos, Priscila (BBB-9) leva mesmo jeito e está no caminho certo — vai abrir um sex shop. Mourejará, faça sol ou estrelas, no departamento das coceiras. LA 04/009
Um dia ela se foi e o coração de André ficou frio como um cadáver sepultado em seu peito. Sim, ficou friamente triste como quem perdesse a verdade e a beleza que pensava ter consigo após sonhar e trabalhar, estudar e dedicar-se a mocidade toda — disciplinada e seriamente a mocidade toda. Frio sentir, muito frio. Continuou a fazer tudo o que fazia. Álgido sentir. Ah, muito frio! Cuidou da sua profissão como se fosse outra pessoa. Muito frio, álgido sentir. A ler-escrever como se fosse outra pessoa. Frio sentir, muito frio. E em meio ao frio, ao muito frio buscou em si a luz filha da luz, procurou vê-la ao passo que a sentia, e envolto nela ver seu coração a quem, se lembra, amou profundamente sem nenhum autodó. E a sós ou em meio a outros, pela rua ou recolhido, invocou brandamente a fé que sempre cultivou e cujos mecanismos estudou fora e dentro de si. Invocou brandamente a fé, pedindo-lhe brandamente lhe devolvesse um pouco da lealdade confidente e do amor fiel que lhe votara a vida toda (lhe devolvesse um pouco da sua fé) em forma de companhia e salvação daquele estado triste. .............................................................................. Foi então que viu brotar de sua dor uma haste exuberante encimada de magnífica rosa, tão magnífica quanto vermelha — plantada num belo vaso com a forma de um enorme sapato de arlequim. E aquela luz rorante sete vezes bela da rosa derramada sobre o tal vaso-sapato devolveu-lhe o calor, a força e a alegria da vida. LA 04/009
Aquela face do amor, à nossa imagem e sonho, que tanto procuramos, está em nós mesmos. Para achá-la temos que ir tirando uma por uma as nossas próprias máscaras. LA 04/009
Quando distante, o amor é saudade e um só pensamento. Quando na cama, é um só corpo. LA 04/009
Quanto mais distante, mais vivo o amor. A distância o rega de sonhos. Tanto que, quando perto, tende a murchar por falta de água. LA 04/009
Se dependes do amor de alguém, ele deixa de ser amor. O amor é que depende de dois para poder ser um, e florir. LA 04/009
Se choras pelo que acabou, não vês o que está despontando. LA 04/009
Também já tive saudade do que jamais existiu. Já ouvi cantar o sabiá quando cantava o tiziu. LA 04/009
Quanto a Andrea Bocelli, a natureza não lhe deu olhos porque fora covardia dar tanto a um só. LA 04/009
Gostar do que se faz, isto sim é curtir a vida! LA 04/009
Não espere por dias melhores, nem por tranquilidade para realizar a sua obra. A vida depende muito mais dos vulcões, das tempestades, dos furacões que dos céus de brigadeiro. LA 04/009
A mentira é muito mais veloz, mais ao alcance de todos, e a maioria a prefere enquanto lhes beneficia. O amor pela verdade é para quem já tem ou busca um sentido. LA 04/009
A paz de espírito implica a liberdade, a liberdade só é legítima se coexiste com a paz de espírito. LA 04/009
O amor sempre é loucura, mas da melhor. LA 04/009
Quem tiver medo de hospício, é melhor não amar. O que sabe que o mundo é um hospício, este sim pode entender e viver gostosamente o amor. LA 04/009
Sim: no amor, a beleza nem sempre é fundamental, contanto que ela exista. LA 04/009
Não importa entres em parafuso, te saias mal, te quebres no amor. Quem o experimentou haverá de querer sempre se apaixonar. Claro, o prudente será cada hematoma a seu tempo. LA 04/009
Na vida existem coisas boas e coisas más. Quem aciona a sua fé com a boa vontade em geral consegue passar por tais opostos, sobrevivendo aos revezes e musicando a travessia. LA 04/009.
O amor é sempre aquele paradoxo — ausente, suspira por e-mails e celulares. Presente, resfria de tanta umidade. E se você procura entender, ele acaba. LA 04/009
Se a morte é o fim, a vida é sempre um recomeço. LA 04/009
Aqui é o lugar de nos irmos nos livrando do que nos prende aqui. LA 04/009
Sim, temos de ir conscientemente nos livrando das cascas e empecilhos da natureza em nós como a ave troca de penas e a serpente de casca — até nos libertarmos geral do peso do grotesco. LA 04/009
Sossegue. Não há garotas perdidas que os homens não achem. LA 04/009
Sabe aquele vazio terrível que por vezes nos vem? Não procure guru, não ore, nem leia Paulo Coelho. Apenas abra a geladeira e coma alguma coisa: é pura fome. LA 04/009
Se o vazio for zen, aí nem Platão ajuda. A única saída é tântrica: nutrir-se bem do inefável. LA 04/009
Se deixar para amanhã o que não vai fazer nunca, já mostra boa vontade. LA 04/009
Minha professorinha me disse que só o errado eu fazia sempre certinho. Disse-lhe que ela também... — Mas coooommmoooo?! — Meu nome é Luís (com “s” e acento) e a senhora escreve sempre com “z”. Lembro que a mulherzinha espumou. LA 04/009
O paralítico por vezes corre, o cego vê, o mudo vocifera — e sem nenhum milagre. LA 04/009
Dizia à irmã na frente do cunhado, sempre com o rádio no último: Dá menos, Carla, dá menos!... No que o marido concordava e acrescentava: Mesmo porque não ganho lá essas coisas... e caridade deve ter limites. E o mano reforçava: Dá menos, Carla, dá menos! E com a boca cheia de comida e o rádio arrebentando, mastigava-lhe baixinho: já pensou (num tempo desses!) se você engravida?! LA 04/009
Dizia que os concretistas tinham comido maionese com cimento branco — por isso exprimiam aquelas coisas que só os seus cachorros cheiravam. Meu amigo era um tanto exagerado, isto é... nem tanto. LA 04/009
Beijo de língua traz sempre aquele tchã! Satisfação poliglota. LA 04/009
Antes tarde do que cedo demais. LA 04/009
Há uns bobos por aí procurando a pessoa certa. Eu só procuro as erradas — uma de cada vez. LA 04/009
Geralmente nem como, quando penso muito em você. LA 04/009
O jeito de pensar ajeita os desajeitos, jeitosamente. LA 04/009
Quando voltavas de férias lá das fazendas avoengas eu tirava um por um os teus carrapatinhos, lembras? Eram tão miudinhos, tão ali agarradinhos... Um a um com as unhas em forma de pinça, bem devagar, devagarinho (que nem o Martinho da Vila), devagar, devagarinho... eu os ia tirando com infinito jeito. Os que não saíam (lá nos cantinhos e beirais) bem quentinhos, agarradinhos — esses a gente os afogava. LA 04/009
Olhar atrás e ver que há gente bem mais desgraçadinha, isto te consola? Engraçado... a mim também. LA 04/009
Fiquemos assim, se você não me ligar, me telefone dizendo por que não ligou. LA 04/009
Se soubesse o que não sabia, que graça que teria saber que você não viria? Pelo menos esperei sonhando como um rei. LA 04/009
Tantas vezes ela me deu o bolo, que nunca mais aceitei convite de aniversário. LA 04/009
Só deixaria para fazer amanhã se não houvesse um depois de amanhã. LA 04/009
Eu vim mas ainda não cheguei — sim, ainda estou lá: estou beijando Mariana (sentada no capô do meu bonito flex) lá na área escurinha da casa dela. — Que é que está dizendo, André?! — Nada, mãe! Já cheguei. LA 04/009
Alô, meu bem?! Acordando agora? Eu também. E então vais ao enterro? De quem?!... Ao meu, é claro! Então já se esqueceu de que ontem você me matou de amor? Ingrata! Não te vejo mais, a não ser daqui a pouco. Beijos. LA 04/009
Quem dá é criticada, quem critica adoraria. Quem pode com a mulherada, se nem o diabo ousaria? LA 04/009
Duas coisas adoramos — a outra é fazer sexo. Com o resto nem ligamos. LA 04/009
A amizade é como um violino, as cordas vão partindo uma por uma. LA 04/009
Já barganhamos sorrisos e lágrimas. Hoje, aprendemos — não publicamos o que sorrimos ou choramos. LA 04/009
A amizade é como anéis, o importante é ter os dedos. LA 04/009
Se alguém vai, outro alguém vem. Amizade há de ser coisa de vivos. LA 04/009
O preço da amizade é o mesmo de se manter um carro sempre bonito. LA 04/009
Cuidado para não naufragar, que os amigos de outros barcos lhe jogam a âncora na cabeça. LA 04/009
Se os amigos são os irmãos que não tivemos, é bom lembrar que os que tivemos já não foram de brincar. LA 04/009
Os amigos são anjos que te exortam a voar — sobretudo quando estiveres na muda de penas. LA 04/009
O mais difícil não é encontrar um amigo da onça, mas um amigo da gente. LA 04/009
A amizade é um bom investimento — há de durar enquanto as contas forem separadas. LA 04/009
Tomara estejas sem guarda-chuva quando chover felicidade. LA 04/009
Na meia-idade acharia a frase acima tola. Eu também já comi maionese com cimento branco. LA 04/009
O que te dão, te levam em outra moeda. LA 04/009
Quanto mais perícia em se cobrar tanto mais chance em receber. LA 04/009
Aprenda a receber de Deus, que nunca lança em rosto. LA 04/009
Galo que não canta serve-se na janta. LA 04/009
Uma vitória com sangue é só um pleito de ódio. LA 04/009
Dinheiro é bom, agora, ficar sem ele não é o fim do mundo, mas apenas o fim de sua vida social. LA 04/009
Sim, para ver o Diabo fique sem o que dizem que é dele — fique sem dinheiro. LA 04/009
Usamos Deus para pedir. LA 04/009
O homem é dominado pelo tato, melhor: pelo contato — prende-se e morre por ele. LA 04/009
Caminho errado, má chegada. LA 04/009
A tendência da gula é tornar-se gulatria. LA 04/009
Braçada muito cheia se perde pelo caminho. LA 04/009
Sim, a fama tem ligações com a cama. LA 04/009
Se o homem não é de brincar, tome cuidado nos folguedos. LA 04/009
Mulher vista uma só vez deixa um perfume para sempre. LA 04/009
Um especialista é o que torna o simples confuso para depois voltar ao simples chovido e cuspido no molhado com o fim de que você pense juntamente com seus colegas que são os entraves da empresa. LA 04/009
Quem sabe não somos a escória de outras inteligências? LA 04/009
Deus já deve ter visto que seus castigos não funcionam. LA 04/009
Um chato é aquele que ao te cumprimentar fala de outra coisa que não seja o tempo. LA 04/009
A televisão e o computador são bem mais interessantes que as pessoas, caso contrário estaríamos sentados nas esquinas e praças. LA 04/009
O que mais me aborrece é não me aborrecer com quase nada. Agora, indignar-me e jamais me conformar, isto aprendi desde menino. LA 04/009
O que mais me entristece é não saber me entristecer, já que tenho a alegria como uma das metas do sentido da vida. LA 04/009
Nunca me levei muito a sério para não ser bobo de mim mesmo. LA 04/009
Enquanto puder ler e escrever serei um homem muito rico. LA 04/009
Uma das coisas de que me arrependo é de não ter beijado aquela prima um pouco mais além, um pouco mais. LA 04/009
Terrivelmente bela aquela noite. Lá fora, chuva grossa vento raios e trovões Na alcova, a vela tremulando... e eu agarrado, agarrado à tua bunda pra não cair da cama. LA 04/009
Não lhe quero, minha amiga, para secar minhas lágrimas, mas para fazer chover. LA 04/009
Quero viver até dar calos de existência, até soltar-me dentro de mim como um caroço de abacate bem maduro. Quero viver até dar calos e ter saudade de mim. Depois a tal da Médica pode vir extraí-los. LA 04/009
A mulheres que não me perdoem, mas bem melhor que amá-las é sofrer-lhes as chantagens, os doces tremeliques, as mentiras tão honestas, os fiéis enganos — tudo isso dá um orgasmo apuradinho apuradinho. LA 04/009
Quando a conheceu, ela tinha 22 anos e já 9 de namoros fartos. Casaram. Três filhas. Aos 41 ela abandona a casa — à la recherche du temps perdu. Volta aos 61 anos. Depois de três órbitas terrestres, André começa a perceber que ela não era para se levar a sério, de sorte que a sua mansa testa e seu coração de arlequim agora a deixam para sempre. Um paciente aprendizado destilado de aflitas experiências. LA 04/009
Saiu pela vida e aprendeu o que os homens e as mulheres gostam de ouvir. LA 04/009
Se Deus nos atendesse em tudo, que é que faríamos com tantas bobagens? LA 04/009
Os mundos altamente inteligentes não entram em contato com a gente... por que será, hem? LA 04/009
Pouco antes do anoitecer, se ninguém estivesse por perto, piava seu mantra chamando as galinhas para o chiqueiro e lhes jogava uma ração que ele preparava com a cor de pedregulho partido. Sempre que limpava o chiqueiro, um barracão com poleiros de galinha ao lado e acima, peneirava pacientemente, sob uma bica ao lado, a lama e as fezes da pocilga-galinheiro — procurava (e dizia rindo muito a quem bisbilhotasse) possíveis pérolas. Um dia o patrão lhe explicou: Não confunda o sentido figurado das coisas, André, com a materialidade delas. Se alguém atira pérolas aos porcos, não são pérolas nem porcos o que está em jogo, mas sim... Tem razão o patrão —atalhou o tabaréu, mas tenho também as minhas, e explica: É que as tuas galinhas, que andam ali pelo garimpo, podem engolir alguma isca de diamante entre os cascalhos já lavados... e á noitinha elas vêm comer entre os porcos, comer e dormir sob o mesmo telhado deles. E já achou muitas —perguntou o dono. Por enquanto não, senhor, —responde o empregado ao mesmo tempo em que pensa debaixo do seu chapéu: Se lhe digo que já tenho doze belas gemas, vai querer no mínimo dez... e como vou comprar o sítio do Coronel Tibúrcio (Deus o tenha!) com a viúva e tudo, com a bela viúva Deolinda que sempre foi e é meu bem-querer? LA 04/009
André era muito estimado. Um sorriso aberto num jeito de saudar humilde. A voz bem modulada, o olhar entre o alvo e o nada. Via jamais percebendo. Percebia compreendendo que muito perceber faz mal. De modo que entendia sem deixar que o entendimento fosse a favor ou contra — muito pelo contrário. Não deixava conversa esquentar e jamais queimar. Só dizia às pessoas o que elas queriam ouvir. André sabia fazer-se estimar. LA 04/009
Ser feliz é roubar a morte. LA 04/009
É muito grande a diferença entre as pessoas. Uns dão o que lhes sobeja, outros só oferecem o que lhes falta. A diferença entre as pessoas faz o ser humano grandioso e esse mundo ser escola. LA 04/009
Um sonho abandonado é um fantasma que se joga no porão. LA 04/009
A mentira vem cedo, a verdade chega tarde. É que a primeira não exige maturidade, tem o brilho das jóias falsas e além de asas nos pés, corre nua para esconder seu interior. LA 04/009
Trabalhar muito não faz mal, principalmente se você é o patrão para quem se trabalha muito. LA 04/009
Sim, no começo, o amor é cego, depois a convivência o faz ver. LA 04/009
Tentou ser honesto, e quase conseguiu. A mãe e a esposa respiraram: Graças a Deus, voltou ao seu normal. LA 04/009
Tocou sua rabeca por mais de quinze anos. E só não tocou mais porque o vizinho a roubou. LA 04/009
Concordo: Antes tarde, o melhor sono é de manhã. LA 04/009
Quem sempre madruga mais cedo se enruga. LA 04/009
Sem loucura, como provar o melhor do amor? LA 04/009
Se o amor é um jogo, os jogadores devem jogar de tal modo que ambos saiam ganhando. LA 04/009
Não gosto de santos nem de bandidos. Sou daqueles que se esforçam para fazer o que é bom para si e ruim para ninguém. Para viver preciso de um sentido e consciência elevada. LA 04/00
Aprendo com os grandes homens, tanto com seus acertos como com seus erros. Muitas vezes, bem mais com os seus erros. LA 04/009
Confio no futuro porque confio no hoje bem vivido. LA 04/009
Nascer é cair numa enrascada que provém de outras enrascadas. Acho que viver deve ser destramar. LA 04/009
A beleza das coisas estão em nossos olhos, numa empatia secreta com a natureza. LA 04/009
O futuro não me inquieta, o presente, sim, me faz cuidadoso — ele é a banqueta da oficina onde trabalho o meu porvir. LA 04/009
Se amas as mulheres sem pô-las contra a parede, gozarás de sua simpatia e generosidade. LA 04/009
Sem muita pesquisa e estudo, muita dedicação e disciplina, nenhuma grande obra é realizada. LA 04/009
As sombras são o charme da luz. LA 04/009
Sem as sombras o sol seria um terrível tirano. LA 04/009
Perdoa aos teus inimigos, suporta-os, ama-os até, se puderes, mas nunca mais, nunca mais lhes voltes as costas, nem para te afastares deles. LA 04/009
Fracassar, além de não depender só de você, mostra que o êxito não tem nada de permanente. LA 04/009
Degustei os teus morangos, tuas amoras, desfolhei-te rosa por rosa — foi adorável te amar. LA 04/009
Se o amor não pode cumprir com o que jura, por que pedir-lhe além de sua ternura? LA 04/009
Quem guerreia com mulheres perde sempre. Quem as ama e vai embora, este, sim: ganha o seu amor. LA 04/009
O amor é sempre usurário — dá, mas escorcha nas taxas do capital mais os juros. Por isso é que muitos preferem ser os amigos da casa. LA 04/009
Ontem não pude, amanhã não sei, mas hoje te amo. Hoje será ontem, amanhã será hoje e o sonho de hoje amanhã. Mas te amar só no tempo que apalpo. LA 04/009
Quando a dor lhe for muita, me dê um pedaço dela e a gente a engole a dois. Mas não deixe também lá vez ou outra de passar-me um bocado de alegria, embora pouca. LA 04/009
Relacionar-se é estar comendo peixe — por mais cuidado sempre um espinho ou outro passa. LA 04/009
Secar as lágrimas, o vento seca. Já teremos sido bons amigos se não cavarmos para que outras brotem. LA 04/009
Se tenho morrido de medo, de fome, de sede, de raiva, de tédio, de saudade — por que também não morreria de amor por você? LA 04/009
Ontem não fui nada, hoje não sou nada, amanhã não serei nada. Como vês, vivo a glória dos nadas — tão terrível como nunca ter perdido. LA 04/009
Sim, a beleza é pedra rara. Se a tens ao lado, logo estarás roubado, a menos que não faças questão. LA 04/009
Se estiveres sozinha, não te desesperes, telefona — alguns homens ainda são como cães. LA 04/009
Em se tratando de homem/mulher, entre o amor e a amizade só há um eufemismo. LA 04/009
Há quem lhe promete a lua, e mal lhe dá uma rosa. Quem promete o mundo e só tem o pó dos sapatos. Quem promete uma estrela e dá um anel de vidro. Resta saber: o amor são coisas? LA 04/009
Se alguém não lhe quer, procure outros sapatos. Um outro modelo pode lhe ir até melhor. LA 04/009
O coração é como o vento — vem e vai para onde quer e ninguém sabe. O lado estável do coração são os seus belos enganos. LA 04/009
O lado democrático do amor é que ninguém é de ninguém — pelo menos enquanto a carne é moça. LA 04/009
O amor são estágios do humano, suas loucuras e mazelas parecem sempre as mesmas entre os milênios, é que há um descompasso entre a natureza interior com a realidade criada pelo homem. LA 04/009
Como te amar até o fim, se a vida é feita de retalhos de começos? LA 04/009
As mulheres se gabam tanto de terem o tal sexto sentido!... Não sei o que fazem com isso já que não as faz mais felizes. LA 04/009
Gosto das feministas porque não nos cobram flores da beira de precipícios, ostras do fundo do mar, ouro das minas, a tessitura da fama que leva ao poder... os jantares eróticos com transas de fachada — não por que o façam por si mesmas, mas por que não sabem quanto isso custou aos homens que os bacanas (que são seus alvos) mantêm pobres e escravos. LA 04/009
Há pessoas astutas e pessoas inteligentes. Das primeiras o mundo está cheio — são as tais que não sabem que podem ser lidas dentro de suas cabeças. São brilhantemente falsas e se julgam superiores (uma casta talvez de outro planeta estagiando na Terra). Mas é fácil sobreviver a elas — dar-lhes o que exigem: falsidade, e um jeitão de bobo e boquiaberto, isto é, de quem não as alcança. LA 04/009
A verdadeira face do amor só a veríamos após lhe tirarmos a derradeira das mil faces que se multiplicam — a cada uma tirada se lhe encaixam outras setenta. É uma tarefa para a vida executar. LA 04/009
O amor é como ele é no tempo-espaço da mão. Só não deves deixar que te explore muito, ou acabe com você pra ficar com suas coisas. O amor é o que a sociedade tem — não faças doce nem chiquê: ama gostosamente, há muitos verbos para isso e a escolha é tua. Bom proveito! LA 04/009
As infláveis (como os infláveis) estão cada vez mais perfeitas. Chegará um tempo em que estarão penduradas, dizem os hierofantes do sexo, em cada guarda-roupa. O que não deixa de ser um tipo de libertação (afirmam os mesmos hierofantes), inclusive, aliás, da sujeira, das doenças e dos chifres. LA 04/009
Para estar vivo basta não estar morto. A vovozinha que ficou trinta dias numa gaiola de escombros quando do terremoto em L’Aquila fazia crochê (mesmo no escuro) para passar o tempo. Assim que foi tirada lá debaixo (com uma carinha de moleca, óculos na ponta do nariz, o riso largo e fofo), mirou a câmera e disse, ajeitando os longos cabelos brancos: Me desculpem, meu cabelo está um pouco despenteado! LA 04/009
Já que o riso é calmante, use com moderação. Já que o humor é rechaçado pelos que amam as névoas, saibamos a hora. Já que a alegria fere o triste, sejamos bem discretos. Mas cultivemos os três — eles prolongam a vida e conservam a sanidade. LA 04/009
Ela era uma ilha-oásis de todas as cores e sabores, solta, flutuando em águas tropicais, e adorava dessedentar os sequiosos que a saboreavam em todos os outeiros e recantos com seus canudinhos e colheres, os dedos a catar morangos e amoras. Com amêndoas também e com pistaches? Não sei se só essas delícias. Só sei que andava e dançava em cada copo, em cada corpo a molhar lábios e bigodes de todas as cores e sabores: ora gelo, ora labaredas, a flambar fantasias e desejos. Marilda era as flores daquele jardim que todos nós plantamos em sonho e por onde floresce faz tocável o inefável da vida. O jardim onde passeia o perfume das almas das amadas enquanto seus corpos nus correm por entre as vinhas em um pega-não-pega entre risos joviais a ofegar, a convidar ao prêmio. LA 04/009
Chaplin tem um filme que genialmente faz chover no molhado: O cara é um vagabundo desprezado por todos, inexistente para as mulheres e perseguido pela polícia o tempo todo. Vai para o Alasca e volta com muito, muito ouro. Fato óbvio, os milionários carregam-no para os seus clubes e fazem dele um precioso bobo da corte da elite. Só que agora ele perdeu (aqui entra o drama genial) as delícias da vagabundagem que lhe correm nas veias e o acarinham em lembrá-las. Perdeu aquilo e aquele que ele adorava ser e não sabia. Em Chaplin o óbvio se transcende, vira beleza inocente. Carlitos foi a lâmpada do gênio. LA 04/009
O amor é aluado — aumenta, se esconde, míngua, cresce, prospera, se enche, se oculta e, sempre outro, logo reaparece. E sempre no seu barco, à espera das marés cheias para ir ao castelo da princesa Luana ou do príncipe Sonsézimo com seu nobre coração sempre desembainhado. LA 04/009
Se a ideia vem e você não a esboça, está perdida para sempre. O queimor da inspiração tem vários graus: um para cada metal da ideia. Depois é só despejá-lo na fôrma de barro das palavras. Sim, quando você para o pensamento, ele se autogera em vários, enraizados num só vaso que é o modo de retê-lo no tempo: trazê-lo para a nossa dimensão. Sonhamos nas mãos de Deus e Ele faz que o sonho nos retorne em forma de asas e feito obra. LA 04/009
Do húmus com a lama, mais a água e o calor nasce a vida que nos alimenta e as flores que deixam as mulheres lisonjeadas. LA 04/009
Quem nasceu para chinelo jamais usará um tênis. LA 04/009
Tal como o amor e o desamor, o bem-me-quer e o malmequer são, minha amiga, a mesma flor. LA 04/009
Cada povo com sua imprensa, seu tabu e licença, sua crença, sua beleza imensa e, claro, sua doença. LA 04/009
Do porco para o humano, do humano para o porco e de pessoa para pessoa — eis a gripe suína. Os infectologistas estão a postos. A dita está pulando a cerca dos países. Sim, a bichinha é puladeira. Veio da terra do Cantinflas. É matadora. A globalização tem disso: além de mercadológica também pode ser virótica. Xô, porcina, xô! A ciência te fulmine! LA 28/04/009
Muro baixo, vizinho mau. LA 04/009
Pobre é quem não se agrada do que tem. Esta é uma dessas inúmeras frases de amansar a sociedade. LA 04/009
Tranquilo, sempre calado e sem enjoamento algum — o defunto. LA 04/009
Comer com fome faz a comida boa. ( Nem sempre dona Ignácia, nem sempre.) LA 04/009
Não ter insônia é o melhor colchão. LA 04/009
Um par perfeito — ele assoviava, ela chupava cana. LA 04/009
Três vezes por semana o diabo tocava rabeca para a vizinha dançar. E o marido nem via — de tanto que dormia. LA 04/009
O tempo é o senhor de tudo, mas de que vale, se mesmo para a vida sequer lhe dá a mais um só segundo? LA 04/009
Palavras do coveiro: Vão-se os dedos, fiquem os anéis. LA 04/009
Sim, a cruz está demais pesada, mas não passe o serrote nela, que lá, bem lá longe há um vale, e ela vai lhe servir de ponte. Segundo a lenda, assim que o indivíduo passa, sua cruz se dissolve. LA 04/009
Vaidade das vaidades, que delícia que elas são, não é mesmo, seu Salomão? LA 04/009
Sim, ninguém pode servir a dois senhores. Se servir a um já cansa, o que não fora servir a dois? LA 04/009
O vilão cospe no prato em que come e beija a mão que lhe nega. LA 04/009
Pra quem está perdido, estar perdido é seu caminho. LA 04/009
A mentira deita e rola porque há sempre quem ouve e acredita. LA 04/009
Surpreender as ações em seu avesso pode ser um recurso para entender as intenções sempre tão boas, tão humanas. LA 04/009
O sono é uma espécie de trégua exterior da vida. LA 04/009
Em geral as primeiras notícias são as mais verdadeiras — ainda não receberam a maquiagem dos terceiros interesses. LA 04/009
Saber estar em seu lugar é um modo de não ser usado ou ridicularizado. LA 04/009
Do jeito que o mundo toca a gente dança. Até aí tudo bem. O duro é ter de dançar sem música. LA 04/009
Um abismo chama outro, mas ele nem sempre ouve. LA 04/009
Pela boca seduzes, pela boca te pegam. LA 04/009
O tempo e sua ferrugem, por dentro e fora de nós. LA 04/009
Sapo, grilo, canguru... não pulam por boniteza, já o humano é pulador por força da natureza. LA 04/009
Há sempre aquele bocado que nos ajudam a comer. LA 04/009
No palácio ou na pocilga, um porco é sempre um porco. LA 04/009
Quem muito fala é muito chato, quem fala pouco se esconde, logo, falar nunca é barato — pro tabaréu ou pro conde. LA 04/009
Quando a vi estava linda, só usava um colete e fazia uma omelete com queijo. LA 04/009
O coração sente o que a boca não diz. LA 04/009
Houve o tempo do rapé, o do chulé e o do mané — todos os três em extinção. LA 04/009
Bicho que não engole outro os homens o têm por fraco. LA 4/009
Se crês em Deus, ao embarcar — ora uma vez. Ao ir pra guerra — duas. Ao casar — três. Se for morar com a sogra — vigia e ora sem cessar. LA 04/009
A exceção faz recordar a regra. LA 04/009
Quem morre na véspera chama-se morte cerebral. LA 04/009
A palavra honra, palavra-sentimento, palavra-cofre, tem feito muitas vítimas. Há que abrir essa palavra, ver-lhe os sepulcros, os cemitérios, os equívocos, as estratégias e mumunhas que ela, capciosa, acoberta. LA 04/009
Uns dizem que a mentira tem as pernas curtas. Imagine se ela as tivesse compridas! LA 04/009
Mulher que se preza ri na hora certa. Já chorar, pode chorar quando quiser. Isto soa engraçado, não? LA 04/009
Se você perdeu a honra (que hoje está em reconstrução), toque a vida para frente, cuide-se, ame-se: reerga-se — isto sim é importante. LA 04/009
Se é para mentir, devemos fazê-lo como um rei, pelo simples motivo de que a mentira de um rei é real. LA 04/009
O erro é do tamanho de quem erra, mas também tem a ver com quem é tão pequeno, que nunca errou. Acerto e erro são elos de uma mesma corrente — daí partir-se de quando em quando. LA 04/009
Ensaboar cabeça de touro é perigoso, como abraçar ursos, tamanduás, fazer cafuné em cobras venenosas ou tocar berrante perto de homem casado. LA 04/009
Da muita conversa nasce a discussão, da discussão o desentendimento e deste, as suscetíveis, as dolentes, intermináveis mágoas. LA 04/009
A graça vem de Deus, o mais, do que fazemos ou não fazemos. LA 04/009
Quando moço admirava os gênios, hoje prefiro as lâmpadas. LA 04/009
Muitas vezes afagamos ursos, abraçamos leões, acariciamos cobras — e nem percebemos. LA 04/009
Estou em busca, não do tempo perdido, mas da força de viver um tempo que seja ganho. LA 04/009
Entre a colher e a panela a mão avalia a quentura. LA 04/009
Quem procura acha, não só o objeto da procura como o que nem sabia que procurava. LA 04/009
Sim, a pressa é inimiga da perfeição. Mas quem é que falou que precisamos da perfeição? Pra mim, o bem-feito já basta. LA 04/009
Quem avisa às vezes nem é amigo, até porque nem todo aviso é interessante. LA 04/009
Não alise cobra — foge da pessoa melindrosa e ressentida: é gente perigosa. LA 04/009
Falsidade que se preza tem sempre uma casquinha de verdade. LA 04/009
Quem pode, pode; quem não pode, finge. LA 04/009
Ser preguiçoso dá um trabalhão. LA 04/009
Quem cala consente? E quem fala, não mente? LA 04/009
Sua sogra era boa, tanto que deixou da mulher por ela. LA 04/009
Ninguém pega a sorte pelos cabelos, nem a graça pela gola. A primeira é do mundo, a segunda é dom de Deus. LA 04/009
Pregam para os pobres heroísmo no sofrer, renúncia no viver, esperança no amanhã, o céu depois da morte — desde que digam amém e creiam numa ventura póstuma. E até que tem dado certo — usam a religião para concentrar a riqueza e repartir a pobreza. LA 04/009
Houve e há, sim, houve-e-há uma tal onda universal de padres e prelados comerem cus de moleques, que nós, os leigos, proporíamos lhes fosse ministrado — através de empresa competente — atendimento próprio: vaginal ou anal, mas de mercado. A sociedade como um todo agradece. Amém. LA 04/009
Salgue seu peixe a tempo. Depois, sim, toque a rabeca só de cueca. LA 04/009
Quando acontece o pior, o negócio é cantar dias melhores ao violão. LA 04/009
O melhor da missa é a hora da bênção. LA 04/009
Cara jeitoso come em casa e na dos outros. LA 04/009
Quem sempre mente acaba acreditando, e tanto, que aprende a pregar sobre a verdade. LA 04/009
Tempo perdido é tempo ganho, desde que não se ache que se perdeu grande coisa. LA 04/009
Orar é bom, mesmo quando não serve pra nada. LA 04/009
Não tenha medo, a gente sempre morre de outra coisa. LA 04/009
Não sei qual o melhor, se o amor ou o dinheiro. Muito difícil conciliar os dois. LA 04/009
Em vez de chumbo, nega, troquemos nossos humores. LA 04/009
O que o dinheiro não faz, ou não alcança, a graça nos dispõe. LA 04/009
A fé é como a alegria — ou se tem ou não tem. Quem as tiver que as viva bem baixinho. São coisas chiques — sem preço nem compra-e-venda. LA 04/009
O amor é mesmo um luxo, daí luxúria, nome bem dado — tão bom, que é pecado. LA 04/009
A esperança só nos engana, ou melhor: pensa nos enganar, pois já fruímos na espera o que nunca será — isto, sim, é que é roubar do futuro! LA 04/009
Na hora incerta tudo fica incerto, inclusive os amigos, isto é, todos nós. LA 04/009
Marilda sempre me dizia: Antes dar que pedir. Eu concordava com ela, agradecido. LA 04/009
A tardança de Deus faz falta. LA 04/009
Antes cedo demais que nunca. LA 04/009
Se o velho pudesse e o moço soubesse — travava tudo. LA 04/009
Marilda me ensinou que um amigo se conhece pelo jeito de olhar pro nosso cônjuge. — Pro nosso cônjuge? —certifiquei-me. — Pro nosso cônjuge e o cachorro. LA 04/009
Perto de mamões bonitos sempre há sanhaços, Rosinha. LA 04/009
Quando a gente é moço é bobo. Com o passar do tempo fica mais bobo. LA 04/009
A bobeira não é um mal, às vezes até ajuda. LA 04/009
Quando era moço pedia a Deus força para o trabalho. Hoje Lhe peço a bênção de fazer nada. LA 04/009
Ser pobre nunca dá certo, se bem que a gente aprende a tourear as incertezas. LA 04/009
Meu pai era maquinista daqueles infinitos trens de carga... Não acabavam nunca de passar... Às vezes me punha na máquina para as manobras na estação. Eu ficava tão feliz da vida que não parava mais de inventar histórias pra minha mãe. LA 04/009
Não poucas vezes o melhor lugar é em cima do muro. Se for o caso, não temamos os amigos nem os políticos, já que tal lugar só existe lá em nós. LA 04/009
A pedra ainda tem volta, é só achar um Sísifo. Já a palavra só tem ida. LA04/009
Não é fácil equilibrar dois coelhos enormes e dois globos terrestres, mas Marilda o faz com charme, garbo e sem quaisquer colisões. LA 04/009
Minha amiga me disse que preguiça dá que nem jerimum. LA 04/009
A vida não vale nada, mas a morte presta menos. LA 04/009
Zelão só dorme em seu colchão e só transa de botina — é um olho no padre e o outro na missa. LA 04/009
Pron...to, nega, pronto... tirei! Era só um carrapatinho, safadinho. LA 04/009
Quando se pensa que Deus Se atrasou, é que Ele está esperando que a gente se vire para trás. LA 04/009
Susan Boyle cantou e o mundo viu que ela é muito bonita. As pessoas que riram dela talvez tenham notado que ‘feias’ eram elas. LA 11/04/009
Irmão de barqueiro não paga passagem — vai nadando. LA 05/009
Queres paz? Corre atrás. LA 05/009
Tempo de guerra, mentira como terra. Tempo de paz, nada menos mendaz. LA 05/009
A idade do pão depende da fome. LA 05/009
Tal a semeadura, tal a colheita. Picou o mosquito, vem a maleita. LA 05/009
Cuidado, nega! É galho seco. LA 05/009
Quando a mentira que traveja as outras sofre a ação dos cupins, qualquer ventinho põe o telhado abaixo. LA 05/009
No entanto, é preciso perdoar ao que lhe fez muito mal — assim se queimam os laços que prendiam os dois. LA 05/009
Aos abominavelmente inteligentes só quando mortos sua terra os aplaude. Os intelectuais são um tipo de formigas canibais. LA 05/009
Quem abençoa o pouco transforma-o em pouco abençoado. LA 05/009
Quando brigam as comadres vão tirando dos armários calcinhas e cuecas sujas de outros espermas e outros batons. LA 05/009
Não pule, nega, que a piscina está vazia. LA 05/009
Ódio é fogo de monturo, está sempre rebrotando — requer tato, perícia com paciência. LA 05/009
O povo aumenta para dar mais sabor. E a gente gosta enquanto a história não é a nossa. LA 05/009
No Largo da Boa Morte os verões andorinhavam em trissos e rasantes, em rasantes e trissos os verões andorinhavam. E Rosinha ia e vinha, ia e vinha... Suas pernas aleluiavam. LA 05/009
Quando Rosinha passava naqueles paninhos leves a gente não via nada além das rosas de Rosinha. LA 05/009
As pernas de Rosinha faziam cosquinhas nos moleques, lhes enchiam a cabeça de asas de aleluias. LA 05/009
Grilhões? Nem de ouro nem de diamantes. O que me prende por bons momentos são as pétalas de Rosa. LA 05/009
Vou mandar fazer um diamante do pentelho de Rosinha para fazer um peircing petalado e rosadinho pra covinha do seu queixo. Assim tenho chilique em cima e embaixo. LA 05/009
A quem Deus não dá esposa o diabo prodigamente vai lhe mandando amantes — uma bem atrás da outra, amantes e mais amantes, até o bípede depenado ficar de dar muita pena. LA 05/009
Sofósio era um homem bruxo — pegava o sol com a mão, punhados e mais punhados. Ia enfiando num bornal de couro que, cheio, ele amarrava forte pela garganta. E logo mais quando a noite rolava a sua pedra preta sobre os morros e a cabana, ele fazia um furinho no de cujo dependurado que deixava sair um girassol num sorriso gostoso a lhe soprar o escuro e dar apoio aos olhos. LA 05/009
Não pule, nega, que é cerca eletrificada. LA 05/009
Atrás do ódio tem ódio, atrás do amor tem os dois. LA 05/009
A união faz a guerra, a desunião, a paz. Entre razão e desrazão há sempre um duplo falaz. LA 05/009
Não, nem sempre bate as asas o galo antes de cantar, nem a amizade nos avisa quando é que vai acabar. LA 05/009
Bebe teu vinho, planta flores e frui teu dia, minha amiga. Todo amanhã tem seus algozes, e o mais é história bem antiga. LA 05/009
Há os que fazem orações tão longas e bonitas, que a maioria dos crentes julgam não saber orar. LA 05/009
Vaidade das vaidades, quão deliciosa é a vaidade! LA 0/009
Bezerro manso e sonso mama em muitas tetas. LA 05/009
O tempo e suas pajelanças! O tempo finge que cura, e, se sabe fingir, curado está. LA 05/009
O amor é bem engraçado — quanto mais fundo fira, tanto mais lembrado e amado. LA 05/009
Não só gostamos de sofrer como queremos competir pra ver quem sofre mais. LA 05/009
O amor é mesmo engraçado — não raro, nem sendo amor, faz o outro sentir-se amado. LA 05/009
A mentira é a verdade que mais prezamos. Quanto à verdade verdade, a essa nem ligamos. LA 05/009
O mesmo ocorre com a beleza, que nem precisa ser bela, mas ser o que imaginamos. LA 05/009
O mesmo com a liberdade que a gente faz existir sem jamais haver nenhuma. LA 05/009
O mesmo com a esperança, que igual ao pão amanhecido a gente amacia ao fogo, come com ou sem manteiga — e dá graças a Deus. LA 05/009
O mesmo de outras mesmices nas deliciosas semprices de sempre mesmas outrices. LA 05/009
Quem dá aos pobres, dá aos pobres ou faz barganhas com Deus? Sei lá! Se eu fosse o agraciado, nem pensaria nisso. LA 05/009
Sei lá! E o bom de não saber é que nesse não sabendo a gente finge saber. LA 05/009
Quando a coisa nos aperta a gente fala do tempo, se faz de bobo e surdo e como enguia se esgueira. LA 05/009
Pela boca morre o peixe. O homem, pelas ações, palavras e silêncios. LA 05/009
Se barriga não dói uma só vez, é bom manter o remédio bem à mão. LA 0/009
Nós e o tempo, o tempo e nós, sempre o tempo, que não dá tempo, mas nos cobra de si em nossa vida. LA 05/009
Prometer é um modo de não poder cumprir. LA 05/009
O que acumulas outro gasta. O que suas outro goza. E assim é a vida em verso ou prosa. LA 05/009
Toda ação tem um além de si mesma. De sorte que trabalhamos pra nós, pra Deus e pro diabo. LA 0/009
Feliz da porta que nunca foi arrombada. Feliz da horta que nunca foi pisada. Feliz do ganso que se afogou mas não morreu, pelo contrário — foi pro céu. LA 05/009
Para morrer basta não estar mais vivo. LA 05/009
Teodoro? Caboclo astuto — faz negócio com o couro depois pega o canivete e vai matar a onça. LA 05/009
Pelos novos amores as pessoas se esquecem dos velhos e sentem uma gostosa saudade do futuro. LA 05/009
Em geral a verdade é solapada pelas suspeitas, e tudo cai na correnteza e vira água turva. LA 05/009
Só se morre uma vez de cada vez. LA 05/009
Da própria pele não se foge, mas se pode sentir que se é mais que a pele, mais que o corpo no sonho-mais da vida. LA 05/009
Deseja o melhor e espera caprichando nas imagens. LA 0/009
Se tem pressa, vá na frente, um dia sem querer a gente o alcança. Sem querer? Sim, sem nenhuma ideia fixa de se estar atrás ou à frente. O que importa é a persistência, dedicação e vontade, o sonho, o alvo e o ousar. A realização (o sonho feito coisa) é decorrência. LA 05/009
O insensato aprende de si, o astuto aprende com quantos possa numa espera interior positiva em relação a si mesmo: ordenar-se e organizar-se em sua experiência e meta. LA 05/009
A cobiça e a inveja rompem o recipiente e faz perder toda a semente. Há que saber sonhar, ousar e calar. LA 05/009
Informação: Terra de cego não há mais — todos agora têm um par de olhos: enxergam bem. Inclusive estão aprendendo a ler dentro das cabeças, como alguns de vocês já fazem. Sexto, sétimo sentidos, intuição e outros fricotes também já se praticam. Experiência e aparelhagem interior em funcionamento — isto é herança humana. O que cada um faz não suplanta nem está aquém do que outros executam. Em nosso tempo os ii já vêm pingados. LA 05/009
Cada qual é dono de seu nariz, mas isso nunca foi um grande patrimônio. LA 05/009
Quem apanha de mulher não se queixa a delegado, por isso a lei Maria da Penha só funciona pra mulher. LA 05/009
Quando o diabo reza a coisa está mesmo feia — quer te enganar. LA 05/009
Só se conhece que era um bem aquele bem que se perdeu — talvez porque ninguém o visse nem como bem nem como nada. LA 05/009
O vinho é bom porque amortece a dor que somos e só nós a vivemos em quedas e levantares. O vinho? Há vários. O meu é o da literatura. LA 05/009
Rosinha era como um domingo ali pelas duas e meia, numa penumbra arrepiada e desfolhável. LA 05/009
Se a fé for mesmo da boa, pede o milagre a qualquer santo. LA 05/009
Com dinheiro a gente come belas frutas. LA 05/009
Pobre sabido pede ao rico dentro da igreja e perto do padre. LA 05/009
Em vez de protestar melhor fora aprender a pedir, em tom inteligente e sem barganha — assim se pode até ganhar alguma coisa. LA 05/009
Bananeira que já deu cacho ajuda na produção de mais bananas — depende de adequação. LA 05/009
Viveu entre espinheiros, mas nunca desconfiou que devia mudar as sementes. LA 05/009
A César o que é de César, a Deus o que é de Deus e ao pobre... ao pobre o de sempre — porrada. LA 05/009
Aos mortos sepultura, aos vivos muito trabalho, aos vivaldinos as benesses prometidas. LA 05/009
Quem sabe lidar com as mulheres sabe lidar com o dinheiro, e vice-versa. LA 05/009
Vá devagar, com classe e calma, nunca demonstre que jamais comeu da comida dos deuses. LA 05/009
Atrás de morro, tem morro. Atrás de moita, tem coisa. LA 05/009
Atrás dos apedrejados vão pedras em revoadas, logo atrás dos desejos há mulheres peladas. LA 0/009
“Até marimbondo, SENHORES, têm as suas moradas!” O político falava aos sem-teto. LA 05/009
Nem toda fruta madura cai. Nem sempre adianta ficar com as mãos espalmadas. LA 05/009
Uma palavra azeda após a leitura de um belo poema martela todos os dedos que apalpavam a magia. LA 05/009
Quem paga dívidas é a sensatez ao contraí-las. LA 05/009
Se a vida é ruim, que diríamos da morte? LA 05/009
A amor dado não se contam as fungadas. LA 05/009
Quem muito vê ás vezes vê dobrado, e sofre. LA 05/009
Para quem ama pode ser brega ou dama. LA 05/009
Amor com desamor se paga. LA 0/009
Nos cabelos do tolo e do sábio o amor faz trancinhas. LA 05/009
Se tem medo que acabe, não comece. Aliás, acabar pode ser muito bom. LA 05/009
Quando a morte vier, pernas pra que te quero! Aliás, nem vou estar lá, mas vendo um filme de Wood Allen. LA 05/009
André era aquele pau que nasce torto. Marilda o adorava assim, e advertia: Não endireite nunca, quero você bem torto — você é uma delícia assim, assim torto, tortão. E acrescentava: Quem ama o torto direito lhe parece. E estalava-lhe beijos que lhe pintavam toda a cara. Os amigos se babavam de vê-lo pilotando aquela nave intergaláctica. LA 05/009
Pedir é doloroso, dar é suave e musical. LA 05/009
Amizade é como o vidro, você não pode deixar cair. LA 05/009
Sim, quem pensa não casa nem acredita em nada em forma de asa. LA 05/009
Certezas? Nunca foi proibido tê-las. LA 05/009
Gatos ausentes, piquenique dos ratos. LA /05/009
Uma pessoa descalça ou com os dentes podres é uma vergonha Nacional. LA 05/009
Uma pessoa sem dentes é uma vergonha odontológica, antes de ser nacional. LA 05/009
Coceira na mão, dinheiro chegando. Coceira no pé, quem sabe o que é? LA 0/009
Preguiça não faz. Se faz, não é bem-feito. LA 05/009
Quem ri à toa aprendeu que a vida é boa. LA 05/009
Não subestime o inimigo, mesmo estando enterrado. LA 05/009
Estamos aprendendo, mudando... muito lento, mas aprendendo, mudando. LA 05/009
A mudança exterior dá vertigens, a interior vai passo a passo, até porque a maioria nem quer saber se ela existe. LA 05/009
Ah! Mais uma vez o Largo, o Largo da Boa Morte. Lolita o atravessava de comprido duas vezes ao dia — esvoaçante, com roupas de vento, delicadas brisas e sandálias que a deixavam esguia, leve e esguia. Era graciosa, pequena, de uma beleza simétrica — um punhado de charme com pistaches e mumunhas. À noite namorava o Roberto, filho do dono do posto. Sim, namorava o Roberto, menos às quintas e segundas-feiras que ele viajava a negócios para o pai. No alpendre do Rubão, pai da moça, é que eles armavam o teatro (gratuito) para nós moleques, de olhos enfiados pelas fendas da mureta (sim, a casa ficava bem no fundo). O moço, frutívoro e apreciador de doçuras, colhia os favos e amoras do triângulo de cima. Depois a avelã do umbigo, a fatia curta e fina de melancia, os melões e, em seguida, com paciência zen, saboreava-lhe as jabuticabas por todo o corpo, tudo degustado devagarinho e poliglotamente. Quando Rubão tossia três vezes, alto e bom som (era a ordem para a moça entrar), ambos enfiavam a rabeca no estojo e o moço ia saindo, cansado, o rosto pintado como índio em guerra. Dava-lhe o último beijo afogado e murmurando amanhã... amanhã, até amanhã... ele se ia. LA 05/009
Às quintas e segundas-feiras Lolita namorava o Holandês, um gigante rosado, alto e magro. Tão alto, que Lolita, sentada no portãozinho, ainda ficava menor que ele. Rubão chegava às sete e meia dos Laticínios Ararat, e eles já lá estavam abraçados como figueira a um coqueiro enorme. Rubão tossia duas vezes e dava volta pela entrada do corredor da casa. Dali a pouco os palradores das calçadas, mulheres, velhos e crianças, entravam para dormir com suas cadeiras e banquinhos. O portãozinho já não rangia porque o Holandês dava umas moedas pro Juquinha manter-lhe as dobradiças engraxadas e a lâmpada do poste sempre quebrada no estilingue. O teatro era sempre o mesmo com três entreatos em que só variava a intensidade, isto é, o abrir-fechar do portãozinho — metade a gente via, metade adivinhava: teatro ao vivo e sem censura... Quando Rubão tossia forte três vezes raspando fundo a garganta e abria a janela lateral para escarrar, a intensidade daquela máquina singela mas eficiente chegava ao grau-3, o seu máximo, e em seguida, como se tivesse acabado o mundo, tudo cessava. LA 05/009
O que é, o que é? Responde rápido, Marilda: No começo é caviar, logo depois sanduíche. LA 05/009
Muitas vezes se carrega o que o diabo não quis. LA 05/009
Maturidade precoce — fruta logo no chão. LA 05/009
Entre tolos e sabidos os dois são igualmente necessários. LA 05/009
Venda seu peixe e deixe-me pescar o meu. LA 05/009
O tempo é uma roda gigante. LA 05/009
O abstrato é liberdade, o concreto é opressão, a menos que o abstraiamos do abstrato que ele não é, assim: pela poesia desvirada do avesso — a rosa pelas raízes da roseira. LA 05/009
Um “não” a tempo é piedoso. Se retardado, é cruel. LA 05/009
Já um “sim” tardio é como um “não” sem avesso. LA 05/009
A gente cai, minha nega, mas logo se levanta e bem depressa sossega e noutro ritmo canta. LA 05/009
Dize-me com quem andas e te direi de onde vem essa felicidade. LA 05/009
Comparar as pessoas é desprezar diferenças. Cada um de nós vem buscar o que lhe falta, e é diferente, bem diferente o que falta a cada um de nós. LA 05/009
Das crianças se fazem os adultos. E, resguardadas, lá dentro de raros adultos, ainda existem as crianças que os fazem diferentes — diferentes e felizes. LA 05/009
Um dia a casa cai, e antes que caia, Rosa, me dá o vinho que faço de tuas pétalas. LA 05/009
A mentira é fácil conhecê-la — nasceu com os pés para trás. LA 05/009
A idade de alguém é quanto ele parece ter. LA 05/009
A estrada aberta é caminho exterior, a que não há se faz pelo trilhar, a interior se constrói pela busca de um sentido — sentimento-razão-intuição são suas bússolas e astrolábios, e o caminheiro se torna a via andante de seu duplo caminhar por tempo-espaço por fora e por si mesmo. LA 05/009
Uma mentira traz outra no lombo que traz outra que traz outra que traz outra... até a verdade aparecer e aquelas não serem mais — não serem mais que vontade de ser verdade. LA 05/009
Nem a psicanálise fará a sogra lembrar que já foi nora. LA 05/009
Namorar a menina do andar de cima trará problema na serviçal além de respingar coriza no andar de baixo. LA 05/009
Se dizes que as uvas ou as bananas estão verdes, tome cuidado que os pássaros te desmentem. LA 05/009
Mulher feia, gente desonesta e pessoa narcisista é o que no mundo mais sobeja. LA 05/009
Quem oferece não quer dar, exceto a bela Marilda que é sempre muito franca. LA 05/009
Tudo tem o seu dia, tudo tem sua noite — e isso porque a Terra vira de lado pra dormir. LA 05/009
O meio, não sei se por medo, vive entre o princípio e o fim. É um meio que o meio encontra de conciliar os extremos. LA 05/009
Quem tudo quer, tudo perde. Isto me faz lembrar Marilda: “Deixei o Carlos, cansei — queria só para ele.” LA 05/009
Segundo a mesma amiga: “O dar é como diz o Elvis: não tem futuro, ou é agora ou nunca, sim: It’is now or never.” LA 05/009
Há pessoas complicadas — só querem o que não podem. LA 05/009
O proibido tenta porque tirar dos outros está na natureza de cada um de nós. LA 05/009
Geralmente não me esqueço das pessoas que fingem já terem me esquecido. LA 05/009
Seguiu o adágio ao pé da letra e cortou a cabeça para que o mal não lhe crescesse. LA 05/009
Talvez por isso Marilda me disse que ao telefone só conversa por metáforas por saber que ao pé da letra só dá sujeira: ácaros, vírus e fungos — principalmente os fungos. LA 05/009
Depois da comida, minha gata se lambe toda. LA 05/009
Muito cuidado, Gabriela, não deixe que nada caia ao atravessar a pinguela. LA 0/009
Como dizia a Glorinha: Antes pouco, um pouco bem apoucado do que nada. LA 05/009
De longe, minha nega, a gente também se ama. Se penso muito em você, naquele dia nem como. LA 05/009
Gosto de ver Marilda como filho de rato — pelada. LA 05/009
A sobremesa de uma transa é outra transa. LA 0/009
A verdade dispensa adornos, mas se os tiver não há de causar transtornos. LA 05/009
A beleza nua e crua pode até ser chocante, por isso é que se recomenda algum paninho com penumbra. LA 05/009
Espirro de cabra prenhe é claro sinal de chuva, vento forte sob saia é refresco de viúva. LA 05/009
Nada como um dia depois do outro — assim a gente gasta menos luz. LA 05/009
Homem é o bicho mais parecido com mulher que Deus deixou no mundo. LA 05/009
Seguro morreu de velho, e assim mesmo por desvio do último boleto. LA 0/009
Melhor manter a estrada velha, nada de outra janela, nega. LA 05/009
Ser corno é um privilégio dos que amaram dolentemente — com paixão. E depois de chorar os fantasmas de seus genes, viram que não tinham nada a não ser deveras nada e aprenderam a rir de si mesmos aquele riso bom e catártico, irmão do riso do arlequim. LA 05/009
Nariz e orelhas frias, coração quente — amor em pencas. LA 05/009
Delícia é ouvir amor falar — quanto mais fala mais mente, quanto mais mente mais jura. LA 05/009
Quem promete não cumpre, quem cumpre não prometeu. LA 05/009
Deixa estar, jacaré!... Vou contar tudo pra jacaroa. LA 05/009
Se o sono, nega, é irmão da morte, quando ela vier tomamos uns rebites. LA 05/009
Uns amam e se matam, outros enchem a barriga. LA 05/009
Marilda é uma apaixonada da arte de amar. Casou seis vezes, gosta de não saber dos ontens e dos amanhãs e não se cansa de afirmar: O mais belo do amor é quando acaba. Marilda adora ambiguidades, poesia e fazer nada. Sempre soube fazer bons amigos, amigos pra valer — do peito. LA 05/009
E então, comadre, fica o dito por redito e me disfarço de Benedito que é o teu Dito? LA 05/009
Se até as coisas sem pernas se encontram, minha nega, por que nós não nos haveríamos? LA 05/009
O adorável da missa é a bênção final. LA 05/009
Quando a saúde falta, então sentimos saudade de nós. LA 05/009
Mais adoráveis, mais belos, mais infinitos que uma rosa, só os beijos de Rosa. LA 0/009
Tua lindeza, nega, sobe desce vai não vai treme ondeia balança — mas não cai. LA 05/009
Queira enquanto pode querer, e quando já não puder então verá que um dia enquanto você podia pôde realizar o seu querer. LA 05/009
Deus tarda, a espera tarda, a mão amiga tarda, a vida tarda, mas nem por isso a tarde deixará de ser noite e a noite, esplêndida manhã. LA 05/009
Muita beleza é mais do que convém — assim deixa de ser um bem o que se pensa que se tem. LA 05/009
O sol dá a luz, a sombra é feita pelo que à luz lhe dá as costas. LA 05/009
Quando a lei não ressalva a natural necessidade, dá lugar à revolta, à pilhagem, ao crime. LA 05/009
Já que a pressa, minha nega, é inimiga da perfeição, façamos bem devagar — devagar-devagarinho. LA 05/009
Não, seu Nava, a experiência não são faróis para trás. Pela lei da analogia ela manda os seus raios para fora, para dentro e para todo lado. LA 05/009
Se as leis se fazem excessivamente iníquas, as armas as calam. LA 05/009
Quando a justiça vira iniquidade, é enforcada pela própria tripa. LA 05/009
O coração e a boca estão sempre em descompasso. LA 05/009
Com arte e engano amor toca piano. Com manha e arte dispara o bacamarte. Com charme e classe toureia seu impasse. LA 05/009
Um beijo, nega, justifica outro beijo como uma transa abona outra. LA 0/009
Através dos milênios o homem tem feito duas coisas não se sabe qual delas com mais tesão — o amor e a guerra. LA 05/009
Carregar cruz rio abaixo, até dá pra montar. LA 05/009
Bicho entocado não sai. Muitos trovões, chuva não cai. LA 0/009
Um gambá não sente o cheiro do outro. LA 05/009
Se igreja fosse lugar de Deus não precisava de pregador. LA 05/009
Cabra espirrou, choveu. Comadre enviuvou, compadre socorreu. LA 05/009
É só elogiar para ver o contrário. LA 05/009
Semancol é um xarope contra as grandes xaropadas. Tenhamo-lo à mão. LA 05/009
Ninguém é profeta em sua terra porque ali todos querem que ele não passe de um panaca. LA 05/009
Galinha velha dá bom caldo, mas a nova dá melhor travesseiro. LA 0/009
Quando quero, nega, eu vou, quando não quero, te chamo. LA 05/009
Se não há, nega, efeito sem causa, a cada um que criamos é bom logo descausar. LA 05/009
Com o tempo vem o prejuízo. LA 05/009
Tempo é dinheiro — ganhemos tempo. LA 05/009
Há os que não param de enriquecer, decerto porque pensam que ganhando dinheiro ganham tempo. LA 05/009
Sim, o problema do dinheiro é que ele cria um tempo feito só de libido. Quem puder que se deslibe. LA 0/009
Libei teus favos, provei teu corpo. Que mais eu quero? LA 05/009
Aproveita que o carro não é teu — faz roncar o motor e cantar o pneu. LA 05/009
A gente se coçar é uma coisa, procurar sarna, nega, não convém. LA 05/009
Venda seu peixe, o meu vou dar para a vizinha. LA 05/009
Amor é bom pescador — pesca peixes que há e os que não há. LA 05/009
A mentira é uma delícia quando vem de uma boca que retocou o batom. LA 05/009
Caridade de rico é barganha. LA 05/009
Deu a canoa para o amigo — tinha mais furos que dois pés podem tapar. LA 05/009
Se o diabo pudesse mais que Deus, deus seria o Diabo. LA 0/009
Quem tem governo e perde eleição não soube governar não. LA 05/009
Em geral as pessoas adoram a mentira — ela lhes serve de bandeja o que a verdade nunca serviria. LA 05/009
A verdade queima a língua dos poderosos, quase sempre ela fala pela boca dos pequenos. LA 05/009
Mulher muito bonita não vale as traições. A maioria dos homens adora vê-las casadas com seus amigos. LA 05/009
Santo Sofósio! Tudo o que é bom neste mundo, tudo o que é belo e gostoso ou é pecado ou faz mal. LA 0/009
A verdade provoca ódios cavilosos por ameaçar interesses e exumar o passado. LA 05/009
A mentira põe a coroa e dança como princesa só enquanto a verdade vai conversar com o marquês, no quarto. LA 05/009
A ambição embota, anestesia o coração e aguça a astúcia que leva à gulatria. LA 05/009
Deus dá asas a quem não sabe voar e boas pernas pra quem sabe usá-las. LA 05/009
Deus também tem a fama de dar nozes aos pobres que jamais tiveram dentes e sempre escrever certo em linhas tortas. LA 05/009
Deus nos dê esperança e paciência para vermos aquela realizar-se. LA 05/009
De boas intenções as pessoas estão cheias, tão cheias que nem podem mais encher-se. LA 05/009
Quando as comadres se zangam, que se cuidem os compadres! Coisas podres cairão sobre a cabeça dos dois lados. LA 05/009
A amiga da minha amiga, além de ser mais bonita que um pêssego de amostra, tinha até, muito discreta, aquela pilosidade amarelinha. LA 05/009
Quem ama vê com olhos interiores, por isso vê com muito mais sentido. LA 05/009
A escrita de Deus por vezes é terrível, mas temos de interpretá-la como se não houvesse as letras, e, sim, pela leitura de seu espírito. LA 05/009
Não é por serem bênçãos que as bênçãos deixam de ser conquistas. LA 05/009
Nem inferno, nem paraíso, o amor é essa delícia de caminharmos juntos — libando sonhos e desenganos, venturosas desventuras, mentirosas verdades e gostosos enganos até as certezas incertas de um ponto zero que nos aclara e redime. LA 05/009
Sim, amar é aprender a andar no arame que vai de nós ao outro, que vem do outro a nós — com a maromba do sorriso de Deus treinando as suas criaturas. LA 05/009
Não raro jogamos fora o que temos na mão para enchê-las de vento. LA 05/009
A vaidade é o que temos de mais visível. LA 05/009
O coração sabe, só precisa recordar. LA 05/009
O sexo, pelo querer-amar de duas criaturas, além de troca de energia e vida, modulação de arquétipos e ensaios do recriar, é o maior prêmio concedido. LA 05/009
Toda oração é um brilho no futuro, um sorriso para o passado e um abraço no presente. LA 05/009
Se não vemos as coisas como um todo, seus detalhes nos roubam a unidade — sua total beleza. LA 05/009
Quem pretende escalar um monte não vê colinas nem outeiros — mas apenas o monte. LA 05/009
Toda injustiça deve ser vista e analisada por nós com toda a força do nosso discernimento. LA 05/009
Um conselho é uma arma branca perigosa e jamais se acomoda na bainha que não seja a de seu dono. LA 05/009
De vez em quando é bom nos desfocarmos da rotina e de nós mesmos buscando outros canais de ver. LA 05/009
Quando o amor quiser ir, deixa que vá. Se tentas impedi-lo, já vira desamor e se volta contra ti. Deixa que vá e confia: tua certa companhia virá. LA 05/009
Há quem sofra, por antecipação e medo, um sofrimento por que jamais irá passar. LA 05/009
Em geral nossa mente é a vilã da casa. Precisamos exercitá-la para que ela trabalhe sempre a nosso favor. LA 05/009
As potências adormidas que trazemos em nós esperam por serem preparadas em nosso benifício e de toda a humanidade. Esta é a lei e o destino de ser. LA 05/009
Na vida temos de mudar várias vezes a chave do destino — trocamos caminhos por veredas, estradas por atalhos através da via andante que somos nós — pela nossa vontade e aparelhagem de ser. LA 05/009
Lutar contra o irremediável é não saber que o tempo traz em si o remédio. LA 05/009
Estamos a caminho de nós mesmos, para chegarmos lá não saberemos por quantos outros-nós teremos de passar até a essencialização daquele que nos libertará do autoengano do círculo e de nós. Até lá, ajudemos e peçamos ajuda. LA 05/009
Todo ato no presente ecoa no futuro e rebate no passado — e esses três se redimem trinamente: tempo-ser-movimento. LA 05/009
Se você evolui, evoluem igualmente suas células e átomos. O alimento que se ingere transforma-se em energia no animal e energia e consciência no homem. Sim, o metabolismo é o processo de evolução por excelência. LA 05/009
O indivíduo, vestindo a consciência de ferro do mundo, perde a magia do universo e a graça da vida e fica com o dois-e-dois-são-quatro dos que rastejam pelas letras sem entender o seu espírito. Apaga em si o dom de redimir-se no passado e projetar-se no futuro pelo fazer sobre o presente. O sonho de quem sabe é o realizar-se pelo ousar de um querer que essencializa a vida e faz acontecer o renascido, incubado e trazido pelo tempo que o entrega nas mãos do hoje. Ser e tempo, tempo e ser a executar a sinfonia redentora das esferas. LA 05/009
A dúvida é o estímulo da caminhada, sem ela a certeza seria uma princesa em seu castelo de nada. LA 05/009
Falamos muito de respeito, mas não sabemos o que é isso — só fomos educados para “vencer” a qualquer preço. LA 05/009
De quedas e levantares vamos fazendo o caminho que leva a novas quedas e outros levantares. Entre cair e reerguer-se o homem aprimora o passo. LA 05/009
Se grandes são as injustiças, árduas e áridas as nossas lutas, turvos os males e tribulações, devemos nos lembrar de que é das nuvens mais revoltas e negras que nos vem a água mais fresca e pura. LA 05/009
As belas canções não morrem, ficam silentes na memória à espera de que as recordemos, mas morrer não morrem nunca — antes oram pelas almas dos amores que embalaram. LA 05/009
Engajamento? Só com a vida. LA 05/009
Entre xeques e lances, Bem e Mal jogam o seu xadrez. LA 05/009
Bondade às pazadas tem algo letal — enterra-nos fundo. LA 05/009
A inteligência não sei o que diz, mas a astúcia nos aconselha a sermos flexíveis. LA 05/009
O bom senso é um pano que cai bem mesmo pra quem anda pelado. LA 05/009
Foge dos que não sabem rir. LA 05/009
Nossa alegria, nossa paz e felicidade, ou o contrário desses bens, — respondem por nosso chamado. LA 05/009
Quem não pergunta vai demorar bem mais para chegar. LA 05/009
Se os risos de bocas e olhares o melindrarem, não serves para arlequim — o que sabe que sabe fazer rir. LA 05/009
Pisa o chão com respeito, com carinho — tudo começa aqui. LA 05/009
Os pequenos vazamentos derrubam construções gigantes. LA 05/009
O tamanho da montanha não importa, será bem pequenina para o sol. LA 05/009
Por serem muito menos duras as línguas resistem mais que os dentes, e além disso saboreiam sabores os mais gostosos. LA 05/009
Um falso amigo, além de lhe fazer mal pode lhe ser perigoso. É preciso desativar o sistema explosivo desta falsidade — dizer ao malandro um tchau mesmo. LA 05/009
Espere o melhor, prepare-se para o pior e do jeito que vier: Três palitos! LA 05/009
Fiquei furioso por não ter visto Helena dentre a multidão descendo as escadarias do museu... Foi aí que topei com um cego numa cadeira de rodas, que me detém, pelo tato, e pergunta: Vês a minha gata? Vê bem aos lados, á frente, atrás: é fácil reconhecê-la: A mais bela moça que vires, é ela. Então me disse: tu a vês? Não —respondi. O que vejo agora é minha gata! E como é ela —me pergunta — como é ela? —Sim, como é ela? Linda como ela só. Adorável, a mais adorável das mulheres... Meu Deus, então me chama essa mulher — lhe diz que o cego quer, precisa vê-la... E ele foi lhe fazendo sinais até que ela veio... E o cego a procurou com as mãos entre as mãos, passou-lhe a mão no roto, nos braços, cantaram juntos uma canção que ambos fazia muito conheciam... Falaram da comida que faziam, do jogo de gamão, dominó, do pega-varetas... E o cego diz ansioso e exultante: Agora precisamos encontrar a sua — Procure-a que ela está por perto... De fato ele a viu descendo as escadarias do museum, bela perecidíssima com a sua (ou com a outra), que lhe viu e toda mãos, toda sinais, sisos, abraçou sua irmã gêmea que estava aos braços do André (o cego) e as irmãs se abraçaram, se beijaram, lembraram coisa da infância, do colégio. Não se viam havia vinte anos LA 05/009
O último adversário a ser vencido chama-se nós-mesmos. LA 05/009
Vá devagar com as pessoas, não se deixe seduzir pelas papoulas de suas palavras nem pelos seus gestos refinados. Muitas têm cobras e escorpiões no coração e na boca a meiguice de Jesus. LA 05/009
Façamos amizade com os ventos e aprendamos a navegar prosperamente assoprados. LA 05/009
Quem perdeu a ternura da infância como irá agora de mão dada passear com a alegria pelas praças e parques e saborear as delícias de molhar os seus pés num chafariz? LA 05/009
Só a boa intenção não basta, tens que dispor também das ferramentas para modificar a realidade. LA 05/009
A quem tudo quer saber diz-se a coisa pelo avesso ou pela água de seu banho. LA 05/009
Sim, a união faz a força — por isso tantas guerras. LA 05/009
Amor com desamor se paga e com desdém se afaga. LA 05/009
Com o amigo e com o inimigo, olho aberto, bem aberto. LA 05/009
Devagar e bem baixinho, as paredes também têm vontade. LA 05/009
Burro velho não pode com mulher nova. LA 05/009
Olha, compadre, isso de razão e gosto — é cada um ca sua e cada um cu seu. LA 05/009
No começo é difícil, depois não — longe da vista, longe do coração. LA 05/009
Entre a pobreza honrada e a nobreza aviltada — prefiro nenhuma delas. LA 05/009
Mais vale um pé de porco no feijão que o seu amor que não é meu. LA 05/009
Mais vale saber do que ter, quando ter não implica grande coisa. LA 05/009
A qualidade do pão vai depender da fome, a da beleza de quem a vê. LA 05/009
Não, não me venhas, nega, com tuas meias palavras — nunca fui bom entendedor. LA 05/009
O homem de hoje com a ajuda da psicanálise está banindo a culpa. Não sei o que vai fazer “sem ela” já que ambos são uma só carne. LA 05/009
Quando quiser mentir fale do fim do mundo. LA 05/009
Se quiseres ensinar o que não soubeste nunca nem nunca irás saber, escreve um livro sobre a arte de amar. LA 05/009
Quem deixa o certo pelo incerto é por que viu decerto que o incerto pode ser mais certo. LA 05/009
O conto se enriquece com cada um que o conta, pois ao contar lhe acresce o que é de sua conta. LA 05/009
Desdenhou de você? Então, nega, segure a venda, e espere: este paga caro. LA 05/009
Numa briga fala-se o que quer, ouve-se o que não quer. Uma delícia — fica-se sabendo o que o outro pensa do outro. LA 05/009
Não tenho, nega, do que me queixar — tenho você (de vez em quando), o meu cachorro (sempre) e os bolinhos de chuva da vizinha de baixo (quando a mãe dela não está: ela é guardanoturno). LA 05/009
Quem espera sempre alcança, desde que o sonho não lhe venha na ponta de uma lança. LA 05/009
Quem ri por último, muitas vezes ri sem lábios. LA 05/009
Saudade é o gosto de sofrer de quem não tem nada melhor. LA 05/009
Quem sabe em geral não diz, quem diz em geral não sabe. LA 05/009
O eldorado foi um sonho que não sabia não ser tão belo assim. LA 05/009
Quem tem grana vai a Roma lembrar-ouvir as loucuras do Coliseu, as suas e as dos que já foram — uma delícia o tilintar dos gládios, urros de feras, gritos lacerados e sanguinosos. E assim revive o pão e circo, tão atual e um pouco diferente por esse mundo pluriteologizado. LA 05/009
A vitória nos mima, nos faz dançar lá nas nuvens branquinhas. A derrota nos punge, nos faz rolar na lama feita por nossas lágrimas. Só com o tempo aprendemos que essas duas não passam de belas impostoras. Ganhar, perder, sair-se bem, quebrar a cara — tudo isso pode ser visto (com calma e riso) como coisas da vida. LA 05/009
Quem se leva muito a sério não sabe rir de si mesmo. LA 05/009
Sempre esquecia seus guarda-chuvas, com seu nome e endereço gravados. Um dia foi baleado pelo doutor Cunha, aliás, seu melhor amigo. LA 05/009
Diz-me com quem tem andado e verei se adivinho o quanto vais me cobrar. LA 05/009
Minha nega era inquieta, era elétrica, sempre plugada. Pra desligá-la era que nem computador — eu ia lá no iniciar. LA 05/009
Ela era tão fofa, era tão doce, que em pouco tempo comecei a engordar. LA 05/009
Não se mate de estudar — antes burro do que morto. LA 05/009
Fracassar é bem humano, mas botar a culpa no outro é ainda mais humano. LA 05/009
Era bem moço... eu sei, mas calma... não desespere — morrer não é o fim do mundo, é só o fim da vida. LA 0/009
Um mundo melhor? Claro que existe, mas sempre foi caríssimo — não é pro nosso bico. LA 05/009
Existe até um céu, mas um lugar tão restritivo, tão exigente e sobre-humano, tão pecuniário, que para ir pra lá só mesmo os donos dele. LA 05/009
A pessoa que não tem sorte com o sexo oposto nem sabe a sorte que tem! LA 05/009
Não, trabalhar não mata, não mata... Mas sabe como é... cada qual é tão diferente do outro... Isso é que nem remédio: pra uns faz bem, pra outros traz reações adversas, e muitas vezes terríveis. Mas matar, matar mesmo, acho que não mata. ÇA 05/009
Com puxe e empurre entrarás em mil e mil lugares, inclusive... Sim, inclusive. LA 05/009
Não, não sou um completo imbecil, para completo falta a pós, pós-graduação. LA 05/009
Faço com quem eu quero e não com quem me obrigue — era o lema ante estupro de Marilda que desde bem mocinha carregava uma pochete encaixada lá embaixo. LA 05/009
Cuidado com as alturas — você tem chifres, não asas! LA 05/009
Um prodígio: trinta anos com a mesma mulher! Trinta anos e a esposa jamais desconfiou. LA 05/009
Numa palestra zen o professor se esforçava: Cuidado, sempre muito cuidado, para não perderem o controle! Sem o controle, somos nada, voltamos a ser bichos, nos degradamos, vencidos por nós mesmos, sem saber o que fazer! Não é mesmo, bela moça, — perguntou à Marilda, que se coçava o joelho, um tanto desatenta. Sim, que faria a bela moça — continuou: que faria a bela moça caso perdesse o controle?!... Marilda, meio acordada, meio dormindo, pimbou afoita: Fácil, mestre: eu mudaria de canais com o dedo! LA 05/009
Para não poucos a vida é bem mais curta que o carnaval. LA 05/009
Quando chegava a hora do lobo se entocar, Marilda dizia ao marido que estava com disenteria. Sua amiga do peito, a Gracinha, ficou muito pê-da-vida: Coitado, Ma, Coitado! Não devias ser assim tão fatídica! Por que não usas, menina, a nossa frase clássica? É que eles, Gra, é que eles nem ligam pra nossa cabeça. Mas vem cá, ó das Graças, quem foi que te contou isso?!...! A Glorinha, Marilda, a Glorinha da farmácia... a que sempre capitaliza com gentileza e prontidão as tuas mentirinhas. LA 05/009
Padre Libório era um santo. As beatas se dividiam em horas e dias do mês para sorver-lhe as bênçãos. LA 05/009
Se calar fosse ouro, os mudinhos seriam milionários. LA 05/009
Claro que entendo, às vezes é melhor não entender. LA 05/009
O bocado que era nosso nem sempre vem no prato, isto é, vem mordido. LA 05/009
Sim, o melhor do bocado sempre nos roubam. LA 05/009
Quanto mais impoluto o pano, mais fácil é manchá-lo. LA 05/009
No limpo, no muito limpo, é que se vê bem a nódoa. LA 05/009
No sujo o brilho é interior, se é que o há. LA 05/009
Há um jeito de conciliar ser velho com não morrer novo? Engraçado... parece que ninguém quer nem uma coisa nem outra. LA 05/009
Impossível não ser corno. LA 05/009
Ódio velho fica malandro — vira amor. LA 05/009
Os extremos se tocam e podem acender a lâmpada. LA 05/009
Os opostos se explicam como se fossem uma só coisa. LA 05/009
Para quem não quer entender não há o que explicar. LA 05/009
Se não puder ser um pinheiro no topo da colina, dê graças a Deus — não será chicoteado pelos ventos. LA 05/009
Palavra de rei não volta atrás, porque é dada de costas para o abismo. LA 05/009
Perguntar não ofende, sobretudo se a quem se pergunta é o nosso velho cachorro. LA 05/009
Passarinho que anda com morcega acaba apaixonado. LA 05/009
Entre não ser velho e não morrer novo a gente vai vivendo coisas novas e velhas. LA 05/009
Em geral procuramos fora o que só dentro de nós existe. LA 05/009
O tempo, será que foi ele que construiu o que destrói? O tempo, de que doença sofre o tempo, esse ditador de presentes, demolidor de passados, inventor de futuros? O tempo, até que ponto o tempo é o ser e até que ponto o ser o é? O tempo, o tempo existe mesmo ou só é uma desculpa para podermos ser? LA 05/009
É possível não nos pormos no pouco ou muito que fazemos? LA 05/009
Por vezes nos fazemos jegues de tamanhas preocupações, que nos privamos (do mesquinho mas razoável bocado) da alegria de viver. LA 05/009
Se tudo é de Deus, que tudo fique para Ele e nas mãos Dele! LA 05/009
Felicita os que encontraram a verdade, e segue com a tua. LA 0/009
O que você faz no dia-a-dia mostra bem claro o que você é. LA 05/009
Quem muito ouve de vez em quando aprende, quem muito fala sempre se arrepende. LA 05/009
A vida nos dá o texto, o comentário é nosso. LA 05/009
O bom de não saberes aonde vais é que não terás ventos a favor nem contra. Muitos fazem questão de não saber. LA 05/009
Muitas vezes não fazer nada é fazer o melhor, mas só nós saberemos disso. LA 0/009
Se as sombras estão atrás ou à frente pouco importa, o relevante é sabermos que a luz existe, dentro e fora de nós. LA 05/009
Se o ar faltar ainda tens o sopro, lembras? LA 05/009
O objeto observado tem muito de nós, do nosso tom de ver-sentir-pensar o mundo, e de tal sorte que o que vemos mesmo somos nós próprios fossilizados nele. LA 05/009
O passado são fantasmas. Pelo simples viver o hoje, com certa iluminação interna, a gente os faz correr. LA 05/009
Em geral queremos ser bons bem mais do que entendemos o que é ser bom... Então nos amarramos com os cipós de uma selva em que andamos em círculos. LA 05/009
Querermos ser melhores do que somos é louvável, é natural e necessário, mas daí a corrermos numa maratona sem ensaios nem preparos — vai uma distância inglória e, não raro, desanimadora. Caminhar, no caso, será bem melhor que correr. LA 05/009
Precisamos, não de complacência, mas de paciência com nós mesmos. LA 05/009
Quem engole sapo é cobra, que também pica. LA 05/009
Para entender, olhe pra trás. Para viver, só olhe para a frente. LA 05/009
Nosso caminho (belo e infinito) não se encontra fora, mas dentro de nós. LA 05/009
O homem que vence o outro não fez nada a não ser vencer o outro. O homem que vence a si mesmo derrota o que o impedia de realizar-se. LA 0/009
Nosso fazer reflete o que somos por dentro. LA 0/009
Falarmos de algo ou alguém implica não só o ângulo de vê-lo, o modo e a capacidade de entendê-lo, mas sobretudo o que somos. LA 05/009
O muito em geral prejudica — muito dinheiro, muita luz, muita sombra... O muito é muito. LA 05/009
nem é sinal de inteligência. LA 05/009
Se você perde o entusiasmo e a força, quem lhe dará, onde achará coisa melhor? LA 05/009
Quando você decide e quer o destino se escreve. LA 05/009
Tuas perguntas revelam onde tens os pés. LA 0/009
Você pode, sim, fazer aquilo que pensa não ser capaz de fazer. LA 0/009
Não corrigirmos nossas faltas é pensarmos que o mundo está errado. LA 05/009
Se hoje você não viu nada de belo amanhã também não verá. LA 0/009
Nas festas, muitos amigos; nas tribulações, nosso cachorro. LA 05/009
Quando pensas ter dissecado uma obra de arte, só a mataste para ti. O mais belo de uma obra é o seu lado inalcançável — aquele que saboreamos de lado, sempre de esguelha, e nos vai abrindo postigos de um ver em revisões. LA 05/009
À medida que o tempo passa a esperança se torna a grande amiga da alma. LA 05/009
A arte de ser feliz em meio à infelicidade não é uma doidice, mas uma postura de vida. LA 05/009
Inimigos não merecem que gastemos nosso tempo lembrando-lhes o nome. LA 05/009
O amor não tem idade, apenas nasce em nós quando menos esperamos e se vai quando pensamos que é para a vida toda. LA 05/009
O amor só precisa ser eterno em sua intensidade. LA 05/009
A beleza, por mais fugaz, é sempre eterna. LA 05/009
Quando a saudade dói está na hora de telefonar para ela. LA 05/009
A mentira é a verdade que se adia. LA 05/009
O dia do sábio é o mesmo do ignorante, o que o diferencia é o modo de vê-lo e vivê-lo. LA 05/009
Sempre que exacerbados, o sábio e o tolo se igualam. LA 05/009
Nem sempre se lê um bom livro, ou se ouve uma linda canção. Nem sempre os olhos traduzem os hieróglifos de um coração que nos olha. LA 05/009
O que está no coração não dá para tirar da cabeça. LA 05/009
Desceu ao fundo da alma e lhe trouxe daquelas flores que a gente nem sabe que existem. LA 05/009
Uma vela no escuro é toda a luz do universo. LA 05/009
Quando o amor morre ressuscita ainda mais belo. LA 05/009
Quem pode faz, já quem não pode — ensina. LA 05/009
Vê lá se o mundo precisa mudar! Está tão bom assim. Só se fosse mudar para melhor, aí sim a gente iria pensar se fora bom mudar. LA 05/009
Seja bacana com seus filhos. São eles que vão abandoná-lo na velhice. LA 05/009
E não é que Ricardo conseguiu passar a mulher pra diante?! LA 05/009
A mulher o ajudava muito, em todos os setores, aliás, ia sempre na frente, como uma esposa-mãe, solícita, destemida, tomava a dianteira para dar-lhe coragem — até pra ele ser corno ela empenhou-se como nunca. LA 05/009
Tem-se a impressão de que o homossexualismo, aliás, como ocorreu com a cornitude, se torne obrigatório nesta terra. LA 05/009
Mulher faz mal quando não vem. LA 05/009
Competir com os grandes não dá — não roube. LA 05/009
Mulher? Qualquer um tem. LA 05/009
Sim, macho come abelha, machão come ferrão. E os delicados? Comem filés de borboleta. LA 05/009
Dias virão em que os dias não haverão de vir — apenas nascerão, sorrindo pela manhã, tediosos pela tarde, e se porão, inúteis — por já não terem quem os veja. LA 05/009
Chove aí, chove aqui, alagamentos, enchentes, inundações... Xi, querida, fudeu! LA 0/009
Toda manhã em que acordo sinto que me foi dado mais um tempo. LA 05/009
Quando o caminho da coisa não existe, a tal coisa é o caminho. LA 05/009
Se viu que alguém não serve pra você, certamente não lhe serve. LA 05/009
Se você viu que o amigo é falso, ele já não é seu amigo. LA 05/009
Nasci careca, pelado e sem dentes. Hoje sou realizado: tenho tudo isso. LA 05/009
Da primeira bobeira a gente nunca se esquece. LA 05/009
A vantagem de não prestar muita atenção é a gente transar sempre e achar que é quase sempre bom. LA 05/009
Quando tudo dá errado, põe-se a culpa no carma, no destino ou em alguém. LA 05/009
Não brinque com fogo, com água — esses caras não sabem brincar. LA 05/009
Em menino, a ver minhas tias, mãe e primas, pensava que as mulheres eram difíceis. Depois vi que eram muito mais difíceis. LA 05/009
Os desmemoriados têm a consciência limpa. LA 05/009
Um pequeno iate, uma pequena mansão, um pequeno Rolex, uma pequena fortuna — sim, a felicidade está nas pequenas coisas. LA 05/009
Ele tinha um caso para cada desculpa. LA 05/009
A calcinha é a coisa do outro lado. LA 05/009
Marilda? Uma gostosidade exótica. Mulher pra se comer rezando. Uma festa ululante. LA 05/009
Tive um amigo que não ria, não xingava, não falava nem via bobagens, não contava piada, não fazia nem deixava fazer nele. LA 05/009
Beleza interior, nega, não precisa — não se consegue ver lá dentro. LA 05/009
Melhor que o Príncipe, menina, é o Lobo Mau — que te vê, que te ouve e pode te comer. LA 05/009
Bem lá no fundo, o amor é puro ódio. LA 05/009
Todo ser tem um destino cósmico. LA 05/009
Se o ser humano é forte ou fraco vai depender de sua infância. LA 05/009
Na construção do homem é que se chega ao céu. LA 05/009
O homem há de ajudar o homem a sair do seu autoengano. LA 05/009
Deus é a nave e seu Capitão. LA 05/009
Somos essencialmente cósmicos. LA 05/009
Se mudamos as perguntas, já não sabem nos responder. LA 05/009
A ambição é gulatria, só acaba quando já não tem boca. Os gulatras são os donos. LA 05/009
O mundo faliu outra vez com a especulação financeira. Mais uma vez o pobre vai pagar a conta. LA 05/009
Temos altos e baixos como a água, ora no céu, ora na terra. LA 05/009
Um par de olhos atrás de uns óculos escuros fazem o maior estrago. LA 05/009
Quem aprende coisas, desaprende outras, isto é, reaprende-as no aprender. LA 05/009
Em geral estamos sendo quem escolhemos ser. LA 05/009
A alegria tem a cor do ouro, a transparência do diamante e o elixir que é a graça e a força de um coração. LA 05/009
Viver é como chamar por alguém que passa... ou você faz ou nunca mais. LA 05/009
Viver esperando um bem que todo dia salta para amanhã — é gostar de ser logrado. LA 05/009
Viver intensamente é saber variar intensidades. LA 05/009
Há quem consiga viver mais que um dia de cada vez, esses tais são os aflitos. LA 05/009
Somos o quanto sabemos, já que a verdade é o quanto podemos suportar. LA 05/009
Gostamos de fazer talvez por que sabemos que é a forma pessoal de existir. LA 05/009
Não era escravo de ninguém, só de si mesmo. LA 05/009
Quando você consegue fazer o que pensava não poder — então subiu aquele degrau lá em si mesmo: agora sob seus pés. LA 05/009
A um homem não se ensina — mostra-se-lhe que ele pode realizar o que sonha. LA 05/009
O indivíduo recebe com o dom a força para realizá-lo. LA 05/009
A segunda chance que a vida não nos dá, é porque não adiantaria — estaríamos noutro contexto, em outra sincronia. LA 05/009
Você pode adiar, mas não terá aquela sincronia a costurar mil coisas que a envolvem. LA 05/009
Ao conquistar o que o dinheiro não compra, você terá o próprio reconhecimento, e logo depois o de toda a sua volta. LA 05/009
Você só é você quando o que pensa, sente e sonha, tudo o que faz e escreve traz sua marca, seu selo. LA 05/009
Um homem não se mede pelo seu cargo ou pelo que faz no momento — a medida de um homem será sempre seu coração. LA 05/009
Se você tem as palavras e a magia que as transfiguram, então construa uma bela história e venha morar nela. LA 05/009
Ver as coisas não basta, é preciso inventá-las segundo a nossa parecença e se dar bem com elas. LA 05/009
Volte seu rosto sempre para o norte, para o norte do ser — e saiba que é pra lá o caminho interior da vida. LA 05/009
Este é o momento, goza-o como alguém, como alguém que o sabe único e feito para ti — goza-o com as rosas, com o vinho e o amor. LA 05/009
O ambiente adverso nos desperta a força para buscar, em nós e fora, algo melhor — pelo querer-ousar mudamos a chave do destino. LA 05/009
É tudo movimento, dentro e fora. De dentro para fora, de fora para dentro. Viver é estar dentro de Deus e Deus dentro de nós, numa viagem-luz: uma viagem dentro de viagens — isso é consciência, a essencialização do Todo. LA 05/009
Os abutres, as maitacas voam em bandos. A águia e as aves de canto raro voam sozinhas. Até certos animais precisam do alimento da solidão — uma espécie de retempero e reorganização da vida. LA 05/009
A arte é espelho, sempre o espelho de um povo com as tintas de sua mentalidade. LA 05/009
A arte é o sonho ressonhado, é o insistente dizer que a realidade deve ser outra. LA 0/009
A arte saiu da caverna e manda seus bilhetes para os que ainda lá estão, convidando-os a sair, dar uma espiada cá fora. LA 05/009
Pela atenção vamos discernindo, comparando — saindo de nós mesmos e para fora do casulo... até quem sabe vermos tudo em forma de asa. LA 05/009
A eternidade da rosa somos nós, que sabemos que sua beleza são nossos olhos que lhe emprestam. LA 05/009
A saúde, a paz, a alegria, árvores de deliciosos frutos, devem ser zeladas e gozadas em sua sombra e doçuras, diariamente e em silêncio. LA 0/009
Só se aprende a vencer com as muitas derrotas que se foram tornando em vitórias. Sim, o verdadeiro vencer é o vencer pelas derrotas. LA 05/009
Investir em bondade e mansidão entre as pessoas é o que mais terá compensado. LA 05/009
A borboleta, a cigarra e outros vários insetos dispõem de microtempos de vida, e como não sabem disso, vivem gostosamente a sua eternidade. LA 05/009
Tudo o que mais importa tem de ser buscado, construído, cuidado e vivido pessoalmente. LA 05/009
Quando buscamos sofregamente um bem nós o afastamos de nós — como afastaríamos um raro pássaro pela pressa em contemplá-lo. LA 05/009
Valorizemos os segundos, sentindo que eles poderiam ser segundos de alegria. E lidemos entre eles com infinita calma e espírito de harmonia. LA 05/009
A alegria nos purifica, desintoxica as células e as fortifica. Um coração alegre é um hino à vida e um ósculo no amor de Deus em nós. LA 05/009
A ciência anda, o amor voa. Ambos, unidos, são a ventura da terra. LA 05/009
A coerência deve existir, mas não pode ser uma lei — caso fosse amarraria, como já tem amarrado, sem ser. LA 05/009
O mistério é o melhor dos vinhos — produz um embebedamento-encanto, ao mesmo tempo em que é o celeiro e o sopro de toda criatividade. Quem o respeita e ama não fica sem resposta. LA 05/009
Muitos pensam que a amizade é penetrar nas multicâmaras da intimidade do outro. Puro engano — isto é o fim da amizade. A nossa força são os nossos segredos. LA 0/009
Nós sabemos quem somos e vivemos fugindo daquele encontro que teremos com nós mesmos. LA 0/009
A verdadeira coragem é não termos coragem para prejudicar a nós e aos outros. LA 0/009
A defesa de uma má causa é puro constrangimento, conivência deletéria. Os advogados de pistoleiros envelhecem e adoecem precocemente. LA 05/009
Não temos para onde ir, há que ficarmos por aqui, por aí como a água, num sobe-desce eterno — fantasmas vestidos de pó, até nos libertarmos do mundo e de nós mesmos e já tendo tecido nossas vestes de luz, e então sim habitarmos uma nova morada — uma daquelas que Ele foi nos preparar. LA 05/009
Existe a fase de aprendermos a errar e aquela de fazermos de nossos erros um modo de aprendermos a acertar. LA 05/009
A autoeducação faz parte (ou deveria fazer) do nosso dia-a-dia — temos que burilar o tosco em nós até a leveza e o brilho. LA 05/009
A consciência que temos de nós, de Deus e do mundo é tudo quanto temos. Por ela sabemos que não somos o nosso corpo e que não estamos presos a não ser no que sentimos e pensamos. LA 05/009
O mandamento é amar a Deus, a nós e ao outro (‘esta é a lei e os profetas’, lembras?). Quanto a sermos amados, isto é só pretensão, carência da alma infante. Se nós amamos, nos sentiremos e seremos amados em decorrência do processo. LA 05/009
Nossa fé nos liberta de todas as crenças porque é um caminho que abrimos pelo caminhar. LA 05/009
Essa brisa de luz lá por nosso interior a que chamamos de felicidade é mais um modo favorável de sentir-pensar a vida. LA 0/009
Todo bem quando dividido se multiplica. LA 05/009
A felicidade é bem mais uma resolução da alma seguida de um trabalho com as mãos. LA 05/009
A felicidade é uma espécie de decorrência de um viver bem discernido. LA 05/009
O mentiroso, por ser muito infeliz, é um tipo de fanfarrão que precisa mudar a realidade. Só faz mal para quem acredita nele. LA 0/009
A risada ou a gargalhada deve liberar alguma substância que leva à distensão, ao relaxamento. Um bom tranquilizante. LA 05/009
Marilda citava sempre um provérbio que ela adorava: A generosidade consiste em a pessoa dar antes de ser solicitada. LA 05/009
Não adianta jogar o vício de fumar escada abaixo. Ele volta. Todo quebrado, mas volta. Demorei alguns anos para livrar-me do tabaco, mas valeu (e foi a tempo). LA 05/009
O tabaco está muito relacionado ao sexo, lembro que muitas vezes um era o outro. LA 05/009
Sem sonhar não haverá a árvore e muito menos os seus frutos. LA 05/009
Certas religiões fizeram do amor pecado, da salvação uma façanha e do trabalho um sacrifício. Criaram dessa forma e nessa fôrma o homem infeliz. LA 05/009
Há um tipo de infelicidade buscada de modo estranho — a pessoa se rala, faz um esforço enorme para conseguir algo que nem sabe o que é! LA 05/009
A ingenuidade genuína é uma espécie de força protetora. LA 05/009
A leitura é um fluir por almas que confluem para a nossa formando um mesmo e imenso rio sem nascente nem foz. LA 05/009
A liberdade tem sido mais títere que uma conquista humana por um caminho claro e confiante. Dos bens humanos é o mais depredado. A liberdade tem sido irrigada a sangue. A dominação é uma serpente filha dos dois primeiros seres humanos. LA 0/009
Olhar para dentro de nós causa medo. Então a gente olha para fora. Mas para fora de nós não somos nós — são os outros. LA 05/009
A primeira parte da vida jogou fora, A segunda jogaram fora para ele — que aqui jaz. LA 05/009
Se não tem uma causa por que lutar, invente uma. Mas se não tem coragem para lutar, esconda-se na bruma ou suma. LA 05/009
A mente experimenta e veste todos os moldes e modelos à medida que os cria. Desveste-os, veste-os como se nunca os houvesse vestido. A mente é tão maluca que nem dá tempo de a vermos assim. LA 0/009
A mente não cabe no infinito, ainda bem que ele mora dentro dela. LA 05/009
A mente salta, pula, vem e foge, desaparece e eis ressurge... Não devemos ir atrás dela, basta que calmamente a olhemos, calmamente a observemos para que ela se aquiete e dê uma parada — cheia de imagens cores sonhos pensamentos inquietações vertigens... A mente é a doida necessária, filha da luz e mãe de criação da criação. LA 0/009
Novos pensamentos, vida nova. LA 05/009
Perdoa o mundo, a vida e ama-os como eles são. Agindo assim tu os terás mudado porque mudaste a ti primeiro. LA 05/009
Uma das belezas do amor é ele não ter pesos nem medidas. LA 05/009
A teologia dá ao homem uma ideia cretina de Deus. LA 05/009
Tuas mentiras, minha amiga, me fazem muito bem, e tanto que, quando me falas a verdade, sinto até falta delas. LA 0/009
As mentiras de minha nega têm ricos, finos pistaches. Que iria fazer, ó fofa, com tuas tristes verdades? LA 05/009
A modéstia é um modo de ser pequeno. LA 05/009
A morte não me ensina por que é morte. Prefiro aprender com a vida. LA 05/009
A vaidade é o nosso maior bem — faz-nos bater tambor a vida inteira e ainda nos faz crer que não a temos. LA 05/009
A vaidade é o mais democrático dos bens — nos faz rir uns dos outros. LA 05/009
Não há repouso completo, por isso que a morte não é bem morte, mas migração. LA 0/009
Sim, um asno é paciente e a paciência nos ensina a ser asnos. LA 05/009
Será que um dia, seu Luther King, far-se-á brado ‘o estarrecedor silêncio dos bondosos’? LA 0/009
Existir é estar com problemas. LA 05/009
Pensar é fácil para um homem. O problema é pensar bem — fazer do pensamento um bem para a ação transitiva entre quem pensa e o que é pensado. LA 05/009
Não te preocupem os ventos, nem o granizo, nem as enchentes — as sementes estão guardadas em seu próprio escrínio. LA 05/009
A necessidade
se transforma em solução LA 0/009
Em sua natureza o amor traz a criatividade e algum espinho de desassossego. LA 0/009
A música nos torna títeres, quando nos faz doer o passado; nos faz alegres e fortes, se nos leva a sonhar e imaginar. LA 05/009
A modéstia é perigosa — a gente sempre percebe quando alguém está querendo vendê-la para nós. LA 0/009
Se em lugar de pensar, sentimos, se em vez de sentir, pensamos — é bom dar uma olhada nisso, independente do sentir-pensar tão frequente e normal. LA 05/009
Sem saber esperar não se consegue. LA 05/009
Dedicar-se e esperar, esperar e dedicar-se — parece que esse é o caminho. LA 0/009
Se vivemos quebrando a cara, só nos resta ser tolerantes. LA 0/009
Clareza é bom, claro: menos para os bandidos. LA 0/009
Nossas mães deram-nos à luz, a nós há de caber, após gestas por nós e o tempo, parirmo-nos várias vezes, parirmo-nos outros e melhores. LA 0/009
Virtude, pureza, perfeição e outras muitas meganoias — tudo precisa de limites e de um ver em revisões. LA 05/009
Tanto a fortuna quanto a adversidade gozam de prazeres e desprazeres, confortos e desconfortos, esperanças e desesperanças e outras antíteses naturais e humanas. LA 0/009
De tanto as tempestades as vergarem e as contorcerem, as grandes árvores se fortalecem. LA 0/009
Quando a imaginação nos governa, somos sonhados, não sonhamos, somos pensados, não pensamos. Se imaginamos e não trazemos para a realidade, apenas virtualizamos o momento sem o puxarmos para o aqui-agora, que é aonde a mão tem acesso e a arte pode pela beleza e pelo insólito. LA 05/009
Se a tua mente é forte, saberá lidar com a razão. Se é fraca, vai escorregar por ela e escravizar-se. A mente é a força dorsal das palavras. LA 05/009
Realidade é o que temos à mão e aos sentidos: é o que sabemos viver. LA 05/009
Resignar-se é deixar o sonho para os outros, é contentar-se com a casca das batatas. É prometer o céu para o pobre, se ele for bonzinho. É acalmar-lhe a fome e a sede de justiça, inculcando-lhe que o rico vai para o inferno. É prometer-lhe uma ventura póstuma. É preciso rever esta palavra. LA 05/009
Nós sabemos, todo homem sabe. O problema é fazer aflorar essa sabedoria. Em genes materiais e espirituais trazemos esse acervo. Como fazer o coração recordar? Deve haver uma maneira. O Mestre, às vésperas de partir, disse nos mandaria o Santo Espírito que nos conduziria de verdade em verdade a toda a verdade. Sinto que aqui está o modo de movimentar a água do tanque de Siloé. LA 05/009
Entre o eterno querer de Deus E o fugaz sonhar do homem mora a magia do inter-realizar: o nascimento de toda obra. LA 05/009
Se a sabedoria não cria o gênio, cria o modo de ele se expressar. LA 0/009
Na beleza aconchegante das labaredas sempre senti a sabedoria entre nós e Deus. O crepitar da lenha, o tremular das chamas — tudo isso nos eleva e vai nos arrebatando... Sabedoria e mistério é o de que é feito o universo. LA 0/009
Aquilo que morre em nós, enquanto vamos vivemos, não queremos como experiência nem como recordação — é só aquilo que morre em nós enquanto vamos vivemos, defuntos adiados. LA 05/009
Hoje é a banqueta da oficina onde trabalhamos nosso dia. Ontem foi hoje anterior a hoje, amanhã está nas mãos do Oleiro, um hoje antecipado, que também nos virá num dia chamado hoje, que é o dia que o Senhor fez, — alegremo-nos nele! LA 05/009
Toda simplicidade é bem sofisticada. Toda mentira é ricamente embalada. Toda vaidade pensa ser bem disfarçada. LA 05/009
A solidão é território exclusivo a cada um de nós. Só a pessoa tem o privilégio de ali entrar e sair — de ali viver. LA 05/009
A solidão é a oficina do ser, onde ele vai se organizando de caos em cosmos. LA 05/009
A sorte é predisposição, já a felicidade é vocação. LA 05/009
No que fazemos hoje está o melhor de nós. LA 05/009
A diferença entre um namoro e um grande amor é que o namoro é mais interessante e também dura um pouco mais. LA 05/009
Quem considera o sonho bobagem jamais fará grande coisa. LA 05/009
Ninguém precisa ser profeta para saber que o futuro será, sim, bem diferente de tudo o que imaginamos. LA 05/009
Quem é incapaz de desaprender como conseguirá mudanças importantes? LA 05/009
As poucas virgens devem ter orgasmos especiais só de pensar que o são. LA 05/009
A vaidade é o bem mais democrático de todos os tempos. Onde pensamos menos encontrá-la, lá está ela — revelada numa palavra, num sorriso, num gesto, numa alegria, numa lágrima, numa ausência de choro, num muxoxo, num tom de voz, num castelo, num barraco, na doença, na saúde, na miséria, na abastança, na insanidade, na loucura, no santo, no devasso, na honestidade, no latrocínio, na mentira, na verdade, na feiura, na beleza, no confirmá-la, no negá-la… e interminavelmente por aí vai sempre atualizada a vaidade. LA 05/009
Muitas vezes o que chamamos de verdade serve para esconder a coisa. E, títeres dos donos deste mundo, vamos dando demãos de tinta (cada vez de uma cor) no castelo vazio da verdade. LA 05/009
A verdade e a mentira são irmãs gêmeas — ambas donas de cassinos e bordéis. LA 05/009
A mentira social é a verdade dos homens. Sim, a verdade dos homens é uma bela mentira. LA 05/009
A inteligência nos ensina a viver, não a existir. Quero gastar meu tempo vivendo-do-meu-jeito. LA 05/009
Grandeza, glória, sucesso e seus opostos — até quando nos rastejaremos entre essas bobagens? LA 05/009
A verdadeira liberdade jamais existirá, mas viver à sua sombra já é bastante, ou seja: isto nos permitem. LA 05/009
Se vissem como vivemos a nossa liberdade lá bem no íntimo de nós, certamente nos odiariam. LA 05/009
A nossa vida se parece com o que sentimos, pensamos e fazemos em nosso todo dia. LA 05/009
A desonestidade traz em si os seus escorpiões, a maldade seus ferrões. LA 05/009
Existem até encontros em meio aos desencontros, e a vida vai tecendo com os fios do que fazemos. LA 05/009
Estamos só no começo de uma jornada magnífica. LA 05/009
Deus fez a vida curta porque muito comprida seria insuportável. LA 0/009
A vida é pura incerteza. Fosse o contrário disso, só sobraria a morte. LA 05/009
Os filósofos da simplicidade reduzem a vida a palavras: amor, fé, Deus, luz, esperança, conquista, criação, evolução... e estão dispostos sempre a ensinar a viver. Será que o que está em processo de ser pode ser ensinado? Acho que não. Por mais que queimemos etapas subindo aos ombros dos que passaram, só aprendemos a vida vivendo. Sim: viver é o discípulo e a Vida é o mestre. LA 05/009
Palavras? Sempre as palavras, esses casulos de noite a tecer asas para amanhã ou depois de amanhã trespassadas de sol a encher a taça de vinho azul com aves molhando o vôo no ainda bruma do poema que há de abençoar o renascer do sonho que voltou a fundir-se com a realidade. Pronto: a hora é madura e traz a sua poesia que será nosso pão com café a mitigar o frio dessa manhã que agora é asas, calmo voo ainda orvalhado levemente de azul em que as uvas das palavras escorrem pisadas pelos pés das raparigas em flor: poesia. LA 05/009
Entre partir e ficar não sabemos o que é melhor fazer. Partir nos leva a algum lugar onde já estávamos bem antes de chegar e se buscamos algo melhor, vemos que lá não há, não há nada melhor. Ficar ao menos nos possibilita viajar psiquicamente para onde quisermos e sem nos encontrarmos lá no antecipado e com os olhos entediados por não vermos o que pensávamos que sonhar fizesse ver. Entre partir e ficar a alma sabe que há uma grande insatisfação em si que só é aplacada por fingirmos que um dia o viver a preenche. LA 05/009
A vida é mais que uma arte
porque não há ensaios — no mesmo instante em que a representamos num só tempo-viver. LA 05/009
A vida é uma pedra de amolar, nós somos suas ferramentas. LA 05/009
Quem sabe tranquilizar a mente pode se dizer feliz. LA 05/009
A paz tem vários estados e nuanças. O melhor deles (para mim) é aquele
em que não se pensa em nada — LA 05/009
Há vários animais que admiro, outros que temo e dois que invejo: o urubu, quando veste o manto azul; o burro, quando espera. LA 0/009
A vida nunca dá tudo que pedimos, e acho este o seu lado fascinante. LA 0/009
Concordo: devagar se vai ao longe, mas acho que cada um com seu ritmo e com suas distâncias. LA 05/009
A vida não é um jogo, mas um mistério a ser vivido. LA 05/009
Se construímos nosso entendimento sobre o que a vida nos mostra, ficaremos, no mínimo, confusos. A vida jamais responde ao que lhe perguntamos. Ao invés de respostas nos oferece o viver. LA 05/009
Mudar sempre é o que há de mais justo na vida. LA 05/009
A vida não nos abandona nunca — ela nos é, nós a somos. LA 05/009
A vida é muito mais que ser vazia ou cheia — a menos que a confundimos com estados de ser. LA 05/009
Os sentimentos se perdem nas palavras e acho isso muito bonito — um brando, doce zumbir de asas em torno de uma árvore florida... um dizer musicado pelo nada dizer. LA 05/009
Acima de todas as liberdades está aquela bem lá no íntimo de nós, amada e construída aos poucos no dia-a-dia do nosso viver e que é a nossa força agora e sempre, o nosso sonho agora e sempre de agora e sempre sermos livres. LA 05/009
Aquilo que mais desejamos nos leva pela mão a acreditar que aquilo é bom, é muito bom para nós. LA 05/009
Duvidar é excitante, acreditar é sonolento. Entre esses dois, o ideal é manter o entusiasmo para o que é belo e verdadeiro e deixar marulhar as nossas águas. LA 05/009
Acreditar no que nos mentimos pode ser o embrião de uma bela verdade — que há de nos manter ocupados por todos os dias de nossa vida. LA 05/009
Entre quedas e levantares ficamos mais atentos e aprendemos outros números do circo. LA 05/009
Acreditar que no passado tudo ia mais a contento são suspiros poéticos de todas as gerações. LA 05/009
Inúmeras pessoas, por serem muito sabidas, não deixam entrar mais nada de novo nem reciclam as velharias que dão de graça nas esquinas ou nas colunas dos jornais. LA 05/009
Algo é impossível até que você comece a fazê-lo. LA 05/009
Precisamos organizar a nossa vida, nos ajustar a nós mesmos, ter um conceito positivo de nós — e prosseguirmos, prosseguirmos fortes. LA 05/009
Não te acanhes perante o gênio (que nem te verá), nem diante do rei (que nem te verá), só procura viver de modo a seres feliz e a estares em paz com todas as criaturas. O mais... Para que mais? LA 05/009
Ação e movimento chamam-se vida. Saibamos bem o que queremos e então direcionemos nossas forças para aquele ponto-fé. Dedicação bem ajustada ao dom leva o homem a realizar o seu intento. LA 0/009
Não abra mão daqueles sonhos, seus companheiros antigos, que lhe são o sentido e a força de viver. Nem fale deles com ninguém — o segredo de tê-los acalentados no teu ser é gozo para a alma e mocidade para o corpo. LA 05/009
Se fores te afligir, aflige-te no tempo certo — naquele em que a aflição existe. É desaforo sofrer antes que venha o sofrimento. Assim mesmo, quando ele vier não estejamos lá, mas comendo pipoca com as crianças nalgum jardim zoológico. LA 0/009
Se isso é possível? Tudo é possível aos que não creem no impossível. LA05/009
Palavra boa chama palavra boa, palavra má chama palavra má, e de palavra em palavra nós vamos escrevendo nosso livro que nem sabemos que escrevemos. LA 0/009
Viver é estar criando, sabendo ou não de nossas criações. LA 05/009
Quanto mais dizemos “sim” a alguém tanto mais ele se magoará no dia em que ouvir de nós um ”não”. LA 05/009
A ingratidão é um gene — nasceu humano, nasceu ingrato. Mas nem por isso a cultivemos. Vigiar-se é aprendizagem. LA 05/009
Podemos pensar com qualquer um dos nossos órgãos. LA 05/009
Os sabichões, em suas entrelinhas, dividem as pessoas em três classes: as verdadeiras, as cá-e-lá e as erradas. Simplicidade assim nos causa até inveja. LA 05/009
Amamos a vida porque não temos nada melhor. LA 0/009
O amor físico é o mais belo dos frutos. LA 05/009
O amor romântico traz em si as doenças da alma — algumas não tão deliciosas. LA 05/009
O amor impossível é puro orgasmo. LA 05/009
O amor normal é tédio. LA 05/009
O amor divino é prancha e salvação. LA 05/009
O amor platônico é aquele amado infinitamente, deliciosamente sempre em banho-maria. Tem orgasmos por transferência, fartos e sempre no escuro. LA 05/009
O amor social é uma canção que fala dos chás afrodisíacos feito com algumas raspas do chifre do rinoceronte. LA05/009
Quanto ao amor filosófico, é o que se cansa do andar de cima e passa a viver embaixo. LA 05/009
O metafísico é aquele que sentimos logo depois que o amor físico está com a barriga cheia. LA 05/009
O amor do celibatário é aquele que engravida e só assume no pau. Gosta também (um jogo antigo) de passar anel com os meninos. LA 05/009
O amor altruísta é o que faz o que os Estados, A ONU, e os ricos se negam a fazer. LA 05/009
Ruim com a ONU? Pior sem ela. LA 05/009
O amor a si mesmo é o que menos corre o risco de traições. Mas aí entra a barbinha grisalha do analista. LA 05/009
Relacionar-se em nome do amor é o maior dos desafios. Numa relação sempre existe uma cigarra e uma formiga. LA 05/009
A vida é bem mais que tempo, mas para o ser ela é tempo — este o carrega e burila nela. Sim, ela é a mestra, ele (o ser) é o discípulo. LA 05/009
Amigo seria alguém com quem poderíamos ser sinceros sem que nossa sinceridade se tornasse em arma contra nós. LA 05/009
Amigos seriam os que se gostassem assim mesmo — do jeito que são. LA 05/009
Amor que é amor não se conjuga em tempo algum. Se se conjuga é amor mortal. LA 0/009
Quem seria capaz de enumerar vinte de seus defeitos e vinte de suas virtudes? Poucos pensaram nessa tolice durante toda a sua vida, não é mesmo? LA 05/009
Um galo na testa além de não cantar ainda dói. LA 0/009
Beleza nunca falta, o que falta é grana para sensibilizá-la e levá-la ao motel. LA 05/009
Nunca ter passado pelo ridículo é nunca ter sido feliz, nunca ter amado ou se casado. LA 05/009
Menos é mais quando ela é um pouco menor mas muito mais bonita. LA 05/009
Mesmo estando na estrada certa você tem que saber as manhas para chegar em paz. LA 05/009
Ser casto como o gelo, puro como a neve, a gente deve bater o queixo de tanto frio. Gelo é bom para o uísque, a neve para esquiar. LA 05/009
Esquece o passado ou ele te esmaga. LA 05/009
De repente vemos um lado novo, um sentido a mais ou diferente em algo que já tínhamos entendido. Mais uma vez fica-nos claro que o entendimento das coisas tem seus degraus. Entre mil e mil coisas nos sentimos uma aprendizagem ambulante. LA 05/009
Se damos razões para que alguém goste de nós, talvez o tempo até nos prepare a ventura de vivermos um grande amor. LA 05/009
Não é por que a graça existe que as coisas nos venham de graça. LA 05/009
Aprender é passar pelos sentidos e provar com lucidez o que sabíamos apenas de soslaio. LA 05/009
Se não deu certo, tenta de novo, sim, tenta sempre uma vez mais, sabendo que o aprendizado não traz arrependimento. LA 0/009
Aprenda com o erro dos outros, além de doer menos, queima etapas. LA 0/009
Se dirige bem seu dinheiro, viverá longe da servidão, em paz com os homens e de bem com a vida. LA 05/009
Ser feliz há de ser um dever aprazível. LA 05/009
Pensar por nós mesmos ajuda a sermos livres. LA 05/009
Não tenho medo do que passou nem do que virá, apenas tomo cuidado com meu hoje. LA 05/009
Conheci pessoas perfeitas, mas sempre me dei melhor com os imperfeitos. LA 0/009
Antes de escrever o e-mail repreendendo o amigo, lembre o que você fez e o que não fez nestas duas semanas. LA 05/009
Antipatias violentas são sempre bem sintomáticas. LA 05/009
Se confias teu segredo, além de perderes a delícia de tê-lo como teu, ainda te fazes refém de quem o ouviu. LA 05/009
Ter um amigo confidente, além de pueril, é perigoso. LA 0/009
Em geral usa-se o relógio para medir os momentos ruins, até porque os bons momentos nenhum relógio pode medir. LA 05/009
As ideias geniais usam asas, as normais usam botinas. LA 05/009
As grandes realizações brotam em várias cabeças em diferentes lugares — quem primeiro lhes ajuntar as partes e montá-las num todo, assina o Livro. LA 05/009
Aquilo que enfeixa a nossa atenção num só foco é que comanda a ação. Assim nascem as idéias que inseminam os sonhos que parem seus resultados em nossas mãos. LA 0/009
Se se muda o ângulo de vê-las, as coisas já são outras. LA 05/009
As coisas são como você as quer. LA 05/009
Em geral ouvimos o que queremos ouvir e vemos o que queremos ver. LA 05/009
Uma rosa é uma rosa, uma pedra é uma pedra, e por que assim as vemos e por que assim as sentimos é que elas existem e têm um sentido. LA 05/009
Sim, para existir as coisas precisam do nosso testemunho. LA 05/009
Tudo tem nome, alma e sentido porque a tudo ajudamos a dar um nome, uma alma, um sentido — por contaminação ontológica. LA 05/009
O silêncio só é bom na hora certa, fora dela, é omissão. LA 05/009
Quantos não se prejudicaram (ou prejudicaram), não perderam (ou fizeram perder), não são hoje (ou fizeram outros) infelizes por não terem falado na hora certa?! LA 05/009
O silêncio não é de ouro não, é apenas silêncio — deve ser mantido ou deve ser quebrado na hora certa. Tanto ele como a palavra podem ser de ouro. LA 05/009
Um bem atrai outro bem, um mal atrai outro mal. Afins geram afins. Nossas ações não são brinquedos, a menos que não tenhamos nenhum amor por nós. Nossas ações constroem o que seremos. LA 05/009
Há indivíduos muito baixos. Você pode passar por eles, pode lidar com eles, mas jamais se sentir bem com eles. LA 05/009
Amar... (como seres humanos e cristãos) devemos nosso amor a todos. Gostar... já é uma questão de aura, de brilho-afinidade. LA 05/009
Os malandros falam das coisas simples, da pobreza honrosa, da resignação, da miséria altiva, enfim — da recompensa póstuma, enquanto se esbaldam no fausto e na luxúria — acobertados pelas instituições que mantêm com os Estados o domínio sobre o mundo. LA 05/009
Cada um tem o jardim que plantou ou aquele que não plantou. LA 05/009
Os que saíram da caverna têm que ficar aqui fora, sozinhos entre os sozinhos. LA 05/009
Ainda que não seja nada fácil, cada um de nós precisa aprender a ser o melhor amigo de si mesmo. LA 05/009
As flores são parecidas com muitos dos nossos sentimentos. Nós as amamos porque elas expressam nosso próprio interior em várias gamas. LA 05/009
Sim, amamos as flores porque se as damos às amadas e elas dizem por nós tudo o que não saberíamos ou não gostaríamos de dizer. LA 05/009
Todo homem se diz livre, e o vemos amarrado em toda parte. LA 05/009
Vivemos como se a morte não existisse, isso revela um medo absurdo dela por não confiarmos na Vida e em seu Autor. LA 05/009
Quem não viveu longevamente não sabe que a vida é curta. LA 0/009
Em geral o deslumbramento é fruto da ingenuidade. LA 05/009
O melhor vinho é o feito de palavras inspiradas — faz renovar a mente e dilatar toda a consciência. LA 05/009
Seja bom para você — deseje, e espere, felicidade a si mesmo, e não tenha medo de vivê-la. Sim, passe a gostar de você, trate-se com respeito, seja amável com você e se torne o seu melhor amigo. Ame-se e sinta-se digno de amar e ser amado. Invista na imaginação, no sentimento e pensamento de viver uma vida que você abençoou e Deus quis abençoada. LA 05/009
Se você foi um protozoário, esqueça. O que importa é você daqui para a frente. LA 05/009
Se Darwin não lhe desce, esquece esse senhor. Se o criacionismo o aborrece, não compre no seu shopping. O caminho se constrói caminhando, tal como antes de nós inúmeros o construíram. Um dia você terá curiosidade sobre os teus antepassados, então é só dar uma olhada no que a ciência diz sobre nós — para chegarmos aqui muitos ombros nos carregaram tal como acontece agora. De tudo o quanto importa é nos sabermos a caminho do entendimento. Quanto a mim empeendi minha jornada em Cristo — estar com Ele já é ter chegado. LA 05/009
Não é preciso variar de coisas — apenas vê-las com um novo olhar. LA 05/009
Sim, não precisarás trocar de cônjuge, basta vê-lo por ângulos e com olhos diferentes. LA 05/009
Enquanto as nuvens mudam de lugar e forma, também os nossos pensamentos e sonhos vão sofrendo novos arranjos das assíduas experiências e naturais vivenciações. Acertos e enganos são nossos velhos companheiros. LA 05/009
Os homens gostam de banalizar, tornar tudo normativo, tudo pão, pão; queijo, queijo. O ser humano é um fazedor de normas, normas que o amarram numa realidade que foge dele. LA 05/009
Como saber se tal ou qual oportunidade (que você deixou passar) era boa ou era má? Se já passou, que vá com Deus, — outras (melhores) já vêm vindo. LA 05/009
Os que são contra as paixões são pobres incapazes de se apaixonar. Um amor vivido com paixão, um livro escrito ou lido com paixão, um trabalho feito com paixão são coisas muito diferentes que amar, que escrever, que ler, que trabalhar. A paixão (para os que a podem suportar) dilata e limpa os sentidos e faz mil anos ser vividos em poucos dias, meses ou anos. LA 05/009
Sim, quem não pode com mandinga não carrega patuá. Assim também a paixão é pra quem pode se apaixonar. LA 05/009
Quem constrói sua casa de verdades deve fazer as paredes de isopor e o telhado de sapé — quando ela vier abaixo não lhe machuca muito. LA 05/009
Em geral, sofre-se pelo que é e pelo que se imagina ser, de sorte que muita gente elabora para si um sofrer pelo sofrer. LA 05/009
O lado suportável ou quase insuportável de engolir sapos, cobras e lagartos vai depender muito da qualidade do molho. LA 05/009
A gente emprega “por acaso” para falar do que não sabe. LA 0/009
Quando o cara se leva muito a sério, não o leio, não o ouço, não o vejo. LA 05/009
As pessoas criam fantasmas e depois, haja pernas! LA 05/009
Nós criamos mulheres ideais, elas homens fantásticos, depois dá no que dá — apenas homens e mulheres. LA 05/009
Se a palavra nos distingue de um bicho, nossas ações deviam fazer o mesmo. LA 05/009
Já que as verdades não são tantas todo falar tem sua cota de mentiras. LA 05/009
Invejo muito os vapores que vivem lá nas nuvens e só mudam de prateleiras quando elas já não se aguentam. LA 05/009
Só podemos sacar da vida o quanto e o que investimos. LA 0/009
Livremo-nos das intenções alheias, principalmente das boas. LA 05/009
Há desgraças profícuas e desgraças inúteis — vai depender de se aprender ou não com elas. Claro: aprendamos — de preferência — com a graça. LA 05/009
Os momentos em que mais sonhamos é quando executamos tarefas desagradáveis. LA 05/009
Respostas boas são aquelas que tiram as perguntas de dentro d’àgua. LA 05/009
Muitas vezes não compreender é uma sábia compreensão. LA 05/009
Não jogue tal ou qual defeito fora, um dia você pode precisar dele. LA 05/009
Enquanto o sol não vem uma vela é mais que o dia. LA 05/009
Quem tem muitas incertezas tem um bom potencial para alcançar verdades. LA 05/009
Belo é tudo o que os olhos assim veem e os sentidos aprovam. LA 05/009
Se não tens medo de ti, então entra em ti mesmo, examina, reflete — vê se aprovas o que andas sendo. Se aprovas, sorri. Se não aprovas, empreende estratégias de mudança, mas sempre com respeito, com amor por ti mesmo. LA 05/009
Mágica? Não conheço nenhuma a não ser a que opera no amor. LA 0/009
Quem jamais teve que lidar com sentimentos e advogados por certo nunca foi casado. LA 05/009
Todos falamos de liberdade de mil e mil maneiras, modos e idiossincrasias, poéticas e filosofias — talvez uma estratégia de sentirmos ao menos um certo gosto longe de sermos livres. LA 05/009
Cada um tem a idade que sente e pensa ter. LA 05/009
Nenhum destino se constituirá contra você, a menos que você o construa. LA 05/009
Todo oeste é melancólico após as loucuras em chamas do sol que se põe. LA 0/009
Todo fracasso tem seu lado belo — nos ensina a mudar. LA 0/009
Tudo o que mais importa temos de aprender sozinhos. LA 05/009
Coisa terrível e desastrosa é não deixar uma criança falar, se explicar — não importa seja mentira o que deseja dizer. LA 05/009
Chega uma hora em que a pessoa tem de abrir a mão e deixar cair o que mais ama. Só então ela consegue prosseguir. LA 05/009
Nosso cachorro vai se humanizando enquanto vamos nos enriquecendo com o prazer da companhia que se enraíza em mútua convivência. LA 0/009
Jamais perca o entusiasmo, a alegria, o sonho, a força. Peça a Deus jamais tal desgraça ocorra em sua vida. LA 05/009
Desejo chegar à perfeição talvez pela certeza de que ela é inalcançável. LA 05/009
Sim, o impossível é o natural desafio de fazê-lo possível. LA 05/009
Alfinetar os que afligem e fazer rir os aflitos: tarefas para dois profissionais — o humorista e o palhaço. LA 05/009
Matar o tempo fere o sonho do matador. LA 05/009
As loucuras do amor são maravilhas que a vida nos concede. LA 05/009
Para fazer um poema retire do dicionário tudo o que é desnecessário... e pronto: você tem o poema. LA 05/009
Inúmeras coisas temos como certas, sem que jamais nos fossem comprovadas. LA 05/009
Precisamos amar a morte como alguém que vai nos livrar de um vexame. LA 05/009
Depois que se cai neste mundo de dementes tudo se torna possível, sim, até ser feliz. LA 05/009
Fale bem de seus inimigos em público, e ficarão num beco escuro. LA 05/009
Conhece-te a ti mesmo, e dá no pé! LA 05/009
Ah! O amor, sempre o amor! Voltemos ao Largo da Boa Morte que de morte não tinha nada. Sem televisão, sem computador o Largo da Boa Morte estremecia de amor. LA 05/009
O mais belo do amor são seus hieróglifos. Lembro (era bem menino): a minha prima e o André pareciam Champollion a decifrá-los (anos e anos de estudo!) no escurinho macio da varanda da casa da minha avó. LA 05/009
Rosinha noivou seis anos. Algumas vezes a vi da varanda para o seu quarto — toda sem graça, cabisbaixa, levezinha, apressada, amassadinha, sempre bem desfolhada. Um sorriso de feliz, que dava inveja. LA 05/009
Pudéssemos ser o outro, só por poucos minutos, por certo não o invejaríamos. Esta é a frase dos carentes. LA 0/009
Queiramos enquanto podemos, para que quando não pudermos então termos de memória o sabor bem vivo e calmo do que já não podemos. LA 05/009
Se conselho fosse bom, até eu os daria por um preço acessível. LA 05/009
Sempre digo aos meus contratempos que não se voltem contra os tempos, mas que naveguem a seu favor. LA 05/009
Quem Vê Cara...
O amor tem bem a cara de quem sabe fazer política — não desagrada a ninguém: prós e contra, hoje; contra e prós, amanhã. Sim, no amor e na política, quem vê cara não vê coração. E entre amados e não amados — todos fazem amor. LA 0/009
Sabido é o cara que, numa encrenca, sabe pensar com as pernas. LA 05/009
Afobar-se não adianta, é preciso calcular o tempo. LA 0/009
Já encontraram a verdade? Bom proveito! LA 0/009
Mandaram a gente dizer a verdade, jamais mentir. Trabalhar duro. Ouvir e calar. Sofrer calado. Aceitar. Ser honesto. Devolver o achado ou o troco a mais. Olhar para trás e vendo os desgraçados, dar-se por bem feliz. Sim, dar graças a Deus por não ser bem pior. Disseram que Deus dá a cada um o que merece. Sim, que cada um tem o que merece. Que Deuspai gosta dos pobres de espírito. Que há um céu pra quase ninguém, um purgatório pra muitos e um inferno pra quase todos. Que Deus ama os obedientes, os puros, os castos, os que obedecem àqueles que Ele pôs para mandar no mundo. Há, sim, mais umas coisas (eu era tão menino), mais umas terríveis coisas, que até me amedrontavam e que hoje faz rir lembrar. LA 05/009
Cego e desdentado, o mundo perguntará: De que nos valeu tanto olho por olho, tanto dente por dente? LA 05/009
Para o olho chorar há que estar vivo o coração. LA 05/009
Não inveje nenhum de seus amigos que fazem pose de felizes. Dê uma espiada em sua alma: são os mais tristes. LA 05/009
Se o livro não existisse, o homem como tal também não existiria. LA 05/009
Desse ponto adiante há um vale (você não o verá, mas é um vale) ninguém sabe a sua largura nem a sua fundura. Daí adiante, você deve ser a sua ponte. É só atravessar-se. LA 05/009
O mundo jamais precisou de mudanças, o mundo é apenas o que somos. LA 05/009
Quando a gente joga fora a obsessão de ser feliz, aí, sim, é que se vive bem menos infeliz. LA 05/009
Muitos dos que fracassam buscam justificar-se com o carma, com o destino. Se isso os alivia, tudo bem! LA 05/009
Temos tempo de sobra para as nossas bobagens. Nossas sublimes bobagens. LA 05/009
Quando caímos de nós mesmos, até olhar para as alturas nos dá vertigens. LA 05/009
Para que os cabelos brancos colham sabedoria, antes, bem antes de serem brancos, devem ter se dedicado a muito estudo e aprendizagem. LA 05/009
Desejos todos temos, muitos desejos. Onde estaríamos agora, ou: que seria de nós se dez por cento deles tivessem sido realizados? LA 05/009
A verdade é discreta, não se impõe. A mentira é barulhenta, faz-se ouvir e ver. LA 05/009
Se o mal é imaginário vai durar por muito tempo. Se é real não dura muito. LA 0/009
Diplomas, títulos, PhDs — e as obras, onde, cadê?! LA 05/009
O amor é, sem dúvida, e em todas as classes, o maior bem de consumo — financiado até depois da morte. LA 05/009
O orgulhoso não aprende porque pensa que já sabe. LA 05/009
Querer ver ou saber depende de você. LA 05/009
O abismo é um mago que fez desaparecer o chão. LA 0/009
Duvidar de tudo é o primeiro dever de quem está buscando. LA 05/009
Tu és a luz que procuras, apenas deixa que ela brilhe. LA 05/009
Se duvidas do amante, estás certo. Se duvidas do amor, estás sozinho. LA 05/009
Duvidar de tudo é tão pueril quanto crer em tudo. LA 05/009
Há pares que sujam nossa alegria de dor: Finito, infinito. Fugaz, eterno. Céu, inferno. Vida, morte. E outros e outros que fazem doer senti-los e pensá-los. LA 0/009
Hoje estou com vontade da minha nega. Vou ver se ela concorda em me deixar degustá-la devagar-devagarinho. LA 05/009
A multidão age como cardume, galvanizada por uma consciência massiva. O que ela aplaude eufórica uma pessoa sozinha talvez não aplaudisse. LA 05/009
Na multidão o fanatismo, a crendice, o delírio, a loucura se fazem bem visíveis. LA 05/009
A quem está preparado uma oportunidade é preciosa, mas a quem não está — uma oportunidade é só uma coisa duvidosa. LA 05/009
Em geral só se pensa para o gasto, pois de pensar morreu um burro. LA 05/009
Prever o futuro é fácil, difícil é chegar lá. LA 05/009
Com histórias da carochinha, temperadas com muito medo e póstumas promessas — o rebanho vai sendo guiado. LA 05/009
Nem leão nem cordeiro, apenas uma pessoa que sabe o que quer, o que não quer e para onde deve ir. LA 05/009
Inveja não mata ninguém, ao contrário, vem confirmar que temos alguma coisa que o outro adoraria. LA 05/009
Enquanto me invejam sei que estou bem. LA 05/009
Entre meu imperfeito já feito e o teu perfeito não feito — fico com a minha imperfeição. LA 05/009
Por vezes lembro Sofósio: “Da vida quero a moleza. Sua dureza vou levando em fogo brando.” LA 05/009
Se quer amar seus inimigos, ame. Só não esqueça que também pode fazê-lo com seus amigos. LA 05/009
Quanto mais você corre atrás da verdade, mais ela some de você. Quando você a despreza e lhe vira as costas então você a vê. LA 05/009
De poucos rostos me esqueci na vida. O teu faço questão de ir esfumando até tornar-se vento, vento que, assoviando, me lembre uma canção que apague o tom de tua voz. LA 05/009
Para enganar e trair é antes necessário duas assíduas estratégias — primeira: caluniar. Segunda: caluniar. LA 05/009
Água de poços envenenados. Amores moços e já finados. LA 05/009
Não iria à fogueira por nenhuma verdade, aliás, os tais senhores que por doutrina matam, jamais se interessaram pela verdade da verdade, mas pelo mando e poder que a coisa lhes confere. LA 05/009
Princípios? Como cuecas e calcinhas, todos temos, e pelas mesmas razões. Por isso, não queiramos tirar, ou que alguém vá usar os princípios dos outros. Vamos com calma — são outros os tempos. LA 05/009
Resumo os tais princípios na velha frase (não praticada): Respeito a tudo — ao ser humano, aos animais, aos vegetais e aos minerais. LA 05/009
Um coração decidido, um espírito reto sabem o que querem. LA 05/009
Um coração compassivo, um espírito reto sabem o que fazem. LA 0/009
Se o estudo não for passado pelo crivo do pensamento, de que vale ter estudado? LA 05/009
Teu pensamento deve morrer várias vezes e renascer de seus escombros — sim, muitas e muitas vezes, para poder essencializar a vida e ter outros olhos de ver a ti mesmo e o mundo. LA 05/009
O pensamento é a semente de uma grande árvore — do nascimento à morte do seu tronco, passa por inúmeros estágios: muitos nasceres e morreres na essencilização da vida que se constrói e reconstrói no silêncio do mistério. LA 05/009
Os que se têm como mestres vão fechando para si mesmos o seu leque de aprendizagem — não admitem ser ensinados. LA 05/009
Vivemos poetizando o eterno, isto é, o fugaz em eterno. Ainda não queremos ver que quanto mais fugaz mais delicioso. Algo eterno seria a maior desgraça. Sim, falta-nos entender que a morte é um presente — como nascer e viver. LA 05/009
A humanidade sempre foi criminosamente explorada em todas as épocas por aqueles que a governam. LA 05/009
Desejar o impossível é o mais alto de todos os nossos desejos. LA 05/009
Pensamos e sentimos de soslaio para atingir o meio: o ponto intento. A metáfora é feita de tabela — sim, um pegar a coisa pelas penas do seu vôo. Sempre assim: ao querer dizer tal coisa invocamos uma outra que, “no ar”, compara as duas que já são uma outra coisa. LA 05/009
Geração Do Ar
Poesias e romances todos escrevem, ensaios todos os fazem. O duro é lê-los, já que a qualidade mesmo na mundial literatura é coisa muito rara. A Internet promete salvar a boa palavra escrita das mãos dos editores e dos críticos, não raro, escandalosamente coniventes. Um tchau aos feudos clãs castelos. E já podemos ver, ao lado de toneladas de coisas-lixo, muita beleza genuína no ar — sites mostrando uma literatura de qualidade. De muito boa qualidade. Gente que faz literatura como crescimento pessoal. Sim: autoconhecimento, devoção artística e intercâmbio entre os que amam e buscam as vias do estudo, da pesquisa e da autoexpressão. Era mais que hora de já poder surgir a Geração Do Ar em sua abominável inteligência a exigir um texto de qualidade — impresso (sem preço) na atmosfera do Planeta. LA 05/009
Toda fase, toda idade, toda época serão boas, muito boas, se se souber o que fazer com elas, LA 05/009
A sociedade precisa ir derretendo devagar, devagar e continuamente, a sucata de seus valores e reciclá-los em valores atuais — ao molde de seu tempo e realidade. LA 0/009
Só quem muito nos estimasse poderia se dar ao luxo de nos aconselhar. LA 05/009
Os bons amigos sabem que devem se ver pouco, e jamais se dizerem uns aos outros que (no mais íntimo de suas almas) lhes desejam ventura, paz e êxito e que oram uns para os outros. LA 05/009
Tempos
Não se preocupe muito com o tempo, ele foi inventado por quem tem casas de aluguel. Pague em dia suas contas, cumpra seus contratos, entre e saia na hora certa em seu trabalho, acerte o seu relógio com o de sua nega e quanto ao mais, jamais se aflija com o tempo. Ele foi inventado por agiotas, por banqueiros que o transformaram em dinheiro: time is money. Tempo carnudo e material que mata e que atropela, tempo de angústia e de aflição. Mas há outras e outras dimensões de tempo — aquele que se liga ao ser, o tempo metafísico, este, sim, é o ser e o ser o é: ambos são a semente e a árvore. E em ambos temos todo o ensino-aprendizagem no processo de ser: tempo e memória. Esse tempo dilata os odres da consciência por entre renasceres e morreres — de verdade em verdade, de esperança em esperança, de entendimento em entendimento naquela Casa em nós (a viajar em nós) em que Deuspai sempre nos foi, nos é e nos será por-entre-os-tempos-dos-tempos-pelos-tempos em que a Vida é o mestre e o viver o discípulo. LA 05/009
Há os que se lamentam por ter nascido e os que se aproveitam de tal fato para fazer da vida muito mais que uma boa limonada. LA 05/009
Vivi bastante para ver que para uns a vida é bem fácil, para outros muito difícil. Mas não vivi bastante para entender isso. Claro que sei tecer conjeturas sobre isso, como todos os homens, mas conjeturas, quem é que não as faz? Sim, fazer conjeturas é como ter nossas razões, nossas boas intenções, belas ideias, fortes intuições... Mas mesmo assim, nunca vivemos tanto para entender o que se vê, embora muitas vezes seja de um visível gritante. LA 05/009
Quando vemos alguém lutando com o impossível, ficamos fascinados — não sei se de dó ou de vermos tanto heroísmo. Mas de um jeito ou de outro aprendermos às custas alheias, além de cômodo, é igualmente bom aprendizado. LA 0/009
Eu não posso ensinar nada a ninguém, mas posso dizer a ele que podemos aprender um do outro. LA 05/009
Tomé, hoje? Nem pondo o dedo. LA 05/009
Se o sentir não vem junto com o pensar, nem um dos dois é bom. LA 05/009
Exige quanto queiras de ti, e nada dos outros. LA 0/009
Depende dos outros só o que não puderes não depender. LA 0/009
Concordo: o fracasso pode ser mais interessante que o sucesso... mas hoje não estou filósofo — fico com este último. LA 0/009
Marilda me disse que perder o controle é normal, contanto que um dia a gente volte a controlar-se. LA 05/009
Existem tantos tipos de mentiras: finas, inteligentes, insinuantes, quase honestas, charmosas, verdadeiras — que a gente até nem sabe qual delas é a mais bela. LA 05/009
Há verdades tão belas, que dizê-las seria cometer luxuosos sacrilégios. LA 05/009
Experiência é bom, pois quase sempre já não servem para os tempos de hoje. Aí a gente vive até ter outras que logo precisamos reciclar. Experiências valem experiências. LA 05/009
Bom seria ter mil razões para viver e uma só pra não morrer. LA 05/009
Faça o que pode, o que não pode a vida faz. LA 05/099
Construímos o que somos e tolamente chamamos isso de destino. LA 05/009
Sossega: o mundo está salvo — cada povo tem lá seu salvador. Cuidemos bem da vida e frequentemos sua escola. Demos a Deus, a nós e ao próximo o melhor de nosso amor. Exercitemos o altruísmo. E prossigamos livres (ao menos lá dentro de nós), sim, prossigamos livres, leves, soltos... coçando gostosamente os mimos e sabendo que em tudo cabe a alegria, o riso e o humor. LA 05/009
Se em geral fazes de cada dia um bom dia — praticas a melhor das artes. LA 05/009
O homem precisa aprender o que ensina, daí esse fascínio em cada um de nós por querer ensinar. LA 0/009
Entre os sonhos do futuro e as histórias do passado trabalho na oficina dos meus dias. LA 05/009
Não tenhamos medo de fazer vibrar o nosso coração — busquemos um ritmo bem de casa e ao som de suas cordas dancemos nas varandas lá em nós. Sim, dancemos, sabendo que é preciso viver — urgentemente viver. LA 05/009
Um castelo edificado no ar tem a graça e a beleza de ter sido assim sonhado. Sim, o fascínio flutuante do cai, não cai dos sonhos. Já quando edificado sobre o chão tem a melancolia das paranoias já cansadas. LA 05/009
Há coisas na vida que não se compram com o dinheiro, mas nem por isso deixam de custar menos caro. LA 05/009
Muita coisa que eu não soube de minha vida tenho certeza me foram a causa de eu seguir em frente impulsionado pela força de uma alegria companheira que ia comigo o tempo todo e nunca me deixou a vida inteira. LA 05/009
Sua paz social vem de você gastar um pouco menos do que ganha. LA 05/009
Marilda tinha defeitos encantadores, desses que todo homem adora. LA 05/009
Se contássemos cada dia como uma vida separada, nem passado nem futuro iriam nos apoquentar. LA 05/009
O passado é um tirano, o futuro é um malandro — um vive nos punindo, outro vive prometendo. Não sei qual presta menos. Mas já que são parentes, temos que toureá-los vivendo bem o presente. LA 05/009
As qualidades de um homem não o fazem agradável, como os defeitos de alguém não lhe roubam os encantos. LA 05/009
Um tanto de loucura, outro tanto de razão — eis o velho e delicioso condimento do amor, arrazoado de doidices. LA 05/009
É preciso viver para ver o preço de tudo na consistência de nada. LA 05/009
Metamorfoses do conhecimento — isto o que temos sido. LA 05/009
Investir em conhecimento há de resultar em soltura interior, melhor manejo da realidade e crescente construção da liberdade. LA 05/009
A vida não dá respostas, mas oferece a graça de ser vivida. Nós é que devemos à vida as respostas de viver. LA 05/009
A convicção nos cimenta no tempo e no espaço — perdemos o dom da metarmofose, nossa consciência se engessa: o pensamento perde as asas, o coração não tem suas razões. Já não podemos arrazoar com Deus sobre nossos caminhos e descaminhos. Convicção petrificada serve para calcetar ruas e coletar o trânsito e a enxurrada. LA 05/009
O Senhor está no céu e assim mesmo nos chamou de irmãos na pessoa do Filho. LA 05/009
As canções, as flores, o vinho, a dança, a alegria a bailar no coração e o amor a incendiar as nossas almas — as raparigas a pisar as uvas vão dando o ritmo. LA 05/009
Por certo um dia encontraremos em nossa mente a tal fonte da juventude. La 05/009
Sabedoria é ganho pelos poros do tempo, conhecimento é construção e suporte de vida. LA 05/009
Amor dos bons é o que mente e prova as suas mentiras como verdades. LA 05/009
Amor? Sim, sempre o amor em suas várias gamas. O que não crê no amor não terá companhia para saborear suas sublimes mentiras. LA 05/009
O ódio não anula o ódio. Só o oposto de uma coisa poderá anulá-la. LA 05/009
Uma guerra não termina quando o ódio acaba, mas quando uma parte dele é vencida por ele. LA 05/009
Chamar-se a si mesmo pequeno ou o menor que todos é não gostar dos pequenos, dos simples, dos humildes. Até isso o nosso orgulho nos faz fazer. LA 05/009
Oriente e Ocidente são duas jarras pela metade — precisamos misturar seus conteúdos. LA 05/009
As experiências vividas formam o nosso aprendizado — uma espécie de mestre anético a quem podemos recorrer. LA 05/009
Reativar o passado é queimar-se em suas brasas ou libar seus licores. Repassar esses filmes é um modo de organizar o tempo e ordenar a nossa alma. LA 05/009
Esperar muito de alguém é como pressioná-lo para um lado aonde talvez ele não queira ir. LA 05/009
Os que têm um ar de inteligentes em geral não o são. LA 05/009
Um coração liberto é um caminho iluminado. LA 05/009
Até há pouco tempo dizer-se agnóstico ou ateu dava status de inteligente. LA 05/009
Badernar o Sagrado dá boa bilheteria. LA 05/009
Jesus, Nosso Senhor, só ainda não foi filmado como boiola e bêbado. LA 05/009
Para um livro ser bom vai depender de quem o lê. Sim, mesmo prestando pouco, ou não prestando, poderá ensinar muito. LA 05/009
A grande maioria dos meus sonhos nunca vão se realizar, mas me têm dado força e entusiasmo e isto é uma espécie de realização por tabela. LA 05/009
Orar é uma grande força, quando você não fala que ora. LA 05/009
Quando sinto que “posso”, oro por mim ou por alguém lá em alma-coração. LA 05/009
Não sei orar, nem me deixo ensinar — apenas oro. LA 05/009
Orar é galvanizar as células numa só e expandir o espírito até ele agarrar o que precisa. LA 05/009
Lutar contra um mal é aumentar-lhe a força. Vibrando leve, a gente o põe nas mãos do bem que estamos precisando. LA 05/009
O amor se alcança com amor. LA 05/009
Sucesso é bom e natural para quem sonha e ousa. Já a fama é uma lâmina afiadíssima e sem bainha. LA 05/009
O que o trabalho deu a gente não arrisca. LA 05/009
Galo na testa canta quando dói muito. LA 05/009
Ao menos uma vez por dia é bom pensar que estamos caminhando no meio da humanidade e que de certo modo a somos. LA 05/009
Há tantas maravilhas que uma vida é bem pouco para senti-las e aprender com elas. LA 05/009
O fracasso pode não ser fracasso como a vitória pode não sê-la — tudo depende do contexto. LA 05/009
O muito é muito, o pouco é falta. A luz e a sombra suficientes é que vestem o ver de charme. LA 05/009
Uma pitada de doidice ao talento vai bem, vai muito bem. LA 05/009
Banalizar o erro como estímulo de aprendizagem e afoiteza aos desafios traz em si muitos perigos. LA 05/009
Milagre é aquilo que achamos que é milagre. LA 05/009
Nem sempre as coisas más são para o nosso mal, nem sempre as boas são para o nosso bem. LA 05/009
O meu futuro não é lá, ele começa aqui. LA 05/009
Não, o meu futuro é lá, lá onde não sei. LA 05/009
Ninguém sabe quanto já caminhou — o caminho é interior, ou melhor: nós o fazemos em nós. LA 05/009
Se estamos vazios, então é hora do banquete. LA 05/009
A estrada certa é aquela que tem o por fora e o por dentro. LA 05/009
As grandes almas se mantêm acima das tempestades, tal como as procelárias voam por sobre as ondas. LA 0/009
Meia-idade é quando a gente começa a admirar as pessoas mais novas. LA 05/009
Vivamos nossas alegrias, nossos momentos mágicos, nossos bocados de prazer — amemos e sonhemos, degustando segundo por segundo o tempo que nos foi dado. Saboreemos a beleza e a arte e os voos ariscos da poesia. Amemos a Deus, a nós e ao outro. E tudo o que façamos não esqueçamos de fazê-lo com um sentimento de verdade. LA 05/009
Quando os detalhes forem mais interessantes que o todo, demore-se neles — a beleza e o prazer não precisam de regras nem medidas. LA 05/09
Um gesto, uma delicadeza, um olhar, um sorriso — no amor é tudo grandioso. LA 05/009
No amor, tão belo quanto encontrá-lo deverá ser perdê-lo. LA 05/009
Vivamos as coisas como elas são e não como gostaríamos que fossem. LA 05/009
Graças a Deus, poucas vezes nossos desejos são atendidos. LA 05/009
A verdade das coisas é a ideia que fazemos dela. LA 05/009
A melhor maneira de ser amigo é agir como amigo. LA 05/009
Essa fome de afeição que jamais é satisfeita, isto se chama amor. LA 05/009
Em nossos belos e folgados dias nossos amigos nos conhecem, em nossas provações somos nós que os conhecemos. LA 05/009
Aprendemos pela vida afora e nos apoiamos nesse aprendizado para não só aumentá-lo como i-lo transmudando e organizando em nós — aliás, somos aquilo que conhecemos. LA 05/009
Aprendi das pessoas o que e como devo responder-lhes. LA 05/009
Na guerra só vai prestar a vitória. LA 05/009
As grandes ilusões impedem a felicidade possível. LA 05/009
O que há de mais íntimo que nossos sonhos? Bem por isso é que revelá-los sempre lhes quebra o encanto — sua força e magia se evolam. LA 05/009
O amor é como a lua — cheio de fases, marés baixas, marés cheias, nuvens e brejos. E não há outro jeito, senão ficar já embarcado — quando a água sobe a gente rema para o castelo de Luana. LA 05/009
Sim, o amor é um velho lunático encarnado em pessoas de todas as idades. LA 05/009
No último congresso sobre o amor, sábios e sábias provaram que o amor não existe, por dedução claríssima: jamais nos satisfaz. Que nem jabuticaba — a gente quer chupar a cesta. Verificaram que lá no hipotálamo existe sempre um desejo bem debaixo da cama (tálamo) — sempre pronto a subir. Sim, um desce, outro sobe, um desce, outro sobe... Conclusão: O amor não é mais que um hábito atávico cronificado: uma droga ineficaz — por isso tão amada. LA 05/009
Tratemos bem das nossas ilusões — se elas se vão, que é que vamos fazer com os cascalhos da realidade? 05/009
Essa coisa de gratidão e ingratidão é mais uma maneira de querermos prender as pessoas a nós. LA 05/009
Pra se sair dos pés de alguém é preciso ser ingrato com ele — já que pra continuar bom moço e grato seria bom só para o tal herói. LA 05/009
Plantei flores no meu jardim e as borboletas não vieram. Ingratas! LA 0/009
Quem não precisa de badalações também não vê desprezo. LA 05/009
Não case por dinheiro. Qualquer banquinho aí lhe empresta a juros que você pode quitar bem antes de morrer. LA 05/009
Muito elogio à exceção faz confundir a regra. LA 05/009
Entre verdade e mentira está a mentira da verdade e a verdade da mentira. LA 05/009
Estão matando o Planeta e os elementos dando seu troco. LA 05/009
Em geral nossos desejos não sabem o que desejam. LA 05/009
Na vida tudo é processo — vai do primeiro passo a não sabermos quantos. LA 05/009
As pessoas mais covardes exortam os outros a fazer, a ousar, a aventurar-se... e ficam espiando — resguardadas — a ver o que acontece. LA 05/009
Mudar de ideias é fácil, triste é não saber o que fazer com as novas ideias. LA 05/009
Não espere por que esperar é difícil, espere por que adora esperar que a vizinha abra a janela. LA 05/009
Não esperar é não temer, o problema é que não temer é não ter nada pela frente. LA 05/009
Ser mestre é fácil e, para alguns, até prazeroso. O difícil, para alguns, é passar de mestre a aluno — para continuar a aprender. LA 05/009
Há livros que são poderosas naves — levam-nos em viagens atemporais, por dentro e fora de nós, do mundo e da vida — viagens dentro de outras viagens por um partir-chegar, por um chegar-partir onde o tempo e os portos se dissolvem nas mãos da vida, sonho de Deus feito ousadia e graça. LA 05/009
Entre a sabedoria e a ignorância arma-se o palco e os atores constroem um tempo exterior: sua realidade, e um tempo interior: aquilo que lhes falta. LA 05/009
Peço a Deus que em minha vida sempre me procurem estas três criaturas: Simplicidade Bondade Verdade LA 05/009
Bobo de você se acredita na idade que tem. LA 05/009
Não há maior bem que a liberdade de não ir, não fazer, cair fora, rir e gargalhar — sem dosar a altura. LA 05/009
Coisas eternas, verdades absolutas — não as há. A vida não cristaliza, mas sempre, sempre se expande. LA 05/009
Não devemos confiar na responsabilidade dos homens, ainda é cedo para isso — caminha-se mais inconciente que conscientemente. LA 05/009
Ações e palavras através do tempo se tornam espelho do homem. LA 05/009
Para o amor nada é invencível, irredimível, impossível. LA 05/009
O sábio e o tolo lambem melzinho na mão da amada. LA 0/009
Saibamos degustar os intervalos, e a vida fica suportável. LA 05/009
Caminhos retos são apenas metáforas de quem já andou perdido. LA 05/009
Não sou ovelha desgarrada, sou do rebanho dos devotos do Amor — minhalma tem um Amigo: Jesus é meu Pastor. LA 0/009
Não assovies perto do triste. LA 0/009
Inteligência sem bondade é desgraça. LA 0/009
Não é de hoje que deixamos nossas pegadas pelo tempo. LA 05/009
Mesmo para os reencarnacionistas a vida é uma só. LA 05/009
Nosso coração é quem mais nos engana, e, no entanto, sempre foi a nossa bússola. LA 05/009
A solidão de um ser é o que o aparta de amar e sentir-se amado. LA 05/009
Quanto mais misericórdia pedires a um homem tanto mais deliciosamente ele o verá morrer. LA 05/009
O minuto que vem é meu, agradeço por ele e o vou somando aos outros minutos do dia. LA 0/009
Muita filosofia, pouca sabedoria. Muita teologia, fé em agonia. LA 05/009
Há os que estão em posição desfavorável, tenhamos paciência com eles, demos-lhes a mão — sem deixar que nos arrastem para onde estão. LA 05/009
O que faço de mim anula e positiva o que fizeram de mim. LA 0/009
O que falam de um homem raramente condiz com o que ele é. LA /05009
Se alguém lhe pediu perdão o perdão está pedido. LA 05/009
Para uns, a vida é um bichinho bonito e adorável, para outros, um burro a não aguentar com a carga. Pra maioria, um lago azul com belos cisnes de mistura com mares tempestuosos — tudo isso viajando em castelos, mansões, palacetes, moradias, barracos, bancos de praças, florestas... Não faltarão gurus que nos expliquem a razão disso tudo e seus porquês. São bizarros defensores do status quo do mundo, paladinos do tudo-está-certo-como-está, filósofos enfermos da justiça da injustiça, da equidade da desiguladade — filósofos enfermos, teólogos doentes para sempre coniventes com o Sistema. LA 0/009
Se fomos dotados de uma aparelhagem de percepção em expanssão e desenvolvimento — o Criador há de querer que usemos tais sentidos em todos os sentidos que nos engrandeçam a nós e aos outros. LA 05/009
O fazer não depende apenas do saber fazer, senão também da fé de se poder fazer. LA 05/009
Pense o que quiser, faça o que quiser, sinta o que quiser, negue ou conceda o que quiser sem medo de acertar ou errar — se no momento de agir, você agir com todo o seu amor. LA 05/009
Nem satisfeito, nem descontente — apenas um transeunte buscando sempre. LA 05/009
Quando se sabe muito, não se faz. LA 05/009
Os que não se deixam adentrar pela impossibilidade de vencer, agem sem medo e vencem. LA 05/009
Arrostar a dificuldade, o inimigo, ao invés de considerá-los de lado, medi-los com respeito e sem medo, e agir para vencê-los — esta a diferença entre vencedores e vencidos. LA 05/009
Se o que tens é segredo, não o reveles — revelá-lo por certo iria te enfraquecer. Há coisas que são nossas — guardá-las em nosso íntimo é a nossa força. LA 05/009
Melhor que ficares filosofando sobre o destino será usares tua vontade e todas as tuas forças para conseguir o que queres — sabendo bem o que queres, ousando e calando. LA 05/009
Aquela alegria espiritual do justo: o que foi justificado pelos méritos do Filho (e O aceitou e creu Nele) — esta eu invejo e quero, quero que sua chama arda em mim como ardeu nos discípulos da estrada de Emaús. LA 0/009
Quando menino, brincava com minha sombra, ficava fascinado, encantado de ver como ela conseguia me imitar. Depois que me explicaram, o encanto se quebrou. Nunca mais brinquei com ela. LA 05/009
Não termos muitas das coisas que adoraríamos ter — este é o charme da vida. LA /05009
O Hubble e a teoria dos quanta nos mostram um bilionésimo de um pingo das maravilhas de Deus (se bem que mesmo assim, nos faz cair o queixo), mas nosso sentimento de Deus e suas criaturas nos faz ver muito mais. LA 05/009
O Universo é nós por dentro: o micro espelhando o macro e o macro espelhando o micro. LA 05/009
Os chamados amigos íntimos mais se atrapalham que se ajudam. Cada qual vem buscar o que lhe falta e para tal lhe é preciso desenvolver a sua aparelhagem — os caminhos serão outros. LA 05/009
Quanto mais vívida a experiência mais eficaz e duradoura a aprendizagem. LA 05/009
Devíamos ter muito medo de prejudicar os outros. LA 05/009
A dor existe, mas um viver cuidadoso vai reduzi-la bastante. LA 05/009
É perigoso ficarmos catalogando as pessoas entre normais e isto e aquilo... já que todos nós somos meio loucos. LA 05/009
Planejar o futuro pelo passado terá sido errar duas vezes. LA 05/009
Só aquilo que compreendemos faz parte de nós. LA 0/009
Se você pode fazer muita coisa sem ser rico, então é dos mais ricos. LA 05/009
Fazer ou deixar de fazer pode igualmente implicar responsabilidade. LA 0/009
Sem a alegria, que te dá a força de viver, que vais fazer com a verdade e a razão? LA 05/009
As coisas têm sentido se você está bem. Invista em sua alegria, em sua paz. LA 05/009
Uma sugestivo quadro, uma linda canção, um belo poema só têm sentido quando lhes emprestamos nosso sentido. LA 05/009
O soberano (que está de cima), o humilde (que está no chão) são atitudes que todo ser humano deveria evitar. LA 05/009
Para não ser amado o indivíduo dependeu de pessoas, já para amar vai depender apenas dele. LA 05/009
Se nossa canção já não soa, nosso poema já não diz, nosso quadro já não sugere, nosso rosto não ilumina, nossos lábios não barganham, nossa voz não cativa, nossos olhos não abençoam — peçamos de joelhos a Deuspai que tudo isso, tudo isso nos volte a acontecer. LA 05/009
Há países que buscam chifres em cabeça de cavalo. Perturbam o sono da região e a paciência do mundo com seus mísseis de curto alcance, com explosões subterrâneas e ameaçam potências com os tais mísseis-bravatas. Tomara que tudo acabe em risos como aqui acaba em pizza — com ou sem dança. LA 05/009
As palavras carregam a humanidade. LA 05/009
Quando era moço dizia que a vida, em sua média geral, era até muito longa, mas vivi bastante para achar que não — viver nunca é demais quando se tem a graça de arder em entusiasmo, em alegria e altruísmo. Viver é sucessão de ensaios de um santo aprendizado. LA 05/009
Há caminhos, e caminhos. Caminhantes, e caminhantes. E caminhos-caminhantes. LA 05/009
Para nós, o vencedor é o que chega primeiro. Para a vida, é o que chega em si mesmo. LA 05/009
Trabalhar sem entusiasmo é fazê-lo sem ferramentas. LA 05/009
Nossa vida não seria tão curta se não a desperdiçássemos tanto. LA 06/009
A felicidade é ainda malcompreendida — ela não cai do céu: é construída. LA 06/009
Você só pode ser você — não abra mão! LA 06/009
As tempestades são muitas, mas nosso barco tem aguentado. LA 06/009
Incutiram-nos um terror milenar sobre o antes e o pós-morte: sacrifícios de sangue, infernos com horrores eternos, e até um céu, um céu muito engraçado. Literatura opressiva e de dominação. Fico com o Nazareno descalço e suas palavras: Na casa de meu Pai há muitas moradas. Amo a Deus, a mim e ao outro. Deus é espírito e verdade e Seu templo é no homem que o ama. Renasço em Cristo todos os dias e vivo para melhorar-me a mim, aos meus e o mundo, tendo a vida como mestre e o viver como escola. LA 06/009
O que me importa é a oficina do presente onde vivo cada dia com cuidado e calma, desentorto os pregos enferrujados do passado e moldo com o plasma do meu hoje aquilo que por certo me virá. Confio em Deus, em mim e trago acesa a fé em que amanhã serei melhor que hoje e mais feliz. Os outros? Não sei o que eles querem. Cabe-me desejar-lhes ardentemente que realizem os seus sonhos e saibam construir sua felicidade. O que sei é que somos companheiros de viagem. LA 06/009
Vemos as coisas como elas nos parecem, jamais como elas são, nem poderia ser diferente — se tudo está a caminho de ser, as coisas são o que parecem. LA 06/009
Nas horas muito difíceis só uma coisa nos ajuda — a calma: nossa cabeça a comandar serena. LA 06/009
Idas e vindas, e sempre para frente, esta é a lei. LA 06/009
Nem tudo, minha nega, pode dar certo. Tem dia que é de noite, tem noite que é de dia — aprendamos também a agradecer pelo que nos dá errado. LA 06/009
O trabalho precisa ser dividido, como a renda, o lazer e o prazer. LA 06/009
Sejamos bons aprendizes, isto é: felizes. LA 06/009
Ensinar e aprender são revesados pelo mestre e o aprendiz, pelo aprendiz e o mestre. LA 06/009
Num mesmo instante, quem ensina aprende e quem aprende ensina. LA 06/009
Falamos tanto em ser livres, damos tantas lições de liberdade... Será que alguém sabe, já experimentou ser livre? LA 06/009
Aprender a não ser isto, mas aquilo, sempre aquilo de aquilo, num processo contínuo entre isto e aquilo (num isto mais que isto num aquilo mais que aquilo) — é isto o aprender? LA 06/009
Ninguém deve cometer a mesma tolice duas vezes, mas três, quatro, cinco... se achar que tal tolice vale a pena. LA 06/009
Somos mestres em nos enganar. LA 06/009
Muitos (inconscientemente?) usam o coração como oráculo do que desejam fazer... e recebem como resposta que é isso mesmo, isso mesmo o que devem fazer. LA 06/009
Quem ama à primeira vista, à segunda já nem liga. LA 06/009
Ousar é ir além de si mesmo, e saber voar nesse espaço. LA 06/009
O amor é aquele bichinho que quando você pensa tê-lo já não tem. LA 06/009
Os ventos são bajuladores — só sopram a favor dos que sabem aonde querem ir. LA 06/009
O melhor tempo é o que não vivemos e o lugar mais agradável é o que vemos na telinha. LA 06/009
O mais belo amor é o que poderia ter sido. LA 06/009
Quando os prazeres se tornam hábitos, você depende deles; quando se tornam vícios, você é seu refém. LA 06/009
Está na índole de nossos dias amar as coisas e usar as pessoas. LA 06/009
O pessimista é aquele indivíduo que orbita em torno de seus males, mas não sabe que são seus males. LA 06/009
Aprendemos com tudo e todos, mas o núcleo-semente do entendimento está no íntimo de cada um de nós — só nos dão o que já temos. LA 06/009
Não há nenhuma ilha cujas águas não a integrem a todos os continentes, cuja atmosfera não seja o mundo. LA 06/009
Viver afastado é uma coisa, ser solitário é outra. Um certo distanciamento ajuda a ver melhor as coisas e vendo-as assim mais claras, também ficamos mais visíveis a nós mesmos. Em outras palavras: nos afastamos para nos conhecer, sim: conhecer a nós e o mundo. Assim ordenamos a nossa alma, organizamos o nosso ser, alinhamos a nossa vida e aprendemos que o nosso rumo é irmão da razão com a intuição, irmão do coração com aquele saber de esguelha: tino interior. Nesse caso, afastar-se é estar bem mais perto — de nós mesmos e dos outros: saber que somos os outros e que os outros nos são. LA 06/009
Solitário? É quem não sabe florescer os seus minutos, frutificar as suas horas. A solidão não é um mal necessário, é um mal dos que baniram a poesia. Solitário é o que não tem a própria companhia. LA 06/009
Quem diz ter belas ideias é o que nunca vai fazer nada com elas. Ideias não fazem nada, são apenas um pré-ter e um pretexto — uma nota percutida em nós ouvindo ou lendo uma palavra, um ruído, uma voz, uma imagem, qualquer mínimo incidente — uma nota a gerar outra nota outra nota outra... mas nem por isso a gerar uma canção ou muito menos uma sinfonia. LA 06/009
Se eu ficar esperando não vivo o meu dia. LA 06/009
Esperar? Só bem de esguelha, uma espera impermeável à aflição ou angústia. LA 06/009
Esperar? Só na fila. Meu dia é mais precioso do que qualquer espera. LA 06/009
Faço o que quero, não o que acham — pelo menos lá em mim. LA 06/009
Goste de você — você é que se fez assim. LA 06/009
Somos humilhados, desprezados quando queremos nos punir e usamos as mãos dos outros. Sim, ninguém poderá nos humilhar sem a nossa permissão. LA 06/009
Fugir do amor é tão tragicamente impossível quanto fugir da morte. LA 06/009
Mudemos de hábitos de vez em quando, senão nos tornamos um maço de figurinhas repetidas. LA 06/009
Tenhamos em mente que pensar é uma função e a função preserva o órgão. Façamos fluir este rio chamado pensamento — suave, apressado, tempestuoso, ligeiro, jovial, aflito, alegre... tal como a vida gosta... límpido, barroso, escuro, turvo, pardo, cristalino fluindo flavo, flâmeo... assim: como a vida gosta. LA 06/009
Tornamo-nos especialistas em coisas que não existem, e tentamos vivê-las teatralmente em detrimento daquelas que existem. E queremos ser felizes! LA 06/009
Queremos ser ridiculamente bons, sem nem saber o que é isso. LA 06/009
Lembro-me dele sentado à sombra de grandes dores — nos olhos turvos, tediosos meandros de um rio lento, lento e pesado, entre montanhas tristes, despidas de acenos verdes, mãos ressequidas do rijo inverno. Sua alma estava como que solta dentro do corpo — feito semente a ser levada pelo vento. LA 06/009
No meio das dificuldades sempre encontramos a saída. LA 06/009
O fim tem seus acertos que começaram desde o começo e meio, por isso nele tudo dá certo. LA 06/009
No fim de todo medo está a mão de Deus. LA 06/009
O amor é o grande garimpeiro, as mais belas pepitas é sempre ele que traz à tona. LA 06/009
Não cometa o pecado de viver sem a alegria. LA 06/009
Tudo passa tão depressa que a maior arte é a gente fazer dar tempo. LA 06/009
Os amigos gostariam de nos ver sempre os mesmos, mas há os que não têm medo de mudar. LA 06/009
Congelar a felicidade seria transformá-la em seu oposto. LA 06/009
Já tive amigos que comentavam a beleza das obras que iriam realizar. LA 06/009
Tome meu braço e meu lenço. Como posso entender-lhe a dor, se angústia assim nunca vivi? LA 06/009
Bom e mau, o mundo é o mestre. Após teu mais alto diploma, nele farás teu mestrado. O resto é resto. LA 06/009
No amor, cinco mais dois são nove. No desamor, são sete. Na reconciliação, são dois. LA 06/009
Quando moços, sabemos tudo. Mais maduros, sabemos pouco. Pouco depois, sabemos nada. LA 06/009
A virtude suprema é aquela de cujo dom estamos mais precisando. LA 06/009
Como o corpo precisa de exercícios, também as nossas várias faculdades precisam se adestrar e harmonizar-se. LA 06/009
Em nosso trabalho entre os homens ganhamos dinheiro e experiência — o primeiro levamos na carteira, a segunda, na alma. LA 06/009
A intransigência no interagir conduz à solidão, aos escuros da alma. LA 06/009
A nossa mente vive estabelecendo fronteiras, e toca-nos viver entre elas! LA 06/009
O que é que nós ganhamos querendo ser um melhor que o outro — será que já somos bons? LA 06/009
Falou da equação de Einstein, do Juízo Final, das viagens intergalácticas, dos ETs, do céu e seus opostos, dos poderes paranormais, do mundo digital, do analógico, do virtual, das últimas de Gates, do Bing que vai competir com o Google, da Feira de Hannover, das máquinas movidas a pensamento, da bomba de urânio, de fósforo... e na hora de sair... não sabe onde pôs a chave do carro... a chave!... a chave... e toca procurar, procurar... enfim: a atendente a acha — estava no banheiro, enfiada no rolo de papel higiênico. LA 06/009
Não sei o que acontece lá na rua, nem logo ali na copa... e com a maior cara de pau, falo de Deus, da eternidade! LA 06/009
Tenho tecido sonhos como o bômbix tece a seda, mas ainda não sei voar. LA 06/009
Somos o próximo de outros próximos que de tão próximos, não nos conhecemos. LA 06/009
A gravidade diz que tudo deve cair, potanto, não te envergonhes. LA 06/009
A pessoa deve desistir. A pessoa não deve desistir. A pessoa deve e não deve desistir. LA 06/009
Se não sabe o que fazer, apenas viva, já é um bom negócio. LA 06/009
Paciência é bom. Mesmo excessiva, há quem adore. LA 06/009
A minha pátria é onde eu pago os meus impostos. Jamais negaria o meu País nem meu Estado nem a Terra da Jabuticaba. LA 06/009
Paz é aquilo que quando falta é só dobrar o pão, ampliar o circo e ela já volta a dominar. LA 06/009
Se nossa vida, nega, é uma comédia, demos nós dois graças a Deus, já que podia ser uma tragédia. LA 06/009
O riso é o desabafo, ou, se quiserem: vingança dos que ainda têm lábios. LA 06/009
Nossa vida pode ser o que deixamos fazer dela ou o que fazemos dela. LA 06/009
Nossos delírios, nossas doidices são jóias da realidade. LA 06/009
Os caminhos dos outros não nos podem levar a não ser a esses tais — que já não estão lá. LA 06/009
Em geral falam de fracasso com uma terna complacência — como fossem se justificar. LA 06/009
Quando o caso é nos encararmos lá no fundo de nós — não sabemos quem vamos ver. LA 06/009
A semente é a vida com sentido programado. O homem é consciência que tem mãos para se reprogramar e construir destinos. LA 06/009
Do homem vai saindo tudo o que ele precisa conhecer e saber recriar. LA 06/009
Nosso caráter é o que vai sendo moldado sobre a nossa conduta. LA 06/009
Não se envergonhe do passado, todos nós já fomos tolos mais que um dia e para alguns seremos sempre ridículos. LA 06/009
Não filosofes muito sobre o amor — se ele não fosse cego não poderia nos amar. LA 06/009
Jamais subestime o outro — ele tem qualidades que nos deixam até sem graça. LA 06/009
Não queira tirar as coisas em pratos limpos — tais pratos sempre se quebram. LA 06/009
Nossas opiniões são pregos enferrujados — mais entortam que entram. LA 06/009
Discutir não leva a nada, até porque, se levasse, nos cobraria o frete. LA 06/009
Com o ignorante sempre aprendo que é bom estudar bastante. Já o sábio me ensina que os estudos não bastam. LA 06/009
Agradeça pelo bem, esqueça o mal e busque ir além dos dois. LA 06/009
A unidade de toda a diversidade só pode ser Deus. LA 06/009
Inventamos (sem ganhar nada com isso) que o amigo certo é o das horas incertas. LA 06/009
Subir na vida é bom, contanto que se tenha uma rede bem firme lá embaixo. LA 06/009
Um morto é um sorriso eterno. LA 06/009
Morrer é a coisa mais sem graça. LA 06/009
O alimento da alma é a verdade e a justiça, mas magras, quase sem gordura. LA 06/009
Termos sido traídos nos há de doer muito — mas só até aprendermos a nos amar. LA 06/009
O acaso, minha nega, às vezes é o que há de melhor. LA 06/009
Falam tanto em sabedoria como se fosse coisa que se compre na esquina. LA 06/009
Caso um asno falasse, talvez a gente descobrisse que ninguém é assim tão especial. LA 06/009
Se é amor, não troque — os céus não brindam sempre. LA 06/009
Pensar, sonhar, voar... Voar é muito bom, o único problema é o chão. LA 06/009
Se for tentado, dê graças a Deus, muita gente nunca teve essa honra. LA 06/009
Não se preocupe com o futuro, cuide bem do presente, aquele jamais se atrasa. LA 06/009
Perder-se é encontrar-se em outro caminho. LA 06/009
Existir é uma delícia, além de muito divertido. LA 06/009
Cada um com seu passo em seu compasso no seu espaço. LA 06/009
Mandar alguém não mentir nunca, é mais uma maneira de chamar-se de verdadeiro. LA 06/009
Cada fruto é uma flor que precisou cair. LA 06/009
Dizer as coisas, ou redizê-las, aí é que entra a arte. LA 06/009
O sol sempre veio, não veio? Tudo está em boas mãos. LA 06/009
O amor e o universo geram a poesia do movimento. LA 06/009
Se o amor tivesse idade não vivia nascendo. LA 06/009
O mais belo no amor é nem precisar saber o que ele é. LA 06/009
Esse viver vidrado é um jeito de amar. LA 06/009
Não tema, o amor é um tema sem tema. LA 06/009
No amor sentir é saber, saber é sonhar. LA 06/009
O amor não se define, se sabe. LA 06/009
O amor é como a água — se infiltra e flui a conduzir. LA 06/009
O amor é arte que dispensa o artista. LA 06/009
O amor é esse olhar que só se vê no outro. LA 06/009
Mesmo no desamor há amor — amor contrariado. LA 06/009
O amor transforma as pessoas, fá-las criar em si mesmas outras gamas de ser: energias fluindo pelas fibrilas dos sonhos florescendo sinapses neuropsicoespirituais. LA 06/009
As loucuras do amor são as mais belas razões de amar. LA 06/009
O amor quando você o explica é porque não é mais. LA 06/009
O amor é a mais bela ilusão de ter e o mais alto sentimento de ser. LA 06/009
O amor é o demiurgo que faz do tempo espaço e faz do espaço tempo. LA 06/009
Se não dá pra fazer da vida uma bela limonada — então não corte o limão. LA 06/009
O amor não dorme de botinas, senão machuca os pés da amada. LA 06/009
O beijo é o começo de uma conversa. LA 06/009
O bom... Quem é bom? LA 06/009
Sim, quem está indo para Ítaca não deve ter pressa de chegar — deve aprender-se. LA 06/009
Acumular dinheiro é querer substituir o outro lado das coisas. LA 06/009
O que está além da nossa mão, está além da nossa mão — não deve se tornar angústia. LA 06/009
Estudar, pesquisar, conhecer. Nosso saber sempre um barquinho num oceano de mistério. LA 06/009
O destino não se espera — conquista-se. LA 06/009
Com o dom da fala o homem se fez incomensurável — com a palavra fez a maior arma de guerra. LA 06/009
Sempre que o egoísmo nos fermenta é porque estamos mortos de amores por nós mesmos. LA 06/009
Dentro das nossas irrealidades a esperança é o que há de mais real. LA 06/009
Se você é livre, nem se preocupa em saber disso. Se não o é, só vai falar de liberdade. LA 06/009
A gente é livre quando pensa que é. LA 06/009
Viver pode ser tão simples que dá dó de quem complica. LA 06/009
Pra aliviar uma dor profunda só fingindo que não é nada. LA 06/009
Dor de corno dói até arranjar chifre maior. LA 06/009
Mulher minha facilitou — já sabe que nem ligo. LA 06/009
Mulher de amigo meu, só se for a pedido dele. LA 06/009
Rico é que nem pipoca — esquentou, salta fora. LA 06/009
Mulher é um pau com formiga — coitado de quem carrega. LA 06/009
Comadre viúva e sanfona a gente canta e toca. LA 06/009
Bem melhor não saber do que saber e doer. LA 06/009
A mulherada chora de xiranha sempre cheia. LA 06/009
Meu compadre me visita quando viajo e deixo a Dita. LA 06/009
Tem hora que é bem difícil — você tem pões em suas mões ou tem mãos mas não tem pães. LA 06/009
A comadre: Saudade do meu Tibúrcio! Faz hoje um mês. Deitou cheiroso, deu uma bem devagar, devagar e amoroso, virou pro canto contente mas se esqueceu de acordar. LA 06/009
Rosinha é tão fraquinhazinha, que a gente até tem medo de a esfarinhar num abraço. LA 06/009
Já a mãe é bem sarada — se dá uma chave na gente, ave! — ninguém abre. LA 06/009
Te mandei uma rosa sem espinho pra você ver, minha nega, que eu quero paz. LA 06/009
Cansei da vida safada, quero mais é voltar pra casa e ser um corno bem manso. LA 06/009
A gente é feliz, compadre, quando imagina que é. LA 06/009
A vida é que nem um vinho — vai ficando mais gostoso lá no finzinho da garrafa. LA 06/009
Verdade é como mentira — ninguém sabe o que é. LA 06/009
Mulher boa é sempre a nossa, que sabe trocar com a gente desde chifres até conselhos. LA 06/009
Agradeço sempre aos céus por ter emprego, endereço e uma xiranha à minha espera. LA 06/009
Ser feliz é uma questão de boa imaginação. LA 06/009
Laurinha tinha um rosto calmo, um sorriso tão de bem com a vida, que aparentava sempre ter acabado de fazer safadeza. LA 06/009
Minha comadre, a Deolinda, enviuvou faz um ano, mas tenho dito a ela (com todo o meu respeito) que entendo o claro-escuro que fica nos sentimentos... que entendo as manhas do luto e da bandeira a meio pau — até porque sou cabo do exército e corneteiro-mor. Luto é coisa melindrosa, recobre todo o sentimento — tem que ir tirando aos poucos e ir muito devagar... até que a assombração do finado vá se tornando rarefeita como nuvem de inverno... e tudo volte às claras e ao cara a cara. LA 06/009
Cornelinho sempre diz que mulher é feito mato — dá mesmo não se plantando. LA 06/009
Não fosse o bobo manso, — dizia Tião Jeitoso, adonde, homem, que a gente punha a nossa baita preocupação? LA 06/009
Mulher braba, xiranha ácida, dizia o Chico Padeiro. E olha que o homem distribuiu bengala (era um tipo de pão da época) a sua vida inteira pra toda esta bela e mansa cidade, — e mais fizera se vida houvera. LA 06/009
O homem e a mulher se fizeram tão malandros que hoje não se suportam mais — a não ser nas suas malandragens. LA 06/009
Há os que preferem amar apenas a si mesmos — para não terem rivais. LA 06/009
Fingir e refingir que é realidade a realidade que construímos — não é isso que tem sido nosso fazer? LA 06/009
Quem se despisse de todas as suas tolices ficaria muito sem graça. LA 06/009
Quem conseguisse despojar-se de todas as suas vaidades, por certo se mataria. LA 06/009
Quem só mostra seu lado certo vai ficar muito envergonhado. LA 06/009
Quem com você debocha dos amigos que tem, por certo com os outros debochará de você. LA 06/009
O preguiçoso não cresce como pessoa. LA 06/009
O riso, o humor, a gargalhada são o apanágio do homem normal. A seriedade (gravidade) é doença, enfermidade, cinismo simulado — os indivíduos sérios (graves) são falsos e impostores. LA 06/009
Se não pode entender alguma coisa, tente sentir o mistério de não entendê-la — um brilho, um sabor de sonho, um modo de vivê-la. LA 06/009
Trate o ignorante com inteligência, o maldoso com distância e bondade, o mentiroso como quem respeita a verdade, o desonesto com honestidade, o sábio com paciência — ou será pior que eles, porque você conhece outros caminhos. LA 06/009
Quem não arrisca não tem medo, não tendo medo não precisa de esperança. LA 06/009
O adulador também é mestre em caluniar. LA 06/009
Quem conhece os próprios erros já pode errar sem culpa. LA 06/009
Quem quiser se livrar de alguma coisa deve conhecer bem essa coisa. LA 06/009
Se você não souber fazer silêncio, não poderá ouvir o seu íntimo. LA 06/009
Para se ir longe é preciso conhecer o perto. LA 06/009
Quem procura um amigo sem defeito certamente nunca parou para ver-se. LA 06/009
O melhor pensar é o que caminha com a obra — muito pensamento provoca um vento estéril, vento que enche os olhos de areia. LA 06/009
Saber viver com pouco é inteligência e disciplina. LA 06/009
Quem espera a derrota é só esperar mais um pouco que ela vem. LA 06/009
A paixão é um estado de queimor, é uma inspiração — brota de dentro e não de fora. LA 06/009
Minha força, minha alegria e meu melhor amigo sempre foram meu coração. LA 06/009
Jesus Cristo é o meu Senhor, meu amigo, meu salvador. LA 06/009
Que valeria o teu martelo se os pregos não fossem bons? LA 06/009
Razão é bom, mas é só uma ferramenta. Se você a deixa dominar seus sentimentos, desejos, paixões e intuições — então essa fulana está escravizando você, que devia ser o dono de sua casa. LA 06/009
Somos uma universidade — as nossas faculdades formarão uma equipe hamônica fazendo da diversidade uma unidade. LA 06/009
Os homens e as mulheres sempre se pegaram. Agora mais que nunca. Fiquemos bem de lado aparando os bocados ressentidos do amor que nos dão por vingança ao outro e — portanto — com muita gentileza e ternura. LA 06/009
Alguém se chamar a si mesmo de iluminado provoca um mal-estar, como alguém se chamar de gênio provoca risos. Entre o Ocidente e o Oriente há muitas gamas e trejeitos no funcionar da mente. LA 06/009
A gente até entende: os que semeiam espinhos têm as botinas de sola grossa. LA 06/009
Saber o que se quer e caminhar para o alvo com um sentimento de que já deu certo — esse segredo (sem segredo) tem dado certo para muitos. LA 06/009
Conhecimento é aquilo que quanto mais você tem mais vê que falta. LA 06/009
Todo o tempo do mundo é dado aos que o semeiam em terras do fazer e do criar, mas nenhum tempo têm os que não fazem nem criam. LA 06/009
Quanto mais eu me dedico mais os santos me ajudam. LA 06/009
À nossa volta ou a relva verdeja ou morre. LA 06/009
Viramos nuvens para os que, não nos entendendo, procuram nos banir. Mal sabem que de lá descemos água e verde, muito verde exuberante. LA 06/009
Tire as máscaras dos homens e já não saberão quem são. LA 06/009
O homem? Tire-lhe o lado nobre, seu lado altruísta, sua vontade de ser bom, seu sonho de transcender-se — e só encontraremos um bicho entre bichos. LA 06/009
Tudo o que Sua mão tocou sarou, ressuscitou, fez-se harmonia e vida. Tudo o que Sua palavra tocou se iluminou, virou perdão, fez-se caminho e vida — fez-se a verdade que redime. E assim foi ontem, é hoje e será amanhã. LA 06/009
Quem deseja chegar ao simples tem que passar pelo diverso — conhecer o multiverso para encontrar o uno, o simples — o que traz tudo: uno e verso. LA 06/009
Quando teu olho for simples todo o teu corpo será luz. Por aí é que se pode entender quando, em arte, alguém consegue atingir a simplicidade. LA 06/009
Mudarmos por fora e por dentro — nos transformarmos do nascimento até a morte é, não apenas destino, como uma espécie de misericórdia da vida. LA 06/009
Mudança é movimento interior, movimento exterior é espaço, espaço e intensidade da mudança. LA 06/009
A arte é a vida transformada em mensagens. LA 06/009
Tecnologia, natureza e humanidade — um trinômio à procura de unidade. LA 06/009
O chamado poder é decidir sobre outros. Quando vemos um homem decidindo ele deixa desnudo o seu caráter — e em geral o que claramente se vê é muita doença. Muitos dos poderosos deviam se inscrever em futuras internações de futuros hospitais. LA 06/009
Morre-se muito bem de doenças e dos remédios que as curam. LA 06/009
Ser feliz, além de decisão mental, é uma predisposição para a felicidade. LA 06/009
O que é velhice para a juventude, para a velhice é mocidade. Estar lá ou aqui faz toda a diferença. LA 06/009
Opiniões são como safras de jabuticaba, que têm o preço combinado e por isso a gente deixa as frutas cair. Aí o problema é limpar o chão. Mas isto é fácil. LA 06/009
Em inúmeras pessoas falar compensa pensar. LA 06/009
Saber demais determinada coisa é entendê-la pouco. LA 06/009
Se estou num vale profundo, disponho do meu pensar. LA 06/009
Tanto mais um homem aprende, tanto mais terá de desaprender para poder reaprender. LA 06/009
Quando todos os dias ficam iguais, é bom dar uma parada, repousar, pensar com simpatia em nós mesmos, praticar aquele robby que nos mostra o outro lado das coisas, ver aqueles programas nossos afins: os que geram sinergia de transcendência — mostram o sonho-mais da vida. Cuidar do sono e do descanso, alimentar-se com prudência e só falar (assim mesmo rapidinho) com aqueles com quem possa haver uma troca compatível de alegria, uma troca: para os vampiros não esteja. Ler textos de qualidade, trabalhar bastante, dormir bastante, fazer gostosas caminhadas, e o mais... o mais é pô-lo em Boas Mãos, aquelas que sustentam o cosmos. E não demora vem a cura — os dias voltam a ser ricamente diferentes uns dos outros. LA 06/009
Até hoje não sei se pensar nela é melhor que estar com ela, ou se nada disso é que é o melhor. LA 06/009
Quando penso ter acertado aí me mostram que errei, quendo penso que errei aí me dão meio certo. LA 06/009
Só sei que agradar aos outros é um luxo dos mais caros. Mas não nego: tudo isso é muito mais que divertido. LA 06/009
Vivendo, até a morte a gente aprende. Já viver não se aprende — nem numa vida nem em mil. LA 06/009
Não queira ser sábio nem ignorante — esses dois são muito chatos. LA 06/009
Ninguém lhe tire a alegria de viver — esse alguém não valeria nem a mais mínima tristeza. LA 06/009
Aquilo que se tem é bem melhor que os régios sonhos do que não se tem. LA 06/009
De todos os deuses o Dinheiro faz balançar todo o Olimpo e o mundo de vassalos. LA 06/009
Veja uma floresta: verde, exuberante verde. Raríssimas árvores secas se tornam quase invisíveis dentro de tanto verde. Pensemos que a saúde, a felicidade, a riqueza também devem ser assim — normais e naturais. LA 06/009
Mau ambiente, maus pais podem nos ensinar a não fazer o que eles fizeram e a fazer o que não fizeram. LA 06/009
Para fazer precisamos fazer com todo o nosso corpo e alma. Agindo assim aprendemos a ter. Os deuses só nos ajudam a rir. LA 06/009
Nosso amor é do nosso tamanho. Nós podemos o que pode nossa capacidade de amar. LA 06/009
A necessidade e a ambição mantêm assiduamente a luta diária — tudo bem temperado de libido. LA 06/009
Quero estar bem ordenado em alma-coração, organizado em meu ser, de bem com Deus, comigo, o próximo e a vida a partir de hoje e até que a morte venha. LA 06/009
O sucesso é contingente, o valor é ontológico. LA 06/009
Há bichos perigosíssimos. Você sabe de um exemplo? Eu também sei. LA 06/009
O dia em que se empregar para a saúde, educação e bem-estar social o que se emprega e gasta com a guerra — a humanidade não só será bem mais feliz como terá subido inúmeros degraus lá dentro de si mesma. LA 06/009
Deixemos brilhar a luz que somos, sabendo que a vida é nosso único bem — um bem indestrutível e eterno que iremos essencializando em nós pelos tempos dos tempos. LA 06/009
Muita luz atrapalha, muito escuro confunde. Deus demais nos faz mal, de menos nos faz perder. Temos de nos recriar com o pouco que nos deram para termos o que fazer. Sim, o que temos de fazer é de nós para conosco: de um para todos, de todos para um. LA 06/009
A vitória é um peso com que muitos não podem — fica-lhes insuportável ver que era tão pouco aquilo por que deram a vida. LA 06/009
Ser superficial é o menor dos males, aliás, em termos pessoais, é quase sempre um bem. LA 06/009
Que pena! Não há satisfação oral completa. As coisas bem que podiam ser bem mais simples. A natureza é antes de tudo astuta. LA 06/009
Eu nunca me liguei a ela senão ela se tornaria a mulher da minha vida — e acabaria aquela graça, a graça de ser-não-ser. LA 06/009
Por que chorar, minha amiga, se chorar só te impede um outro amor bem mais depressa do que não chorando? LA 06/009
Ter que rir pra não chorar transforma as coisas — as coisas que não sorriem mas gostam de risadas, principalmente as dadas depois que a graça acabou. LA 06/009
Pegue o pincel da mente e pinte telas bonitas — de cores favoráveis, vibrações positivas. Pinte bondade, paz em festões de alegria — um viver abençoado de crescimento e luz por fora e dentro de você. LA 06/009
A Caminho
Natural surjam mudanças na vida que planejamos — reorganizações durante todo o percurso. Esse estar a caminho desdobra-se em paisagens (interiores e externas) com seu tanto de névoas a depender da luz que no-las vá descrevendo. Estamos sempre a caminho — nossos diários de bordo, guias de navegação, aparelhagens interiores, rotas, arquivos... são reestudados e os vemos sempre insuficientes — sim, há que refazê-los e aproveitar-lhes apenas a sombra de suas asas — são arquivos de vida tatuados na pele de experiências já enrugadas de tempo. E o tempo não permite o piloto automático — o que nos impulsiona são as quedas e os levantares. A cada fase do caminho vamos nos alijando do casulo de velhos sonhos que se vão ressonhando (renascidos de si mesmos) para se adaptarem a outras gamas de ser, a novas realidades. Das angústias e das penas transformadas em vôos vamos fazendo a travessia deste lado para o outro de nós. De tudo terá restado a graça de ter vivido entre os nossos acertos e nossos assíduos enganos — pais do nosso aprendizado passado pelo filtro do que teremos sido e criado, sim: o que teremos feito, sempre em busca de um sentido, um sentido maior — o sonho-mais da vida. Para os que buscaram sem medo, haverão de poder contar com amigos fiéis (e essa é a força desses tais), aqueles três companheiros — a fé, o amor e a esperança. LA 06/009
Perdoe, sim, seus inimigos, mas passe longe deles por muitas ruas. LA 06/009
Para o ser humano mudar é preciso, primeiro, querer mudar, depois, empreender o paciente processo da mudança desejada. LA 06/009
Se você recolhe quem já o defraudou, vai ter o mesmíssimo problema outra vez. LA 06/009
Quem se gaba de não ter vícios, já está nos mostrando o maior deles — gabar-se de não tê-los. LA 06/009
Os elogios nos desarmam, pouco a pouco nos desarmam, aí o astuto — gentilmente — nos sangra. LA 06/09
Há os que adoram viver no escuro, e odeiam ouvir falar da luz. LA 06/009
Poder não é dominação, mas quanto o nosso amor pode fazer. LA 06/009
Quem tem coragem para enganar alguém o tempo todo, certamente perdeu-se em seu viver. LA 06/009
Muitos trocaram o conhece-te a ti mesmo por conhecer a vida dos outros bem mais do que a si mesmos. LA 06/009
Fazer o que o outro fez para vingar-se dele é fazer o que sempre gostaríamos de ter feito. LA 06/009
Se cometer velhos erros já é bom, imagine o que não será cometer os bem novos — aqueles que podemos escolher. LA 06/009
À noite ponho a peconha e vou comer açaí entre as palmas de minha nega. LA 6/009
Às vezes me dá vontade de saborear pitangas nos lábios da minha nega. LA 06/009
Um dia ela me disse adeus, pegou a mala e se foi. Não demorou nada, voltou. Pedi-lhe que me arrumasse a cama, que eu estava com vontade de não dormir. LA 06/009
Por vezes a realidade fica tão macia, tão doce- maleável, que a enrolo numa colher e dou para a minha amiga comer — ela se regala de virar os olhos para dentro de si mesma. LA 06/009
Por vezes esqueço o que fiz e minha nega também — então fazemos tudo de novo. LA 06/009
Vou tirando de mim bem lá dentro coisas que nem sabia estavam lá... e até me assusto quando as vejo cheias de orvalho e de espanto, abrindo os olhos ao mundo pela primeira vez. LA 06/009
Já não me lembro em que lugar eu li que as palavras sabem coisas antigas — e é só ter jeito de coçar-lhes a barriga que vão caindo de seus bolsos sons de todas as cores em histórias que os tempos já sabiam mas mesmo assim riem muito de ouvi-las recontadas de um outro jeito — quanto mais recontadas mais belas porque num outro corpo e alma. LA 06/009
Não raramente mudamos o tom, a plateia percebe e ri... Não percebem que é apenas um modo de a gente descansar. LA 06/009
Nada de estado civil, só um estado de espírito — se temos um amor, bem poucas coisas nos faltam. LA 06/009
Quando Cupido dança em nós, a festa só acaba se a gente para de lembrar. LA 06/009
Vale a pena não ter amor. Sim, não ter amor de mentirinha vale a pena não tê-lo, se já se tem um grande amor. LA 06/009
Tive muita inveja do caramujo — conseguiu esporrar farto esfregando-se no muro. LA 06/009
Picasso desfigurava a natureza para dizer que estava certa, isto é, que o homem é que a estupra. LA 06/009
Viver? Nada mal, contanto que se viva do avesso. LA 06/009
Elas por elas? Não. Elas para os homens e os homens para elas. LA 06/009
Bom é quando o tempo passa e a gente se vê com o mesmo amor. LA 06/009
Bom é quando nos beijamos naquela hora, tempo e lugar — e só usamos o hoje para estarmos lá. LA 06/009
O ontem leva-se para o hoje, o hoje para o futuro, o futuro para o hoje e o hoje para o ontem — na verdade há um só tempo que a gente vai deslocando para ter a sensação do tempo em movimento. LA 06/009
Gostaria de descobrir sem procurar, tropeçar na coisa e tê-la já nas mãos, sem nenhuma força ou heroísmo. Dizem que coisa fácil não tem graça, mas, para mim, tem, sim, senhor! — aí eu fazia chiquê (pra não dizer cu doce) e as deixava correr atrás de mim. Não é disso que a gente gosta? LA 06/009
Namorei Dorothy trinta e nove dias, meu Rolex, algumas ações e os últimos mil dólares. Olhei pra ela e disse: My money is over. Ela sorriu amável, beijou-me tragicamente linda, beijou-me um beijo eterno. Pediu-me que continuasse deitado enquanto ia buscar uns pistaches pra gente saborear com Champanhe. Claro que ao me levantar ela já não estava. Já embarcado liguei para a minha mãe: Velha, tô voando pros teus braços! Respondeu: Só com o ex-dinheiro da passagem, não é mesmo? Devolvi: Com o ex-dinheiro da passagem e o sorriso da aeromoça. LA 06/009
Não poucas vezes sento-me à beira das águas e fico a ouvir o que dizem às pedras. Longas palavras sem corpos falando coisas almas a deslizar entre a neblina que veste as pedras de fantasmas, fantasmas que percutem seu corpo claro e macio: música de marulhos e gorgolejos na rabeca das pedras e da areia a frigir... Sons de mil e mil tons que vão lavando meus pensamentos, meus sentimentos e minhas sensações que falam uma língua visual e permitem ver-ouvir o Espírito de Deus andando sobre as águas tal como era no princípio e agora e sempre — nas águas que marulham dentro de nós e nos ligam a todas as criaturas. LA 06/009
Disse a minha Rosa que as águas falam coisas que conversam com os nossos poros, ela me respondeu que sim e tanto que até se despetala de ouvir seu marulhar. A água nos repõe o que o cansaço nos tira. LA 06/009
A guerra é uma maneira de o homem fazer o que quer e gosta de fazer: roubar, oprimir, matar o outro. A ideia de pecado, antes de ser ética, é essencialmente política. LA 06/009
Os macacos são nossos primos e não nossos irmãos — os macacos nunca foram tão maus assim. LA 06/009
Os evolucionistas são engraçados — sempre cheios de macaquices e coloridas mutações. Já os criacionistas são hilários — pregados em suas semprices, adoram queimar acrobatas de ideias em evoluções. Ambos vão ter de se engolir pelos tempos dos tempos. Améns. LA 06/009
O homem? Um trípede vaginícola implume. LA 06/009
Celibato é coisa boa — come-se o que é dos outros e nem precisa lavar o prato. LA 06/009
Brasileira do Leblon, numa entrevista (e já idosa), uma das amigas do pintor — deixa escapar que Picasso, além de magnífico pincel, também fazia jus ao nome. LA 06/009
Quando menino, invejava o urubu em sua prancha de vento vagabundeando no azul. E perguntei: Mãe, não tem jeito de eu ser um urubu? Ouvi: Ficou leso, diabo? Não vê que é um bicho fedorento, comedor de carniça e tido como agourento? Insisti: A senhora acha que ele sabe o que come e o que a gente pensa dele? Repasse: Claro que não, pentelho, claro que não, senão seria gente e não esse padre antigo: vestido de preto e no meio de seus podres. Devolvo: Mas olha, mãe, olha a pose dele — parece o super-homem com sua capa azulzinha olhando vitorioso lá de cima pra ver se está tudo em paz aqui no chão... Não acha bonito, mãe, não acha bonito?!... Torpedo: Acho bosta nenhuma, moleque! Vai buscar mais água, vai vai vai... ainda falta esse pedaço de calçada. LA 06/009
Muitas vezes jogamos fora o que a vida nos dera de melhor. E isso é tão antigo e atual na humanidade que repeti-lo soa sempre novo e faz doer na gente. LA 06/009
Sempre existem aqueles tais que trocam um sonho realizado por um punhado de olhares (musicados por saltos fazedores de omeletes) a prometer-lhes celestiais chiliques. LA 06/009
O vizinho de cima aproveitou que o vizinho de baixo era de pedra e namorou a mulher dele durante vinte e oito anos. Quando o homem de pedra adoeceu, ficaram noivos. Quando morreu — casaram. LA 06/009
O dia em que sentirmos na mesma proporção em que pensamos, vamos ter o sentir-pensar ou pensar-sentir — aí quem sabe grande parte da gente possa até ser um pouco mais feliz. LA 06/009
Sempre a caminho, passso a passo chegaremos — não há máquinas que possam nos ajudar, a caminhada é nossa: é interior. Por degraus de nós mesmos subiremos por nós e pela vida até não sabemos quando ou onde, sempre a caminho. Um dia chegaremos àquela Casa em nós onde Deus nos espera com o Filho e o Espírito. Alegres, veremos que nunca estivemos longe Deles, nem jamais Eles deixaram de nos ser em nossa travessia de nós mesmos para igualmente sê-Los — acordados do sonho, renascidos de nós e livres do autoengano. LA 06/009
Oxalá vivamos sem ódio, porém, jamais sem amor. LA 06/009
Quioto. Tema: Aquecimento Global. O tratado foi ignorado por aqueles países a que as propostas de Quioto não eram favoráveis e tais senhores continuam a ser os maiores poluidores. É que a Ciência fala em detrimento dos interesses dessa gente. O homem é um animal ratiopecuniário e para continuar assim põe fogo até na própria casa, no caso, casa da sogra. LA 06/009
Adoro mentir para você nas mínimas, mínimas coisas — é uma maneira de me aliviar daquele charme esnobe e nobre das mentiras que me dizia e não raramente jurava. Sim, eu mentir para você é como pôr debaixo da torneira um utensílio engordurado. LA 06/009
Conhecê-la foi adorável, deixá-la não foi menos que libertador. LA 06/009
Desde moço prefiro os loucos — os lúcidos são muito sem graça. LA 06/009
Estou agora tão confuso e tão lúcido de mim, que estar confuso e lúcido é uma só coisa inútil. A alma tem seus momentos vazios de dor e tempo, mas cheios de sentimentos que doem de um quando sem onde. Uma esperança em se poder viver sem que nos doa a espera, uma fé em se encontrar só o que não se buscou, um amor a nos dizer que há de valer a pena viver. LA 06/009
Bela como um soneto antigo a tarde desce. Lembrar-te é qual perder o amigo que raro nos esquece. LA 06/009
Mais fria que a madrugada é a dor que sinto em meu ser. A alma sonha cansada entre sonhar e esquecer. LA 06/009
Onde está quem me socorre nesta hora tão sozinha? Sinto-me (em alma) de porre de uma saudade que é minha. LA 06/009
Os acentos lisboetas que me possuem nesta hora são meus olhos a ouvir a aurora que é um mugir de róseas tetas. LA 06/009
Ai, que saudade de mim! Ai, que saudade de Deus! Todo começo é um fim reiniciado entre véus. LA 06/009
Verdade a fingir mentira, mentira a fingir verdade — muito mais bela é a mentira que esconde a feia verdade. LA 06/009
Um frio de fim de outono, frio tão branco que engelha. Vem, nega, que estou sem sono pra poder morder-te a orelha. LA 06/009
Não sei nem se vale a pena o que estamos a fazer. Só sei que o fazer engrena sem nem precisar saber. LA 06/009
Bem-te-vi lá longe pia... e o daqui já lhe responde. Quem ia e achou não confia — antes de avaliar, esconde. LA 06/009
Ah! Quem diria que a bunda, coisa que nem mais se cobre, saltasse de coisa imunda pra parte mais bela e nobre? LA 06/009
Inventei tanta coisa, tanta história, talvez para fugir de mim, talvez para mostrar pra mim coisas que já sabia mas não via — coisas que não sabia que sabia. Escrevi tanta coisa, tanto texto, contei-me e recontei-me a vida e o mundo, talvez para ajudar a suportar, talvez pra me impedir de sei lá quê... Sim, escrever foi isto: uma modo de preservar-me. Texto puxando texto — e a gente vai escrevivendo. LA 06/009
O paraíso deve ter bastante gente, sim, muita, muita gente — praquilo não ficar insuportável. LA 06/009
Se você vive um grande amor, tudo quanto fizer vai espelhar esse brilho. LA 06/009
Se espera por tranquilidade para iniciar sua obra, você nunca a fará. LA 06/009
Se começou sua obra tendo certeza de que pode fazê-la, então começou certo. LA 06/009
Aquilo a que aspiramos é bem maior que aquilo que já fizemos. LA 06/009
Para evitar críticas, seja estéril: não faça nunca nada. Pensando bem... não adianta — você será criticado por não fazer. LA 06/009
Você pode ajudar as pessoas quando consegue fazê-las entender o que não conseguem entender de si mesmas. LA 06/009
A maioria dos grandes homens aprendeu filosoficamente aquele rir-pensar nas horas mais difíceis. LA 06/009
As dificuldades recuam ante a paciência e a perseverança. LA 06/009
Se não encontras um caminho, inventa um. LA 06/009
Os demônios do coração travam batalhas que nos angustiam, até que a gente aprenda a desmaterializá-los. LA 06/009
Aquilo de que mais fugimos com certeza está em nós. LA 06/009
O maior perigo é não perceber. LA 06/009
Nossos conhecimentos têm todo o mundo neles. São nossos no sentido de que os adaptamos ao filtro de nossas idiosincrasias, nossos no sentido de os estilizarmos e essencializarmos ao nosso jeito de viver e ser: sim, são como contos recontados. LA 06/009
Nossos méritos e reconhecimentos nos revestem daquela proteção, melhor: abonação social. LA 06/009
Os amigos devem saber se situar. Conhecer-lhes os segredos e intimidades leva, em geral, ao desprezo e ao ódio. LA 06/009
O amor adora minhocas, não só para pescar peixes que há e os que não há, mas ainda porque as tais minhocas quando rompidas ou partidas, se refazem tranquilamente — fato que o impele a ele, o amor,
a ser um otimista.
O amor coleciona nuvens, gosta de andar por elas, mas não vive nas nuvens — vive entranhado nas pessoas. LA 06/009
O amor é cego — para não ver demais. LA 06/009
O amor adora mentir, não porque odeie a verdade, mas porque em suas mentiras todo o mundo acredita. Quando muito raramente diz a verdade todos o olham assim meio de lado. LA 06/009
Amor carrega dólares na cueca (ou na calcinha) para comprar as suas malandragens, dólares que tira diuturnamente do povo, e como ninguém vê não tem problemas com a justiça — ou se alguém viu, foi só um pio de tiziu. LA 06/009
As CPIs são belas comédias que terminam em pizza e dança, dança da pizza. Hoje nas pizzarias o cara pede: Manda uma CPI com calabresa, e que o garçon a traga bailando! LA 06/009
Há aqueles que, mesmo pedindo, ordenam. LA 06/009
Os que morrem de pé podem rachar a cabeça. LA 06/009
Ninguém passa a lua-de-mel num chiqueiro, nem corta cana de terno e gravata. LA 06/009
Toda amizade acaba. Se não acaba, tem algo muito errado. LA 06/009
Duas cabeças não podem voar juntas. Dois corações até que podem. LA 06/009
Duas pessoas dão certo quando não se levam muito a sério. LA 06/009
Amizade boa é a que se vê de lado, jamais de frente. LA 06/009
Se você olha de frente, desmonta, desmorona tudo — a beleza, a verdade, o amor, a amizade... nada fica de pé quando olhado de frente. LA 06/009
Hoje a coisa mudou, embora uns poucos ainda finjam não saber. O mundo todo está assistindo, diuturnamente assistindo ao teatro dos homens — dirigentes e dirigidos estão em tela: seus atos e intenções, suas verdades e mentiras saltam cotidianamente, desnudamente para dentro de nós. A consciência pessoal e coletiva fermenta e se expande tal como ocorre com o que está do lado de fora dela e com todo o universo. Outros tempos. O mundo hoje vê — está assistindo. LA 06/009
A beleza destes tempos é nos mostrar outros tempos — tempos de ver. LA06/009
Ah, que delícia que era, quando a gente ia catar pedrinhas lá no mundo da lua! Íamos sempre pelo perigeu, que era mais perto, lembra, Rosinha? LA 06/009
O lado bom de não haver felicidade — dizia-me Sofósio, é a gente poder inventá-la e ser feliz às escondidas. LA 06/009
O lado bom de não haver amor — dizia-me Marilda, é a gente poder fruí-lo enquanto procura aquele que entre muitos de muitos um dia sonha encontrar. LA 06/009
Não permita que sua vida acabe antes que você morra. LA 06/009
Se Deus lhe deu asas e não sabes voar — peça à vizinha que lhe ensine. LA 06/009
A amor dado não se contam as fungadas. LA 06/009
Antes um copo de vinho entre amigos bêbados que conversas brilhantes maquiando bocas e olhos cínicos. Antes um sonho que é nada que a promessa de tudo boiando no amanhã. Antes o encanto de antes que a saudade de depois. LA 06/009
Se não acredita em príncipe, venha então morar comigo, que de príncipe não tenho nem o cavalo. LA 06/009
O que o coração não vê os amigos mostram no olhar e nos lábios. LA 06/009
Quantas vezes, Rosinha, nos sapecamos! E que delícia foi brincar com fogo! Chamuscadas de leve, outras mais demoradas: línguas de fogo, labaredas, chamas, digitações flambadas — hoje gostosamente saboreadas lá nos cantinhos da memória. LA 06/009
As coisas não acabam, apenas mudam, mas mudam de tal forma, que seu mudar atinge um clímax que faz pensar que elas acabaram. LA 06/009
Se alguém pudesse cair e tropeçar em teu lugar, te cobraria tão caro que tais quedas e tropeços seriam o ouro desprezado do teu adiado aprendizado. LA 06/009
Não se ensina o pai-nosso ao vigário, mas pode se lhe ensinar a ser menos vigarista. LA 06/009
É já chegada a hora em que Deus seja adorado não no monte nem no templo, mas no coração das pessoas como espírito e verdade. Sim, sendo espírito e verdade, assim importa amá-Lo — como espírito e verdade. E não busquemos longe O que está em nós — O que nos é antes ainda que pudéssemos balbuciar-Lhe o nome. Deus é amor e somente pelo amor podemos percebê-Lo em nós (como podemos perceber-nos Nele) e em toda criatura. LA 06/009
Por vezes arriscar o incerto é preferível a ficar com o certo. É sempre ‘você que sabe’ — e arca com o resultado. LA 06/009
Tome cuidado! O covarde sempre quer levá-lo a ousar, a ousar, ousar, ousar... Claro que para ver o resultado — ver se pode empreender a salvo (também ele!) uma pitada do que ele chama de ousadia. LA 06/009
Conhece coisa mais ousada que alguém lhe perguntar qual é a sua religião, ou em quem é que você vai votar? Existe maior desplante?! Não entanto, fazem isso com a maior cara de pau e a pior das intenções. LA 06/009
Pensar todo homem pensa, difícil é pensar o que presta. LA 06/009
Do pensamento só me interessa ver aquilo que ele pariu. Se tem luz, e se essa luz me presta, tento trazer uns de seus raios para dentro do meu ver. LA 06/009
Penso, logo sou alguém numa teia feita de todos os pensamentos. Sim, locomovo-me por ela excretando frágeis trilhas do que ela me ensinou a ingerir — a ingerir e excretar. LA 06/009
Tudo é dúvida, por isso pensamos — sim: pensar é duvidar. LA 06/009
Pelo pensamento escapamos dos outros e, se podemos, de nós. LA 06/009
Pelo pensamento somos o que somos, temos o que temos, vivemos o que vivemos. LA 06/009
Pelo pensamento sabemos o que sentimos, pelo sentimento pensamos o que sabemos. LA 06/009
Pensar-sentir, sentir-pensar são a mesma semente original da árvore da vida. LA 06/009
Pensamento é poesia — todos pensam, todos escrevem: a qualidade é do tamanho de cada um. LA 06/009
Pensar é ser o que se vive. LA 06/009
Pensar leva a um porre sempre a exigir outros porres. LA 06/009
Pensar faz sentir que é preciso pensar, sentir faz pensar que é preciso sentir. LA 06/009
O pensamento é a nave da consciência. LA 06/009
O pensamento é a nossa maior glória — com ele viajamos mais rápido que a luz, fora e dentro de nós. LA 06/009
O pensamento nos ensina, pelo pensar, a irmos nos suplantando por toda a nossa vida. Sim, vamos nos sentindo outros no cotidiano do pensar. Por isso quem pensa espera. sim: pensar e esperar fazem o homem crescer, crescer, sempre crescer — não pode ser pequeno quem inventou a esperança. LA 06/009
A palavra ensinou o pensamento a existir. LA 06/009
Sim, pensar tem seu anjo da guarda — a palavra. LA 06/009
Ou a palavra é o corpo do pensamento? LA 06/009
O pensamento é esperma na palavra. LA 06/009
O leitor é o obstetra entre o pensamento e a palavra. LA 06/009
Pensar é viajar na Palavra — o pensamento expressivo de Deus. LA 06/009
O maior tesouro da humanidade é a palavra escrita. LA 06/009
Pensar é saber que a distância não existe. LA 06/009
Pensar é estar a seu lado, minha Nina, — tanto mais perto de você quanto mais distante esteja. LA 06/009
E é bom sempre lembrar: De pensar morreu um burro. LA 06/009
O que profetizamos não acontece. O que esquecemos de profetizar, isto sim: acontece. LA 06/009
Esperar pelos fins dos tempos deve ser uma delícia — desplanta o cara da realidade, vaporiza suas angústias, como a lhe dizer: Esta vida é uma droga, deixai-a para os tolos!... ......................................................... Fim dos tempos...
O próprio Senhor Jesus ensina de modo claro a não acreditarmos em data alguma da escatológica anunciação. LA 06/009
Tudo o que é bom será bom de vivê-lo e bom de recordá-lo. LA 06/009
O que é belo não morre — é arrebatado pelo tempo. LA 06/009
Imoral é ter deixado o tempo passar e não se ter investido nada em ser feliz. LA 06/009
Velejar há de ser com muito axé — com plenas, bochechudas velas e mulheres, além de belas, peladonas e de boné. LA 06/009
Já para voar preferimos comandantes antigos e aeromoças novas. LA 06/009
O principal sonho de um piloto é ter tantas aterrissagens quantas forem as suas decolagens. LA 06/009
O impossível é para quem já conseguiu alcançar o possível LA 06/009
O que não construímos, nós não temos, o que não entendemos não é nosso. LA 06/009
Jamais deixo manobrarem meu tempo — cuido dele com zelo e certo ritual. LA 06/009
Se você quer sucesso, tem que se determinar a isso — desenhe, pinte o que quer na tela de sua mente e sonhe tudo isso como se já fosse seu — e trabalhe, trabalhe, trabalhe, dedique-se diuturnamente a materializar o que quer, sentindo uma alegria de já estar vivendo a parição do seu sonho. Ah! E sinta que Deus quer, sim, que Deus quer que o seu desejo se realize. LA 06/009
Agrada-te do Senhor e Ele satisfará aos desejos do teu coração. Sabes onde estão estas palavras? Isto não importa — desde que as faças tuas. LA 06/009
Pela realidade nos limitamos, pela imaginação nos libertamos. LA 06/009
As coisas são coisas, os fatos são vida e interação. LA 06/009
Se o homem é o que pensa, o bom pensamento faz o homem. LA 06/009
O pensamento é um modo de o homem transcerder-se: pelo constante refletir. LA 06/009
O passado é experiências, o futuro: esperança de que o hoje o construa com bem mais discernimento. LA 06/009
O otimismo é um tipo de coragem que ofende os fracos e desanimados. LA 06/009
A esperança é uma espécie de cimento, sem ela não se constrói. LA 06/009
Se o que chamamos de rotina sabe a repetição, a tédio, fomos nós que não soubemos torná-la diferente: diferente e agradável. LA 06/009
Qualquer situação pode ser um livro — e isso depende da capacidade do leitor. LA 06/009
Sim, ler sempre depende de um suporte que o leitor tem ou não tem para intropsiar o que lhe passa aos olhos. LA 06/009
O óbvio nem sempre é visto, porque julgamos vê-lo e conhecê-lo. LA 06/009
Muitos correm atrás dos sonhos e soltam o que têm nas mãos... Quase sempre ficam segurando vento. LA 06/009
Sonhar não é delirar, mas plantar imagens de um desejo lúcido e consciente e com persistência e vontade trabalhar muito para lhe dar corpo de realidade. LA 06/009
Uns vão por outro caminho — o da fé que lhes transporta o desejo (ou sonho) para as mãos de Deuspai, numa confiança serena em que o Demiurgo lhes quer o sonho feito obra — e assim lhes será, porque assim creram. LA 06/009
Uns vão pelo lado mágico do universo — pelo saberem o que querem e desejá-lo levissimamente: vibrando o sonho ternamente nas mãos bem quentes do querer — já a vê-lo possível e a transpor seu casulo para o lado de cá de sonhá-lo. LA 06/009
Esse tipo de magia (citado acima) não tem a ver com nenhuma bruxaria nem violação das santas leis, mas tem a ver, isto sim, com um pouco do conhecimento dos mecanismos do fazer-criar. LA 06/009
Enquanto permitirmos a maldade ela estará em vigência. LA 06/009
Honduras, Honduras, Não deixes não, Honduras, que as sombras da caverna te encubram. Tiranias, ditaduras não caibam mais em nosso tempo, Honduras! LA 06/009
Agora que vemos os quintais uns dos outros, sem dúvida essa mútua vigilância há de diminuir violações, massacres, maldades, arbitrariedades... Chegou a hora em que o mundo não pode mais calar. LA 06/009
Hoje as tropas americanas começam a deixar o Iraque dentro do Iraque: vão deixando os grandes centros na esperança de que volte a ordem e o governo torne a se exercer por mãos iraquianas (sic). A História falará dessa guerra, dessa loucura cínica enquanto houver quem pense. Os dias Bush-Blair passaram. Obama veio montado no cavalo do destino — não por acaso o mundo o viu e vê com bons olhos. Tomara que não se engane! LA 30/06/009
Se deixarmos a luz apagar seremos inundados pelas trevas. E isso acontece sempre que esquecemos que somos luz. LA 06/009
Quem precisa de muita teologia em geral perdeu a fé. LA 06/009
Se a fé ilumina, basta a fé para sabermos aonde estamos indo. LA 06/009
A verdade nos entra pelos olhos, posto que é luz, e pelos olhos ilumina nosso caminho. LA 06/009
A alegria é saúde para o corpo e para a alma. LA 06/009
O ócio traz doenças, a atividade oxigena a vida. LA 06/009
Se o mundo é um palco, cadê a plateia? LA 06/009
O mundo cava fossos para abater o homem que sabe para onde vai. LA 06/009
Os loucos abrem o caminho para os sábios e os santos passar. LA 06/009
O modo mais seguro de falhar é não acreditar no que se faz. LA 06/009
Perguntar faz mudar as respostas. LA 06/009
Os livros são o maior bem. Só existe um problema — a gente precisa lê-los. LA 06/009
O melhor dos dias é hoje, se temos consciência dele. LA 06/009
Engana-se os outros até um certo ponto. Engana-se a si mesmo até onde não se sabe. Entre engano e autoengano há só um revezamento. LA 06/009
Se você vende a sua saúde para o comer e beber e outros excessos, meus pêsames! LA 6/009
Dona Alba, nossa vizinha, era craque: tiro e queda para benzer quebrantos. Já nossas dores de dente, de cabeça ou de barriga — benzer, ela benzia: rezava, se deslabiava, mas a dor continuava. A meninada adorava ouvir as suas orações (seus bisbilhos com Deus) e os dois raminhos aspergindo água pelos cabelos, orelhas e pescoço — dava um friozinho tão gostoso! LA 06/009
Se você acredita, pode dar certo. Se não acredita, será um mau negócio. LA 07/009
Sim, acreditar abre possibilidades. LA 07/009
Não, não substituam o homem — pode vir um ladrão bem maior. LA 07/009
Mais um dia se foi. Sobrevivi. LA 07/009
Precauções excessivas, vida amarrada. Muita promessa, seu cumprimento é nada. LA 07/009
Se a imagem distorce é para assinalar (e fazer fixar) o que se tem em mente. LA 07/009
A realidade não serve, preferimo-la transformada por laivos-alma de irrealidade. LA 07/009
Nós humanos acabamos de chegar. Trabalhemos, ousemos com paciência — a gente chega lá, lá onde a alma ganha asas e nos conduz ao sonho que seremos — está guardado em nós nosso destino, sim, trazemos em nós a vida a modelar-se em várias gamas. LA 07/009
Sous le pont Mirabeau coule la Seine Et nos amours. Faut il qu’il m’en souvienne. La joie venait toujours après la peine. Vienne la nuit, sonne l’heure. Les jours s’en vont, je demeure. (Guillaume Apollinaire)
Somente as pedras que têm alma rolam. Às outras só lhes resta aguardarem que o tempo vá lhes construindo uma. Mas as pedras, as pedras não têm pressa — elas sabem não sonhar com nada, ou melhor: sabem não saber. Testemunhas silenciosas num bocejo onde o tempo se albergou. LA 07/009
Se você conseguiu acender algumas velas que estão andando por aí por onde você nem sabe — parabéns! Você não é qualquer um. LA 07/009
Fina no trato e na aparência. Era muito, muito bonita. Fazia o tipo fêmea irresistível, solteiríssima. Tinha um robby-paixão, conhecido e descantado — fazer amor uma só vez com cada homem casado, mas atenção: casado com mulher madame, madame e bonita. E assim viveu e fez — sem um só flagra. Claro que alguns machinhos não resistiam e mostravam (aos amigos boca-de-túmulo) seu selinho com três fios colados: ruivos, ruivos como os de uma espiga. LA 07/009
Cabe a nós sabermos quando o medo será melhor que a coragem. LA 07/009
Coragem e medo, medo e coragem devem ser apenas estratégias. LA 07/009
Quando menino, tinha medo de defunto e de fantasmas. Hoje, reviver os meus medos é divertido, além de ter sabor de infância. LA 07/009
Se uma coisa vale ou não a pena, isso depende de como a sinto, do que a julgo ser. LA 07/009
O homem? Ainda não pode amar ninguém que não seja a si próprio no outro. LA 07/009
Nossos sonhos devem ser trazidos do mental para a terra e aí brotar, enraizar e produzir a sua obra. LA 07/009
O livro da vida está escrito em linguagem ontológica. Só podemos folheá-lo pelo dedo de Deus. LA 07/009
O que não acho bom no meu passado de modo algum eu o faria de novo. Quando erro me arrependo, peço perdão a Deus e ao outro (quando existe um outro e ele me permite abordá-lo) — e sigo em frente deixando a minha culpa (já perdoada) nas mãos de Deuspai: se já sou diferente do que errou, então já não me cabe carregar sentimento de culpa. LA 07/009
Sim, não me vejo outra saída a não ser continuar vivendo de fé em fé, de esperança em esperança, de renascer em renascer — de consciência em consciência. LA 07/009
Quanto mais o homem tem tanto menos ele se tem. LA 07/009
Corremos mais riscos com nós mesmos que com os outros. LA 07/009
O insucesso nos oferece tentarmos outra vez com mais inteligência. LA 07/009
Perdermos a empatia deve ser uma desgraça. LA 07/009
A burrice pode irritar ou pode divertir. LA 07/009
Os livros me encantavam — eu os cheirava e comia, depois os rumina aos amigos — já assimilados e metabolizados. Sim, declamava-os, dizia-os — guardava-os em mim: tornava-os minha carne. LA 07/009
Para o homem ser infeliz ele precisa ser mau, uma vez que mesmo na infelicidade a gente pode ser feliz. LA 07/009
Quem não consegue se expressar é seriamente triste. Quem fez a sua obra é sempre alegre. LA 07/009
Quem espera oportunidades se frustra, quem as cria as tem. Ninguém se iluda — somos os criadores do nosso destino. LA 07/009
Tudo o que você pensou no dia de hoje — exatamente isso é o que você é. LA 07/009
O homem recusa ser o que é, recusa ter o que tem e troca por um punhado de sonhos tudo o que conseguiu com muito suor. LA 07/009
Todo homem tem seu lado de arlequim e esta é sua parte mais humana. LA 07/009
O imortal no homem são os sonhos que ele realiza, já seu lado mortal são os seus medos. LA 07/009
O repouso não existe, a vida é interação dinâmica e autopreservativa. LA 07/009
O homem só aprende por acréscimo ao que já sabe e só muda sem perceber que está mudando. LA 07/009
Quem edificou em si a paz será discretamente alegre e sempre equilibrado por onde quer que ande. LA 07/009
Somos umas gotas de conhecimento e um oceano de mistério. Aí, talvez, o lado suportável da vida. LA 07/009
O conhecimento faz marulhar as nossas águas, oxigena a nossa vida, faz respirar mais forte nosso desejo de ser mais. LA 07/009
Uma pessoa que se ama desperta em si o jardineiro: seu coração, e este lhe planta as flores-alegrias que fazem bem ao corpo e à alma. LA 07/009
Marilda sempre diz que se vier a se casar há de ser com paleontólogo — adora escavações. LA 07/009
Primeira página: O senhor Obama, saindo do G-8, sucumbe aos dotes calipígios de uma passante (por sinal brasileira) — aliás, só deixou escapar que também é chegado. Ante uma bela bunda, não há mortal que pare em cima do pedestal. LA 10/07/009
Os homens são todos iguais — sim, todos prestativos. LA 07/009
Todas as mulheres infelizes são iguais. As felizes são diferentes quanto interessantes — cada qual a seu modo. LA 07/009
Em geral quando justificamos um erro ele fica ainda maior. LA 07/009
Botar tudo em pratos limpos faz os pratos quebrarem. LA 07/009
Sim, há erros que devem ser vistos como erros. LA 07/009
É vital não confundir a tal luz no fim do túnel com uma jamanta na banguela. LA 07/009
Ter asas é bom — se alguém o empurra para dentro de um riso frio de abismo, de abismo sem fim — você voa você voa você voa... LA 07/009
Quando pequenos, querem nos matar no ninho. Já crescidos, se temos asas interiores, querem nos matar voando. LA 07/009
A vida é o que temos, mesmo quando estamos de costas para ela. LA 07/009
A vida? Não sei o que é. Só sei que será sempre vida. LA 07/009
Nossa história são as plumas e penas; nossa imaginação são suas cores e voos. LA 07/009
De uma paixão ninguém sai sem arranhões e cicatrizes, mas a solidão os faz bem mais fundos. LA 07/009
Sim, não viver um sonho é morrê-lo com vontade. LA 07/009
O homem tem dominado a natureza e a seus irmãos. Tem dominado tudo — menos a si mesmo. LA 07/009
Quase tudo você pode deixar para fazer depois — menos viver. LA 07/009
Quando ninguém está olhando, então, sim: nós somos nós. LA 07/009
Uma mudança vai puxando outra, uma palavra outra, um beijo outro, uma mentira outra — tudo outramente outro em outros de outros. LA 07/009
Buscamos os exepcionais para aprender. Os normais para as ululâncias do óbvio. Os loucos para ousar. E a vida é isso, ou seja: nada disso. LA 07/009
Uma paixão forte traz o fogo para queimar as amarras e dar forma aos metais do sonho. LA 07/009
Se você consegue, deverá aos medíocres o que eles não podem. LA 07/009
Os que têm razão, estes já a têm. Agora precisamos dá-la aos que não têm. LA 07/009
A alguém que esteja com muita pressa... poderemos dizer que se considerar as alternativas há de ver que viver não é um mau negócio. LA 07/009
Uma palavra ou expressão bem do povo (que o dicionário chama de chula) é muitas vezes o sal e o tesão do texto. LA 07/009
A palavra é sempre um perigo. Daí os covardes, os cínicos e os sábios preferirem o silêncio. LA 07/009
Há os que não agem por medo de errar e os que erram por excesso de ação. LA 07/009
Quando a gente compreende é por que mudou o ângulo de ver e o ver nos transformou. LA 07/009
Uma piada é sempre coisa séria, tanto que nos velórios elas ajudam a confiar na vida. LA 07/009
Quer olhar para trás, olhe, mas saiba que o caminho é para a frente. LA 07/009
Uma vida é um poema. Deus deu o tema — o mais é com a gente. LA 07/009
Viver-sonhar, sonhar-viver — precisamos de um sentido que seja o rumo de ser. LA 07/009
Saberemos quem somos pelo nosso fazer. LA 07/009
Aqui, um pio, um marulhar. Ali, um chiado, um farfalhar. Além, um canto harmonioso entrecortado de cricris. A alma da mata cicia em cores, cheirando a ervas pingando orvalho. LA 07/009
Talento sem dedicação e muita paciência é nota que já não vale. LA 07/009
Fale o melhor, o resto apenas pense, sorrindo. LA 07/009
Procure viver da melhor maneira — aquela em que se sente feliz e não infelicite a ninguém. LA 07/009
Não mascaremos a tal felicidade, nem a incensemos de filosofias e chiliques etéreos. Tratemos de construir bons, belos momentos, porque os maus e feios não nos faltam. Felicidade é construção — pessoal e coletiva. LA 07/009
Escolhemos vida e morte para podermos viver diferentemente em nós mesmos e chegarmos, talvez, mais rápido à essência de nos sermos. LA 07/009
Hoje é dia do Amigo. Reconheçamos que eles são o melhor dessa vida. E que Deus os abençoe por suportar nossos chiliques. Possamos oferecer a eles e eles a nós uma honesta e depurada amizade. LA 20/07/009
Tive o prazer de conhecer Marilda muito antes de ela não ser virgem. Pródiga em beleza e gentileza, uma amiga paradisíaca. Jamais confundiu amigos com amizade. Uma tragibeleza — mulher 9.9 na escala Freud. Tinha um charme emblemático- -fulminante. Quando contrariada usava a frase: Não se deve confundir a roupa com o que ela cobre. Sim, era tão hormonal que a gente nem atinava se usava roupas ou não. Esquecê-la era difícil para as mulheres e impossível para os homens. Sim, Marilda era Marilda — sempre um estremeção. LA 07/009
Seus olhos e seus pígios e míjios tinham a forma de $ $. Até suas fungadas tilintavam, tiniam feito moedas ou joias nobres.
E só dava para a elite. Pelo menos é o que diziam os velhinhos ricos e peidorreiros que passavam tardes e noites jogando no velho clube de esquina com a praça, falando dos suicídios e das mortes charmosas com que o amor tinha brindado a Terra das Boçorocas. LA 07/009
Não, madame não fode, madame aceita jantar com você. LA 07/009
É sempre assim: quem tem desdenha, quem não tem rasteja por ter. Quem perde pensa em se matar, quem não perde desconhece a delícia de perder. Mas não tentemos entender o que não é para entender. LA 07/009
Quando consigo fazer, vem alguém e me diz que já não é assim. LA 07/009
O saldo das filosofias e outras “ias” é aquele de — após lê-las, relê-las e translê-las — nos ter restado o riso. LA 07/009
Um palavrão, na hora certa, pode não soar bem entre os puros e os cínicos, mas entre as pessoas normais é uma boa catarse. LA 07/009
Os melhores textos de nada servem, se ao menos em pensamento já não os tivermos vivido. LA 07/009
Um médico vê o inverno de uma forma diferente de um comerciante de agasalhos. LA 07/009
Se você pudesse salvar o mundo uma vez, teria de faze-lo a sua vida toda. O mundo adora precipícios. LA 07/009
Sem o amor e o perdão não sairemos daqui. LA 07/009
A cruz cristã é sacrifício (o último) e esperança. O passado redimido no hoje — para sempre. LA 07/009
As ações do passado de alguém que vive hoje são redimidas e apagadas por quem delas se arrependeu e pediu a Deuspai que lhas perdoe em nome do Senhor Jesus. Sim: quem se fez nova criatura já não carrega seus defuntos (aliás, já não lhe são afins) — se assim crê e entende. LA 08/009
Deus abençoe os nossos passos e os nossos descompassos. LA 08/009
O perfeccionismo é um estado escorregadio de desequilíbrio. LA 08/009
Tenhamos sempre o cuidado de entre dois males não escolhermos ambos. LA 08/009
Quando o vento mudar, ajuste as velas e continue assoviando a canção do marujo que fala de amar amar amar e se esconder no mar. LA 08/009
O poeta é aquele indivíduo que tem sonhos de futuro e só evoca o passado para poder remoldá-lo na oficina do presente. Mas o poeta é um mentiroso que só diz a verdade. LA 08/009
Fazer o bem para alguns constrói felicidade para todos. LA 08/009
Subjugar o outro é ser seu escravo depois. LA 08/009
O maior prêmio de uma boa ação é praticá-la. LA 08/009
Temos o dever de desconfiar das nossas ações. LA 08/009
As pessoas erram em classificar os outros porque pensam que eles são a imagem das imagens que aqueles tais lhes passam. LA 08/009
Se você sabe desaprender, então é um bom aprendiz. LA 08/009
Há pessoas que são de palha, outras de madeira de lei — o fogo que têm em si é que dão a qualidade de sua criatividade. LA 08/009
O passado é a base da pessoa, é o que a sustenta como pessoa. Esse passado é ou pode ser refeito no seu agir de cada dia — entre o presente e o futuro: as nossas projeções. Sobre a banqueta do hoje remoldamos o tempo. LA 08/009
Precauções demais são como o medo — amarram. De menos, faz perigar. Tê-las na medida certa — só Deus. Viver é estar com problemas. LA 08/009
Repetir o passado? Será que isso é possível? Não, não vejo ninguém repetindo o passado. Vejo coisas que nascem velhas de si mesmas — sem fôlego de travessia. LA 08/009
O dependente do álcool revela duas pessoas: uma que faz, outra que desfaz — não sei qual delas age pior. LA 08/009
Quem sempre tem um tempinho aprendeu a ser mais que alguém sempre ocupado. LA 08/009
Quando aproveito experiências (minhas ou dos outros) não só queimo etapas como poupo a minha cara. LA 08/009
O progresso é a realização do que era impossível. LA 08/009
A beleza da juventude é sempre aquele palrar num ousado não fazer. LA 08/009
A borboleta é o que restou do apocalipse de uma lagarta. LA 08/009
O que o amor tem de bom é que depois de ter sido ainda é prazer no recordá-lo. LA 08/009
O que fazemos por dinheiro é muito mais do ele faz por nós. LA 08/009
Um sorriso na hora certa mantém em órbita todo o universo. LA 08/009
Se acreditamos no que os outros pensam de nós, nos tornamos pequenos e magoados. LA 08/009
Por fora, muitas luzes, muito luxo. Por dentro, o mesmo estado de porta de caverna. LA 08/009
Vontade e dedicação fazem a diferença. LA 08/009
O amor sabe ir além de toda polaridade. LA 08/009
O coração sabe o caminho, a razão mostra como palmilhá-lo. LA 08/009
Já que a culpa nos será cobrada, tolice é esquentá-la com nosssos sentimentos. Arrepender-se e não tornar ao vômito é o caminho de quem se ama — a si e ao outro. LA 08/009
Há coisas que fiz que jamais voltaria a fazer — tanto as que julgo más como as que tenho por boas. LA 08/009
Aprendi muito mais com os que querem aprender do que com aqueles tais que vivem a ensinar — empapados de ciências, bondades e religião. LA 08/009
Do material para o imponderável só se leva o que se vive. LA 07/009
Precisamos saber o que faremos daquilo que nos fizeram. LA 08/009
De tanto pisar fazemos o trilho. De tanto pensar nos vamos moldando. LA 08/009
Assim como não se vê o ar nem o peixe vê a água — não vemos nossos defeitos. LA 08/009
O que somos é dom da vida, o que seremos é construção toda nossa. LA 08/009
Sempre haverá alguém doido pra descer o martelo no que você constrói. Apenas não deixe de construir. LA 08/009
Fuja do cínico. Você o conhece fácil: não sabe distinguir o bem do mal, o justo do injusto... sempre acima dos opostos... LA 08/009
O saber vem dos mestres. A sabedoria, dos simples. A tolice, de todos. LA 08/009
Caminhar sobre as ondas é fácil, veja os surfistas... O difícil é caminhar sob elas. LA 08/009
O segredo da felicidade é ser feliz. LA 08/009
O segredo do amor é amar sem pensar em segredos. LA 08/009
A conquista é uma rara delícia. O problema é o dia seguinte — o que fazer com ela? LA 08/009
Para magoar, diga tudo. Para continuar amigo, diga um pouco e pense o resto. LA 08/009
Infeliz é o que rasteja pela felicidade. LA 08/009
Viver já traz em si um grande sentido, aliás, o maior deles — basta pensar na morte. LA 08/009
Somos o que fazemos. LA 08/009
As coisas só têm sentido quando buscamos um sentido nelas. LA 08/009
O significado das coisas será o resultado de nossas buscas. LA 08/009
O segredo da criatividade é sabermos somar nosso suor a todos os suores já evaporados. LA 08/009
O silêncio nos atraiçoa sempre que pensamos que a palavra não vai resolver. LA 07/009
O silêncio tem sido o argumento dos covardes. LA 07/009
Sempre que aprendemos alguma coisa perdemos outra — o aprendizado nos recicla: muda-nos de dentro para fora. LA 08/009
Acalentamos a grande aspiração de ver o mundo mudado, e em geral nos esquecemos de cultivar essa mesma aspiração também em relação a nós. LA 08/009
Por vezes é bem difícil aceitar isto: Vivemos o que escolhemos viver. LA 08/009
Somos o que sabemos ser. LA 08/009
Quem não faz não existe. LA 08/009
Só aprendemos quando sabemos ensinar. LA 08/009
Vivemos para conquistar o que o dinheiro não compra. LA 07/009
Você não sabe, mas é dono de todas as estrelas. Claro que, como eu, você não sabe o que fazer com isso. LA 08/009
Sombra e luz: sombraluz, esse duplo oposto faz a realidade macia. LA 08/009
O agora é seu, o daqui-a-pouco não pertence a ninguém. LA 08/009
Se você está na roda, ora está em cima, ora embaixo. É preciso sair da roda. LA 08/009
Terno e gravata já não conferem poder. O velho Sapiens vai precisar arrumar uma outra fantasia. LA 08/009
A vida é vento, mas um vento que move os nossos moinhos. A vida gera luz. E a luz é o caminho de Casa. LA 08/009
Quem está nas alturas está à beira de precipícios. LA 08/009
Contra o desmando e a força só mesmo a astúcia. LA 08/009
Se a dificuldade é muita, também muita deve ser a força de vontade. LA 08/009
Com o fim do mundo nem ligo, o duro é o fim do mês. LA 08/009
Edir-te-ia Mais Cedo que imaginas: Prova, irmão, a prodigalidade de Deus — dá-nos teu carro e apartamento, teu sítio e os dois motéis da serra — e terás uma jamanta e um prédio, um pedação da Floresta e os dízimos e doações (em futuro bem próximo) das igrejas que vais construir... Tudo isso pela fé de abrires mão dessas tolices materiais!... ............................................................ E nosso André, pobre trípede implume, estaria depenado, depenado do pescoço ao rabo, não fosse a sua diligente sogra tê-lo arrancado de lá pelas orelhas e aos berros: “Vamos pra casa, homem, senão o pastor o depena que nem um frango-d’água!” Benditos berros! Bendita sogra! 19/08/009
Há os que negociam com Deus, mas Deus nem sabe disso. LA 08/009
O religioso é o lobo do que crê sem discernimento. LA 08/009
Religião, Estado e Ética devem ser livres uns dos outros. LA 08/009
O homem que segue homens acaba por se quebrar. LA 08/009
Esse lixão de idéias que somos tem que aprender a reciclar-se — pensar, não ser pensado; sonhar, não ser sonhado. Deixar o caminho das cabras pelo do caminhar-se por si mesmo. LA 08/009
As tempestades fazem os bons navegadores. LA 08/009
Todos os grandes sonhos são traspassados de inveja e obstáculos. LA 08/009
Perdoar um inimigo é arrancá-lo com raiz e tudo da nossa vida. LA 08/009
Para seguirmos livres temos que nos blindar com as doçuras do amor. LA 08/009
Os machinhos que não se vigiam são miseravelmente competidores. LA 08/009
O relacionamento será sempre aquele lidarmos com cristais e porcelanas. LA 08/009
Os pequenos são grandemente orgulhosos. LA 08/009
Não sei qual a diferença entre os homens e as crianças. LA 08/009
Conheci muitos espiritualistas que não tinham nem espírito de humor. LA 08/009
As profecias mais incompreensíveis são as mais citadas e amadas. LA 08/009
As pessoas adoram tudo aquilo que não entendem. LA 08/009
Mexer com o que não se entende confere status de gênio. LA 08/009
Gostamos de prometer e ouvir promessas. LA 08/009
A uns o envelhecer azeda, a outros adoça. LA 08/009
Os que se vendem por sábios são muito chatos. Aprendo mais com os que não se levam muito a sério. LA 08/009
Prudência é como palavra de mãe — se não ajuda, também não prejudica. LA 08/009
Os homens oram para Deus fazer o que eles já deviam ter feito. LA 08/009
Os homens seriam melhores se as mulheres também o fossem. LA 08/009
Os homens seriam mais felizes se as mulheres também o fossem. LA 08/009
Os homens sonham mil e mil sonhos, mas quando desabrocham veem que já não é isso o que desejam. LA 08/009
Rápidos em devolver a ofensa, tardos em retribuir o bem — mesmo assim desejamos ser felizes. LA 08/009
Muitas vezes sermos felizes somente dependeria de um gesto, de uma palavra. LA 08/009
Tudo o que de melhor nos ocorre sempre nos acontece entre a vida e o saber vivê-la. LA 08/009
Os fortes tomam dos fracos, os espertos, dos fortes. E o mundo é um empilhamento de pilhagens. LA 08/009
Se a coisa não tem jeito, então sua saída será pelo não ter jeito. LA 08/009
Os bons livros são como espelhos — ao lê-los a gente se vê. LA 08/009
Quem precisa dos louvores do mundo tem medo dos seus deboches. LA 08/009
Os maiores enigmas do universo cabem num grão de areia. Não fosse assim, o Sonho-Quem não caberia nas estrelas nem nos átomos. LA 08/009
Os sonhos são os filmes do sono — a expansão da subjetividade. LA 08/009
O universo também sonha — por isso se expande. LA 08/009
Para os machões — filés de escorpião. Para os sérios — filés de abelha. Para os delicados — filés de borboleta. Para os chatos — filés de pernilongo. Dica: à milanesa e vinho branco. LA 08/009
Quando for morrer, morra em paz — só fazemos falta para nós mesmos. LA 08/009
Entre as pessoas de valor e as de sucesso, eu fico com as primeiras. LA 08/009
Seus problemas não devem impedi-lo de ser feliz. LA 08/009
A vida não é uma metáfora — a vida é a vida. LA 08/009
Criamos nossos hábitos e eles nos adotam. LA 08/009
Aprendi que sonhos devem ser bem cuidados, como quem cuida de flores, e que se eles anteceder todo fazer, colhem-se frutos os mais auspiciosos. LA 08/009
Sim, os sonhos são a seiva do nosso fazer-criar. LA 08/009
Nossos objetivos devem estar à altura de a vida valer a pena. LA 08/009
Se não nos libertarmos da vida que sonhamos, como viver aquela que nos espera? LA 08/009
Quem não muda, não se renova, não se atualiza — por certo se cristaliza. E deve ser duro a um ser humano sentir-se uma estalactite. LA 08/009
Não havendo um sentido humano no que fazemos e sonhamos, viver será uma história fútil. LA 08/009
De vez em quando uma pausa ajuda a nos reorganizarmos, nos realinharmos — nos dá fôlego, confirma e rearranja o rumo. LA 08/009
Enredo antigo: Os que acham que tudo podem explicar tropeçam em si mesmos. O mais belo da vida é o seu lado inalcansável. LA 08/009
Ele nos mandou o Paráclito, o Consolador, o Espírito de Cristo, o Dedo de Deus — que nos guiará de verdade em verdade a toda a verdade. Sim, não estamos sozinhos: o Espírito de Deus é nosso companheiro. LA 08/009
Melhor que estar acompanhado é estar sozinho, melhor que estar sozinho é estar acompanhado. A vida é sempre aquele pêndulo que aprendeu a gostar dos dois lados. LA 08/009
Ninguém aprende a morrer, como também não se aprende a viver. LA 08/009
Quando sei o que quero o mundo me respeita. Quando não sei, me debocha. LA 08/009
As coisas fazem sentido principalmente quando fazem sentido. LA 08/009
Se o assunto é dinheiro todos têm um só Deus. LA 08/009
O ato de desejarmos uma coisa já é estarmos a caminho dela. LA 08/009
Sonhar a dois ou mais em geral faz o sonho incorporar a realidade. LA 08/009
Se alguém nos revela um grande sonho (em geral uma criança), quem somos nós para dizer-lhe que é impossível o que sonha? LA 08/009
Que o mundo, os familiares, os amigos nos abandonem, tudo bem. Mas nós, nós não devemos nos abandonar jamais. LA 08/009
O nosso genial amigo? Continua aquele rei sozinho em seu castelo em chamas sentadinho em seu trono de nadas. LA 08/009
Quando queremos melhorar, não só a nós, mas nosso entorno, desde então tudo, tudo mais vai ficando melhor. LA 08/009
Quando tudo vira tédio com aquela trágica mesmice é por que estamos muito doentes. Busquemos então ajuda. Saibamos nos socorrer. LA 08/009
Quando o seu grande, magnífico amor o abandonar, procure por aquele que você achava pequeno. LA 08/009
Tomara que o que podemos ser seja melhor do que o que agora somos. LA 08/009
Se perdemos muita coisa é por que ainda não tínhamos estrutura para vivê-las. LA 08/009
Quando uma porta se fecha outra se abre pela nossa fé — o sentimento de que tudo é possível. LA 08/009
Quando algo não nos convence, devemos prosseguir à espera de um maior entendimento ou cabal discernimento — prosseguir tranquilamente com um sentimento de verdade. LA 08/009
Quando a angústia for muita, recolha-se — descanse uns minutos nas varandas de Deuspai. LA 08/009
Quanto mais conhecemos mais vemos que não sabemos. E o que agora não sabemos tem lá suas vantagens. LA 08/009
Quem sabe muito entende pouco. LA 08/009
Raciocinar demais impede a criatividade — porque inibe a intuição. LA 08/009
Quanto mais se cria menos se tem medo de morrer. LA 08/009
Há os que pensam com a bunda e defecam com a boca. LA 08/009
Ninguém se engane: simplicidade é síntese, síntese de tudo o que se pôde viver. LA 08/008
A paz nos seja o caminho. A alegria a finalidade. O amor o propósito. A esperança o entusiasmo em fazer. A fé a consciência de que tudo é possível. Nosso viver se impregne de um sentimento de verdade. Nossos pés iluminem o caminho. E Deus nos seja a trilha, a bela trilha sonora a nos guiar para Casa. LA 08/009
Quem conheceu a ventura há de saborear sua lembrança mesmo nas horas de infortúnio. LA 08/009
Conhecer a própria ignorância é precioso conhecimento. LA 08/009
Conhecer os outros é necessário, conhecer a si mesmo é imprescindível. LA 08/009
Se tem na mão um martelo, saiba que nem tudo é prego. LA 08/009
Aspirar à bondade é ser livre. Praticar (ou só pensar) a maldade é estar preso aos maus. LA 08/009
Semelhantes criam semelhantes, afins geram afins. LA 08/009
Dominou seus desejos, suas paixões — ficou escravo da razão. LA 08/009
Como o silêncio e o som, a escuridão é tão terrível quanto a luz excessiva. LA 08/009
Matar o tempo é sabotar a si mesmo. LA 08/009
Saber recordar é uma arte que nos desamarra de nós mesmos. LA 09/009
Quem na vida nunca foi louco não sabe o que perdeu. LA 08/009
Uma bela mulher é sempre uma pré-satisfação. LA 08/009
Todos temos nossas paixões não consumadas, hoje folhas levadas pelos tempos, tempos em que sua consumação nos parecia tão magnífica, que consumá-las agora (fosse isso possível) seria o maior ridículo. Há um tempo em que já não dá tempo. LA 08/009
Chupar manga é bom quando sujamos a boca. Como Marilda sempre repetia pelo doce prazer de desbocar-se: Não há excretar sem se sujar o atrás, nem pinxotar sem se molhar. LA 09/009
Antes assim, minha nega, antes assim que assado ou frito. A vida é mesmo esssa botina deixada por pés avoengos — sempre um número menor. LA 08/009
Como pode dirigir pessoas quem não se tem a si mesmo? LA 09/009
Aprendi que o legítimo aprender requer um desaprender e que aqueles que ensinam, ensinam por que não sabem que devem desensinar: a si e aos outros. LA 09/009
Quem não agradece o que tem não merece ter mais. LA 09/009
Se reconheço que tenho errado, tenho ensejo de errar menos. LA 09/009
O rico um dia descobre que só pode comprar o que o dinheiro compra — apenas isso. LA 09/009
Quem deseja as alturas não pode ter medo de quebrar-se. LA 09/009
Passamos de escravos a livres quando viver com pouco nos é mais que suficiente. LA 09/009
Se não me quero bem, como querer aos outros? LA 09/009
Quem não tem aqueles três companheiros — a fé, o amor, a esperança — certamente, não está bem na vida. LA 09/009
Se me gabo de meus acertos, vou acabar pensando que tudo o que faço é certo LA 09/009
Quando o pensamento é meu, as ações também são minhas. LA 09/009
Quem não sabe que pode vencer, a derrota o espreitará. LA 09/009
Quem sabe o quanto ama não ama nada. LA 09/009
A vida não é um jogo, mas construção nossa. LA 09/009
Quem sabe o que quer não precisa arriscar-se. LA 09/009
A mão que dá tapinhas no ombro também sabe usar o punhal. LA 09/009
Só podemos nos curar de nossas misérias quando as vemos cara a cara em nós. LA 09/009
Sem um silêncio respeitoso não se ouve a consciência. LA 09/009
Se a caminhada é longa, ir devagar é mais seguro. LA 09/009
Quem deseja as alturas deve saber onde apoiar os pés. LA 09/009
Quem procura um bom amigo não vai ter nunca amigos. LA 09/009
Quem já queimou a língua sabe lidar com a xícara. LA 09/009
Imaginação é asas, raciocínio é pés, sentimento é flutuar, pensamento é caminhar. LA 09/009
Quem faz pouco erra muito. LA 09/009
As pessoas mal entram em nossa casa e já nos sugerem uma outra disposição para os nossos móveis... e, com o tempo, uma outra maneira de sermos. LA 09/009
Quando nos despimos de nossas vaidades ficamos totalmente nus. LA 09/009
Conheço muitos que jamais terão um rival — vivem apaixonados por si mesmos. LA 09/009
Quem lhe fala mal dos outros, com os outros, que falará de você? LA 09/009
Quem justifica, não raro acaba confessando. LA 09/009
O que confia em si atrai os outros. LA 09/009
Filho de peixe, será, no mínimo, sardinha. LA 09/009
Quem ama o feio tem fartura. LA 09/009
Quem ama o belo tem companhias. LA 09/009
Contra o óbvio não há ululâncias. LA 09/009
Aqui temos o Futebol, o Carnaval e agora — o Pré-sal. LA 09/009
Tomara que o Pré-sal não venha salgar ainda mais a nossa vida. LA 09/009
Segundo a qualidade de nossos feitos, assim nos será o futuro. LA 09/009
As justificativas requerem muito tato e — no mínimo — 50% de verdade. LA 09/009
Vivamos nossas alegrias gostosamente — uma a uma, nossas pequenas felicidades encarecidamente — uma lembrando a outra... e se o nosso sonho-mais jamais acontecer, mesmo assim teremos sido felizes. LA 09/009
O sexo, como barganha de prazer, é bom investimento. LA 09/009
Demos graças a Deus por não ter nos concedido aqueles muitos desejos que ardendo em sonhos Lhe rogamos. LA 09/009
Se perdes tempo pensando nos inimigos, que te sobrará para os amigos? LA 09/009
Os medíocres querem fazer coisas impossíveis, os sábios se comprazem com as singelas. LA 09/009
Em geral, na maturidade vamos buscar o que jogamos fora na mocidade. LA 09/009
Quem foi feliz um dia foi feliz a vida inteira. LA 09/009
A vitória dos outros não nos serve, seu fracasso também não. LA 09/009
Cada um de nós precisa de suas vitórias, bem como de seus fracassos. LA 09/009
O que há na guerra é ganhá-la ou perdê-la. LA 09/009
Entre os homens, o que há por trás da verdade é uma grande mentira. LA 09/009
O ditador existe onde os homens e mulheres são muito pequenos. LA 09/009
Tanto mais durona uma pessoa tanto mais ela tem fome de afeto. LA 09/009
Quem se esqueceu de agir como amigo jamais terá um de confiança. LA 09/009
Há aquelas que se enternecem citando Madalena e o carinho e o perdão de Cristo, mas não citam jamais a frase final: “Vai, e não peques mais.” LA 09/009
Quem ama o outro só espera uma coisa: continuar amando-se no outro. LA 09/009
Não há amor pequeno nem grande, o que há (ou não há) é amor. LA 09/009
Há pessoas que falam tanto, que nunca dizem nada. Já as maritacas não sei se conseguem dizer. LA 09/009
Nunca vi pescador que achasse suficientes os peixes que pegou. LA 09/009
O que é que são mais nossos que nossos sonhos? LA 09/009
Um homem sério faz rir. Uma reunião de gente séria faz gargalhar. LA 09/009
Quem teme não compreende, não entende nem (muito menos) aprende. Para entender há que haver empatia, empatia e confiança de ambos os lados. Para aprender é preciso um pouco mais — amor. LA 09/009
Se nada dura que seja saboreado na parte que nos cabe. LA 09/009
Passe ao largo daqueles que não gostam de você. No mundo há muita, muita gente. Procure quem o suporte e lhe tenha simpatia — um jeito de se amar e amar o outro. LA 09/009
Quando o desprezo das pessoas nos valer tanto quanto os seus elogios — teremos nos conhecido um pouco mais. LA 09/009
Se tivéssemos um pré-conhecimento do que desejamos, haveria muito menos ardores por aí. Mas a vida é bem maquiavélica e nos usa principalmente na mocidade. LA 09/009
Uns ardores de heroísmo até que vão bem, mas o anti-herói é igualmente necessário. LA 09/009
Sem Sancho não há Quixote, sem Quixote não há Sancho — um é o outro e os dois são um. LA 09/009
Os bons sentimentos fazem toda a diferença. LA 09/009
Se não teve uma infância feliz, comece a tê-la a partir de agora. LA 09/009
O órgão sexual mais à mão são os olhos — tenha mil e mil orgasmos por dia. LA 09/009
O que os outros pensam de você é problema deles. LA 09/009
Perseverança é coisa rara, quem a tem chega lá. LA 09/009
Onde é lá? Lá é lá, um lugar no sonho. LA 09/009
Na mocidade por vezes me assaltava um medo dolorido de morrer... que era assim mais ligado ao medo de não dar tempo — eu queria sentir profundamente o gosto encorpado da vida. LA 09/009
Entre picadas e mel prefiro este último. Se bem que pela vida não tive escolha: foram picadas e picadas. Talvez por isso não seja diabético. LA 09/009
Se você tem medo ou se espanta com o passar dos anos — aí você caminha rápido para a velhice. Se jamais se preocupa com a idade nem acredita nela — então não envelhece nunca até a sua morte. LA 09/009
Não assovie nem cante perto do desgraçado. LA 09/009
Ao amigo você perdoa um punhado de canalhices. Se ele tenta repetir a dose, é hora de deixá-lo só — curtindo as suas vilezas. LA 09/009
— A gente, padre, só se entendia na horizontal. — Uai, meu filho, e acha isso pouco? LA 09/009
O pensamento é que faz uma coisa ser boa ou má. LA 09/009
Um sonho nasce no futuro e — se inseminado pelo ousar — dá seus frutos no presente. LA 09/009
Não há nada mais ridículo que a ignorância julgando-se culta. LA 09/009
Um busca o prazer extremo, outro, o espinho mais doído — os dois estão doentes de excesso. LA 09/009
Viver esperando é o mais belo, mais doce, mais nobre engano, — todos o amamos. Sim, amamos tanto esperar que essa é a nossa maior posse. LA 09/009
Muitas vezes ordenhei as pedras para o café da manhã — claro: só tomei café com silício. LA 09/009
Quando você vê o cinismo, toca-o, estima-lhe o tamanho — você o desativa. LA 09/009
Toda gentileza é um brilho da alma. LA 09/009
Iluminar-se é saltar do tempo para o ser — sem negar o que é nem sair do lugar. LA 09/009
Um gesto de amor não se perde nunca — tempo nenhum o anula. LA 09/009
Ainda bem que não se pode negar o passado nem vender o futuro. LA 09/009
O mundo que temos é este, para melhorá-lo precisamos melhorar. LA 09/009
Muita e muita coisa não precisamos experimentar — nos empobreceriam, só isso, ao passo que outras experiências acrescentam: fazem queimar etapas, fazem crescer e transcender. LA 09/009
A vida não pula a amarelinha, não joga dados nem tem certezas — mas transforma dúvidas e mentiras em certezas e verdades, frieza e rancor em amor e perdão, rastejos em asas — sonhos em venturas vividas. LA 09/009
As sombras? Despreza-as, e fugirão de ti. Agarra-te à luz — ela traz e leva o sentido magnífico da vida. LA 09/009
Quanto amor ainda me tens? E o tempo... quanto tempo foi dado ao tempo? Que a alegria preencha os intervalos das nossas incertezas enquanto o nosso navegar se perde, cada vez mais se perde em si mesmo... Quanto amor ainda temos? Enquanto, Nina, o tivermos, teremos a sensação de que estamos em casa — uma casa que tem alma em suas vozes quentes e alegres. LA 09/009
Pensar muito é amarrar-se, é não usar (ou não ter) o pensamento intuitivo — que traz em si o como e o que fazer. LA 09/009
A vida e a morte é uma só no multiverso. LA 09/009
Toda felicidade tem a forma de asa. Fora bom aprender a gozá-la no ar. LA 09/009
Ler e pensar nos liberta de sermos servos de homens. LA 09/009
Se não está blindado nosso carro, o nosso coração está. São os tempos, o começo dos tempos. Quem puder ser prudente, que o seja — evite trancafiar o humano lá dentro de si mesmo. LA 09/009
O muro e o atrás do muro. Que haverá atrás do nosso medo que não seja o nosso medo de morrer? Sempre esse incômodo até que venha a hora em que veremos que nada era absolutamente nada daquilo. LA 09/009
A fome e o sonho de saciá-la entre duas colunas. Nossa fome de pétalas nos faz fugir da morte e reinventar as formas — soprar nelas o nosso medo de morrer. LA 09/009
Nesta vida de altos e baixos muitas vezes se é mais feliz lá nos baixos. LA 09/009
Ou você ama, suporta, ou odeia. Pode também negar, sim, negar tudo isso sendo indiferente. A escolha é sua. LA 09/009
Sintimos dores, logo: vivemos. LA 09/009
Come rápido, antes que te comam — foi assim que nossos ancestrais chegaram até nós. LA 09/009
A evolução é imprescindível — assegura sobrevivência. LA 09/009
Existo e não penso, lá vem Descartes — “Então és pedra, parente!” LA 09/009
— Sou o Homo Sapiens. — Muito prazer! Seu caminho é por aqui — pelas trilhas de Darwin. LA 09/009
Se você permitir a calúnia poderá fazer-lhe mal. LA 09/009
Tão impossível fugir do amor quanto da morte. LA 09/009
Se se pudesse congelar, parar no tempo, a ventura, a felicidade já não seriam ventura, felicidade — as coisas para ser precisam do tempo fluindo: precisam de movimento. O inefável há de ser saboreado enquanto foge — sim, enquanto não se sabe muito bem o que é. LA 09/009
Não há mudar, mas mudares e mudares — cada mudar é apenas mais um salto a um patamar a exigir sempre um outro salto constantemente para outro espaço. Sim, a estrada de viver chama-se mudanças. LA 09 /009
Você só compreende o outro quando tiver vivido o que ele viveu. LA 09/009
Mestre não é só o que busca entendê-lo, o que tem paciência, empatia com você, o que procura uma complicidade de ensino-aprendizagem — mas tembém quem o desafia, quem compete com você em constante instigação — mestre é também o mundo, a vida, o viver. LA 09/009
Um mais um pode ser um — você já viveu isso. LA 09/009
Somos aquilo que de hábito fazemos. A persistência nos dará um estilo, uma marca registrada. LA 09/009
Quando nos defrontamos com um problema, só então vemos que temos em nós a sua solução. LA 09/009
Ver fantasmas é o passatempo dos homens — a grande maioria das pessoas detesta a realidade: trocam sonhos pelo que têm na mão. LA 09/009
O perfeccionista é o que deixa de fazer — pois não sabe fazer da maneira que não sabe. LA 09/009
Os deuses estalam suas risadas principalmente para os sábios. LA 09/009
Os sonhos têm que voltar, passar por nossas mãos para serem tocados e fruídos. LA 09/009
No verdadeiro amor ninguém manda — obedecem os dois. LA 09/009
Um dia todos veremos que não ser feliz é o maior pecado. LA 09/009
Quando estiver em dúvida, chame as suas certezas, divide-as pelas incertezas e dê um passo do tamanho do quociente. LA 09/009
A vida com uma das mãos nos dá, com a outra nos tira, mas o melhor é vivê-la sem discutir com ela. LA 09/009
A vida é tão curta, que nem dá tempo. Imagine se perdermos tempo em odiar! LA 09/009
Use o dinheiro como senhor, não como escravo do que ele compra. LA 09/09
Se numa conversa ociosa alguém quiser vencê-lo pelo argumento, diga-lhe que só discorda dele para desempatar o jogo. LA 09/009
De vez em quando chorar é bom, mas não se esqueça que o riso é bem melhor. LA 09/009
Melhor é ficar bravo com Deus do que com o cônjuge. Deus perdoa, o cônjuge não. LA 09/009
Uma poupança vai lhe fazer bem mais tarde — faça-a de grão em grão como a galinha. LA 09/009
Veja se consegue chegar a um acordo com o seu passado — o ressentimento pode lhe estragar o presente. LA 09/009
Não procure saber segredos dos outros, eles fedem como banheiros públicos. LA 09/009
Tudo não é mais que um pisco, mas se estivermos nas mãos de Deus, estamos bem: Ele não pisca. LA 09/009
Respire fundo, coce os mimos — isso relaxa e refaz. LA 09/009
Corra atrás do seu sonho, mas não diga a ninguém. LA 09/009
Use aquela calcinha bonita hoje — trate a cada dia como a um príncipe. LA 09/009
Na maré baixa, entra dentro do teu barco e espera. Na maré cheia, então navega — vai comer brioches no castelo de Antonieta. LA 98/009
Não deixe pra fazer certas coisas quando envelhecer — faça-as agora e depois. LA 09/009
Sua felicidade não é brinquedo para que outras mãos o quebrem. LA 09/009
Perdoe a si e aos outros, não por bondade, mas por astúcia ou estratégia para se livrar de si e dos outros. LA 09/009
Trate a morte com desprezo e a vida com veneração e dom supremo. LA 09/009
Acredite no agora, no daqui a pouco e no amanhã — plante sua semente de fé em todos os momentos. LA 09/009
Deus sempre nos ama por amor de Ele ser amor. LA 09/009
Envelhecer não será um problema quando você não o vê um problema. LA 09/009
O que fizemos de nossa vida, isto, sim, terá importância no final. LA 09/009
Espere todos os dias coisas maravilhosas na sua vida — se não chegarem hoje, pelo menos estão a caminho. LA 09/009
Se há uma dificuldade, há um modo de solucioná-la. LA 09/009
Só o amor sabe quais são os verdadeiros tesouros. LA 09/009
Dê linha ao tempo... e ele lhe mostra que o que você perdeu foi apenas uma pipa. LA 09/009
Muda o bom, muda o ruim — nada é tão belo ou tão feio assim. LA 09/009
Se soubesse dos problemas dos outros, pediria perdão a Deus por achar os seus tão grandes. LA 09/009
Quando rirmos do que os outros têm ou são — já não teremos inveja. LA 09/009
Creia: o melhor sempre está por vir. LA 09/009
Seriedade deve ser como sal, como açúcar — na medida certa. LA 09/009
Um pouco de amor é bom. Demais, já vira desamor. LA 09/009
Cuidado com o ciúme. Ele te faz virar um bobo com as mãos vazias. LA 09/009
Amor é como manga — bom enquanto não vira caroço. LA 09/009
A boca que te beija e contigo suspira orgasmos já fez isso com muitas bocas. Exclusivo, só o nascer e o morrer. A liberdade começa nos sentimentos. Libertemo-nos do que sentimos e pensamos — e verdadeiramente seremos livres. LA 09/009
Jamais abandone os seus rituais — tudo aquilo que você faz e lhe é a alegria, a força de viver. LA 09/009
Aprenda a amar a arte (qualquer um dos seus ramos), ela o ensina a organizar-se, a analizar a vida, a conhecer a si e ao mundo. LA 09/009
Viver é o mais belo e o mais útil dos presentes. LA 09/009
Corpão não basta: há de ser corpo com femineza. LA 09/009
Quer queiramos quer não, estamos condenados à eternidade — o tempo são nossas máscaras. LA 09/009
O psiquismo humano foi se tecendo de seus sonhos. LA 09/009
O inteligente e o tolo vivem num mesmo ser humano. LA 09/009
Quixote e Sancho se completam — são o equilíbrio em nós. LA 09/009
O bobão realça o mocinho — charme e lucidez. LA 09/009
Nossa glória não é só vencer, mas fracassar e já nos reerguer. LA 09/009
Se conhecemos o outro melhor do que a nós mesmos, estamos com um grave problema. LA 09/009
Não se saber o que fazer com a vida é estar-se na ponta de uma torre apoiado num só pé. LA 09/009
Nosso lugar ideal é onde nos sentimos bem. LA 09/009
Nosso melhor amigo é o que nos procura pelas nossas grandes diferenças. LA 09/009
A paz dos vitoriosos é só a que nos serve. LA 09/009
Nossos pensamentos devem ser guiados por uma razão lúcida, por sentimentos serenos e uma vontade que sabe o que quer. LA 09/009
Não é pela longa representação, mas por ser bem representada que a comédia de nossa vida deixa seu rastro e respeito. LA 09/009
Nossas ações são o escriba em nós a escrever um diário. LA 09/009
Somos traídos pelas nossas dúvidas e aplaudidos pelo que chamamos de nossas certezas. LA 09/09
Em geral a realidade são as metáforas de nossos sonhos. LA 09/009
Adoramos as alegorias que nos dão a imprenssão de termos conseguido inculcar nossas alucinações. LA 09/009
Nossas profecias autorrealizadoras podem elevar ou aniquilar aqueles que se deixam permeabilizar. LA 09/009
Há em nós um desejo sequioso de saber a verdade. LA 09/009
Nos Evangelhos a verdade, o caminho e a vida é Jusus, o Cristo. LA 09/009
No mundo a verdade tem mil máscaras e muitas vezes são elegantes mentiras. LA 09/009
Nossas riquezas não cabem no mundo material. LA 09/009
Nossa vontade traz em secreto o que somos. LA 09/009
Nosso cérebro é a rica e bela caixa de surpresa que se criou, nele se encontram todos os segredos e mistérios — inclusive o de seu Criador, o Sonho-Quem. LA 09/009
Vencermos o que está dentro é o maior dos desafios. LA 09/009
Nosso maior achado será descobrirmos que Deus nos é. LA 09/009
Fracassos podem ajudar bastante, depende do modo como os interpretamos. LA 09/009
A escolha de um rumo errado é um dos maiores desastres já vistos. LA 09/009
Quando os sonhos são legítimos eles ganham corpo de realidade. LA 09/009
Os montes de feno são apenas montes de feno — foram tirados os seus germes, as suas sementes de vida. Sevirão de forragens, de húmus. LA 09/009
Até onde os outros foram não há nenhuma transcendência — precisamos ir além e nos ultrapassar. LA 09/009
Nunca dê as suas costas, use os seus olhos, sua atenção: examine todas as coisas e situações. LA 09/009
As experiências são aprendizagem que se corporificam pelas células e se assimilam pela alma. LA 09/009
Ouve os dois lados, e saberás quem mente mais. LA 09/009
Há momentos em que viver dói tanto, que até diverte. LA 09/009
Não tenhas na palavra o desestímulo nem jamais o desencanto ante aquele que segue devagar, mas segue. LA 09/009
O ambicioso sobe tão alto que depois não sabe como descer. LA 09/009
O sentimento de verdade e de justiça é a força-alimento da jornada. LA 09/009
Sabedoria é observação da natureza. LA 09/009
O asno ganha voz quando o ser humano o mediuniza. LA 09/009
Um grande amor prescinde de aventuras. LA 09/009
Quem sabe voar não rasteja nem caminha. LA 09/009
Quem tem luz própria não leva velas ao vento. LA 09/009
Nossos sonhos são dínamos que nos mantêm iluminados. LA 09/009
Há um futuro sendo vivido, um que recicla o passado e outro logo adiante de nosso ser a ser-se. LA 09/009.
Entre os passos anteriores e o seguinte há um intervalo de reflexão de que podemos nos valer ou não. LA 09/009
Não há bem ou mal absoluto — se a flor cai, nasce o fruto. LA 09/009
Quanto mais obstáculos, mais doce o amor. LA 09/009
Jamais lembre a alguém um bem que lhe tenha feito: ele rapidamente arranjará um modo de humilhá-lo. LA 09/09
A diversidade é o que há de mais belo entre as pessoas, os animais e as coisas. LA 09/009
Discussão é prego enferrujado — em vez de entrar entorta. LA 09/009
Dizer como ser feito é subestimar o que os outros fazem. LA 09/009
Amor que enxerga muito desama. LA 09/009
Se você não acredita em milagres, azar seu, — eles nunca acontecerão com você. LA 09/009
Ter-se por especial, ou muito inteligente, mais dia menos dia tira a máscara do cara. Tal narcisismo só não faz rir a defunta mamãe do supernoia. LA 09/009
Ter-se por “burro” vai prejudicar o cara. Sua mente lhe passa uma autoestima de vencido. LA 09/009
Ter-se como quem se constrói no dia-a-dia, busca se organizar tranquilamente em si, no mundo, no que faz — com humor-riso-seriedade no intento de conhecer a si, ao outro, o universo... isso talvez ajude o cara. LA 09/009
Há mais átomos num copo d’água do que copos d’água em todos os oceanos do mundo. A vida, o cosmo, o ser são sempre mais do que o mais amplo imaginar. LA 09/009
Uma coisa é uma coisa, outra coisa pode até ser um coiso. Tenho dó dos que não gostam de “gracinhas”. LA 09/009
Como dizia padre Umberto: Tá tudo certo, já que na vida é tudo incerto. LA 09/009
Mudando de pato pra ganso, Quixote ou Sancho — vai depender da hora. LA 09/009
Amor é como amora — há de ser agora, ou passa. LA 09/009
O licor Chambord (que tem seu berço lá no vale do Loire) feito de framboesas vermelhas e pretas, com seu gênio sonhando em garrafas trabalhadas em ouro e diamantes, custa 1,4 mi euros. LA 09/009
Lembra-se, Rosinha, daquele amor gótico flamejante com que flambávamos nossos lençóis? Chique, chique no último, minha nega, — nosso tesão e mocidade é que eram nosso Liqueur Chambord. LA 09/009
A poesia dos sentidos que o mundo busca saborear chama-se sexo, amor, felicidade — caras vertigens, raros chiliques, portanto: caros. LA 09/009
Muitos acham até bonito dizer o que pensam e sentem — sim, “usam de franqueza”... O mundo, os amigos e inimigos adoram os francos, é claro. LA 09/009
O que chamam amor é um vexame: uma infinda floresta — galhos de todo tipo camuflados por exuberantes folhas e, não raro, por inocentes flores. LA 09/009
Hoje as mulheres estão mais infelizes e nós, os hetero, bem mais aliviados. LA 09/009
O amor é bem mais pleno quando nenhum dos dois lhe rouba força, mas, ao contrário: ambas as partes trabalham para conservá-la e acrescentar-lhe, mas isso é muito raro. LA 09/009
O amor faz o tempo e o espaço possíveis para uma grande festa. LA 09/009
O amor não tem idade — está sempre nascendo como a água em sua fonte. LA 09/009
O amor te leva ao inferno, ao paraíso e aonde mais queiras ir. LA 09/009
Inventaram que o amor é cego só para dar coragem. LA 09/009
O amor, esse pobre não tem folga nem descanso ou férias e ainda faz horas extras. LA 09/009
Há os que falam tão mal da paixão, que dá para desconfiar. LA 09/009
A paixão é doença gostosa. Quando se cura a gente fica até sem graça. LA 09009
Muitas vezes não ter tempo para ser infeliz é toda a nossa ventura. LA 09/009
Concordo com você, Marli: O pessimismo é hobby de pessoas felizes. É preciso (elegantemente) arranjar o que fazer, e mentir a si mesmo é a delícia das delícias. Como é que um pobre infeliz (desses que estão lutando por um galho mais acima na árvore social), como é que um miserável desses pode se dar ao luxo de ser alegre ou triste?! Não dá para chiquês, a luta é muito braba. Só quando o cara vence (isto é: consegue o seu pedaço do mamute) é que pode respirar — então olha em redor e ri: morre de rir. LA 09/009
Somos um povo diferente: vamos à luta, ou à preguiça, e deixamos pra chorar amanhã. LA 09/009
Hoje, os hetero sabemos que não podemos contar com as mulheres nem elas contar com os homens e isso nos deixa livres e com prazeres matizados. Viva o pós-feminismo e o pós-machismo! Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!... LA 09/009
Nada como um dia atrás do outro e poucas contas no fim do mês. LA 09/009
As mulheres e os homens acusam-se uns aos outros por não serem felizes. Ainda estão no tempo em que a felicidade vinha de um reino encantado. LA 09/009
O bom de ser separado é que você se levanta dos dois lados da cama. LA 09/009
Cuidado, nega, é galho seco! LA 09/009
A juventude da alma está em pertencermos ao nosso tempo apoiados no maior conhecimento possível do passado. LA 09/009
Se você vive contente é uma pessoa rica, se vive descontente é uma pobre pessoa. LA 09/009
Todo mundo já fez uma frase sobre o coração, sobre a vida, sobre Deus. As frases são um vinho que bebemos do avesso. LA 09/009
Amor manuseado dói até em safado. LA 09/009
Engraçado... dói na gente ser corno, não é mesmo? Precisamos nos desmimar. LA 09/009
A gente paga caro pelo que não tem preço. LA 09/009
Fingir que não dói machuca muito mais. LA 09/009
Voltou pra casa era quase noite, molhado, sujo de barro até que viu que a enxurrada tinha bebido a casa e tudo em volta. LA 09/009
O coração só morre quando os sonhos se cansam. E o tesão só se vai quando ela não vem.
LA 09/009
Cabra velha não busca ervas junto à cratera dos vulcões. LA 09/009
Bebemos a filosofia no leite montês da velha Grécia. E até hoje o mundo todo se delicia com seus queijos e aquele doce encaroçadinho. LA 09/009
As ruínas da Antiga Grécia estão tão vivas quanto o seu glorioso idioma em multifárias línguas a marulhar pelo mundo. LA09/009
O coração tem razões que o ensinam a pensar. O pensamento tem sensações que o ensinam a sentir. Pensar-sentir, sentir-pensar. Visão e tato — tato-visão. Ouvir e ver — ver-ouvir. Cheirar-gostar-saber. Intuir-ousar. E tudo em convergência com fazer-criar. LA 09/009
Cada degrau convida a mais um, até enquanto se ousar — e os há exteriores e interiores ao mundo e a nós. O mais longo da jornada fazemos lá por degraus em nós mesmos. LA 09/009
Hoje o mar falava grosso, ria, gargalhava eufórico, espumando, não de raiva, mas de satisfação — o Rio venceu Chicago, venceu Madri, venceu Tóquio. Vai sediar em 2016 aqueles jogos vindos da casa de Platão. Por isso hoje o mar beijava num outro tom, beijava os pés, os lindos pés da Princesinha do Mar. Aproveita, Brasil, — todo o teu mar está pra peixe! LA 10/009
Jamais serão inglórias minhas saudades de você — são saudades que têm espinhos feitos de rosas. LA 10/009
Chorar? Só de alegria. LA 10/009
Para consumo próprio, Marilda sempre me diz preferir o amor parnasiano — o que finge não ser romântico: sempre bem acabadinho e com gostosos emjambements. LA 10/009
Se for canja de ninfas, Bérlus come. — Come ou toma?! — Bérlus come. Berlusca e pede mais. Pois que Bérlus tem a cara de cone. LA 10/009
Enem veio e já o venderam. Mas logo volta: Enem vem, e já ninguém pode levá-lo na cueca, na meia. É moda, moda da casa — levar na cueca, na meia. Eta nóis! Plural do cínico Etanol. LA 10/009
Cuecas elásticas, meias compridas são bem operacionais cá na Cabrália de nossos dias. LA 10/009
Se podemos pensar uma coisa, tal coisa pode acontecer. LA 10/009
O que se pode imaginar só precisa de um tempo para gestar-se e nascer. LA 10/009
Novo homem, novoestilo, novo clima: novas brisas reacendendo esperanças — eis o senhor Obama, não por acaso, Nobel da Paz. LA 10/009
A vida dá com a direita já tomando com a esquerda, mas no instante em que toma a gente já deu o passo. LA 10/009
Ser enganado é bem menos terrível se quem o engana não é você mesmo. LA 10/009
Prudente é preservar a saúde, esbanjá-la não é só um erro, mas erro e estultícia. LA 10/009
O homem nasce para se suplantar — no esporte, na profissão, na arte. LA 10/009
As dificuldades nos fazem crescer, o sofrimento e a solidão nos fortalecem, a subpobreza nos dá uma espécie de raiva-impulso, raiva abençoada — que nos leva a vencer. LA 10/009
A revolução entre facções modifica as coisas, mas a do coração nos faz nascer de novo. LA 10/009
A ansiedade demasiada nos impede. A vontade serena, esta, sim, nos ajuda. LA 10/009
Abençoado o homem que exorta e faz brilhar a esperança no coração desfalecido. LA 10/009
Os relógios familiares canibalizam as pessoas gerações após outras, tal como os quadrúpedes devoram o verde dos campos. LA 10/009
O espelho é um amigo (talvez o único sincero) que conversa com nossos olhos — que nem sempre querem ver. LA 10/009
Nossa consciência é um livro de brochura de que ainda não abrimos aquelas páginas coladas. LA 10/009
O que se julga muito esperto tem maior probabilidade de ser enganado. LA 10/009
O que me dá prazer é ver que posso aventurar-me, e não fazê-lo. LA 10/009
Tudo, tudo sobre a terra é apenas terra. LA 10/009
Aos que aprenderam a doçura não lhes importa a vida seja amarga. LA 10/009
Se estás sereno, as pessoas irritadas são apenas pessoas irritadas. LA 10/009
Quando aprendemos que Deus nos é, saímos do deserto. LA 10/009
Quem tem em si o Adorado não anda atrás de CDs de adoração. LA 10/009
Se estás Nele, Ele te é. Fora Dele, há o nada que é impossivelmente nada. LA 10/009
Sim, abandone a idéia de como chegar a Ele — e já terá chegado. LA 10/009
O efêmero só é um modo de compreendermos o eterno. LA 10/009
Passe-se a limpo, copie-se — até achar que ficou bom. LA 10/009
Viver é tão bom que a gente devia deixar de ser bobo — e nunca morrer. Mas já que a bobeira é dom incurável façamos do hoje um belo pretexto pra sermos felizes. LA 10/009
Se o teu amor for como uma grande árvore, não tens o que temer — vives em cada uma de suas sementes. LA 10/009
O dia em que soubermos quanto é um mais o infinito, teremos conhecido a Deus. LA 10/009
O amor e a fé são os dois pilares na entrada do templo. LA 10/009
Freud: Aonde quer que eu vá descubro que antes de mim um poeta esteve lá. LA 10/009
Marilda? Fora prendada pela vida com aquele travesseirinho ortopígio — tornando altura, ângulos, graus, rotação e translação — tudo perfeito. Os que tinham a honra — ululavam. LA 10/009
Não raro falamos aos outros o que precisamos ouvir, vemos nos outros o que pensamos não ter e ensinamos o que precisamos aprender. LA 10/009
Só conseguimos falar com nós mesmos quando fingimos falar com os outros. LA 10/009
Com o tempo, falar nos torna conhecidos de nós mesmos. LA 10/009
Calúnias e elogios andam juntos, e isto se aplica aos vivos e aos defuntos. LA 11/009
O mundo, a vida — poste mijado de cachorros. LA 11/009
Apagão. Sem eletricidade a civilização acaba. LA 11/009
Bela, Tão Bela Estava...
Bela, tão bela estava no caixão... Um brilho no semblante, uma leveza de flor caída mas ainda acesa de brisa e luz, florir não fora em vão
Entre o grisalho a rósea lassidão das pálpebras cobrindo com fineza os sonhos de rainha ou de princesa que, já morta, em memória excitarão
Do calmo rosto o belo, o rico porte não conseguiu roubar-lhe nem a morte, nem o meio-sorriso e seu frescor
O rosto da defunta sugeria o belo de um pós-gozo: parecia ter acabado de fazer amor LA 11/009
Nesta Altura Da Estrada...
Nesta altura da estrada, minha Zefa, estamos mais pra lá do que pra cá A qualquer hora a vida ri e blefa — e adeus amor e pé de manacá
Por isso nada de triunfal tarefa — dar em ladrão, lutar com arapuá, discutir com o chefe ou com a chefa, agora ser leão, depois gambá
A vida é o que ia, mas não foi, não foi porque estava de pileque, portanto foi só amolar o boi
Por isso, Zefa, nunca ponha em xeque o valor da consciência organizada Logo seremos vento e o pó da estrada LA 11/009
Ao povo: pão e teatro. À elite: caviar e sacanagem. LA 11/009
Onde estiverem uma xota e um pênis dá pra ver a fumaça do charuto do dr. Freud. LA 11/009
Se a vida te esnoba e não te vem às mãos, vai até ela, cara. LA 11/009
Tem muita gente que sabe tudo, e muito mais. Sim, sabe tudo — menos o que devia saber. LA 11/009
— Não gosto mais de você. — Nem eu da ex-amada. Mas como diz o poeta: Paris sempre nos fará sonhar — principalmente aos que não foram lá. LA 12/009
Mais uma vez Natal nos faz comprar, pensar, sonhar. E como diz uma amiga: Nem vamos exigir mais. Muita saúde, cambada, e um bom punhado de dinheiro no bolso pra comprar bastante amor. O amor, mesmo comprado, é coisa chique. LA 12/009
Seus problemas acabaram: vem vindo aí Roxxxy, a amante robô com inteligência artificial. O resto não lhe conto, imagine, descubra você mesmo. Roxxxy True Companion — muito mais que uma Amélia. As mulheres não se irritem: vem vindo logo atrás Rocky — Rocky True Companion. Fartem-se! Uns terão o gozo da exclusividade que tanto procuraram. Outros perderão a delícia de naquele tal momento se perguntarem: com quem será que dividi e ando dividindo o regalo desta hora? LA 12/009
De vez em quando disque, mande um e-mail. Assim você conserva os laços quase rotos (eternamente quase rotos) da amizade. LA 12/009
Um dia ela me disse que não viesse mais. Dei uma de babão: Mas por que, meu anjo? — Porque tenho agora namorado fixo. — Fixo?! — Sim, como trabalhar para ministro, não se pode jogar fora. Nunca mais lhe joguei pedrinhas na janela. LA 12/009
Amor Com Trufas...
Amor com trufas, minha nega, é bom, bem mais que bom, assim bem fatiado e ao fogo brando e já depois flambado num degustar marcado de batom
Um amor musical em vário tom e jeito de futuro do passado mas no momento-agora degustado com um frufru de descascar bombom
Amor outono-inverno e com pantufas, mas nem por isso a desprezar as trufas e os pistaches de muita fantasia
Gostoso ual ouvir longes mugidos que vêm acariciar nossos sentidos ao fresco dealbar de um novo dia LA 12/009
Eu? Vivo Amando...
Eu? Vivo amando, minha cara, vivo, aliás, amando amores que eu invento, tão frágeis, passageiros como o vento Sim, no amor sou bem pouco afirmativo
porque aprendi a ver seu dom nevoento: basta afirmá-lo e dele já me privo, basta negá-lo e o vejo bem ao vivo — além de doido, amor é fingimento
Mas um fingir bem mais que interessante — dá um sentido sem sentido e em cores: um lindo sem-sentido a cada instante
Quanto menos lhe exijo mais o entendo: o amor é nebulosa em seus albores — algo que ainda não é: futurescendo LA 12/009
A Noite Inteira, Nega...
A noite inteira, nega, revirei que revirei você em minha mente tentando despejá-la inutilmente, mandá-la para o quinto e mais nem sei,
nem sei pra que país nem tribo ou grei, contanto me deixasse bem urgente em paz e a sós comigo eternamente, eternamente sem ninguém nem lei
E fizeram-se eternos os segundos: me reentrava de lado e pelos fundos de toda a mente, sem nenhum chiquê
Aí (que alívio!) o telefone toca, fui atender (que alívio: me desfoca...), fui correndo atender: era você. LA 12/009
Ah! Onde Estão As Rosas...
Ah! Onde estão as rosas petulantes que ontem riam das simples margaridas? Bastou um vento irado, e o régio de antes são lágrimas no chão esmaecidas.
Lembrei-me de teus ares elegantes, teus gestos e palavras desmentidas... sempre como andorinhas em rasantes em giros de subidas e descidas.
Entre rosas e espinhos moram lhanos olhares e ditosos fiéis enganos qual labaredas de uma mesma pira.
Já a fala e a intenção têm um só ventre a gestar em conluio quase sempre um sorriso que adorna uma mentira. LA 12/009
Viver é a mão que colhe — vai bem além que o dicionário. Todos querem nos ensinar, mas só o viver é mestre. LA 12/009
A vida pode ser uma Guantânamo, quando você é o seu próprio carcereiro. LA 12/009
Sou como você não me vê, isto é, alguém bem diferente do que se vê. LA 12/009
O amor que invento é bem mais belo, por isso não tenho medo de vivê-lo. LA 12/009
Amar não é nada fácil. Em geral não amamos o outro, mas a nós mesmos no outro. Não amamos as coisas, mas o que elas nos proporcionam. Enganoso é o coração e o que dele procede. LA 12/009
Se acreditas num ser ou coisa, então te existe tal ser ou coisa. LA 12/009
Amar alguém apaixonadamente nos consome, desorienta — faz viver uma felicidade muito infeliz. LA 12/009
Desconhecer é ter medo. LA 12/009
Todos temos o direito de gritar por não termos direito. LA 12/009
Pensar nos mostra, sentir faz ser. La 12/009
Sim, não negue: dê a sua mão, mas que ela seja sempre sua. LA 12/009
Claro, dê também esmolas, mas que não se transformem em boletos pagáveis em dia e hora. LA 12/009
Uma parte da humanidade é podre, podre de rica, de modo que só nos resta a sua podridão. LA 12/009
Pensava que sabia as coisas. Depois fui vendo que se as soubesse elas estariam mortas, aliás: eu e elas, mortos no atempo. Sim, viver é fluir e mudar: um ser-viajar-se pelo tempo — a vida é sempre outra coisa. LA 12/009
Aceitemos o hoje fazendo dele o material de moldarmos o futuro. LA 12/009
A vida, desde o vírus até o homem e além-homem, a vida é inteligente, astuta, maquiavélica: atriz do palco-ser. Só ganha sentido cósmico quando o ser a essencializa em consciência — em consciência a ver-se e suplantar-se, dentro do Sonho-Quem, no sonho-mais da existência. LA 12/009
Muitas vezes somos um muro intransponível. Há que termos paciência, mas temos de passar — pulando ou atravessando-o, temos de passar por nós. LA 12/009
Há Um Medo Gostoso...
Há um medo gostoso, se te espero. O amor é sempre aquela porcelana tão frágil sempre, sempre tão humana — o amor é e não é: tal como um zero.
Sim, um medo gostoso, mas severo como o olhar que proteje, mas esgana... como a alma que sonha, mas se engana... pedra rara incrustada sem esmero.
Sempre um medo gostoso na esperança de se alcançar a flor que ao vento dança... Sempre um suor a rorejar a espera.
Sim, um suor gostoso, mas medroso a ponto de tirar da espera o gozo... O amor é sempre aquilo que não era. LA 12/009
Pra Te Encontrar...
Pra te encontrar, Amor, fui pelo avesso das coisas, por detrás do coração, lá onde tudo tem o seu começo, um quase brilho num sentir razão.
Pra te encontrar queimei teu endereço, rasguei mapas e fui sem direção em andanças por mim que já nem meço porque as andei na mão e contramão.
Pra te encontrar, Amor, viajei lonjuras azuis como as que moram no horizonte das pessoas, azul a lhes fugir.
E não te achei em nada que se encontre ou que demande ânsias e procuras, mas em apenas te deixar florir. LA 12/009
Os hetero são hetero, os homo são homo. Que assim seja e ninguém encha por demais a paciência. Por que o exibicionismo, a imposição?! Que apareça o humano nessas diferenças e não as noias das desavenças. O que importa termos em vista é que o ser humano deve e precisa se superar: qualquer que seja a sua situação. Sim, minha gente: o que somos não serve — precisamos nos superar. LA 12/009
Não se sabe tudo porque tudo e nada é a mesma coisa para Deus. O verdadeiro saber tudo é saber nada. Nós fingimos haver sempre outras coisas para podermos nos enganar. O autoengano é sempre uma delícia: adoramos fazer que não o percebemos. Criamos caminhos para chegar aonde já estamos: nem percebemos que somos a nave e o sonho de navegar para um aonde que já foi nós em multitempos de ser. LA 12/009
No fundo sei que me conheço mais do que eu. LA 12/009
A beleza da vida é que a gente corre perigo. LA 12/009
Morrer devia ser o único pecado. LA 12/009
Só teremos sucesso quando deixarmos de rastejar por ele. LA 12/009
O sucesso dura pouco, o fracasso também — e este é o bem durável que ri entre esses dois. LA 12/009
Se Deus não existisse teria que inventá-Lo pra conversar com Ele com o meu sentimento intuindo sensações de vê-Lo e viajar com Ele em alma-coração para aquela Casa em nós. LA 12/009
Sempre nos chega a hora de sabermos que tudo o que não sabíamos tinha um charme irresistível que chamávamos de felicidade. LA 12/009
Amar é equivocar-se — não amamos o outro, e, sim, a nós mesmos no outro. Porém, se isso é feito com charme, dentro de um sonho apaixonado, nesse caso o tal equívoco se torna em vero amor. LA 12/009
Os motivos não são tão bons assim, se não temos combustível pra levá-los a ser realidade. LA 12/009
Morrer não é tão terrível assim, quando o morto não é nós. LA 12/009
Sempre que tinha saudade corria para os meus sonhos e a abraçava e a abraçava até o galo cantar bem mais que três vezes. Sim, naquele tempo havia galos e você tinha um namorado enorme, magro e enorme como um pé de eucalipto, com quem você se casou e foram felizes para sempre. LA 12/009
Você foi minha aurora boreal a coruscar loucuras no meu coração — indo e vindo por mim na trilha sonora dos seus saltos. Além de aurora, foi o meu pé de amora e eu o seu bômbix, o seu bichinho da seda a desfolhá-la inteira, e os nossos sonhos se teciam devagar-devagarinho. LA 12/009
Quando a noite é demais é que nasce a primavera florindo de tal modo o céu que os olhos adoecem de desejos. LA 12/009
— Esse Deus de que você fala, existe mesmo? — Isso não posso lhe provar, mas me ensina a ser melhor, a amar ao outro e a mim, a fazer o que é bom para mim e ruim para ninguém, a praticar a solidariedade, o altruísmo: saber-me um entre os muitos que formam a Humanidade. — E isso basta? — Se basta não sei, mas estou certo de que é o suficiente. Agora, O que bastará já está de volta (em cada um que é Dele.) E o mais é transformação, superação e transcendência. LA 12/009
A poesia é a única maneira de se arrancar algum sentido das coisas. Sem a ousadia da poesia tudo está fechado. Sem ela a vida é coração sem sangue. LA 12/009
Com colher de sobremesa, pequena e niquelada, degustei um a um os teus poemas — sabor de nina-moça despida de si e de suas rendas entre o macio da penumbra e a mão florindo à espera O branco de muitos jasmins dão uma alma que trescala por dentro do sonho das amadas E a poesia gorjeia quente, quente de queimar coisas de seda em decotes ousados Bela, linda a sua poesia porque não fala nem afirma — apenas insinua que a vida tem razão enquanto o amor vai pintando com vários pincéis de luz as paredes que murmuram suas paisagens e nos contam como os amantes sabem cantar pelo nariz uma canção bela e feliz. LA 12/009
Os homens e as crianças querem coisas maravilhosas, mas assim que as conseguem, logo se mostram displicentes — detestam conservá-las. Não que eu ache que não devam fazer isso. LA 12/009
As pessoas felizes inventaram maneiras de ser assim e nós as invejamos muito por não sabermos inventar. LA 12/009
E se Newton tivesse se assentado debaixo de uma jaqueira? Deveríamos estar a muitos passos lá atrás. LA 12/009
A certa altura disse aos meus sapatos: E agora, amigos, pra que lado vamos? O da direita se apressou — Por este lado aqui! O da esquerda discordou — Tenho certeza de que por aqui! Coube a mim desempatar — fomos pelo caminho do meio. LA 12/009
Sintamos o Universo como nosso amigo, como alguém que incuba nossos sonhos e nos satisfará aos desejos de nosso coração — desde que tenhamos disciplina e usemos a vontade ativa e paciente em direção ao alvo do nosso saber-querer-ousar e calar. LA 12/009
Sim, a Vida ama e ajuda o que é reto de coração e tem um espírito inquebrantável. LA 12/009
De tudo o que você é amo a flor que você floresce porque esta posso colher quando quero e de muitos modos e desejos — sem medo de murchá-la nem de desfolhá-la, já que por si mesma se refolha. LA 12/009
Dentre as pessoas a quem você admira inclua você — para que se respeite e assim cresça aos próprios olhos para aprender a amar-se. Seja paciente com você mesmo. Ouça as suas razões, conheça os seus sentimentos e os motivos dos seus sins e nãos. Aliás, você é aquele outro que mais pode cuidar de si e que cuidando de si está aprendendo a como cuidar dos outros. Não seja complacente nem severo com você mesmo, nem com ninguém — apenas veja, e veja-se sem medo. Assim conseguirá amar a si e aos outros e nesse amor verá que Deus o é antes de tempo-espaço — lá onde o sonho se fecunda de todos os possíveis. LA 12/009
Invista bem seu tempo — seja feliz e ajude o outro a sê-lo. LA 12/009
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