Em Forma De Asa

                                 (Florações Do Ócio)

 

                                                                  Laerte Antônio

 

 

Escrevivi

meu penúltimo ciberlivro

(sempre o penúltimo)

com a alma prenhe de vida:

transmutação do ócio

em sinergia

com intenções de dar flores

e frutos

a pedido de um sonho em mim —

poder colorir noites brancas

ou enfadonhas tardes

lendo-o de qualquer ponto:

do meio para o começo

ou fim,

de qualquer ponto

para quaisquer outros,

contanto que tivesse um sentido —

isoladamente-e-em-conjunto-

-em-conjunto-e-isoladamente:

tudo soltamente preso

por um nexo interior

tão necessariamente ontoconsciente

que nem se percebesse isso,

nem se visse ou notasse

tal como a longe flor que se abre

sozinha no cerrado

e só a brisa a embala

e o hialino orvalho a visita

fazendo-a coabitar

com o brilho ébrio dos astros —

e assim pudesse ler o meu livro,

pudesse lê-lo inacabavelmente,

inesgotavelmente —

até que me inteirasse

de que isso nada

com isso tudo

é um livro que sabe rir —

sim, sabe não ter fim

nem ter começo

ou meio,

porque é um todo

dentro de um tempo

que sabe brotar do atempo

e apenas ter saudade do futuro,

 já que a realidade não é mais

do que a nossa incapacidade

de poder suportar o sonho.

LA 21/02/0010

 

 

 

 

Necessidade urgente de florir

no íntimo do ser humano —

emprenhar-se de vida

e parir-se em deslumbres

que vão da larva

às asas de brisa

feitas do brilho das estrelas

e dos sonhos maduros do mistério.

LA 12/008

 

 

Viajar, viajar!

já que tudo é uma viagem

dentro de outras viagens.

Na mão o caderno e o lápis

para o diário de bordo.

LA 12/008

 

 

Em pleno viajar, em pleno viajar

por terra, mar e ar

e lá por dentro em nós

em pleno viajar

LA 12/008

 

 

Se fores até ali adiante,

percebes nosso escopo

e talvez goste da caminhada

e a empreenda por alguns passos

LA 12/008

 

 

Se alguém faz arte,

faz para saber de si —

conhecer-se,

organizar-se

e transcender-se.

O autor é o primeiro

e mais assíduo leitor

de qualquer obra.

O primeiro que se beneficia

do sonho tornado em coisa,

gestado pelo sopro,

irmão daquele que lhe insuflaram.

A arte está para a vida

como o tempo para o ser.

A empatia é o espelho

que faz o outro se ver

e saber que também sabe,

senão fazê-la,

crescer com ela.

LA 12/008

 

 

Entre tu e mim,

o poeta é intérprete.

Para contar —

finge-se eu

porque encarna o outro,

finge-se o outro

para esconder a si —

apenas um intérprete

da realidade.

Sim, o seu gozo é contar

para conhecer a si e ao outro

enquanto volta sem pressa

para Ítaca,

onde o espera

o sonho ressonhado.

LA 12/008

 

 

Zaidi, Zaidi,

seus sapatos voaram

em direção

ao nosso desabafo —

desabafo antológico

coroando este final de ano.

Zaidi, Zaidi,

você lembrou Davi —

Davi versus Golias.

As suas sapatadas,

ó ex-obscuro,

carreguem meu chulé

de aprovação,

como também o daqueles

(mais de mil advogados!)

que presto se ofereceram

para — gratuitamente —

o defender.

Zaidi, Zaidi,

seus sapatos voaram

em direção

ao dono dessa guerra —

em pouquíssimos segundos

tornaram-se sapatos

de renome.

Lançada está a marca:

Sapatos Zaidi,

os que fazem para ti

o que não terias coragem

de fazer.

LA 12/008

 

 

Mais Uma Vez...

 

Mais uma vez dezembro.

Mês das compras compulsórias

que chamam de Natal.

Natal que tem mudado

e nos tem encontrado outros —

nem melhores nem piores:

outros.

Apenas outros,

seu Dom Casmurro.

E o resto é como o resto

que ainda não era resto

mas que agora nos resta.

E como somos muitos mais,

compramos mais.

Só isso.

E isso é muito bom,

dizem os sábios.

Comprar-vender-comprar

é tudo o que sabemos —

e o quanto importa.

Assim o mundo se mantém em órbita

e fica tudo joia.

E quem faz joia

se chama ourives.

E não te prives

do brilho de as comprar.

Pois isso é bom,

bom e catártico,

dizem os sábios,

vender-comprar.

Felizes compras!

(Só não nos esqueçamos

de dar alguns centavos

para a comida dos pobres.

Assim todos parecemos

nos preocupar uns com os outros

e a nossa consciência

não fica rindo de nós

enquanto nos esbaldamos

ao lado dos miseráveis.)

Mais uma vez Natal.

Felizes compras!

LA 12/008

 

 

Senhores viajantes, se preparem

para mais uma órbita.

Sim, vamos para mais um ano.

Todos querem um ano melhor,

sob todos os aspectos: melhor.

Sim, todos se preocupam por um ano melhor,

mas é raro, raríssimo ver

alguém preocupado em ser melhor.

Pois é.

Hoje é dia de fazer tremer o orbe

com pólvora.

Feliz 2009,

cambada!

Com muito amor no bolso

e, nas mãos, muito dinheiro,

muito dinheiro

pra conservar tanto amor.

LA 01/009

 

 

Não cante nem assovie

ao lado do desgraçado.

LA 01/009

 

 

André aconselhava aos sabichões:

Antes de se entregar à difícil tarefa

de ajudar as pessoas a mudar,

dê uma olhada nas três últimas semanas

da sua vida.

LA 01/009

 

 

Buracos.

Sempre os eternos

buracos.

Em cima,

embaixo,

por fora e dentro:

em nós,

nas coisas,

no mundo:

só buracos.

Negros,

brancos,

rosados,

amarelos —

obsessivos buracos.

A vida?

O universo?

Só buracos

mais buracos.

Misteriosos,

deliciosos,

charmosos,

perigosos,

instigantes buracos.

Buracos.

LA 01/009

 

 

Agora, sim:

com a secretária trilíngue

sua empresa ia bem.

LA 10/009

 

 

Se usas luvas para colher rosas,

ainda não sabes dialogar com a vida.

LA 01/009

 

 

Conserva os amigos amigos,

e livra-te dos outros.

LA 01/009

 

 

Laura, Laura,

quando você me vinha,

só de lhe pronunciar o nome

minha língua lambia mel no céu,

no céu da boca.

Laura, Laura,

tobogã de venturas

entre colinas

e colunas.

LA 01/009

 

 

Há um descompasso desproporcional

no uso de nossa boca e ouvidos.

LA 01/009

 

 

Uma tardinha Dorothy me liga:

“Por que você não vem?

Esta chuvinha... este frio gostoso...

a noite vai estar boa,

deliciosa pra não dormir.”

Lembro-me bem que mal

acabou de pronunciar

a última palavra

eu já estava lá.

E foi amor, vinho e chuva

até sábado virar domingo

e domingo segunda-feira.

LA 01/009

 

 

A vida é uma luta desigual

num brigar pra não morrer,

num teimoso sobreviver.

LA 01/009

 

 

Sim, a vida é esse delicioso

comerem-se uns aos outros.

LA 01/009

 

 

A única esperança

da vida

seria o homem ser humano.

LA 01/009

 

 

Entre pães e brioches,

ó manhosa Antonieta,

conserva o riso, os broches

e a tua...

LA 01/009

 

 

Devagar, minha nega,

devagar,

assim a gente chega descansado.

LA 01/009

 

 

André?

Comia com pena e tudo

e ainda mostrava os ossos.

LA 01/009

 

 

Antes uma no dedo

que mil delas

causando sobressaltos

musicados por belos saltos.

LA 01/009

 

 

O Maneco?

Sempre nos ombros do muro.

Nunca foi disto nem daquilo,

mas aprecia jogar tijolos

na cabeça dos que estão

tanto de um lado como de outro.

LA 01/009

 

 

Tudo o que não entendemos

é o que mais nos atrai.

Ainda bem,

pior se fosse o contrário.

LA 01/009

 

 

Um tiro pela culatra.

Marginalizaram tanto o professor,

que a educação

ficou doente de cama.

Os professores

(do fundamental e médio)

eram tratados

(filosófica, psicológica,

política e socialmente

com a astúcia de quem implanta

as ruínas

de uma profecia autorrealizadora) —

eram tratados como incompetentes

por finórios treinados para isso —

para fazê-los se crer merecedores

de salários aviltantes

e se tornarem babás da sociedade,

com muita gente doente,

arrogante e induzida:

usada (entre tantas coisas)

para descer-lhes o pau,

fazer-lhes sentirem-se indignos

e pô-los contra a parede —

chamar-lhes de caretinhas despreparados,

malformados,

matadores de aula...

E assim foi, assim se cumpriu,

a profecia se autorrealizou:

cumpriu-se o talante e a vontade

dos manipuladores do sistema,

cujos mandantes eram (naqueles dias

e em sua maioria)

homens e mulheres ali chegados

pela política,

por conchavos, influências

e interesses puramente egóticos —

carreiristas-carreiristas-carreiristas

vigilantemente militantes.

Tais indivíduos, os gulatras,

tornavam (tornam) a escola

o que Foucault já havia dito

sobre as Instituições Totais

(a escola, o hospital, o presídio...

lembra?).

Dá só uma olhada:

a nossa educação no mundo

está lá atrás, bem lá atrás, atrás, atrás, atrás, atrás, atrás, atr... at... a...

 

Pois é, seus finórios,

a sua profecia autorrealizadora

tem se cumprido.

LA 01/009

 

 

Professores,

a sua profissão não é um ‘sacerdócio’,

é trabalho árduo e difícil,

trabalho muito duro —

precisa ser bem pago,

sem piadas psicológicas,

sem promessas amanhecidas

nem chantagens —

precisa ser bem pago.

Sim: requer cabeça-equilíbrio-e-fôlego —

conhecimento-atualização sem fim.

Professores, o seu trabalho

precisa ser bem pago.

Bem pago e reconhecido.

LA 01/009

 

 

O entendimento de lado

das coisas

é o que chamo de intuição —

sabedoria íntima:

uma espécie de ponte magnética

com outros degraus da Vida.

LA 01/009

 

 

Foi Beber A Ternura...

 

Foi beber a ternura dos teus olhos

e já meu coração trançou as pernas —

subiu aos céus e cavalgou escolhos,

cantou, dançou nas praças e tabernas.

 

Foi príncipe e bufão entre os refolhos

do teu corpo por horas mais que eternas

em que o tempo mugia a comer molhos

de feno em tuas mãos cruéis e ternas.

 

E declamou às pedras e aos espinhos

poemas que desfiava de si mesmo

e sabia voar com os passarinhos...

 

E se pintou de branco e carmesim,

dançou como tiziu lá no seu esmo...

E fez rir muito mais que um arlequim.

LA 01/009

 

 

A Loucura Dos Sãos...

 

A loucura dos sãos é preocupante,

muito mais que a dos loucos de verdade,

já que aquela ainda traz o tal desplante

de ter o charme da genialidade.

 

Aquela é muito mais contagiante

e buscada por toda a humanidade —

a arte, o crime, o belo, o hilariante:

tudo o que nos agrade ou desagrade.

 

Aquela tem um dom mais que instigante —

o salto para mais: mais claridade

que dê sentido ao nosso escuro instante.

 

A loucura dos sãos é a realidade

sobreposta ao real... e desgastante —

algo como a mentira da verdade.

LA 01/009

 

 

Quantas vezes naufraguei

tentando cruzar o cabo de sonhar-te

Só me restava um pedaço de madeira

que me levava até a praia onde não estavas

E assim fui destruindo as minhas naus

na tentativa de dobrar o cabo de sonhar-te

Foi então que me lembrei de trocar o nome

de Cabo Do Amor Perdido

para Cabo Do Amor Encontrado

E na próxima vez que naufraguei

mandaste-me tuas sereias e ninfas

levarem-me a nado para o teu castelo

em cuja cama da princesa, a tua,

me adulavam até a hora da sesta

E me vinhas generosa e feliz da vida

com uma bela corbelha

de cheirosas jabuticabas,

jabuticabas

de uma pele negra, lustrosa e fina

que eu ia degustando grato

e eternamente devagar

LA 01/009

 

 

A convicção

é como a fé —

antevisão.

LA 01/009

 

 

Magia é o Demiurgo

dar corpo de realidade

ao sonho

que Ele vê lá em nosso íntimo

depositado em Suas mãos —

nossa vontade-ousar

inseminados

em Seu querer.

Assim é que nascem

as belas obras.

LA 01/009

 

 

Negar a existência de Deus

é negar a si mesmo três vezes.

LA 01/009

 

 

Aprendamos uns com os outros

sem fazer de ninguém nosso modelo.

Contenhamos sempre a tempo

a tentação de ensinar.

Não nos levemos tão a sério,

até porque é dentre o humor e o riso

que podemos extrair

a seriedade que acrescenta.

LA 01/009

 

 

Empreguemos bem nosso riso.

Vamos precisar muito dele,

inclusive

em nossa própria terapia.

LA 01/009

 

 

Eta vidinha jurássica!

Sempre entre o rastejo e o voo.

LA 01/009

 

 

— Eta-pau! Mas é boa demais!

Boa demais, eta-ferro!

— Quem é que é boa aí, Leônidas?!

Era a mulher do Meia-efe,

um cara desse tamanhinho,

que sai da roda de amigos e explica:

É a goiaba, Zulmira, a goiaba

que Zé Pedro me deu

e acabei dinguli.

— Ah, bão, Leo, ah, bão!

Agora vem lavá a ropa

e arrumá a cuzinha!

LA 01/009

 

 

Domingo, depois das duas,

o amor pratica jiu-jítsu

até a tarde fazer beicinho.

LA 01/009

 

 

Marli?

Um pêssego

entre róseo e amarelo —

com aquela pilosidade...

quase invisível

a olho nu.

LA 01/009

 

 

Os que se têm por chiques,

vão se decepcionar.

E a maior decepção

é aquela que se tem

em relação a si próprio.

Sim, este será o galardão

dos mamíferos de luxo —

verem-se nos primeiros degrauzinhos.

LA 01/009

 

 

O coração humano

é belamente enganoso

como um shopping esplêndido.

Sonhos gerando sonhos

sonhando ressonhados

acasalando-se em transonhos —

belos, sempre belos,

maravilhosamente belos,

tão belos quanto falsos.

LA 01/009

 

 

Se o cara diz que vai subir pra cima,

temos um pleonasmo.

Se diz que vai subir pra baixo,

temos um patonasmo,

isto é, um caso patológico

ou de quem esteja vendo as coisas

por um sistema de sifão romano.

LA 01/009

 

 

Por vezes falar bobagem

arranca-nos do fluxo

de pensamentos maus.

Por isso é que São Pelustro

vezenquando dizia:

Cará!.. Cará!!... Cará!!!...

em meio aos muitos discípulos

que pela entonação

e seu cenho muito franzido

percebiam não se tratar

de um mero e simples legume.

LA 01/009

 

 

A Todos Os Bípedes Implumes

 

Bombas contendo urânio,

fósforo branco

e outros pistaches que nem sabemos —

sejam proibidas!

Não porque sejam incômodas às pessoas,

mas por fazerem mal à natureza.

As pessoas desaparecem

e o mundo nem nota (não é mesmo?),

mas a natureza

fica a nos dar o troco,

não é mesmo?

Por isso apelamos ao eu-logístico das pessoas:

Nada de danificar nosso Ninho voador, sim?

Nada de danificar nosso Ecos

enquanto se deliciam

em se matar uns aos outros,

sim?

LA 01/009

 

 

Aprendi que os homens não acreditam

que o que eles plantam

isto mesmo têm de comer e deglutir —

metabolizar em corpo e inconsciência.

LA 01/009

 

 

Se você não dá linha ao amor,

ele não sobe, não voa,

não bebe o vinho azul

na taça de fogo das manhãs,

não explode em vida em si mesmo,

não respira o que quer —

e morre.

E você fica sem o que jamais teve.

Por outra,

se você lhe dá a linha

de um coração confiante,

o amor então sobe e voa e bebe os delírios azuis

no cristal incendiado do ouro em chamas

que já lhe queima a linha... e veja:

agora é alma de vento leve solto livre

em sobe-e-desce longe, sempre mais longe

entre desejos que tentam alcançá-lo

e uma ágil mão

que há de querer ligá-lo a uma linha

e tê-lo para ela-dela

tal como você tentou fazer.

LA 01/009

 

 

Por estreitos sempre dantes,

rosas semidesfolhadas,

amoras já sugadas —

que fazer, senão buscar

por um não-saber zen?

Fingir-me barco por tais estreitos,

brisa e vento por tais rosas

e pássaro de amoras passas?

Em minha ex-adolescência,

que pedaço de mar já não foi singrado?

Que pétala restou intata?

Que amora não foi bicada?

Que fazer

senão recompor pelo sonho

o que me foi roubado?

E dar graças à vida

por saborear

o já saboreado,

isto é, o que me foi deixado?

Por mar, rosas e amoras

sempre dantes,

eis-me novo Ulisses

empreendendo o nostos

para a sua Ítaca.

LA 01/009

 

 

De Musa Para Amante...

 

De musa para amante, minha Nina,

é o que vai da garrafa para o vinho.

Uma é o brilho da taça cristalina,

a outra é o vinho e a ressaca, com carinho.

 

Uma é o sonho na concha nacarina

contado pela voz azul-marinho...

A outra é tango dançado na Argentina

e o fim de festa: a luz e seu espinho.

 

Uma é brisa acenando em cada palma —

delícias de não ser... chiliques d’alma,

fogo da arte, dom do imaginar...

 

A outra, o sonho feito realidade

com o vivê-lo farto e com vontade

e já: velhas cobranças a chegar.

LA 01/009

 

 

Se ela chegou e lhe disse que tem outro,

você já sabia que chegaria esse dia —

sabia de soslaio, ou bem de frente,

de frente lá no fundo de você —

bem de frente: sem mais nem de repente.

E agora?

Agora é chorar e cantar como puder —

chorar porque perder um afeto dói.

Cantar porque o canto é a força dos que sofrem.

Não fomos ensinados a perder,

por isso os olhos vazios

fazem-nos doer em alma-coração —

doer até termos vergonha de nós,

muita vergonha por não concordar com a vida

que viver é um perder-ganhar,

um ganhar-perder —

assombrações de um ontem e de um amanhã

que teimamos em não trocar pelo hoje-agora da existência

com medo talvez de não caber no hoje

o que chamamos de felicidade.

Se ela se foi (ou ele),

o próximo alguém será no mínimo

bem mais interessante —

pelo fato de vocês ainda não se conhecerem

e portanto serem um sonho bem bonito

e louco, louquinho por viver.

Agora é tudo mais belo,

porque sonho-fé

no anjo

que moverá as águas

do tanque de Siloé.

O homem sonha,

Deus escreve a peça,

a vida representa.

Saber ousar não se ensina —

aprende-se quebrando a cara.

LA 02/009

 

 

As pedras têm a cabeça dura,

mas algumas são bonitas.

LA 02/009

 

 

O apaixonado André

um dia deu à sua então Marilda

um anelzinho gracioso

com uma pedra verde,

não bem da cor dos olhos de Esmeralda

(que eram castanhos e espertos)

com quem quase se casou

não tivesse conhecido Marta

que depois de sete meses

lhe apresentou Marli

de cuja irmã (depois de um ano)

se apaixonou eternamente

até lhe ver a prima Maria

(depois de um ano e meio)

com quem vidradamente namorou

e como um doido amou amou amou...

Até que o noivo dela, o Bob,

(depois de um ano e três meses)

veio lá dos States

e casou (cartório e igreja)

e foram para o Texas

onde ele tinha uma fazenda chique

só de touros reprodutores.

Nesse meio tempo, veio vizinhar com ele

(com nosso André)

Horácio, seu primo irmão do peito

(gente de casa),

recém-chegado da Espanha e casado

com uma andaluza bem mais velha que ele —

um tipo tórrido,

mulher esguia cujas sandálias lhe cantavam

sob as pernas dançarinas

a lhe ondular as saias de granada...

..................................................................

 

Só um momento, por favor,

já volto —

estão batendo lá fora

e chamando por mim.

LA 02/009

 

 

Faça a sua poesia,

a sua.

Examine tudo o que se fez

e não se fez sobre Ela —

e faça a sua.

O poeta precisa ser-se.

Escreva principalmente

para você —

pra dilatar os odres da consciência:

atilar a aparelhagem

de ser-navegador

no multiverso cósmico da vida.

LA 01/009

 

 

Os homens,

inteligentes ou imbecis,

adoram ensinar —

principalmente o que não sabem.

É que quem ensina,

ensina sobretudo

o que gostaria de saber.

LA 01/009

 

 

Sabe o que é duro?

A ternura das pedras

que se fingem de coração.

LA 02/009

 

 

Não vai me dar um beijo,

nem nada ou coisa alguma

de alguma coisa?!

Se eu tivesse um durômetro,

mediria seu coração.

LA 02/009

 

 

Se deixas o amigo entrar,

vais ter problema.

Quem te disse que os amigos

são para se levar pra casa?!

LA 01/009

 

 

Quem ousa

leva o passo

para outro degrau,

ou para uma base ao lado

e, natural,

perca o equilíbrio

(por décimos de segundo)

ao mudar o seu passo

para o insólito...

Quem ousa quer-se outro

num sonho-mais.

Sem ousar não se cresce,

não se transcende a si e ao mundo.

Mas nem por isso ousar

é aventurar-se.

Sempre que se ousa

põe-se em perigo a si

e a outros.

O ousar não deve ter excessos —

não deve ser demais afoito

nem covarde.

É um verbo sem imperativo.

Mandar alguém ousar

é o maior descaramento,

a não ser que se pudesse

oferecer a própria cara

por parachoque.

Cada um deve saber a hora,

onde e o porquê de ousar.

LA 01/009

 

 

Águias De Plástico

 

Na Europa explode a empáfia.

Lê-se nas laterais dos ônibus

da Espanha:

“Provavelmente, Deus não existe.

Viva e goze a vida.”

Tal onda ateísta-hedonista não dimana

de uma ou outra mente solitária,

mas de associações de ateus,

de grêmios publicitários

de ressentidos e frustrados

numa investida contra o divino.

Não fosse hilário,

seria trágico:

tragicamente imbecil.

Sem o sentimento do Sagrado,

certos departamentos da consciência

ficam como que fechados,

“desabitados” —

o ser como um todo se prejudica:

não dispõe daquele vinho

que lhe dilata os odres do entendimento:

a rosa mística é pisada,

o mistério é debochado

e o intercâmbio entre humano e Verbo

não se dá —

não há como ser visitado

pela Sabedoria

ou pelo Espírito de Deus.

.....................................................................

Na literatura de hoje (e de há pouco)

uma meninada de cabeça branca

e cara morta de tédio

também brincam de odiar a Deus —

reafirmam a cada dez linhas

(em balbucios manhosos)

a absoluta Falta de Sentido:

aquele absurdismo de Camus,

que só via uma saída para o homem —

jogar-se pela janela.

A vida? Um amontoado de protoplasma

sem nexo, sentido ou finalidade.

Isto, desde eméritos de universidades

a pobres diabos com tiques e chiliques

de fazedores de arte

(alguns com pleno domínio

da técnica que exercem:

por isso aliciadores, galãs da mídia).

Vivem em feudos e clãs,

encastelados em instituições —

uma espécie de sociedade secreta,

podre de narcisismo:

algo assim... como

Sociedade dos Vates Vivos

(parodiando aquele belo filme).

Os que não vão pelos seus passos

não serão reconhecidos.

Cegos de ressentimentos

guiando cegos de ressentimentos.

Lembram aqueles fariseus —

“... não entram nem deixam entrar.”

Claro que tais bípedes sedutores

têm o direito de balbopensar,

isto é, de se julgarem livres pensadores

(presos à gagueira do seu pensar:

do seu balbopensar).

O que não lhes dá  (ou “daria”) o direito

de vomitar em mananciais

aonde vão se abeberar

centenas de milhares de adolescentes

e adultescentes —

suas aliciadas crias,

incautas presas.

Empáfia,

empáfia pífia e podre.

Só têm a oferecer

a sujeira que lhes engordura

os sentidos que não veem

senão falta de sentido

com uma única saída —

jogar-se pela janela.

LA 02/009

 

 

Os momentos

em forma de asa

passam ruflando, ruflando

em direção ao passado, a maioria,

e uns poucos deles, bem poucos,

ousando tecer seus ninhos

nos beirais do futuro

que tem como fundo

uma bela canção... ouvida

gostosamente em alma...

canção apenas ouvida

pela intuição.

LA 01/009

 

 

As tempestades nos fortalecem.

O que não pode nos matar

nos retempera —

está certo o bigode

do filósofo.

Os enganos nos dão astúcia

e as mentiras nos incitam

a buscar a verdade.

A traição

nos leva a procurar pessoas dignas.

A fraqueza nos ensina

a ousar com prudência —

e assim nos superamos:

não para a vingança,

mas para a miseridórdia.

LA 02/009

 

 

Não gostamos da realidade,

preferimo-la superada —

sonhada maior e melhor:

moldada pela cultura

e remoldada pelo transcender-se da arte.

A realidade é banal,

preferimos o irreal imaginativo —

o insólito ressonhado

de um pensamento a ultrapassar-se.

O real é o pó,

o irreal é o fluido —

ambos dão nova

e versátil argamassa:

uma transrealidade

a transmudar-se no âmago

da mente.

LA 02/009

 

 

Trabalhemos, Construamos...

 

Trabalhemos, construamos nossa choça,

que além de nosso mundo é bem-estar.

O mais seja o que a vida nos esboça —

ensinemos as dores a cantar.

 

E cocemos os mimos, nina-moça,

que amanhã não se tem o que coçar.

A gente frua tudo quanto possa

enquanto muda a vida, o chão e o ar.

 

Amigos? Sim: só os que são amigos.

Assim, bem menos riscos e perigos.

Longe dos santos quanto dos ateus.

 

Aprendamos a dar longas risadas,

e ponhamos a vida e outras nonadas

no lugar certo, isto é, na mão de Deus.

LA 02/009

 

 

Relacionar-se a dois é tão difícil,

que faz por merecer aquele prêmio

chamado sexo.

LA 02/009

 

 

Há pedras que fingem pulsar.

LA 02/009

 

 

As amizades

quanto mais estreitas

mais tendem a acabar.

É que para continuar crescendo

cada um tem de tomar

seu singular caminho

interior.

LA 02/009

 

 

Sim, a amizade acaba

quando se torna biodesagradável.

LA 02/009

 

 

A beleza de tudo ter um fim

está no próprio fato

de tudo ter um fim.

LA 02/009

 

 

O efêmero nos seduz

porque o temos como prazer

que sabemos estar por acabar.

LA 02/009

 

 

Entre a rosa e os espinhos

nossas mãos se deliciam

em ir colhendo a vida.

LA 02/009

 

 

Passamos para as rosas a beleza

do nosso medo de morrer.

02/009

 

 

Entre o amor, a rosa e nosso medo

a vida passa cantando,

ora de dor,

ora de contentamento.

A vida canta

porque sabe que a morte

será vencida pelo amor.

LA 02/009

 

 

Entre porcos e diamantes

existe sempre algo que encobre

e dá liga: a lama.

LA 02/009

 

 

Uma pessoa é sempre muito diferente de outra,

ainda bem!

Somos iguais apenas nas desigualdades.

LA 02/009

 

 

A vida não é um jogo.

Não é acasos acasalando acasos,

mas um processo de auto-e-panconsciência.

LA 02/009

 

 

Entre os homens estão degraus,

principalmente degraus interiores.

LA 02/009

 

 

Há momentos em que só nos resta

exercermos o direito

de ser idiotas.

Quando chegar tal hora,

não tenhamos escrúpulos —

sejamos requintados idiotas.

LA 02/009

 

 

No jogo há o jogo

e dentro dele

as jogadas —

que decidem o jogo.

A vida é o jogo,

o viver, as jogadas.

Jogadas?

Jogadas e por jogar.

LA 02/009

 

 

Cá entre nós:

que se vão os anéis,

que se vão os sapatos,

o Rolex (falso) —

mas nos restem as mumunhas,

as manhas,

os mimos da amada.

LA 02/009

 

 

Coisas Da Vida

 

Lembro-me sempre

(era menino de tudo):

numa noite de chuva e muito vento,

ele (o noivo) chegou bem mais tarde

e esquisito,

pela primeira vez eu o vi assim...

Disse que precisava da presença de todos...

e olhando para minha tia

(ele numa cadeira,

ela ao lado, no sofá),

olhando para a minha tia,

falou-lhe calmo, terrivelmente calmo:

Eu sinto muito, fulana, eu sinto muito

mas já não sinto nada por você... eu...

Houve um silêncio interior geral gelado...

Só minha avó fez uma frase interrogativa,

num tom suave, manso, sem força nem esperança:

Você precisou de oito anos, meu filho,

para sentir que não sentia nada

por minha filha?!

Ele foi se esgueirando

ensaboado

com palavras flexíveis e gentis...

Nunca mais o vimos.

Minha tia casou-se logo,

era moça bonita: um pedaço.

Casou-se com o filho do seu Paulo,

funcionário da Mogiana, bom vizinho,

viúvo havia muito, havia sempre...

Casou-se com seu filho mais velho,

moço elegante, alegre, professor...

e foram dar aulas os dois

bem longe, longe, lindamente longe.

Sim, lindamente longe.

Quando chegavam as cartas bonitas de minha tia

eu as saboreava como fossem barras de chocolate

(e pedia fossem lidas outra e outra vez) —

a distância misturada com as idéias que eu fazia

ia dando às palavras aquele sabor mágico das lonjuras...

LA 02/009

 

 

Marilda sabia temperar a carne.

Sabia pô-la em marinada,

deixá-la curar nos condimentos

de finas especiarias

a esticar a fome...

Aí, quando o apetite queimava,

ela levava o material ao fogo

até a degustação,

e satisfação total.

LA 02/009

 

 

Por dúvida das vias,

veja bem aonde põe os pés

ou as rodas.

LA 02/009

 

 

Se acreditas no te-amo-você-me-ama,

já és um bípede semidepenado.

Para amar amar amar...

não precisas crer,

só amar amar amar...

LA 02/009

 

 

Crer, só em Deus?

Depende do Deus.

LA 02/009

 

 

Mas Deus não é um só?

Um só entre muitos.

LA 02/009

 

 

Quem é Deus?

Se eu soubesse,

já não seria eu,

mas Ele.

LA 02/009

 

 

Quem espera

sempre se cansa.

Quem não espera

nem o cansaço alcança.

LA 02/009

 

 

As guerras vêm e vão

para não ser em vão

guerrear.

Já o amor vai e vem

pra mostrar que seu bem

é amar amar amar

LA 01/009

 

 

Se o amor não vai bem das pernas,

dá-lhe uma cadeira de rodas —

das simples, tu o empurras;

das motorizadas, ele te foge.

Escolhe o que for melhor.

LA 02/009

 

 

Os que se veem raramente

têm a doce impressão

de serem bons amigos.

LA 02/009

 

 

Em termos de amizade,

a distância

mantém as coisas no lugar.

LA 02/009

 

 

Uma saudade de Teresa

tirando a roupa

e olhando-se no espelho...

Tirando a roupa bem devagarinho

como se estivesse sozinha.

Teresa sabia,

ah, se sabia!

LA 02/009

 

 

A beleza das coisas

é dizermos que elas são belas

até acreditarmos

no que outros acreditaram —
talvez para afirmarmos,

como eles, que a vida vale as penas

do seu voo.

LA 02/009

 

 

Felizes dos que viram antes!...

Não precisaram de um depois sem esperança.

LA 02/009

 

 

Toda vez que não fomos felizes

será que realmente desejávamos

tê-lo sido?

LA 02/009

 

 

Não ser feliz

tem suas compensações —

vive-se eternamente

buscando sê-lo.

E nesse buscar ousado

pode-se até dizer

que se é, que se é feliz

ao menos em querer sê-lo.

LA 03/009

 

 

Aos adversários se vence

insuflando-lhes a dúvida

sobre o que pensam de nós.

LA 02/009

 

 

Uma visita

tumultua as águas

do nosso lago —

física e metafisicamente.

LA 02/009

 

 

Não ter conhecido muita gente

não me fez falta —

já que não as conheci.

LA 02/009

 

 

Fale bem dos seus inimigos

até levarem a seus ouvidos

que você fala bem deles.

Logo você verá

que até eles

precisam de cafuné.

LA 02/009

 

 

Se não acredita

na mentira dos outros,

como é que arranjará amigos?

LA 02/009

 

 

Se exiges que cada amigo

o seja de verdade,

que vais fazer com tanta?

LA 02/009

 

 

As crianças adoram palhaços,

amam os arlequins —

gostam da vida como ela é.

LA 02/009

 

 

Seriedade é bom.

Quem gostaria de ver um coveiro

feliz da vida?

LA 02/009

 

 

Claro! Adequação,

proporção, na hora certa,

faz bem e conserva o emprego.

LA 02/009

 

 

Esperar quem não vem

põe espinhos na espera.

Desejar ser amado

é sentir um vazio

com a saudade do que gostaria

que tivesse sido.

A fé de que isso é possível

vai moldando no sonho

as mãos do provável.

Se a mente persiste

a crisálida ganha asas.

LA 02/009

 

 

Quem poderia garantir

que o que sonhaste, e não foi,

seria bom ou ruim,

caso fosse?

LA 02/009

 

 

Muitas vezes

choramos o que pensamos ter perdido

sem nunca tê-lo nosso.

LA 02/009

 

 

Se pudéssemos nos desamarrar

do passado ressentido,

certamente daríamos rumo e alento

às nossas possibilidades de hoje.

LA 02/009

 

 

A indecisão não cria —

amarra.

Torna-se fé sem obras.

LA 02/009

 

 

A mente canalizada

para um propósito e fim

faz toda a diferença.

LA 02/009

 

 

O viver disciplinado

lembra o discípulo-ourives

a receber das mãos da vida

o ouro do entendimento

e a transformá-lo em raras joias.

LA 02/009

 

 

Vida-vento-barco-vela,

se navego, vou a ela,

se fico, ela está comigo.

LA 02/009

 

 

Em geral um comboio descarrila

depois de ter forçado rodas, trilhos e estruturas

por muitos anos e vezes.

O maquinista atual tem tanta culpa

quanto o primeiro.

LA 02/009

 

 

As tais frases “bonitas”

são as que dizem aquilo

que queremos ouvir.

LA 02/009

 

 

Meu pensamento é mais que barco,

meu sentimento é mais que vela —

não preciso de passagem

cada vez que quero vê-la.

LA 02/009

 

 

Se esperas só um pouco,

nem precisas te matar.

E enquanto esperas

inventa um pouco de alegria —
faz teu viver dançar, cantar...

e morre, sim, mas de prazer,

morre de amor.

LA 01/009

 

 

Melhor que uma mulher?

Só nenhuma.

Nenhuma em sua casa

e muitas pela vida —

todas loucas por repartirem-se,

doarem-se copiosamente.

LA 01/009

 

 

Os homens estão podres,

mas as sementes se aproveitam.

LA 02/009

 

 

Você mora aqui?

Estou só de passagem.

E mora onde?

Estou só de passagem.

LA 02/009

 

 

Todos querem o céu,

mas não querem morrer.

LA 02/009

 

 

Berlim. O filme

“La Teta Asustada” leva

o Urso de Ouro em festival.

Mas não foi só o ouro

(disse Marilda,

fazendo assim... com as mãos)

que La Teta levou...

aliás, foi pelo que levou

que lhe adveio o ouro.

Aí o pai a interrompe:

Conheces, Marilda, o mito andino

sobre “o susto”?

— Não, meu herói.

— Então cuidado com as batatas!

LA 01/009

 

 

Não estamos de passagem —

estamos nos construindo.

LA 02/009

 

 

Se a pedra que rolaste até o cimo da montanha

caiu,

deixa-a lá embaixo,

que é lugar dela,

e vira, vira logo a página,

e já não estarás

entre a montanha e o vale.

LA 02/009

 

 

O estado místico

é, para mim,

esse sentir que Deus nos é,

e poder vê-Lo

e caminhar com Ele

em nossas sensações —

que é já estar em Casa:

em Sua-nossa Casa.

Sentir Sua presença,

esse queimor no sangue,

é desfrutar do gozo

de ser: ser-Nele-por-Ele-com-Ele —

viver no Seu amor

e vê-Lo em nosso amá-Lo.

LA 02/009

 

 

Sim, Deus é espírito e verdade

e o nosso coração é o templo

onde podemos adorá-Lo —

sempre em espírito e verdade.

De modo algum estamos sós

em nossa caminhada —

há sempre um caminho

dentro do caminho:

um caminhar por dentro,

um caminho-caminhante.

LA 02/009

 

 

Não é de hoje

que metemos os pés num caminho

que vai se transformando no que somos.

LA 02/009

 

 

Fazemos sexo porque fazer sexo é bom,

como foi bom para aqueles

que nos presentearam seus genes.

Para o homem, basta a mulher ser bonita.

Para ela, também é isso com algo mais

que lhe é ditado pelo prístino

instinto de segurança.

A arte é o velho modo, sempre em pauta,

de encontrar reconhecimento

e atrair o sexo oposto.

Macho e fêmea se gratificam

de modo bem diferente —

para ele, o prêmio basta.

Para ela, o prêmio deve ser suplementado

por gestuais encomiásticos —

flores, passeios, presentes,

poesias e reafirmações do amor.

E, claro, por mais outras coisas

que a gente com o tempo

adivinha ou não.

LA 02/009

 

 

É nas crises que se conhece

o potencial criativo

dos Estados

e dos seres humanos que os compõem.

Se a crise é mundial,

o emergente (que se preparou

em silêncio)

poderá surpreender.

No que toca ao indivíduo,

a crise serve de termômetro

de sua força de vontade

e de inventividade.

LA 02/009

 

 

Os que se julgam sábios

cometem um engano antigo:

sabedoria

não é brinquedo de tolos.

LA 02/009

 

 

Os homens de boa vontade

são os que constroem

para a alegria e para a paz —

os que buscam o que é bom para si

sem prejudicar o outro.

Amam a Deus, a si e ao outro.

São mansos e altruístas —

vivem e ajudam a viver.

Leves, sabem e ensinam a canção

que ajuda na travessia.

LA 02/009

 

 

Sessenta anos após as bombas,

e os “zoinhos” já refizeram tudo.

Tudo de derrubar o queixo.

Isso é que é dar a volta por cima!

Não há como não lembrar

aquela Fênix

renascida das próprias cinzas.

Se o amor humano

fosse ao menos do tamanho

de sua vontade ressentida,

por certo a convivência humana

teria hoje o mesmo brilho mágico

dessas duas cidades japonesas.

Beleza pura.

Pena que o que um homem ergue,

não demora,

vem outro homem e derruba.

Mas mesmo assim sempre vale

a sua força de vontade

(principalmente a ressentida).

LA 02/009

 

 

Não, pão de pobre não cai

com a manteiga para baixo —

porque não tem manteiga.

E sorte dele —

essa musse amarela

não é coisa saudável.

LA 02/009

 

 

Quando ela via o vizinho,

quase caía de susto.

E foram sustos e mais sustos,

até que um dia

o marido não aguenta:

Por que se assusta, Marilda,

sempre que vê o Francisco?!

— Eu!?... Nada não, meu bem, é que ele,

ele me lembra meu finado avô...

— Mas você não me disse...

— Sim, ele morreu moço,

só o vi em fotografias...

Ele era,

era de matar de amores,

dizia minha avó.

— Matava tanto, que morreu, Marilda?

— Sim, benzinho: morreu baleado.

Ah! Ele era irresistível,

palavras de minha avó.

LA 02/009

 

 

Ele vivia o que aprendeu a viver,

embora os adversários

lhe detestassem a vivência.

LA02/009

 

 

A filosofia

virou teologia,

a dialética da fé —

que se foi diluindo,

diluindo

até

homeopatizar-se —

pela manipulação.

LA 02/009

 

 

Agostinho é tão platônico,

que Platão diria que Agostinho

teria sido seu melhor aluno

e o encarregado de publicar (mais tarde)

o resumo do que escreveu —

transfusemas teofilosóficos.

LA 02/009

 

 

A igreja nascente procura amamentar

o Cristianismo despontante

com a fé-ciência-razão

buscada e parafraseada

dentro da filosofia grega —

tal filosofia,

dialetizada e sincretizada,

servirá de travamento

(desde cedo e cada vez mais incrementado)

da doutrina cristã.

Suas vigas mestras lhe são colunas

de um tempo virtual

a preservar o seu núcleo

(que ela-Igreja pretende intocável)

enquanto fortalece as estruturas continentes

com Aristóteles (readmitido) a partir do século 12

e de Platão desde sempre incorporado.

A filosofia buscada nos pagãos

criou estruturas e respostas

para todo o seu corpo doutrinário.

Agostinho, antes doidivanas,

encontra sua fé

(e se converte)

num livro de filosofia (Hortensius)

escrito por um tal Cícero...

Sim, se converte,

se refugia numa quinta

( escreve e estuda dia e noite),

até que aos 33 anos se faz batizar por Ambrósio.

Dali a poucos anos

era ordenado padre,

depois de mais um pouco

era bispo de Hipona.

E quando os vândalos fazem ruir o Império Romano,

ele tem na mão sua pródiga pena

donde saíra o melhor da Patrística

e o mais sólido da Escolástica.

Platão e Aristóteles

são os pais ideológicos do ocidente

e a carne da sopa do oriente.

LA 02/009

 

 

O homem adora ensinar

o que não sabe —

é que vê lá consigo

que precisa aprender.

LA 03/009

 

 

O maior bem

é termos por companheiro

de viagem-aprendizagem

e crescimento-entendimento

o Espírito de Deus.

LA 03/009

 

 

Os genocidas,

os ditadores,

os assassinos,

os torturadores,

os predadores do corpo

e da alma

têm uma terrível dívida

com toda a Humanidade.

LA 03/009

 

 

Se a água que tens na tua mente

é sagrada,

então entra no Ganges —

serás curado.

LA 03/009

 

 

Se lá na tua fé

não há grilhões —

então és livre.

LA 03/009

 

 

Cala para o amigo

e para o inimigo —

não deixes que ninguém pise

o território do teu coração.

LA 03/009

 

 

Saber,

ousar

e calar

formam um tripé antigo —

desprezado pelos tolos.

LA 03/009

 

 

Sim: há mais coisas entre o céu e a terra

do que o próprio céu e a terra.

LA 03/009

 

 

Lê tudo o que puderes,

passa pelo crivo,

pelo tamis do teu entendimento.

Um multiler, panler —

leituras, releituras, transleituras

e vai agregando ao teu acervo:

agregando e reciclando

em remoalhos de remoalhos

metabolicamente reprocessados

pelo tempo e a memória —

até que tudo,

tudo vá se transformando

na tua própria alma:

teu ser em ser-se.

LA 03/009

 

 

As pedras nos olham com uma cara

de quem sabe mil e mil coisas

mas que não adiantaria nos contar.

LA 03/009

 

 

As pedras sabem que por dentro

também somos de pedra.

E nos saúdam sem que percebamos:

Olá, irmãos do avesso, olá!

LA 03/009

 

 

No fundo, no fundo sabemos

que as pedras são menos duras

que a dureza que lhes atribuímos.

Aliás, não são bobas,

sabem que a dureza que vemos nelas

serve para nos justificarmos.

LA 03/009

 

 

Excelência,

também queremos

Cartão Corporativo

para a nossa tapioca,

jantarezinhos românticos

e (ninguém é de ferro)

para as nossas esticadinhas

até (agora o roteiro é este)

os principados árabes.

Dubai é mesmo divino,

bem que Vossa Excelência nos falou.

LA 03/009

 

 

Se der certo,

está certo.

Se der errado,

está certo.

Sim, as nossas incertezas

são paridas de certezas

que certamente

pensamos estarem certas.

Onde não cabe a dúvida

também não cabe o certo.

Onde não caberia o ódio

não cabe o amor.

A rosa sem espinho

só é mais uma flor.

LA 03/009

 

 

O vento abraçou tão forte o jasmineiro,

que arrancou seus lencinhos

perfumados e brancos

e os levou a outras árvores mocinhas

dizendo-lhes que os trouxera

da primavera

do outro lado do sonho.

LA 03/009

 

 

Água de morro abaixo,

fogo de morro acima...

se a mulher quer viajar,

seu moço, não a reprima.

LA 03/009

 

 

Ah, que vontade, nega,

de conjugar com você

o verbo amar

até bem madrugadinha!

LA 03/009

 

 

Marilda?

Matou um do coração

e mais de cem do bolso.

LA 03/009

 

 

Sim, vale bem mais que as penas

quando quem dança é a mulata.

LA 03/009

 

 

Castanha em chapa quente

pede outras mãos que a tirem.

LA 03/009

 

 

Entre as pedras

não ficará uma erva

que se preze.

LA 03/009

 

As pernas de Marilda tanto que correram

que chegaram bem antes do seu corpo

e se atiraram nos braços do garotão

ali na praia.

Ele as deixou sobre a toalha

sob o guardassol

e foi surfar.

Dali a muitas horas

um turista cor de pimenta

explica ao garotão:

Olha, eu fiquei com a parte de cima

e a dona mandou pegar o resto...

Posso levar?

— Claro! E leve-lhe isto, sim?

Era algo enrolado numa toalha,

duro como uma pedra

e com a forma (tateável) trivial

conhecida de todos.

LA 03/009

 

 

Uma vagina inteligente

conserva a casa,

sim: toda a casa

de pé.

LA 03/009

 

 

Para podermos ver

temos que subir nos ombros

que se nos oferecem.

LA 03/009

 

 

Gosto do penates

e de suas penas.

LA 03/009

 

 

Gosto de Rosa

e de todas as suas pétalas.

LA 03/009

 

 

Gosto do vinho

e de suas risadas,

belas nonadas.

LA 03/009

 

 

Também acho mais bela

a mulher do vizinho,

mas só isso.

LA 03/009

 

 

Se houvesse o nada

ia ser bem melhor que tudo —

exatamente por ser nada.

LA 03/009

 

 

Você, Marilda,

faz lembrar uma banana

amarela e pintadinha

no auge de ser comida.

Mas sossegue —

se a banana amanhã está passada,

você só vai estar melhor.

LA 03/009

 

 

Belas, gostosas praias!

Delícias gaias

sem blusas

nem saias.

LA 03/009

 

 

Que prenda, chê!

Parece um pêssego do avesso.

Com uma fruta dessa

você tem sucos no verão

e geléias no outono-inverno.

LA 03/009

 

 

Em cena uma diva dessa,

a gente não vê praia,

não vê mar...

A cabeça tilintada

de coruscantes martelinhos —

só pensa no verbo amar.

LA 03/009

 

 

Modéstia à parte,

todas as nossas praias

são lindonas:

risonhas faces

fofozudas.

LA 03/009

 

 

Saúde e felicidade

demandam contínuo movimento —

movimento por fora e por dentro,

como uma viagem dentro de outra viagem.

LA 03/009

 

 

Um pouco de felicidade

é necessário e bom.

Muita não: atrapalha —

a busca é bem melhor que a coisa,

posto que a coisa achada

já não é que outra coisa

de quando era sonhada —

achar é vermos que não era

senão enquanto achávamos que era.

É entre buscar e achar

que nós mudamos

e, mudando,

somos outros num mundo

que também já é outro.

LA 03/009

 

 

Nenhuma idade

nem perspicácia

ou saber algum nos basta

para lidar

com as mumunhas do amor.

LA 03/009

 

 

O amor

são nossos belos enganos,

nossos chiliques e fricotes

de mistura com os pistaches

de nossos narcisismos

e ridículos.

Mas tudo isso é bom,

sim, bom demais —

e o quanto temos.

LA 03/009

 

 

O arlequim e seus ridículos,

o amor e suas maiêuticas.

A tradução dos mistérios

depende das hermenêuticas.

Se Platão disse nonada,

também disse o que santos

foram buscar (noite cerrada)

com a cara deslavada

e tradução ajeitada.

LA 03/009

 

 

Senhor Proust, modéstia à parte,

também já vivi à sombra

das raparigas em flor.

LA 03/009

 

 

Laurinha era um bem-me-quer.

Desfolhei-a, desfolhei-a toda —

até encontrar a mulher.

LA 03/009

 

 

O amor se foi?

Pois dê graças a Deus.

De que outra forma poderias

arranjar outro e ver

que este de agora é bem melhor?

LA 03/009

 

 

Nosso mal é pensar que pensamos

e não sabemos pensar

nem as nossas feridas.

LA 03/009

 

 

Mariana era bela

como um poema zen —

vaziamente bela.

LA 0/009

 

 

Ela era crocante,

crocante como um biscoito.

Só que o marido

preferia brioches...

que nem aqueles

de Maria Antonieta.

Claro que lhe guilhotinaram

o que um homem mais preza.

LA 03/009

 

 

Um dia lhe disseram

que ela havia recasado.

Ele então se enforcou...

e no outro dia contou o sonho

ao analista

que lhe responde:

Não foi sonho não, André,

eu e Marilda nos casamos.

LA 03/009

 

 

Viva O Tempo!

 

Quando ela era moça

voava por sobre cercas,

grades e muros.

André, o maridão,

olhava o seu relógio de bolso...

e sorria.

E quantas vezes não afagou

com os olhos e dedos

seu precioso relógio

de bolso

e sorriu

num silêncio dourado!

Sim, quantas vezes. Até que um dia

ela cessou seus vôos. O próprio telefone

emudeceu, emudeceu, emudeceu

até perder a voz de vez.

Daí por diante

sempre que o relógio da sala

(era um belo casarão)

dava as suas horas

alegremente sonoras,

ele tirava do bolso

seu Ômega de ouro maciço

e sorria com ele na concha da mão

a ouvir-lhe o fino tinir entre rubis...

Era um olhar luminoso

e um sorriso transparente —

pareciam amar e agradecer

carinhosamente o tempo,

o tempo que fazia tudo o mais

ser esquecido com uma alegria

que tilintava e dançava em sua mente

como as peças em constante harmonia

no universo confidente

do amigo cúmplice e fiel —

seu precioso relógio de bolso.

E sempre que taças tiniam cristalinas

num efusivo brinde

ele pensava:

Que viva o tempo

e, dentro dele, a espera calculada.

LA 03/009

 

 

Bons tempos aqueles.

A filha da vizinha

(todo domingo às quatro e meia)

tomava banho com a mangueira

no quintal —

só de calcinha

(que no meio do ritual

ela abaixava para ensaboar...).

Os meninos enfiávamos os olhos

pelos desvãos do muro

e viajávamos por montes e vales,

por montes e vales,

por montes...

sempre com a mão muito ocupada.

LA 03/009

 

 

O beijo de Rosinha

tinha gosto de goiaba,

sem as sementes, claro.

LA 03/009

 

 

Osvaldinho era tão alto

que era comum Laurinha namorar

sentada no pilar do portãozinho.

LA 03/009

 

 

O Largo da Boa Morte era enorme.

O Alemão, filho do médico do Posto,

tinha uma Baratinha pé de bode tão bonita

que toda mocinha queria dar uma volta.

De vez em quando ele dava uns trocados pro Juca,

que era bom no estilingue,

pra quebrar (antes do anoitecer)

a lâmpada do poste em frente da casa da Rita.

Aí os dois namoravam invisíveis

dentro da Barata bordô,

sempre impecavelmente brilhando,

coruscando

com as rodas de raias niqueladas

e pneus faixa branca.

LA 03/009

 

 

... e o pensamento passou,

passou sozinho —

sim, não pude alcançá-lo

com outro e outro:

perdi-o para sempre —

não haverá o poema.

Nunca mais pensarei

outro tal como ele —

viajando sozinho,

desgarrado dos seus afins.

LA 03/009

 

 

A melhor droga

é vivermos sem ela.

É sabermos inventar

(ou provar)

aquele gozo em buscar

as delícias do intelecto —

o sentimento-razão

de passar pelos sentidos

outras gamas de saboreá-los —

a beleza de não se precisar

mais que da graça de viver

para crescer

rumo a outros em nós

e outros fora de nós —

numa interdependência

vital

que galvaniza os homens

e as coisas.

LA 03/009

 

 

Não, senhor, Deus não morreu,

foram os homens,

muitos homens que morreram

no que Ele lhes era.

Sim, tais homens já não deixam

que Deus os seja.

O problema vai ser quando o homem

já não tiver amigos,

nem forças,

nem ninguém a seu lado.

Quem lhe há de ser o mestre e amigo

naqueles dias em que já não sabe?

Quem lhe irá falar

no silêncio de sua alma?

Em que braço vai segurar

e que voz vai ouvir

que lhe alegre

e aqueça o coração

naqueles dias frios e sozinhos?

Finalmente, quem irá junto com ele

naquela viagem em que os que nos amam

não podem nos acompanhar?

Não, não acreditem que Deuspai morreu —

são os sonhos dos homens

que já não sabem sonhá-Lo,

por isso se esqueceram de que Ele os é

à espera de que eles O sejam.

LA 03/009

 

 

Ser homem

é bem mais que ser macho —

envolve mil e mil coisas mais,

principalmente ser humano.

O mesmo vale

para a expressão ser mulher.

LA 03/009

 

 

Escrevo

para pôr ordem na casa —

reorganizar-me,

sim, colocar as coisas

em seus muitos lugares.

Muitos?

Sim, sempre que mudamos,

as coisas já demandam

outros lugares lá em nós.

Desconstrução-reconstrução —

isto mesmo: renascemos

de nossos próprios escombros:

de nós outra vez caos

a recriar nosso cosmos.

Escrevo

para saber o que não sei

por fora de mim consciente —

o inconsciente só sabe

quando quebra a casca do sonho

e sente o sopro da vida

para então poder voar

com as penas que a vida impinge

depois de nos depenar.

Escrevo

para continuar vivendo —

escrevivendo.

LA 03/009

 

 

Quando o bilionário expirou,

desligaram os aparelhos

que o mantinham ofegando.

Tão-logo tiravam as borrachas sondas

cateteres

agulhas ataduras gazas esparadrapos

viram que seus despojos lentamente

se transformavam em notas e moedas

sujas e ensebadas, de todas as fases de sua vida

e das partes mais ricas do mundo:

moedas e notas (coisa estranha!)

em visível putrefação.

De sorte que seus filhos (todos banqueiros)

puseram tal húmus monetário

num saco plástico,

meteram-no num esquife (lacrado)

e, velando-o rapidamente,

enfiaram-no num jazigo,

sem palavras, sem olhos embaçados.

E voltaram correndo para seus postos

porque tinham aprendido

com os enfermos tiranos do mundo

que tempo,

tempo é dinheiro.

LA 03/009

 

 

Passarão dias e noites,

mas meus gozos de amá-la,

esses serão comigo.

Sua lembrança em mim

é como o caroço entranhado

na doce carne do pêssego.

Extraí do seu corpo

os tesouros do efêmero.

E assim vinguei-me da morte:

antes que ela viesse,

morri de amores.

LA 03/009

 

 

Tudo o que carregamos

em alma-coração —

isto é nosso:

seja bom, seja mau —

isto é nosso.

A nossa volta para casa

será mais longa

ou menos longa

a depender do que levamos

em alma-coração.

LA 03/009

 

 

O rio é em nós.

São águas escuras e profundas

que temos de atravessar.

Se os bolsos do desejo

vão cheios do ouro da ambição,

como iremos transpor as nossas águas?

Para nos livrarmos da correnteza

precisamos aprender a ser leves —

alijarmo-nos de nós

e do mundo.

LA 03/009

 

 

A Vida É Graça...

 

A vida é graça sem alternativa.

Uma vez dada, vai restar vivê-la.

E qualquer que te seja a bela estrela,

só a verás de longe e sempre esquiva.

 

Sopraram-te no barro com saliva —

ao menos a metáfora é singela.

E, aí, começa-te a medonha e bela

saga no mar do tempo que te ativa.

 

... mas tens o amor e o humor na caminhada.

Ambos podem tornar a tua estrada

nas delícias da infância em tobogãs.

 

Vai devagar! Sim: vê se não te cansas.

Até porque as nossas esperanças

são amanhãs manchados de amanhãs.

LA 03/009

 

 

Fim de verão vai se imbricando

com o início do outono —

duas jarras

a misturar seu conteúdo.

O épico

vai dando entrada

para o lírico —

a Cavalgada das Valquírias

vai se perdendo no desfiladeiro...

e entre ramos e folhas

já se ouve a Berceuse

de Brahms.

Apesar de tratada por algozes,

a natureza ainda é pontual.

LA 03/009

 

 

Amy tanto canta

como espanta.

E é pelo espanto

que encanta.

Amy é louca,

loucamente

interessante.

Amy é um caso

dela

para com ela.

Amy n’est pas son amie,

c’est-à-dire —

n’est pas amie de soi-même.

Est-ce qu’elle est francaise?

Oh, no! Sh’is english.

LA 03/009

 

 

Por que a senhora me deixou

ir à escola descalço,

tão malvestido e sujo?

Por que não me amparou

quando mais precisei?

Por que me entregava ao algoz

que por pouco não me matava

fazendo vazar meu sangue

e meu mijo me molhar as pernas?

Por que a senhora deixou o algoz

me arrancar da escola

e me levar criança de tudo

para o trabalho forçado?

LA 03/009

 

 

Quando você se suplanta

e mostra o de que é capaz

criando obras de talento,

então seus inimigos são outros:

os de intelecto insuficiente

e perfidamente invejosos.

Despreze-os sem se esquecer deles —

tenha-os no rabo do olho,

senão destroem você.

Mas não os persiga

nem lhes faça mal algum —

eles cairão por si mesmos.

LA 03/009

 

 

Ama a Deus, a você e ao outro.

A vida é muito preciosa

para usurarmos o amor.

LA 03/009

 

 

Se não gostas do que vês,

estás no caminho certo.

E mãos à obra junto com aqueles

que também não gostam do que veem.

LA 03/009

 

 

Sem o sentimento da verdade

e a procura da beleza,

o homem é muito pequeno.

LA 03/009

 

 

Se você coleciona doenças,

falarão de sua pessoa

encarecidamente

e até com simpatia.

Se coleciona êxitos,

tentarão enterrá-lo com pazadas

e pazadas de silêncio.

LA 03/009

 

 

O fraco é aquele que apanha

cansado de bater.

LA 03/009

 

 

Querer que nos compreendam

é uma baita de uma noia. Muito egoísmo,

e um dos estrepes do relacionamento.

Respeitar e julgar-se respeitado,

amar e julgar-se amado —

já não é bastante, chê?

LA 03/009

 

 

Deuspai ao criar o homem Se exaltou ao máximo,

por saber talvez que o homem

já nasceria com inveja Dele

e a querer dia e noite

passar-Lhe a perna

e fazer-Lhe pirraças.

LA 03/009

 

 

A melhor maneira

de se entender uma mulher

é usar o sétimo sentido.

LA 03/009

 

 

Acabar com uma amizade

é mais fácil que começá-la?

Não sei não. Já vi amizades

acabadas

sobrevivendo no puro ódio.

LA 03/009

 

 

A arte é útil

quando você está bem.

Bem inútil

quando estamos sem fulcro

em nós mesmos.

LA 0/009

 

 

A verdade e a mentira das coisas

somos nós.

O tempo existe para nós

e não o contrário disso.

Existe como conduto

essencializador da vida.

O tempo torna o ser plástico:

ontoviajável

por multiversos de si mesmo.

Perceber-se e perceber as coisas

é expandir-se dentro e fora

em registros reprocessados

e interligados ao que sabemos

e ao que estamos a caminho

de saber.

LA 03/009

 

 

O melhor da arte

é subirmos degraus por nós mesmos —

pondo luz nos esconsos

do nosso antigo castelo.

Quem a faz lucra,

quem a manuseia, igualmente:

lá no fundo precisamos

das mesmas coisas

para nos realizarmos

nas nossas diferenças.

LA 03/009

 

 

Sexo e cheque

precisam de fundos.

LA 03/009

 

 

A insatisfação,

a não-conformação

são os tesouros dolorosos

da alma.

LA 03/009

 

 

Morrer por uma coisa é uma pena,

mas se você insiste...

posso até ir ao enterro.

LA 03/009

 

 

Morrer é chato,

sempre muito chato.

Mas, pensando bem,

não fazemos outra coisa —

morremos a vida inteira.

LA 03/009

 

 

Progredir é gostar de enganar-se —

é tentar fugir de algo mais essencial.

Progredir só é necessário

para não se ser atropelado,

mas só isso.

Quando não acertamos

os passos interiores com os de fora,

estamos nos enganando.

LA 03/009

 

 

Para os outros

nossas tragédias

são comédias.

LA 03/009

 

 

Querem-nos coerentes

para nos pear,

nos dirigir

como a seus cães.

LA 03/009

 

 

Querem-nos francos,

sinceros,

para colher-nos os pensamentos

como num confessionário —

para usar nossa pessoa

contra a nossa pessoa.

LA 03/009

 

 

O paradoxo mostra que os opostos

se explicam

e se resolvem em um novo conceito.

LA 03/009

 

 

Os pobres só não são ricos

porque os ricos não deixam.

Os primeiros são arrogantes,

os segundos invejosos

e esses dois vivem igualmente

de se explorar.

Os miseráveis sobrevivem

das ridículas migalhas

desses dois.

Já a elite os teleguia

a todos eles.

LA 03/009

 

 

Fale bem dos seus inimigos,

eles ficarão embaraçados,

não saberão o que fazer.

Mesmo assim não os poupe —

fale sempre bem deles.

LA 03/009

 

 

Experiências

é o nome que damos

às nossas cabeçadas,

ao nosso quebrar a cara.

Dizem que elas ajudam,

mas eu preferia

não me machucar tanto.

Tenho muito que aprender

e uma só cara.

LA 03/009

 

 

Não ver as coisas como elas são,

de duas uma —

ou você é um louco

ou um artista.

LA 03/009

 

 

A estupidez,

a tristeza,

a falta de apetite

deviam ser pecado.

LA 03/009

 

 

Não é o são,

mas o enfermo

que precisa do amor

que geralmente não há.

LA 03/009

 

 

Sim, as mulheres são esfinges —

ou as deciframos

ou nos matam de prazer

de não nos dar prazer.

LA 03/009

 

 

Os homens são terríveis.

Sim, tão terríveis que inventaram a sociedade —

esse comerem-se uns aos outros.

LA 03/009

 

 

A melhor maneira de nos vingarmos da morte

seria sermos felizes.

LA 03/009

 

 

Sim, ser feliz, não raro,

dá um trabalho danado.

E a maioria prefere

não fazer nada.

LA 03/009

 

 

Em geral a beleza

não é sadia,

mas mesmo assim adoramos

seu narcisismo.

Sua loucura trivial.

LA 03/009

 

 

Agradeça a Deus quando não responde

às suas preces.

É que em vez da resposta

Ele decidiu

livrá-lo de bobagens.

LA 03/009

 

 

Ouvir música é bom —

arranca-nos de nós

e leva-nos para onde ela quer:

tornamo-nos seus reféns,

isto é, reféns do passado

que ela desenterra.

LA 03/009

 

 

O maior erro é vermos

as coisas muito de perto.

LA 03/009

 

 

A soberba acumula,

já a dor despe

as máscaras.

LA 03/009

 

 

A fraqueza ou a força de uma pessoa

tem base no seu passado.

LA o3/009

 

 

O objetivo de viver

é vermo-nos,

é percebermo-nos de dentro

para fora,

de fora

para dentro.

Quem se vê

vê o outro,

vê o tempo e o que há fora dele:

o espaço.

LA 03/009

 

 

Sim, temos uma tarefa com nós mesmos,

que é acompanharmos no tempo

nosso desenvolvimento e crescimento

e nos tornarmos criadores

de situações benéficas e favoráveis

a nós, à vida em nós

e à nossa volta.

LA 03/009

 

 

Sou a única pessoa no mundo

com quem me assento

e posso despir todas as máscaras

sem que isso me faça mal

ou me destrua.

LA 0/009

 

 

Perder amigos é bem normal —

principalmente quando se cuida com disciplina

do próprio crescimento.

LA 03/009

 

 

Quem é o homem, que hoje está

e amanhã já não existe?

Entre a vida e a morte

só podemos viver

enquanto a vida nos é dom e graça.

O mais... que sabemos do mais?

Neste momento a grande atriz

(ceifada tão de repente)

vai precisar de outras luzes

que não apenas as da Broadway.

LA 03/009

 

 

Sem a ilusão

o violino teria menos uma corda.

LA 03/009

 

 

Simples ou complexa,

a vida é o que é:

dom e graça.

LA 03/009

 

 

“Sinceridade”, “sinceramente”

são hoje imagens de cera

no museu do cinismo humano.

LA 03/009

 

 

As pancadas vindas de fora

nos ferem, doem bastante,

mas a gente as vai curando,     

curando

até que outras novas

as fazem esquecidas.

O diabo são aqueles machucados

vindos de nossas próprias mãos...

Ah, esses doem demais!

LA 03/009

 

 

Você já teve aqueles amigos sérios e adultos,

tipos que sentam virados para você

e falam mirando nos seus olhos?

Pois até isso eu já tive!

LA 03/009

 

 

“Te juro!”

“Siceramente...”

“Francamente...”

“Pela saúde de meus filhos!”

Pela alma da minha mãe!”

Frases assim a experiência

nos faz chamá-las

de arcaísmos morais.

LA 03/009

 

 

Aquele que deixou de ser medíocre

vai perder muitos amigos.

LA 03/009

 

 

O engano, a desilusão

são hóspedes assíduos

do amor.

LA 03/009

 

 

Há músicas que fritam bolinhos

na cozinha do nosso passado.

LA 03/009

 

 

Citar idéias é fácil,

o duro é pô-las em prática

ou transformá-las em obra.

Por isso muitos nos dizem:

“Tenho tantas idéias tão bonitas!”...

julgando que não as temos.

LA 03/009

 

 

Fui deixando aqueles amigos

que me alugavam para ouvir

suas genialidades

e jamais admitiriam

que o que diziam

eram copiosas bobagens.

LA 03/009

 

 

O melhor desta vida

não nos vem por esforços hercúleos,

mas pela graça —

dons que alegram o coração

e nos remoçam as esperanças.

LA 03/009

 

 

Hoje se sabe que o mundo

se equilibra

sobre um vender-comprar,

comprar-vender —

e nada, nada mais.

Cabe a cada um desconfiar

que a vida é muito mais

do que a sociedade

nem se importa de saber.

LA 03/009

 

 

O mentiroso é sempre fascinante,

sempre eloquente,

explica e sabe tudo,

sempre doutor em transparência,

de tal sorte que aquilo que nós vimos

não era aquilo que nós vimos,

mas outra coisa que não a coisa

daquilo que imaginamos

ser a verdade da mentira...

E o mundo o adora e aplaude —

pedra de canto

da sociedade.

LA 03/009

 

 

A maioria dos homens

hominizam o diabo,

deixam o pobre possesso

de hominidades —

e fazem horrores

em nome dele.

LA 03/009

 

 

Perdoar ao inimigo

é fazer-lhe o maior dos desaforos.

LA 03/009

 

 

Quem hoje se envergonha de seus velhos ridículos

não está fazendo outra coisa

senão ridicularizar-se.

LA 03/009

 

 

Nossos ridículos nos enriquecem —

passam-nos e repassam-nos

pelo filtro da consciência,

pelo crivo do nosso entendimento —

fazem-nos ver com lentes de aumento.

LA 0/009

 

 

Tive uma bela vizinha

que se casou com um fantasma.

Pouco depois da lua de mel

ele desapareceu.

LA 03/009

 

 

A política é a arte

de saber vender imagens —

arquétipos que respondam

aos sonhos e esperanças

de um povo

nas premências do seu tempo:

no exato momento

em que verdade e mentira

se fazem desinteressar.

LA 03/009

 

 

Ninguém domina mais as mulheres

que as próprias mulheres.

LA 03/009

 

 

Sem mistério, meu caro:

você é

o que pensa,

o que sente,

o que sonha,

o que espera

no que faz —

isto é você,

não há como negar-se

para você.

LA 04/009

 

 

A miserabilidade

nunca teve argumento.

E o que não tem argumento

segue igual —

não muda e, não mudando,

não acaba.

LA 03/009

 

 

Uma doença

mais antiga que a lepra

(e pior que ela

porque não se vê com os olhos)

é o narcisismo.

É doença nefasta,

doença de lesa-humanidade.

É a doença do “eu mereço”,

“não tenho culpa”,

“não há pecado”,

“faria tudo de novo”,

“acabo com você”,

“só me arrependo do que não fiz”,

e por aí vai —

tripudiando na vida

e no mundo.

LA 03/009

 

 

A morte não sei o que é.

A vida também não sei.

Mas entre as duas sinto

o eterno da poesia.

Se a morte é coisa da vida,

deve ter seu lado bom.

O mistério (para mim)

são as delícias de não saber.

LA 03/009

 

 

A morte é um jeito

que, aliás, a vida encontrou

pra ser chata em outra parte —

lá onde ninguém sabe

nem viu

nenhum tigre que rugiu

nem os pulinhos

do tiziu.

LA 03/009

 

 

A morte é dose forte.

O bom é não tomar,

isto é, poder adiar.

LA 03/009

 

 

A morte é tão boçal,

que a gente se envergonha —

fica sem graça.

LA 03/009

 

 

Não, não pulo o teu muro.

Quero te amar,

e não mifur!

LA 03/009

 

 

Laura é divina, perfeit...

Isto é, seria perfeita

não fosse o seu excesso

de caráter.

LA 03/009

 

 

Era ocultista —

namorava a vizinha

em projeção astral.

LA 03/009

 

 

O amor tem essas coisas...

essas doces coisas.

Que se cuidem os diabéticos!

LA 03/009

 

 

O charme do amor

é ele ligar mais para o dinheiro

que para si.

LA 03/009

 

 

O amor, como as crianças, —

adora se molhar.

LA 03/009

 

 

Sim, o amor é cego,

mas só do terceiro olho.

LA 0/009

 

 

Não... o terceiro olho

não fica aí embaixo,

mas entre as duas sobrancelhas —

um poucochinho acima,

palavra de gurus.

LA 03/009

 

 

Depender de um guru

é ser fantoche

de não se conhecer.

LA 0/009

 

 

A necessidade da bênção

é do tamanho

do medo da maldição.

LA 0/009

 

 

Não, você não precisa de um guru

para saber

“seu grau de iluminação”,

“a grandeza da sua estrela”,

“seu lugar cósmico na vida”...

Apenas volte atrás três dias

e de lá ao seu momento-agora,

lembre o que pensou, sentiu, falou,

viu, ouviu, imaginou,

comeu, bebeu e fez —

tudo o que fez, e deixou de fazer,

isto é você.

LA 03/009

 

 

Em papinha de homem e mulher

só Maria da Penha

bota a colher.

LA 03/009

 

 

Ensinaram-me que a culpa

é da culpa que a inculpa —

portanto: de ninguém tal culpa

senão da culpada culpa

que, se pedir desculpa,

torna-se inculpe culpa

e evapora-se não-culpa.

LA 03/009

 

 

Ensinaram-me que o erro

foi um treino do acerto —

portanto: equívoco do certo

que chamaram de erro

não tendo outro nome decerto

para justificar que o erro

não foi nem erro por certo.

LA 03/009

 

 

Ensinaram-me que a verdade

é o avesso da mentira

que, pensando ser verdade,

se gaba por ser mentira —

sendo a mentira na verdade

uma verdade de mentira,

é que a mentira é uma verdade.

LA 03/009

 

 

Ensinaram-me que o amor

é tão um só com o ódio,

que em geral vira odiento amor

e o amor amoroso ódio —

de sorte que o belo amor

é um lindo poema de ódio

que se traduz por amor.

LA 03/009

 

 

Ensinaram-me que a vida

é concubina da morte

que, tendo inveja da vida,

prepara-lhe negra sorte —

pois que amarga ou doce a vida,

por existir a morte,

é sensato sorrir pra vida.

LA 03/009

 

 

Não, não gostei do pôster.

Esta pose de semidesmaio

é muito século-XIX.

Prefiro a femineza viva:

aquela emanação-mulher

com olhos e sorriso sem vergonha.

LA 03/009

 

 

Nossos olhares se cruzaram no ar

e foi aquela gala

de beija-flores.

LA 03/009

 

 

O maior bem do amor

é podermos esquecê-lo.

LA 0/009

 

 

O mais belo do amor

é não precisar nem sê-lo.

LA 03/009

 

 

As loucuras do amor

são mais gostosas de lembrar

do que fazer.

LA 03/009

 

 

Se não investimos no amor,

como depois lembrar-lhe

o charme, as delícias

e as desfalcadas poupanças?

LA 03/009

 

 

Mesmo não tendo dado certo

o amor é a coisa mais certa

dentre as nossas incertezas.

LA 03/009

 

 

Misture as lembranças más

com as boas

e faça dar um saldo positivo.

LA 03/009

 

 

Exija pouco da vida,

que não gosta dos fracos

nem dos tais delicados,

e aprenda, cara, aprenda a ser feliz

mesmo na desventura.

LA 03/009

 

 

Melhor é adaptar-se

do que decaptar-se

pelo machado do mundo

ou pela guilhotina

da vida.

LA 03/009

 

 

Os amores que inventamos

são logo desinventados

pelo relacionamento.

LA 03/009

 

 

Mas que é que se vai fazer

por esses sertões de Deus

senão amar amar amar

até dar calo no desejo?

LA 03/009

 

 

De fodapse em fodapse

HIV vai dando os seus pulinhos.

Manha, esperteza e charme.

Vai poder!

Sim, cientistas afirmam

que o vírus da aids

faz como as sinapses neuroniais

para saltar de uma célula

imunológica

a outra.

E assim esse espertinho

se espalha por todo o corpo.

Conclusão:

o safado é mesmo pulador.

LA 27/03/009

 

 

Chuvas

 

Saudade, nega,

uma saudade-vontade

daquelas chuvas

e dos bolinhos com café fresquinho

nas tardes saborosamente longas

de jamais te esquecer.

Saudade, nega,

uma saudade-falta

do fumegar daqueles sonhos

entre amor, café, bolinhos

e a nossa facilidade

de fazer, fazer, fazer

chover.

Lá fora o vento,

o vento que gemia

entre os ramos despojados

Outono-inverno bocejavam

seu frio e brumas pelo ar...

Aqui dentro: amor, bolinhos,

café ou vinho

entre almofadas

e asas de fogo ou almas,

almas que sobem e desaparecem

subindo da lareira...

E a beleza, minha nega,

a beleza sem tempo ou pressa

de podermos fazer fazer

fazer

chover.

LA 03/009

 

 

Malas Prontas

 

Vou-me embora pra Dubai,

lá me disfarço de rei...

et cetera e mulheres mais

mulheres e gostosamente mais

mulheres: das formais

às mais triviais,

das bem sentimentais,

das racionais —

aquelas entre siderais

e terrenais:

mulheres e mulheres mais

mulheres bem universais

ou bem tribais,

doidonas e normais,

sempre atuais, mulheres mais

mulheres: sempre mais

porque jamais iguais.

LA 03/009

 

 

Sonhei que tua piscina tinha secado,

virado pó como um rio do agreste.

E me alegrei, não sei por que me alegrei.

Depois já não era piscina o que secara,

mas algo sem forma interior em mim —

sim, era em mim que secaram as águas

que se conformavam em todos os teus contornos.

Sem maré cheia

como chegar ao teu castelo?

LA 03/009

 

 

Devastação

 

Devastação geral.

Não querem ver vegetal de pé.

Orla de mares,

margens de rios, riachos, regos,

tudo passa pela fúria em derrubada

dos gulatras.

De geração em geração —

da pedra ao machado,

do fogo ao veneno,

da serra às bombas,

aos mísseis nucluares:

devastação geral.

Quem os segurará?

Uma raivosa síndrome

das derrubadas.

Até o púbis humano,

faz tempo,

entrou em derrubada ciliar.

Parecem mais é minhocas,

regos d’água —

deslavados, desenxabidos

em aridez nua e crua,

minhocando/lesmando

num deserto...

Na mulher só restou

(quando restou)

uma ilheta de comprido,

logo acima

do sorriso vertical.

Ficou com a cara escanhoada

como soldado

recém-chegado da guerra.

Devastação geral.

LA 03/009

 

 

Haiti

 

Arrasado pela guerra,

pelas chuvas,  pela lama,

furacões, doenças

e a perene miséria,

o Haiti tem sobre a sua cabeça

uma nuvem negra, espesso-felpuda.

Sua gente por muito tempo

sofre tais sombras, tais horrores.

Sua terra sofreu

a mão de ferro do mundo,

a ladra opressão dos donos.

Esta desventurada terra,

a mais pobre do continente,

praticou

e pratica a magia negra —

o vodu,

feitiçarias das pesadas

em pactos medonhos.

Foi o modo que encontraram

de resistir (passivamente)

aos donos: ódio com trevas vivas.

(E só sairá desse caos

pelo oposto do que praticou.)

Este país lembra bem

aquele adágio latino —

um abismo chama outro abismo:

Abissus abissum invocat.

O Haiti precisa de ajuda.

O Haiti está sendo ajudado.

LA 03/009

 

 

Quando Rosinha, lá do outro prédio,

me manda beijos,

também disparo minha ternura

e nos acasalamos no ar

numa explosão de afetos.

No caso, não usamos antimísseis,

mas pró, pró-mísseis.

LA 03/009

 

 

O que é de poetas brasileiros

ensinando a fazer poesia —

não dá nem pra computar.

O que eles fingem não saber

é que os professores de literatura

e seus críticos

nunca sabem fazê-la.

LA 03/009

 

 

Com a Internet

quem ama a poesia

(e a faz)

como processo

de autoconhecimento

já não depende dos donos —

é só dar-lhe as asas de um site.

O ideal é publicar

dois ou três livros,

distribuí-los ao redor

e o mais,

o mais é ir pondo aos olhos

do mundo inteiro

através de um caprichado site.

Bons tempos!

É o fim dos clãs,

dos feudos.

Bons tempos!

A poesia

já não precisa do papel,

é ar, é mundo, é luz —

entra e sai pelas retinas

e vive a um clique de nós.

LA 04/009

 

 

A literatura,

sendo um processo,

não dá para ensinar a fazê-la.

É um processo autófago:

quando você vai ver,

já não está, — comeu-se.

E ela não se congela no tempo,

jamais se congela —

o leitor a atualiza

a seu modo e a seu tempo.

LA 03/009

 

 

É como a busca do novo,

quando você o consegue

ele já não o é.

LA 03/009

 

 

Sim, as coisas não duram —

ou se devoram ou mudam

em e por si mesmas.

LA 0/009

 

 

O melhor que fazemos

é não saber das coisas.

Sim, não sabê-las

para poder intuí-las

por um saber de lado —

o que vê por outras gamas

e constrói

por mãos interiores.

LA 03/009

 

 

Como você acaba de ver,

ensinar

é a maior das tentações.

Ninguém escapa.

LA 03/009

 

 

O melhor de nossos tempos

é existir a Internet.

Pelo nosso site

todos sabem quem somos

e fazemos

ou pensamos ser

e fazer.

Literalmente,

virtualmente —

outros tempos:

triunfo dos que amam escrever,

mas se recusam

a bajular.

LA 03/009

 

 

Queensboro.

Passarás por ela várias vezes,

mas nunca te encontrarás no outro lado.

É apenas uma ponte por fora de nós —

só leva a lugar nenhum,

embora já faz cem anos

nos concede travessias.

Temos de construir a ponte

do nosso ultrapassarmo-nos,

assim nos veremos outros

tão-logo nos transpomos.

Queensboro está cansada.

Também nós estamos cansados

de atravessarmos pontes

sem irmos nunca além de nós.

LA 03/009

 

 

Moda

 

A moda pegou nos States.

Mais um gajo faz chacina.

Hoje, num asilo de idosos:

doentes do mal de Alzheimer.

Sim, a moda pegou.

Um narcisismo que extrapola.

Mesmo como assassino hediondo,

o indivíduo quer refletir-se,

quer desesperadamente aparecer.

Doença pura,

doença humanofóbica,

psicoegolatria:

pessoal e social.

Esta foi a terceira chacina

na terra de Luther King

neste mês de março.

Apenas relato.

Não julgue que penso dessa gente

isto ou aquilo, apenas vejo

um modo diferente de matar.

Cada povo com os seus modos loucuras,

os nossos não são menos perversos.

Sim, o homem é o homem

onde quer que seja.

LA 29/03/009

 

 

Conhecimento e autoconhecimento

devem ser busca assídua do dia-a-dia

ao lado de outras mil e mil necessidades.

LA 03/009

 

 

Não precisas descobrir algo por que morrer,

mas saber por que viver.

LA 03/009

 

 

Sempre tirei um tempo

para fazer o que mais gosto —

ler-escrever.

E jamais negligenciei minha profissão

pela arte. Dava a cada uma

o que é de cada uma.

Não fui fantoche de nenhuma delas.

LA 03/009

 

 

Em geral construímos o cenário

de nossos dias —

o da ribalta e o do poscênio.

LA 0/009

 

 

Não saberemos nunca o que dói mais —

se a calúnia dos inimigos

ou o silêncio dos amigos.

LA 03/009

 

 

Quem nos dias maus não se desespera

nem se faz arrogante na prosperidade

alcançou o equilíbrio.

LA 03/009

 

 

Não se levar muito a sério

é um modo de não despencar

no narcisismo tolo.

LA 03/009

 

 

Se não podemos fazer o melhor,

pelo menos o que fazemos

deve ser feito

com um sentimento de verdade.

LA 03/009

 

 

Não duvidemos, nunca duvidemos

que um amanhã vem vindo aí

diferente de todos os amanhãs

porque trazendo sonhos

gerados num futuro transonhado.

LA 03/009

 

 

Se não puder ser feliz,

invente um modo de sê-lo

e viva-o como se fosse

a sua verdade.

LA 03/009

 

 

Os inventivos, pequenos e anônimos,

não raramente, beneficiam a maioria.

LA 03/009

 

 

Odiar é enfraquecer-se,

além de se fazer do tamanho

do inimigo.

Neutralizar a ofensa

pelo perdão

é livrar-se dela

e do ódio nela imanente.

LA 03/009

 

 

O que eu tinha,

o que eu tinha nas mãos...

um tanto me vazou por entre os dedos,

outro punhado me roubaram

e muita coisa a ferrugem comeu.

Mas meus melhores amigos

e companheiros de jornada:

o amor, a fé, a esperança —

estes meu coração soube guardar.

Guardei também (aliás, mais que guardei:

assimilei em alma-coração)

as palavras do Galileu,

o Cuspido e Pregado,

de modo que eternamente em mim

eu-as-sou-elas-me-são —

num só corpo, num só espírito.

Sim, não reclamo,

gozo de boa companhia.

LA 03/009

 

 

Aquela cela especial para bacanas

está para acabar.

Se passar mesmo a lei

vai ficar bem difícil

pro cara salvaguardar o “seu”.

Claro: isso não valerá

para a elite.

LA 03/009

 

 

André dizia

que as mulheres que não existem

são as que mais adoramos.

LA 03/009

 

 

Velho Tipo

 

André casou nove vezes

e foi baleado

por dezesseis trabucos.

Felizmente, dizia sua mãe,

só pegava de raspão,

quando pegava.

André era do tipo sonso,

calmo, sorriso fácil,

jovial,

sempre afagando com os olhos...

Podre de rico (desde os tataravós),

fazia o estilo vagabundo,

largadão.

Na média e velha cidade

não eram poucas as mulheres

que desfaziam dele

quando estavam com o marido.

.......................................................

E assim foi, assim foi, assim...

André (para usar termos da época)

pintava, bordava e chuleava.

E assim foi, assim foi, assim...

 

Aos cinquenta e poucos,

foi para a Europa... e adivinhem!...

Entrou para sempre

na Ordem dos Franciscanos.

LA 03/009

 

 

Mais Uma Reunião

 

G-20 chegou anteontem,

pegou o rango na casa da rainha,

reuniu ontem

e hoje voltou pra casa.

Claro: quem era rico voltou rico,

quem emergente, emergente,

quem sub, sub.

Nem faltou o espetáculo

colorido dos protestos —

o pau comeu solto em Londres.

E vamos ao que importa,

espiemos, por uns segundos,

a reunião:

................................................................

????!!!!????!!!!???...............?

!!!!!??????!!!!??!!....!!!???...

.............??!!!!......????!!!!!......

......................?...........................!!!!..........?

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Risos, risos, muitos risos

....................................................................................

 

Mais uma vez

o reaprendizado:

choveram no molhado,

jogaram pó no deserto.

Mas nem por isso

menos esclarecidos,

menos convictos —

é cada um pra si

e muitas nuvens para todos.

O chefe da nação líder

fez um discurso

muito menos simpático

que seu sorriso e pessoa,

que resumo num adágio,

já que o adágio é coisa antiga:

Para a vida e a economia

não existe garantia.

LA 02/04/009

 

 

Passei lá na Daspu

e te trouxe estes paninhos.

Disseram-me que é só vesti-los

e eles se tornam visíveis.

Toma, nega, veste logo,

que tô que tô!

LA 04/009

 

 

Tinha-o como braço direito,

mas nunca soube que ele era canhoto.

LA 04/009

 

 

Velha Dança

 

O homem não soluciona,

apenas modifica.

Sim, tais modificações,

nem bem ainda feitas,

já começam a clamar

vorazmente por outras —

abismos engolindo abismos.

Mais uma vez os grandes

tropeçam na sua empáfia,

caem nas próprias armadilhas.

Fingiram que o mercado

fosse auto-regulável.

Fingiram não ouvir

o ruir por todo o mundo

da ideologia

do capital.

Dominadores,

sem a maromba,

vacilam pelo arame

que pensavam

ter armado para outros.

Os dominados —

no chão, na lama, na vala.

A sujeição das nações

e das pessoas

aos interesses das elites —

os donos,

a minoria predatória.

Desemprego,

terrorismo.

Os ricos

fazem o mundo dançar.

O mundo inteiro dança,

dança sobre o insustentável —

a mesma dança à mesma música,

o mundo inteiro dança,

dança sobre o insustentável —

só mudam os requebros

de cada povo.

LA 04/009

 

 

— Entre os chipanzés, meu bem,

ninguém é de ninguém.

— Entre os homens também.

LA 04/009

 

 

Há mulheres que ouvem cantadas

todo o santíssimo dia —

são as mulheres dos tenores.

E aquelas que jamais ouvem —

são as surdas.

LA 04/009

 

 

Melhor que comer pudim

é não sofrer de diabetes.

LA 04/009

 

 

Melhor que uma mulher

é nenhuma,

que seja a nossa.

LA 04/009

 

Uma no dedo

é melhor que mil delas

na passarela.

LA 04/009

 

 

Sério mesmo, só a morte.

O resto a gente faz rir.

LA 04/009

 

 

Meu amigo tinha uma cara

de quem amava o sofrimento —

curtia,

adorava o status de corno.

LA 04/009

 

 

Uma amiga me disse

que não fazia nunca em pé.

Sofre (perguntei) de labirintite?

Não! É que o cara

pensa que não valeu.

LA 04/009

 

 

André corrigia a canção:

Ninguém é de ninguém —

deu brecha, a gente traça.

LA 04/009

 

 

Amanhã será um outro dia.

— De quem é mesmo esta frase?

— De uma mulher muito ferida,

após perder tudo o que nunca teve.

É a frase dos infelizes,

dos orgulhosos vencidos.

LA 04/009

 

 

Os acostumados a ganhar

são aqueles a quem a Vida

olha com certo riso...

porque sabe que quando perdem

alguma coisa

se esquecem de tudo o que ganharam.

LA 04/009

 

 

A beleza da vida

são as suas incertezas —

que encarecem o momento.

LA 04/009

 

 

Se um dia eu te perder,

perco o que nunca tive.

LA 04/009

 

 

Se um dia você me trair

eu me mato de rir

por você não ter tido tempo

de tê-lo feito bem antes.

LA 04/009

 

 

Os óculos escuros

nos permitem não revelar

o que sentimos pelo morto,

além de atocaiar os vivos.

LA 04/009

 

 

Se te matas,

como vais rir do que fizeste?

LA 04/009

 

 

Não, não te mates.

Vais precisar levar

um relatório consciente

de tua estada aqui.

LA 04/009

 

 

O que somos é coisa nossa.

Sim, temos de saber o que fazer 

com o que somos.

LA 04/009

 

 

Nosso julgamento

será nossa consciência

bem dentro de si mesma

vendo-se  no cristal

de seus atos

com uma lucidez

que dói.

LA 04/009

 

 

Fez muito bem, Amy,

muito bem em tirar os trapinhos

e mostrar os coelhos pra gente.

Lamentável

foi não mostrar o resto,

Amy.

LA 04/009

 

 

Ensaios Sensuais

 

Fulana foi convidada

a posar nua,

mas o marido pagou duas vezes mais,

e ela abriu mão.

Uma vez, pela revista.

Outra vez, por não ter se mostrado.

Não demorou

surgiu outra proposta

e outra mais e mais outra e outra...

que o esposo ia cobrindo duplamente,

ia cobrindo, ia cobrindo até que...

Faliu.

Aí fulana teve que posar

para ampará-lo:

deu-lhe cinco por cento

e o botou num asilo.

Um mês depois casou

com o dono da tal revista.

LA 04/009

 

 

A Marilda?

Era doida dos dois lados —

do avesso e do direito.

O cara se apaixonava

por fora e por dentro dela.

LA 04/009

 

 

Quando o amor dói muito

o caboclo então finge

que não é nada.

Assim o amor,

que só era de uma parte,

já não dói —

porque vira desaforo.

LA 04/009

 

 

Marilda me disse

que com a língua do Gene Simmons

não precisava de mais nada.

As amigas, que a ouviram,

gritaram juntas: Aaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!...

Aaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!... Aaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!...

Aí quem gritou foi o dono da boate:

Acabaram?!?!?!...

Já que estão acabadinhas,

vão trabalhar!!!

LA 04/009

 

 

O futuro se escreve no presente,

sim: não está escrito —

somos nós que o escrevemos.

LA 04/009

 

 

Os Crievos

 

Quanto mais se desentendem

os crievos —

criacionistas e evolucionistas,

tão mais depressa verão

que não podem edificar

sobre os seus terremotos.

A falha tectônica

há de ser preenchida

com o meterial dos dois lados.

Sim, tais conteúdos sísmicos

abalarão desde os cemitérios

até os berçários da mente.

Muitos potes se quebrarão

até que a água se torne

fluente,

bem filtrada e potável.

Os copérnicos e galileus

reaparecem de tempos em tempos

para desengordurar

teorias e doutrinas

e reforçar,

reassestar as lentes

no cosmos a bailar

em seus giros e elipses

estonteantemente perfeitos,

até que outros reparos

já sejam requeridos

pela renovação

do nosso entendimento,

nessa eterna ourivesaria

a tilintar e a brilhar

em glória e graça divinas.

Só precisamos

(mais uma vez)

focar a nossa aparelhagem

(o que somos lá em nós)

mais para o centro da verdade.

E enquanto não se torne pacífico

de onde é que a água brota,

para onde ela vai

e quando é ou não potável,

vamos lendo, relendo e translendo

( e certamente aprendendo)

por entre as cataratas de loucuras,

cascatas de arrogância

que se vão despejando

da boca dos crievos.

E é claro: dando graças

por vivermos outros tempos.

LA 04/009

 

 

Infelizmente

há muitas exceções,

mas a mulher

quanto mais civilizada

tanto mais, sim: muito mais

deliciosamente sem vergonha.

LA 04/009

 

 

Assim como a beleza

depende de quem a vê,

também o amanhã jamais seria

sem o suporte do hoje.

LA 04/009

 

 

Não esperava,

mas ela veio.

Virou um barraco

minha mansão

de sonhos.

LA 04/009

 

 

Era tão bela nua

que o marido lhe queimava

dia sim, dia não

toda a roupa.

LA 04/009

 

 

Os ridículos do amor

são o que há de mais belo

no amor.

Sem eles

só haveria bocejos,

longos e insuportáveis.

LA 04/009

 

 

Tinha os olhos de quem acorda

chupando jabuticaba.

LA 04/009

 

 

Tinha um marido torto,

tão torto

que andava em elipses

que ela orbitava tranquila

com um coração de ouro

e sorriso de diamantes.

LA 04/009

 

 

Uma amiga me disse,

com um riso bem sem vergonha,

que tamanho não é documento —

daí o elefante

não ser o dono do circo.

LA 04/009

 

 

Disse-me também a tal amiga

que seu pai era demais da conta

severo

e ia explicando os motivos

de ter aberto um prostíbulo —

só para vingar-se dele.

LA 04/009

 

 

Padre Antônio dizia na missa

(e isso aborrecia os fiéis)

que o que fazemos por vingança

são antes as delícias

do que adoramos fazer —

sim, que a vingança era um pretexto

para a nossa particular saciedade.

LA 04/009

 

 

A folha que cai

lembra a que vai nascer,

logo não dói vê-la cair.

LA 04/009

 

 

Assim como as pedras

percutem a água do riacho

e a fazem cantar

em infinitos tons,

também nosso pensar

vai desfiando notas

de uma canção

que não sabíamos existir.

LA 04/009

 

 

Na geometria

de uma poesia

sem aporia

meu coração te espia

todo alegria

na mesma via

por onde ia

a tua forma esguia

que não me via...

e quando um dia

me viu, em elegia

a tarde já descia —

chora a rosa que ria.

LA 04/009

 

 

A vida é sempre cara e coroa,

por isso não deves nunca

atirar a moeda.

LA 04/009

 

 

Num sorriso

o lábio superior

é compreensão,

o inferior —

desdém.

LA04/009

 

 

Os olhos escondem a alma.

LA 04/009

 

 

A vida é uma esquina

sem nenhuma placa.

O mundo, ao contrário,

o mundo é só placas.

LA 04/009

 

 

Se o amor não existisse

as pedras o inventavam.

LA 04/009

 

 

Ainda bem que ninguém sabe

o quanto fingimos não sofrer.

LA 04/009

 

 

O prosador arma laços,

o poeta se faz de besta.

No fundo são dois bobos

falando de si mesmos

na vida dos outros.

Bobos da corte.

LA 04/009

 

 

Toda vez que tentamos

nos esconder nas palavras

elas nos dedam

pela criança em nós que recorda.

Sim, a infância é um dedo duro

por toda a nossa vida.

LA 04/009

 

 

Só podemos crescer

quando esquecemos de fazê-lo

pela via que o mundo nos oferta.

LA 04/009

 

 

Se me varres da memória

te encontro lá no avesso

de lembrar.

E haverá um duplo outro

que não sabíamos existir.

LA 04/009

 

 

Marilda era vidrada pelos gêmeos

Pedro e Paulo

do Largo da Boa Morte.

E dizia que ambos se completavam

em suas deliciosas diferenças,

a ponto de lhe serem

uma só e deslumbrante chave

de seu castelo de fantasias —

os pães e vinhos do amor.

De modo que ela os tinha como um só amante,

e eles a dividiam

sem se lembrar de divisão

nem de multiplicação,

de sorte que cada um

tinha a sua Marilda total —

tamanha a habilidade

de nossa psicóloga-amante,

que os fazia sentirem-se únicos,

cada qual o mais amado.

Sofósio (lembra-se dele?) chamava a isso

de diarreia de hormônios.

Já André (ah, quase me esquecia do André!),

André não dizia nada

apenas tentava ser o terceiro amante —

já que provara ser

o terceiro gêmeo roubado

pelo obstetra que fizera o parto

(como se diz por aí: uma longa história.).

E tinha uma cara tão honesta,

um tal jeito de bom moço,

que Marilda acreditava

em tudo o que dizia

olhando dentro dos seus olhos

enormes e gulosos.

E viveram gostosamente

cada qual com seu quinhão

e ela com seu kit três-em-um,

felizes de nem saber.

LA 04/009

 

 

Se sabes andar nas nuvens

não dês ouvido aos amigos

que não podem fazê-lo.

LA 04/009

 

 

Aquilo que recriminam em nós

é porque foge

ao que gostariam que fôssemos

para tirarem proveito.

LA 04/009

 

 

Os que te chamam de ingrato

queriam-te refém

de seu interesse e vaidade.

LA 04/009

 

 

Receber de mão amiga

significa ter que pagar

em eternas prestações.

LA 04/009

 

 

Que a mulher não deva ao homem,

se não queira lhe pagar

com a moeda do seu corpo.

Agora, se for o caso,

que invista alto.

LA 04/009

 

 

Estão dizendo aí

que o espirro é erótico —
voz da ciência.

Tomem cuidado

quando forem apresentados

a pessoas “muito simpáticas”.

LA 04/009

 

 

Murro no nariz do outro

é entretenimento.

LA 04/009

 

 

Busquem antes os desordeiros,

os traficantes

e ladrões,

só depois as prostitutas —

um policial orienta seus homens.

LA 04/009

 

 

Muito vento, pouca chuva.

Quando muita, é bom correr,

que lá vem a enxurrada.

Às vezes dizemos coisas

só para fazer barulho

no silêncio.

Escrever

é buscar a sensação

de não estar sozinho.

Se ao menos surgisse algum ET

pra repartir conosco

a sua desventura!

LA 04/009

 

 

O Sr. Evo Morales

está fazendo greve de fome.

Como muitos que já fizeram,

vai acabar mais gordo.

LA 04/009

 

 

Chove, chuva, na minhalma

e vê se apagas a lembrança dela,

dela que é bela

e alegre como a palma,

como a palma sorrindo ao vento.

Chove, chuva, e vê se apagas

meu pensamento dela,

dela que nem as ondas, nem as vagas,

nem a fúria da procela

me arrancam do sentimento

que lhe sente o gosto e o cheiro.

Chove, chuva, devagar,

que ela agora está dormindo.

Posso ouvi-la respirar

ao meu peito bem baixinho.

Chove, chuva, a musicar

o sorriso e os sonhos dela,

dela que é bela, mas tão bela

que é impossível não lembrar.

LA 04/009

 

 

Há momentos em que o tempo não anda —

quando se tem dor de dente,

quando se está inadimplente,

quando se dorme na casa da sogra,

quando o cunhado lhe diz por telefone

precisar de um favor seu,

quando a psicóloga (amiga da patroa)

diz que vem para jantar,

quando o seu amigo do peito

quer que vá ver com ele

um imóvel para alugar,

quando seu empregado o convida

para ser padrinho do casamento,

quando o irmão caçula o visita

pra lhe dizer que foi mandado embora,

quando a empregada lhe faz saber

que está sem comida, roupa de frio

e a luz para cortar...

Sim, em momentos de assalto ou de ridículo

o tempo não anda.

LA 04/009

 

 

Libertação

 

Se a dor é muita agora, e te sufoca,

não te esforces para entendê-la no momento.

Nem a esboces em tela, música ou poema.

Apenas sofre-a procurando minorá-la

desfocando-te o mais que puderes de seu centro,

de modo a não sentir autopiedade,

mas vendo as coisas com olhos de quem vê a vida,

a vida que é bela, sagrada quanto inexplicável.

Vendo as coisas como quem vê um rio,

o mais longo deles,  — o que passa sem passar,

o que não passa passando e a um tempo é passado,

presente e futuro e outros desvios nem sonhados.

O que é um, o que é vários em si mesmo,

o que segura em suas mãos de água o tempo,

esse invólucro do ser a deslocar-se por duplo espaço:

interior e exterior a buscar multiversos

de uma realidade interligada a múltiplas gamas de si mesma,

dentro do infinitamente grande como igualmente dentro

do infinitamente pequeno.

Sim: como um rio que nos leva e nos atravessa

pelo simbólico em nós como nele

marulhosamente infinito: bebendo-se

e florindo espécies que nunca vimos,

belezas que não sabíamos que sabíamos.

Como um rio que nos é  e a quem somos

em busca de oceanos que nos seremos um no outro,

um pelo outro, um com o outro: muitos e

singularmente um.

Sim, um rio é nós por dentro e por fora

pelo sinuoso e infindo caminho do sentido

que vem do mar e marulhando volta a ele

sempre na concha nacarada que faz sonhar com o sentido,

sempre com o sentido.

Uma realidade tão fascinante quanto não podermos entendê-la.

Mas nem por isso nem mais ou menos verdadeira.

Nem por isso mais ou menos nós:

uma realidade sempre nós-mesmos.

Pessoal e coletivamente nós: nós-mesmos.

Diluída e concentradamente nós: nós-mesmos.

Realidade a chegar e já chegada,

existente e por existir,

por existir e já existente.

Aqui-agora e longe-além,

e com o ser e a vida, com a vida e o ser

num infinito zumbir de asas

por veredas e caminhos perfumados de uma libido santa

através de um viajar-se-construir-se

que é uma viagem dentro de outra viagem,

um sonho dentro de outro sonho,

ser pelo Ser

na odisséia que gera a volta, o nostos, que já não é volta,

mas ver o aqui-agora já partido, já viajado

de ser a ser-se, de ser a ser-se, de ser a ser-se...

até onde não mais exista onde,

nem aqui-espaço exterior,

nem espaço interior: o tempo.

Libertação.

LA 04/009

 

 

Orgulho, amor-próprio, autoestima,

tudo isso é bom, sim: muito bom.

Agora, se você deixa

que essas muletas virem arrogância,

tudo isso então é mau, sim: muito mau.

LA 04/009

 

 

Passou tanto, tanto tempo,

que agora vemos

que não passou tempo nenhum —

fomos nós que passamos pelas coisas,

mesmo porque os tempos estão bem vivos,

sim, moram dentro, moram bem dentro em nós.

LA 04/009

 

 

Cá estão, mais uma vez,

tempos em que não sabemos

para onde estamos indo.

Nem bússolas, nem astrolábios,

nem as estrelas já nos não ajudam —

nossa falta de rumo é interior.

Progresso é bom,

mas para onde nos levará?

A falta de rumo se repete

dentro dos tempos.

Babel se instala e desinstala

com a rapidez dos sonhos.

Mas uma vez, vivemos tempos

sem janelas nem portas.

Só nos resta esperar

que novos tempos

dissolvam as incertezas

feitas de sal ao sol.

O fio do sentido

(que é escarlate)

sempre ressurge

e cose os tempos.

Aí o homem

sente de novo o chão,

tão necessário.

LA 04/009

 

 

Quando partir

não olhe para trás,

senão leva com você

o que pensa estar deixando.

Quando partir

só leve o sonho de partir

e siga leve e solto —

livre dos grafitos

que lhe tatuaram

nos sentimentos.

Quando partir

faça-o como a brisa entre os lírios

e o sol que acaba

de lhes dar seu ouro,

a provisão de mais um dia.

Quando partir

vá pela mão da alegria

e pisará com firmeza

o seu caminho.

Quando partir

só tenha o partir

por companheiro

e o sonho aceso

em novidade de vida.

LA 04/009

 

 

Pernas de baobá,

seios de moranga,

e habilidades de quem faz

omeletes nos saltos finos,

Priscila (BBB-9)

leva mesmo jeito

e está no caminho certo —

vai abrir um sex shop.

Mourejará,

faça sol ou estrelas,

no departamento das coceiras.

LA 04/009

 

 

Um dia ela se foi

e o coração de André ficou frio

como um cadáver sepultado em seu peito.

Sim, ficou friamente triste

como quem perdesse a verdade e a beleza

que pensava ter consigo

após sonhar e trabalhar,

estudar e dedicar-se a mocidade toda —

disciplinada e seriamente

a mocidade toda.

Frio sentir, muito frio.

Continuou a fazer tudo o que fazia.

Álgido sentir. Ah, muito frio!

Cuidou da sua profissão

como se fosse outra pessoa.

Muito frio, álgido sentir.

A ler-escrever

como se fosse outra pessoa.

Frio sentir, muito frio.

E em meio ao frio, ao muito frio

buscou em si a luz filha da luz,

procurou vê-la ao passo que a sentia,

e envolto nela ver seu coração

a quem, se lembra, amou profundamente

sem nenhum autodó.

E a sós ou em meio a outros,

pela rua ou recolhido,

invocou brandamente a fé

que sempre cultivou

e cujos mecanismos estudou

fora e dentro de si.

Invocou brandamente a fé,

pedindo-lhe brandamente

lhe devolvesse um pouco

da lealdade confidente

e do amor fiel que lhe votara a vida toda

(lhe devolvesse um pouco da sua fé)

em forma

de companhia e salvação daquele estado triste.

..............................................................................

Foi então que viu brotar de sua dor

uma haste exuberante

encimada de magnífica rosa,

tão magnífica quanto vermelha —

plantada num belo vaso com a forma

de um enorme sapato de arlequim.

E aquela luz rorante sete vezes bela

da rosa

derramada sobre o tal vaso-sapato

devolveu-lhe o calor,

a força

e a alegria da vida.

LA 04/009

 

 

Aquela face do amor,

à nossa imagem e sonho,

que tanto procuramos,

está em nós mesmos.

Para achá-la

temos que ir tirando

uma por uma

as nossas próprias máscaras.

LA 04/009

 

 

Quando distante,

o amor é saudade

e um só pensamento.

Quando na cama,

é um só corpo.

LA 04/009

 

 

Quanto mais distante,

mais vivo o amor.

A distância o rega de sonhos.

Tanto que, quando perto,

tende a murchar

por falta de água.

LA 04/009

 

 

Se dependes do amor de alguém,

ele deixa de ser amor.

O amor é que depende de dois

para poder ser um,

e florir.

LA 04/009

 

 

Se choras pelo que acabou,

não vês o que está despontando.

LA 04/009

 

 

Também já tive saudade

do que jamais existiu.

Já ouvi cantar o sabiá

quando cantava o tiziu.

LA 04/009

 

 

Quanto a Andrea Bocelli,

a natureza não lhe deu olhos

porque fora covardia

dar tanto

a um só.

LA 04/009

 

 

Gostar do que se faz,

isto sim é curtir a vida!

LA 04/009

 

 

Não espere por dias melhores,

nem por tranquilidade

para realizar a sua obra.

A vida depende muito mais dos vulcões,

das tempestades, dos furacões

que dos céus de brigadeiro.

LA 04/009

 

 

A mentira é muito mais veloz,

mais ao alcance de todos,

e a maioria a prefere

enquanto lhes beneficia.

O amor pela verdade

é para quem já tem

ou busca um sentido.

LA 04/009

 

 

A paz de espírito

implica a liberdade,

a liberdade

só é legítima

se coexiste com a paz de espírito.

LA 04/009

 

 

O amor sempre é loucura,

mas da melhor.

LA 04/009

 

 

Quem tiver medo de hospício,

é melhor não amar.

O que sabe que o mundo é um hospício,

este sim pode entender e viver

gostosamente o amor.

LA 04/009

 

 

Sim: no amor, a beleza

nem sempre é fundamental,

contanto que ela exista.

LA 04/009

 

 

Não importa entres em parafuso,

te saias mal,

te quebres no amor.

Quem o experimentou

haverá de querer sempre

se apaixonar.

Claro, o prudente será

cada hematoma a seu tempo.

LA 04/009

 

 

Na vida existem coisas boas

e coisas más.

Quem aciona a sua fé

com a boa vontade

em geral consegue

passar por tais opostos,

sobrevivendo aos revezes

e musicando a travessia.

LA 04/009.

 

 

O amor é sempre aquele paradoxo —

ausente,

suspira por e-mails e celulares.

Presente,

resfria de tanta umidade.

E se você procura entender,

ele acaba.

LA 04/009

 

 

Se a morte é o fim,

a vida é sempre um recomeço.

LA 04/009

 

 

Aqui é o lugar

de nos irmos nos livrando

do que nos prende aqui.

LA 04/009

 

 

Sim, temos de ir

conscientemente

nos livrando

das cascas e empecilhos

da natureza em nós

como a ave troca de penas

e a serpente de casca —

até nos libertarmos geral

do peso do grotesco.

LA 04/009

 

 

Sossegue.

Não há garotas perdidas

que os homens não achem.

LA 04/009

 

 

Sabe aquele vazio terrível

que por vezes nos vem?

Não procure guru, não ore,

nem leia Paulo Coelho.

Apenas abra a geladeira

e coma alguma coisa:

é pura fome.

LA 04/009

 

 

Se o vazio for zen,

aí nem Platão ajuda.

A única saída

é tântrica:

nutrir-se bem do inefável.

LA 04/009

 

 

Se deixar para amanhã

o que não vai fazer nunca,

já mostra boa vontade.

LA 04/009

 

 

Minha professorinha me disse

que só o errado

eu fazia sempre certinho.

Disse-lhe que ela também...

— Mas coooommmoooo?!

— Meu nome é Luís (com “s” e acento)

e a senhora escreve sempre com “z”.

Lembro que a mulherzinha espumou.

LA 04/009

 

 

O paralítico por vezes corre,

o cego vê,

o mudo vocifera —

e sem nenhum milagre.

LA 04/009

 

 

Dizia à irmã na frente do cunhado,

sempre com o rádio no último:

Dá menos, Carla, dá menos!...

No que o marido concordava

e acrescentava:

Mesmo porque não ganho lá essas coisas...

e caridade deve ter limites.

E o mano reforçava:

Dá menos, Carla, dá menos!

E com a boca cheia de comida

e o rádio arrebentando,

mastigava-lhe baixinho:

já pensou (num tempo desses!)

se você engravida?!

LA 04/009

 

 

Dizia que os concretistas

tinham comido maionese

com cimento branco —

por isso exprimiam aquelas coisas

que só os seus cachorros cheiravam.

Meu amigo era um tanto exagerado,

isto é... nem tanto.

LA 04/009

 

 

Beijo de língua

traz sempre aquele tchã!

Satisfação poliglota.

LA 04/009

 

 

Antes tarde

do que cedo demais.

LA 04/009

 

 

Há uns bobos por aí

procurando a pessoa certa.

Eu só procuro as erradas —

uma de cada vez.

LA 04/009

 

 

Geralmente nem como,

quando penso muito em você.

LA 04/009

 

 

O jeito de pensar

ajeita os desajeitos,

jeitosamente.

LA 04/009

 

 

Quando voltavas de férias

lá das fazendas avoengas

eu tirava um por um

os teus carrapatinhos,

lembras?

Eram tão miudinhos,

tão ali agarradinhos...

Um a um com as unhas

em forma de pinça,

bem devagar, devagarinho

(que nem o Martinho da Vila),

devagar, devagarinho...

eu os ia tirando

com infinito jeito.

Os que não saíam

(lá nos cantinhos

e beirais)

bem quentinhos,

agarradinhos —

esses a gente os afogava.

LA 04/009

 

 

Olhar atrás e ver que há gente

bem mais desgraçadinha,

isto te consola?

Engraçado... a mim também.

LA 04/009

 

 

Fiquemos assim,

se você não me ligar,

me telefone dizendo

por que não ligou.

LA 04/009

 

 

Se soubesse o que não sabia,

que graça que teria

saber

que você não viria?

Pelo menos esperei

sonhando como um rei.

LA 04/009

 

 

Tantas vezes ela me deu o bolo,

que nunca mais aceitei convite

de aniversário.

LA 04/009

 

 

Só deixaria

para fazer amanhã

se não houvesse

um depois de amanhã.

LA 04/009

 

 

Eu vim

mas ainda não cheguei —

sim, ainda estou lá:

estou beijando Mariana

(sentada no capô

do meu bonito flex)

lá na área escurinha

da casa dela.

— Que é que está dizendo, André?!

— Nada, mãe! Já cheguei.

LA 04/009

 

 

Alô, meu bem?!

Acordando agora?

Eu também.

E então vais ao enterro?

De quem?!... Ao meu, é claro!

Então já se esqueceu de que ontem

você me matou de amor?

Ingrata! Não te vejo mais,

a não ser daqui a pouco.

Beijos.

LA 04/009

 

 

Quem dá é criticada,

quem critica adoraria.

Quem pode com a mulherada,

se nem o diabo ousaria?

LA 04/009

 

 

Duas coisas adoramos —
uma é fazer a guerra,

a outra é fazer sexo.

Com o resto nem ligamos.

LA 04/009

 

 

A amizade é como um violino,

as cordas vão partindo

uma por uma.

LA 04/009

 

 

Já barganhamos sorrisos e lágrimas.

Hoje, aprendemos —

não publicamos

o que sorrimos ou choramos.

LA 04/009

 

 

A amizade é como anéis,

o importante é ter os dedos.

LA 04/009

 

 

Se alguém vai,

outro alguém vem.

Amizade há de ser coisa de vivos.

LA 04/009

 

 

O preço da amizade

é o mesmo de se manter

um carro sempre bonito.

LA 04/009

 

 

Cuidado para não naufragar,

que os amigos de outros barcos

lhe jogam a âncora na cabeça.

LA 04/009

 

 

Se os amigos são os irmãos que não tivemos,

é bom lembrar que os que tivemos

já não foram de brincar.

LA 04/009

 

 

Os amigos são anjos

que te exortam a voar —

sobretudo quando estiveres

na muda de penas.

LA 04/009

 

 

O mais difícil

não é encontrar um amigo da onça,

mas um amigo da gente.

LA 04/009

 

 

A amizade é um bom investimento —

há de durar enquanto as contas

forem separadas.

LA 04/009

 

 

Tomara estejas sem guarda-chuva

quando chover felicidade.

LA 04/009

 

 

Na meia-idade

acharia a frase acima tola.

Eu também já comi

maionese com cimento branco.

LA 04/009

 

 

O que te dão, te levam

em outra moeda.

LA 04/009

 

 

Quanto mais perícia em se cobrar

tanto mais chance em receber.

LA 04/009

 

 

Aprenda a receber de Deus,

que nunca lança em rosto.

LA 04/009

 

 

Galo que não canta

serve-se na janta.

LA 04/009

 

 

Uma vitória com sangue

é só um pleito de ódio.

LA 04/009

 

 

Dinheiro é bom,

agora, ficar sem ele

não é o fim do mundo,

mas apenas o fim

de sua vida social.

LA 04/009

 

 

Sim, para ver o Diabo

fique sem o que dizem que é dele —

fique sem dinheiro.

LA 04/009

 

 

Usamos Deus para pedir.

LA 04/009

 

 

O homem é dominado pelo tato,

melhor: pelo contato —

prende-se e morre por ele.

LA 04/009

 

 

Caminho errado, má chegada.

LA 04/009

 

 

A tendência da gula

é tornar-se gulatria.

LA 04/009

 

 

Braçada muito cheia

se perde pelo caminho.

LA 04/009

 

 

Sim, a fama

tem ligações com a cama.

LA 04/009

 

 

Se o homem não é de brincar,

tome cuidado nos folguedos.

LA 04/009

 

 

Mulher vista uma só vez

deixa um perfume para sempre.

LA 04/009

 

 

Um especialista

é o que torna o simples confuso

para depois voltar ao simples

chovido e cuspido no molhado

com o fim de que você pense

juntamente com seus colegas

que são os entraves da empresa.

LA 04/009

 

 

Quem sabe não somos a escória

de outras inteligências?

LA 04/009

 

 

Deus já deve ter visto

que seus castigos não funcionam.

LA 04/009

 

 

Um chato é aquele

que ao te cumprimentar

fala de outra coisa que não seja o tempo.

LA 04/009

 

 

A televisão e o computador

são bem mais interessantes que as pessoas,

caso contrário estaríamos sentados

nas esquinas e praças.

LA 04/009

 

 

O que mais me aborrece

é não me aborrecer com quase nada.

Agora, indignar-me e  jamais me conformar,

isto aprendi desde menino.

LA 04/009

 

 

O que mais me entristece

é não saber me entristecer,

já que tenho a alegria

como uma das metas

do sentido da vida.

LA 04/009

 

 

Nunca me levei muito a sério

para não ser bobo de mim mesmo.

LA 04/009

 

 

Enquanto puder ler e escrever

serei um homem muito rico.

LA 04/009

 

 

Uma das coisas de que me arrependo

é de não ter beijado aquela prima

um pouco mais além, um pouco mais.

LA 04/009

 

 

Terrivelmente bela aquela noite.

Lá fora, chuva grossa vento raios e trovões

Na alcova, a vela tremulando...

e eu agarrado, agarrado à tua bunda

pra não cair da cama.

LA 04/009

 

 

Não lhe quero, minha amiga,

para secar minhas lágrimas,

mas para fazer chover.

LA 04/009

 

 

Quero viver até dar calos de existência,

até soltar-me dentro de mim

como um caroço de abacate

bem maduro.

Quero viver até dar calos

e ter saudade de mim.

Depois a tal da Médica

pode vir extraí-los.

LA 04/009

 

 

A mulheres que não me perdoem,

mas bem melhor que amá-las

é sofrer-lhes as chantagens,

os doces tremeliques,

as mentiras tão honestas,

os fiéis enganos —

tudo isso dá um orgasmo

apuradinho apuradinho.

LA 04/009

 

 

Quando a conheceu, ela tinha 22 anos

e já 9 de namoros fartos.

Casaram. Três filhas.

Aos 41 ela abandona a casa —

à la recherche du temps perdu.

Volta aos 61 anos.

Depois de três órbitas terrestres,

André começa a perceber

que ela não era para se levar a sério,

de sorte que a sua mansa testa

e seu coração de arlequim

agora a deixam para sempre.

Um paciente aprendizado

destilado de aflitas experiências.

LA 04/009

 

 

Saiu pela vida e aprendeu

o que os homens e as mulheres

gostam de ouvir.

LA 04/009

 

 

Se Deus nos atendesse em tudo,

que é que faríamos

com tantas bobagens?

LA 04/009

 

 

Os mundos altamente inteligentes

não entram em contato com a gente...

por que será, hem?

LA 04/009

 

 

Pouco antes do anoitecer,

se ninguém estivesse por perto,

piava seu mantra chamando as galinhas

para o chiqueiro e lhes jogava

uma ração que ele preparava

com a cor de pedregulho partido.

Sempre que limpava o chiqueiro,

um barracão com poleiros de galinha

ao lado e acima,

peneirava pacientemente,

sob uma bica ao lado,

a lama e as fezes da pocilga-galinheiro —

procurava (e dizia rindo muito

a quem bisbilhotasse) possíveis pérolas.

Um dia o patrão lhe explicou:

Não confunda o sentido figurado das coisas,

André,

com a materialidade delas.

Se alguém atira pérolas aos porcos,

não são pérolas nem porcos o que está em jogo,

mas sim...

Tem razão o patrão —atalhou o tabaréu,

mas tenho também as minhas,

e explica:

É que as tuas galinhas,

que andam ali pelo garimpo,

podem engolir alguma isca de diamante

entre os cascalhos já lavados...

e á noitinha elas vêm comer entre os porcos,

comer e dormir sob o mesmo telhado deles.

E já achou muitas —perguntou o dono.

Por enquanto não, senhor, —responde o empregado

ao mesmo tempo em que pensa

debaixo do seu chapéu:

Se lhe digo que já tenho doze belas gemas,

vai querer no mínimo dez...

e como vou comprar o sítio do Coronel Tibúrcio

(Deus o tenha!) com a viúva e tudo,

com a bela viúva Deolinda

que sempre foi e é meu bem-querer?

LA 04/009

 

 

André era muito estimado.

Um sorriso aberto

num jeito de saudar humilde.

A voz bem modulada,

o olhar entre o alvo e o nada.

Via jamais percebendo.

Percebia compreendendo

que muito perceber faz mal.

De modo que entendia

sem deixar que o entendimento

fosse a favor ou contra —

muito pelo contrário.

Não deixava conversa esquentar

e jamais queimar.

Só dizia às pessoas

o que elas queriam ouvir.

André sabia fazer-se estimar.

LA 04/009

 

 

Ser feliz é roubar a morte.

LA 04/009

 

 

É muito grande a diferença entre as pessoas.

Uns dão o que lhes sobeja,

outros só oferecem

o que lhes falta.

A diferença entre as pessoas

faz o ser humano grandioso

e esse mundo ser escola.

LA 04/009

 

 

Um sonho abandonado

é um fantasma que se joga no porão.

LA 04/009

 

 

A mentira vem cedo,

a verdade chega tarde.

É que a primeira

não exige maturidade,

tem o brilho das jóias falsas

e além de asas nos pés,

corre nua

para esconder seu interior.

LA 04/009

 

 

Trabalhar muito não faz mal,

principalmente se você é o patrão

para quem se trabalha muito.

LA 04/009

 

 

Sim, no começo, o amor é cego,

depois a convivência

o faz ver.

LA 04/009

 

 

Tentou ser honesto,

e quase conseguiu.

A mãe e a esposa

respiraram:

Graças a Deus,

voltou ao seu normal.

LA 04/009

 

 

Tocou sua rabeca

por mais de quinze anos.

E só não tocou mais

porque o vizinho a roubou.

LA 04/009

 

 

Concordo: Antes tarde,

o melhor sono é de manhã.

LA 04/009

 

 

Quem sempre madruga

mais cedo se enruga.

LA 04/009

 

 

Sem loucura,

como provar

o melhor do amor?

LA 04/009

 

 

Se o amor é um jogo,

os jogadores

devem jogar de tal modo

que ambos saiam ganhando.

LA 04/009

 

 

Não gosto de santos

nem de bandidos.

Sou daqueles que se esforçam

para fazer

o que é bom para si

e ruim para ninguém.

Para viver preciso de um sentido

e consciência elevada.

LA 04/00

 

 

Aprendo com os grandes homens,

tanto com seus acertos

como com seus erros.

Muitas vezes, bem mais com os seus erros.

LA 04/009

 

 

Confio no futuro

porque confio no hoje bem vivido.

LA 04/009

 

 

Nascer é cair numa enrascada

que provém de outras enrascadas.

Acho que viver

deve ser destramar.

LA 04/009

 

 

A beleza das coisas estão em nossos olhos,

numa empatia secreta com a natureza.

LA 04/009

 

 

O futuro não me inquieta,

o presente, sim, me faz cuidadoso —

ele é a banqueta da oficina

onde trabalho o meu porvir.

LA 04/009

 

 

Se amas as mulheres

sem pô-las contra a parede,

gozarás de sua simpatia

e generosidade.

LA 04/009

 

 

Sem muita pesquisa e estudo,

muita dedicação e disciplina,

nenhuma grande obra

é realizada.

LA 04/009

 

 

As sombras são o charme da luz.

LA 04/009

 

 

Sem as sombras

o sol seria um terrível tirano.

LA 04/009

 

 

Perdoa aos teus inimigos,

suporta-os,

ama-os até, se puderes,

mas nunca mais,

nunca mais lhes voltes as costas,

nem para te afastares deles.

LA 04/009

 

 

Fracassar,

além de não depender só de você,

mostra que o êxito

não tem nada de permanente.

LA 04/009

 

 

Degustei os teus morangos,

tuas amoras,

desfolhei-te rosa por rosa —

foi adorável te amar.

LA 04/009

 

 

Se o amor não pode cumprir com o que jura,

por que pedir-lhe além de sua ternura?

LA 04/009

 

 

Quem guerreia com mulheres

perde sempre.

Quem as ama e vai embora,

este, sim: ganha o seu amor.

LA 04/009

 

 

O amor é sempre usurário —

dá, mas escorcha nas taxas

do capital mais os juros.

Por isso é que muitos preferem

ser os amigos da casa.

LA 04/009

 

 

Ontem não pude,

amanhã não sei,

mas hoje te amo.

Hoje será ontem,

amanhã será hoje

e o sonho de hoje amanhã.

Mas te amar

só no tempo que apalpo.

LA 04/009

 

 

Quando a dor lhe for muita,

me dê um pedaço dela

e a gente a engole a dois.

Mas não deixe também

lá vez ou outra

de passar-me um bocado de alegria,

embora pouca.

LA 04/009

 

 

Relacionar-se é estar comendo peixe —

por mais cuidado

sempre um espinho ou outro passa.

LA 04/009

 

 

Secar as lágrimas, o vento seca.

Já teremos sido bons amigos

se não cavarmos

para que outras brotem.

LA 04/009

 

 

Se tenho morrido de medo,

de fome,

de sede,

de raiva,

de tédio,

de saudade —

por que também não morreria

de amor por você?

LA 04/009

 

 

Ontem não fui nada,

hoje não sou nada,

amanhã não serei nada.

Como vês,

vivo a glória dos nadas —

tão terrível

como nunca ter perdido.

LA 04/009

 

 

Sim, a beleza é pedra rara.

Se a tens ao lado,

logo estarás roubado,

a menos

que não faças questão.

LA 04/009

 

 

Se estiveres sozinha,

não te desesperes,

telefona —

alguns homens

ainda são como cães.

LA 04/009

 

 

Em se tratando

de homem/mulher,

entre o amor e a amizade

só há um eufemismo.

LA 04/009

 

 

Há quem lhe promete a lua,

e mal lhe dá uma rosa.

Quem promete o mundo

e só tem o pó dos sapatos.

Quem promete uma estrela

e dá um anel de vidro.

Resta saber:

o amor são coisas?

LA 04/009

 

 

Se alguém não lhe quer,

procure outros sapatos.

Um outro modelo

pode lhe ir até melhor.

LA 04/009

 

 

O coração é como o vento —

vem e vai

para onde quer

e ninguém sabe.

O lado estável do coração

são os seus belos enganos.

LA 04/009

 

 

O lado democrático do amor

é que ninguém é de ninguém —

pelo menos enquanto a carne é moça.

LA 04/009

 

 

O amor são estágios do humano,

suas loucuras e mazelas

parecem sempre as mesmas

entre os milênios,

é que há um descompasso

entre a natureza interior

com a realidade criada pelo homem.

LA 04/009

 

 

Como te amar até o fim,

se a vida é feita de retalhos de começos?

LA 04/009

 

 

As mulheres se gabam tanto

de terem o tal sexto sentido!...

Não sei o que fazem com isso

já que não as faz mais felizes.

LA 04/009

 

 

Gosto das feministas

porque não nos cobram flores

da beira de precipícios,

ostras do fundo do mar,

ouro das minas,

a tessitura da fama

que leva ao poder...

os jantares eróticos

com transas de fachada —

não por que o façam por si mesmas,

mas por que não sabem

quanto isso custou aos homens

que os bacanas (que são seus alvos)

mantêm pobres e escravos.

LA 04/009

 

 

Há pessoas astutas

e pessoas inteligentes.

Das primeiras o mundo está cheio —

são as tais que não sabem que podem ser lidas

dentro de suas cabeças.

São brilhantemente falsas

e se julgam superiores

(uma casta talvez de outro planeta

estagiando na Terra).

Mas é fácil sobreviver a elas —

dar-lhes o que exigem: falsidade,

e um jeitão de bobo e boquiaberto,

isto é, de quem não as alcança.

LA 04/009

 

 

A verdadeira face do amor

só a veríamos

após lhe tirarmos a derradeira

das mil faces que se multiplicam —

a cada uma tirada

se lhe encaixam outras setenta.

É uma tarefa para a vida

executar.

LA 04/009

 

 

O amor é como ele é

no tempo-espaço da mão.

Só não deves deixar que te explore muito,

ou acabe com você

pra ficar com suas coisas.

O amor é o que a sociedade tem —

não faças doce nem chiquê:

ama gostosamente,

há muitos verbos para isso

e a escolha é tua.

Bom proveito!

LA 04/009

 

 

As infláveis

(como os infláveis)

estão cada vez mais perfeitas.

Chegará um tempo

em que estarão penduradas,

dizem os hierofantes do sexo,

em cada guarda-roupa.

O que não deixa

de ser um tipo de libertação

(afirmam os mesmos hierofantes),

inclusive, aliás, da sujeira,

das doenças

e dos chifres.

LA 04/009

 

 

Para estar vivo

basta não estar morto.

A vovozinha que ficou trinta dias

numa gaiola de escombros

quando do terremoto em L’Aquila

fazia crochê (mesmo no escuro)

para passar o tempo.

Assim que foi tirada lá debaixo

(com uma carinha de moleca,

óculos na ponta do nariz,

o riso largo e fofo),

mirou a câmera e disse,

ajeitando os longos cabelos brancos:

Me desculpem, meu cabelo

está um pouco despenteado!

LA 04/009

 

 

Já que o riso é calmante,

use com moderação.

Já que o humor é rechaçado

pelos que amam as névoas,

saibamos a hora.

Já que a alegria fere o triste,

sejamos bem discretos.

Mas cultivemos os três —

eles prolongam a vida

e conservam a sanidade.

LA 04/009

 

 

Ela era uma ilha-oásis de todas as cores

e sabores,

solta, flutuando em águas tropicais,

e adorava dessedentar os sequiosos

que a saboreavam em todos os outeiros

e recantos

com seus canudinhos e colheres,

os dedos a catar morangos e amoras.

Com amêndoas também e com pistaches?

Não sei se só essas delícias.

Só sei que andava e dançava em cada copo,

em cada corpo

a molhar lábios e bigodes de todas as cores

e sabores: ora gelo, ora labaredas,

a flambar fantasias e desejos.

Marilda era as flores daquele jardim

que todos nós plantamos em sonho

e por onde floresce faz tocável

o inefável da vida.

O jardim onde passeia o perfume

das almas das amadas

enquanto seus corpos nus

correm por entre as vinhas

em um pega-não-pega

entre risos joviais

a ofegar, a convidar ao prêmio.

LA 04/009

 

 

Chaplin tem um filme

que genialmente

faz chover no molhado:

O cara é um vagabundo

desprezado por todos,

inexistente para as mulheres

e perseguido pela polícia

o tempo todo.

Vai para o Alasca e volta

com muito, muito ouro.

Fato óbvio, os milionários

carregam-no para os seus clubes

e fazem dele um precioso

bobo da corte da elite.

Só que agora ele perdeu

(aqui entra o drama genial)

as delícias da vagabundagem

que lhe correm nas veias

e o acarinham em lembrá-las.

Perdeu aquilo e aquele

que ele adorava ser

e não sabia.

Em Chaplin

o óbvio se transcende,

vira beleza inocente.

Carlitos foi

a lâmpada do gênio.

LA 04/009

 

 

O amor é aluado —

aumenta, se esconde, míngua,

cresce, prospera, se enche,

se oculta e, sempre outro,

logo reaparece.

E sempre no seu barco,

à espera das marés cheias

para ir ao castelo

da princesa Luana

ou do príncipe Sonsézimo

com seu nobre coração

sempre desembainhado.

LA 04/009

 

 

Se a ideia vem e você não a esboça,

está perdida para sempre.

O queimor da inspiração

tem vários graus:

um para cada metal da ideia.

Depois é só despejá-lo

na fôrma de barro das palavras.

Sim, quando você para o pensamento,

ele se autogera em vários,

enraizados num só vaso

que é o modo de retê-lo

no tempo: trazê-lo

para a nossa dimensão.

Sonhamos nas mãos de Deus

e Ele faz que o sonho nos retorne

em forma de asas

e feito obra.

LA 04/009

 

 

Do húmus com a lama,

mais a água e o calor

nasce a vida

que nos alimenta

e as flores

que deixam as mulheres

lisonjeadas.

LA 04/009

 

 

Quem nasceu para chinelo

jamais usará um tênis.

LA 04/009

 

 

Tal como o amor e o desamor,

o bem-me-quer e o malmequer

são, minha amiga,

a mesma flor.

LA 04/009

 

 

Cada povo com sua imprensa,

seu tabu e licença,

sua crença,

sua beleza imensa

e, claro, sua doença.

LA 04/009

 

 

Do porco para o humano,

do humano para o porco

e de pessoa para pessoa —

eis a gripe suína.

Os infectologistas

estão a postos.

A dita está pulando

a cerca dos países.

Sim, a bichinha é puladeira.

Veio da terra do Cantinflas.

É matadora.

A globalização tem disso:

além de mercadológica

também pode ser virótica.

Xô, porcina, xô!

A ciência te fulmine!

LA 28/04/009

 

 

Muro baixo, vizinho mau.

LA 04/009

 

 

Pobre é quem não se agrada do que tem.

Esta é uma dessas inúmeras frases

de amansar a sociedade.

LA 04/009

 

 

Tranquilo, sempre calado

e sem enjoamento algum —

o defunto.

LA 04/009

 

 

Comer com fome

faz a comida boa.

( Nem sempre dona Ignácia,

nem sempre.)

LA 04/009

 

 

Não ter insônia

é o melhor colchão.

LA 04/009

 

 

Um par perfeito —

ele assoviava,

ela chupava cana.

LA 04/009

 

 

Três vezes por semana

o diabo tocava rabeca

para a vizinha dançar.

E o marido nem via —

de tanto que dormia.

LA 04/009

 

 

O tempo é o senhor de tudo,

mas de que vale,

se mesmo para a vida

sequer lhe dá a mais

um só segundo?

LA 04/009

 

 

Palavras do coveiro:

Vão-se os dedos,

fiquem os anéis.

LA 04/009

 

 

Sim, a cruz está demais pesada,

mas não passe o serrote nela,

que lá, bem lá longe há um vale,

e ela vai lhe servir de ponte.

Segundo a lenda,

assim que o indivíduo passa,

sua cruz se dissolve.

LA 04/009

 

 

Vaidade das vaidades,

que delícia que elas são,

não é mesmo, seu Salomão?

LA 04/009

 

 

Sim, ninguém pode servir

a dois senhores.

Se servir a um já cansa,

o que não fora

servir a dois?

LA 04/009

 

 

O vilão cospe no prato em que come

e beija a mão que lhe nega.

LA 04/009

 

 

Pra quem está perdido,

estar perdido é seu caminho.

LA 04/009

 

 

A mentira deita e rola

porque há sempre quem ouve

e acredita.

LA 04/009

 

 

Surpreender as ações em seu avesso

pode ser um recurso

para entender as intenções

sempre tão boas, tão humanas.

LA 04/009

 

 

O sono é uma espécie

de trégua exterior

da vida.

LA 04/009

 

 

Em geral

as primeiras notícias

são as mais verdadeiras —

ainda não receberam

a maquiagem

dos terceiros interesses.

LA 04/009

 

 

Saber estar em seu lugar

é um modo de não ser usado

ou ridicularizado.

LA 04/009

 

 

Do jeito que o mundo toca

a gente dança. Até aí tudo bem.

O duro é ter de dançar sem música.

LA 04/009

 

 

Um abismo chama outro,

mas ele nem sempre ouve.

LA 04/009

 

 

Pela boca seduzes,

pela boca te pegam.

LA 04/009

 

 

O tempo e sua ferrugem,

por dentro e fora

de nós.

LA 04/009

 

 

Sapo, grilo, canguru...

não pulam por boniteza,

já o humano é pulador

por força da natureza.

LA 04/009

 

 

Há sempre aquele bocado

que nos ajudam a comer.

LA 04/009

 

 

No palácio ou na pocilga,

um porco é sempre um porco.

LA 04/009

 

 

Quem muito fala é muito chato,

quem fala pouco se esconde,

logo, falar nunca é barato —

pro tabaréu ou pro conde.

LA 04/009

 

 

Quando a vi estava linda,

só usava um colete

e fazia uma omelete

com queijo.

LA 04/009

 

 

O coração sente

o que a boca não diz.

LA 04/009

 

 

Houve o tempo do rapé,

o do chulé

e o do mané —

todos os três em extinção.

LA 04/009

 

 

Bicho que não engole outro

os homens o têm por fraco.

LA 4/009

 

 

Se crês em Deus,

ao embarcar —

ora uma vez.

Ao ir pra guerra —

duas.

Ao casar —

três.

Se for morar com a sogra —

vigia e ora sem cessar.

LA 04/009

 

 

A exceção

faz recordar a regra.

LA 04/009

 

 

Quem morre na véspera

chama-se morte cerebral.

LA 04/009

 

 

A palavra honra,

palavra-sentimento,

palavra-cofre,

tem feito muitas vítimas.

Há que abrir essa palavra,

ver-lhe os sepulcros,

os cemitérios,

os equívocos,

as estratégias

e mumunhas

que ela, capciosa,

acoberta.

LA 04/009

 

 

Uns dizem que a mentira

tem as pernas curtas.

Imagine se ela as tivesse

compridas!

LA 04/009

 

 

Mulher que se preza

ri na hora certa.

Já chorar, pode chorar

quando quiser.

Isto soa engraçado, não?

LA 04/009

 

 

Se você perdeu a honra

(que hoje está em reconstrução),

toque a vida para frente,

cuide-se, ame-se: reerga-se —

isto sim é importante.

LA 04/009

 

 

Se é para mentir,

devemos fazê-lo como um rei,

pelo simples motivo

de que a mentira de um rei

é real.

LA 04/009

 

 

O erro é do tamanho de quem erra,

mas também tem a ver

com quem é tão pequeno,

que nunca errou.

Acerto e erro

são elos de uma mesma corrente —

daí partir-se de quando em quando.

LA 04/009

 

 

Ensaboar cabeça de touro é perigoso,

como abraçar ursos, tamanduás,

fazer cafuné em cobras venenosas

ou tocar berrante

perto de homem casado.

LA 04/009

 

 

Da muita conversa nasce a discussão,

da discussão o desentendimento

e deste, as suscetíveis,

as dolentes,

intermináveis mágoas.

LA 04/009

 

 

A graça vem de Deus,

o mais, do que fazemos

ou não fazemos.

LA 04/009

 

 

Quando moço

admirava os gênios,

hoje prefiro as lâmpadas.

LA 04/009

 

 

Muitas vezes afagamos ursos,

abraçamos leões,

acariciamos cobras —

e nem percebemos.

LA 04/009

 

 

Estou em busca,

não do tempo perdido,

mas da força de viver

um tempo que seja ganho.

LA 04/009

 

 

Entre a colher e a panela

a mão avalia a quentura.

LA 04/009

 

 

Quem procura acha,

não só o objeto da procura

como o que nem sabia

que procurava.

LA 04/009

 

 

Sim, a pressa é inimiga da perfeição.

Mas quem é que falou

que precisamos da perfeição?

Pra mim, o bem-feito já basta.

LA 04/009

 

 

Quem avisa

às vezes nem é amigo,

até porque nem todo aviso

é interessante.

LA 04/009

 

 

Não alise cobra —

foge da pessoa melindrosa

e ressentida:

é gente perigosa.

LA 04/009

 

 

Falsidade que se preza

tem sempre uma casquinha de verdade.

LA 04/009

 

 

Quem pode, pode; quem não pode, finge.

LA 04/009                          

 

 

Ser preguiçoso dá um trabalhão.

LA 04/009

 

 

Quem cala consente?

E quem fala, não mente?

LA 04/009

 

 

Sua sogra era boa,

tanto que deixou da mulher por ela.

LA 04/009

 

 

Ninguém pega a sorte pelos cabelos,

nem a graça pela gola.

A primeira é do mundo,

a segunda é dom de Deus.

LA 04/009

 

 

Pregam para os pobres

heroísmo no sofrer,

renúncia no viver,

esperança no amanhã,

o céu depois da morte —

desde que digam amém

e creiam

numa ventura póstuma.

E até que tem dado certo —

usam a religião

para concentrar a riqueza

e repartir a pobreza.

LA 04/009

 

 

Houve e há,

sim, houve-e-há uma tal onda universal

de padres e prelados

comerem cus de moleques,

que nós, os leigos, proporíamos

lhes fosse ministrado

— através de empresa competente —

atendimento próprio: vaginal

ou anal,

mas de mercado.

A sociedade como um todo

agradece.

Amém.

LA 04/009

 

 

 

Salgue seu peixe a tempo.

Depois, sim, toque a rabeca

só de cueca.

LA 04/009

 

 

Quando acontece o pior,

o negócio é cantar

dias melhores

ao violão.

LA 04/009

 

 

O melhor da missa

é a hora da bênção.

LA 04/009

 

 

Cara jeitoso

come em casa e na dos outros.

LA 04/009

 

 

Quem sempre mente

acaba acreditando,

e tanto,

que aprende a pregar

sobre a verdade.

LA 04/009

 

 

Tempo perdido

é tempo ganho,

desde que não se ache

que se perdeu grande coisa.

LA 04/009

 

 

Orar é bom,

mesmo quando não serve pra nada.

LA 04/009

 

 

Não tenha medo,

a gente sempre morre de outra coisa.

LA 04/009

 

 

Não sei qual o melhor,

se o amor ou o dinheiro.

Muito difícil

conciliar os dois.

LA 04/009

 

 

Em vez de chumbo, nega,

troquemos nossos humores.

LA 04/009

 

 

O que o dinheiro não faz,

ou não alcança,

a graça nos dispõe.

LA 04/009

 

 

A fé é como a alegria —

ou se tem ou não tem.

Quem as tiver

que as viva bem baixinho.

São coisas chiques —

sem preço nem compra-e-venda.

LA 04/009

 

 

O amor é mesmo um luxo,

daí  luxúria,

nome bem dado —

tão bom,

que é pecado.

LA 04/009

 

 

A esperança só nos engana,

ou melhor: pensa nos enganar,

pois já fruímos na espera

o que nunca será —

isto, sim, é que é roubar do futuro!

LA 04/009

 

 

Na hora incerta tudo fica incerto,

inclusive os amigos,

isto é, todos nós.

LA 04/009

 

 

Marilda sempre me dizia:

Antes dar que pedir.

Eu concordava com ela,

agradecido.

LA 04/009

 

 

A tardança de Deus

faz falta.

LA 04/009

 

 

Antes cedo demais

que nunca.

LA 04/009

 

 

Se o velho pudesse

e o moço soubesse —

travava tudo.

LA 04/009

 

 

Marilda me ensinou

que um amigo se conhece

pelo jeito de olhar

pro nosso cônjuge.

— Pro nosso cônjuge? —certifiquei-me.

— Pro nosso cônjuge e o cachorro.

LA 04/009

 

 

Perto de mamões bonitos

sempre há sanhaços,

Rosinha.

LA 04/009

 

 

Quando a gente é moço

é bobo.

Com o passar do tempo

fica mais bobo.

LA 04/009

 

 

A bobeira não é um mal,

às vezes até ajuda.

LA 04/009

 

 

Quando era moço

pedia a Deus força

para o trabalho.

Hoje Lhe peço a bênção

de fazer nada.

LA 04/009

 

 

Ser pobre nunca dá certo,

se bem que a gente aprende

a tourear as incertezas.

LA 04/009

 

 

Meu pai era maquinista

daqueles infinitos trens de carga...

Não acabavam nunca de passar...

Às vezes me punha na máquina

para as manobras na estação.

Eu ficava tão feliz da vida

que não parava mais de inventar histórias

pra minha mãe.

LA 04/009

 

 

Não poucas vezes o melhor lugar

é em cima do muro.

Se for o caso, não temamos

os amigos nem os políticos,

já que tal lugar

só existe lá em nós.

LA 04/009

 

 

A pedra ainda tem volta,

é só achar um Sísifo.

Já a palavra só tem ida.

LA04/009

 

 

Não é fácil equilibrar

dois coelhos enormes

e dois globos terrestres,

mas Marilda o faz com charme,

garbo

e sem quaisquer colisões.

LA 04/009

 

 

Minha amiga me disse que preguiça

dá que nem jerimum.

LA 04/009

 

 

A vida não vale nada,

mas a morte presta menos.

LA 04/009

 

 

Zelão só dorme em seu colchão

e só transa de botina —

é um olho no padre e o outro na missa.

LA 04/009

 

 

Pron...to, nega, pronto... tirei!

Era só um carrapatinho,

safadinho.

LA 04/009

 

 

Quando se pensa que Deus Se atrasou,

é que Ele está esperando

que a gente se vire para trás.

LA 04/009

 

 

Susan Boyle cantou

e o mundo viu

que ela é muito bonita.

As pessoas que riram dela

talvez tenham notado

que ‘feias’ eram elas.

LA 11/04/009

 

 

Irmão de barqueiro não paga passagem —

vai nadando.

LA 05/009

 

 

Queres paz?

Corre atrás.

LA 05/009

 

 

Tempo de guerra,

mentira como terra.

Tempo de paz,

nada menos mendaz.

LA 05/009

 

 

A idade do pão

depende da fome.

LA 05/009

 

 

Tal a semeadura,

tal a colheita.

Picou o mosquito,

vem a maleita.

LA 05/009

 

 

Cuidado, nega!

É galho seco.

LA 05/009

 

 

Quando a mentira que traveja as outras

sofre a ação dos cupins,

qualquer ventinho

põe o telhado abaixo.

LA 05/009

 

 

No entanto, é preciso perdoar

ao que lhe fez muito mal —

assim se queimam os laços

que prendiam os dois.

LA 05/009

 

 

Aos abominavelmente inteligentes

só quando mortos

sua terra os aplaude.

Os intelectuais são um tipo de formigas

canibais.

LA 05/009

 

 

Quem abençoa o pouco

transforma-o em pouco abençoado.

LA 05/009

 

 

Quando brigam as comadres

vão tirando dos armários

calcinhas e cuecas

sujas de outros espermas

e outros batons.

LA 05/009

 

 

Não pule, nega,

que a piscina está vazia.

LA 05/009

 

 

Ódio é fogo de monturo,

está sempre rebrotando —

requer tato,

perícia com paciência.

LA 05/009

 

 

O povo aumenta

para dar mais sabor.

E a gente gosta

enquanto a história não é a nossa.

LA 05/009

 

 

No Largo da Boa Morte

os verões andorinhavam

em trissos e rasantes,

em rasantes e trissos

os verões andorinhavam.

E Rosinha ia e vinha,

ia e vinha...

Suas pernas aleluiavam.

LA 05/009

 

 

Quando Rosinha passava

naqueles paninhos leves

a gente não via nada

além das rosas de Rosinha.

LA 05/009

 

 

As pernas de Rosinha

faziam cosquinhas nos moleques,

lhes enchiam a cabeça

de asas de aleluias.

LA 05/009

 

 

Grilhões? Nem de ouro nem de diamantes.

O que me prende por bons momentos

são as pétalas de Rosa.

LA 05/009

 

 

Vou mandar fazer um diamante

do pentelho de Rosinha

para fazer um peircing

petalado e rosadinho

pra covinha do seu queixo.

Assim tenho chilique em cima

e embaixo.

LA 05/009

 

 

A quem Deus não dá esposa

o diabo prodigamente

vai lhe mandando amantes —

uma bem atrás da outra,

amantes e mais amantes,

até o bípede depenado

ficar de dar muita pena.

LA 05/009

 

 

Sofósio era um homem bruxo —

pegava o sol com a mão,

punhados e mais punhados.

Ia enfiando num bornal de couro

que, cheio, ele amarrava forte

pela garganta.

E logo mais quando a noite

rolava a sua pedra preta

sobre os morros e a cabana,

ele fazia um furinho

no de cujo dependurado

que deixava sair um girassol

num sorriso gostoso

a lhe soprar o escuro

e dar apoio aos olhos.

LA 05/009

 

 

Não pule, nega,

que é cerca eletrificada.

LA 05/009

 

 

Atrás do ódio tem ódio,

atrás do amor

tem os dois.

LA 05/009

 

 

A união faz a guerra,

a desunião, a paz.

Entre razão e desrazão

há sempre um duplo falaz.

LA 05/009

 

 

Não, nem sempre bate as asas

o galo antes de cantar,

nem a amizade nos avisa

quando é que vai acabar.

LA 05/009

 

 

Bebe teu vinho, planta flores

e frui teu dia, minha amiga.

Todo amanhã tem seus algozes,

e o mais é história bem antiga.

LA 05/009

 

 

Há os que fazem orações

tão longas e bonitas,

que a maioria dos crentes

julgam não saber orar.

LA 05/009

 

 

Vaidade das vaidades,

quão deliciosa é a vaidade!

LA 0/009

 

 

Bezerro manso e sonso mama em muitas tetas.

LA 05/009

 

 

O tempo e suas pajelanças!

O tempo finge que cura,

e, se sabe fingir,

curado está.

LA 05/009

 

 

O amor é bem engraçado —

quanto mais fundo fira,

tanto mais lembrado e amado.

LA 05/009

 

 

Não só gostamos de sofrer

como queremos competir

pra ver quem sofre mais.

LA 05/009

 

 

O amor é mesmo engraçado —

não raro, nem sendo amor,

faz o outro sentir-se amado.

LA 05/009

 

 

A mentira é a verdade

que mais prezamos.

Quanto à verdade verdade,

a essa nem ligamos.

LA 05/009

 

 

O mesmo ocorre com a beleza,

que nem precisa ser bela,

mas ser o que imaginamos.

LA 05/009

 

 

O mesmo com a liberdade

que a gente faz existir

sem jamais haver nenhuma.

LA 05/009

 

 

O mesmo com a esperança,

que igual ao pão amanhecido

a gente amacia ao fogo,

come com ou sem manteiga —

e dá graças a Deus.

LA 05/009

 

 

O mesmo de outras mesmices

nas deliciosas semprices

de sempre mesmas outrices.

LA 05/009

 

 

Quem dá aos pobres,

dá aos pobres

ou faz barganhas com Deus?

Sei lá! Se eu fosse o agraciado,

nem pensaria nisso.

LA 05/009

 

 

Sei lá! E o bom de não saber

é que nesse não sabendo

a gente finge saber.

LA 05/009

 

 

Quando a coisa nos aperta

a gente fala do tempo,

se faz de bobo e surdo

e como enguia se esgueira.

LA 05/009

 

 

Pela boca morre o peixe.

O homem, pelas ações,

palavras e silêncios.

LA 05/009

 

 

Se barriga não dói uma só vez,

é bom manter o remédio

bem à mão.

LA 0/009

 

 

Nós e o tempo,

o tempo e nós,

sempre o tempo,

que não dá tempo,

mas nos cobra

de si em nossa vida.

LA 05/009

 

 

Prometer é um modo

de não poder cumprir.

LA 05/009

 

 

O que acumulas

outro gasta.

O que suas

outro goza.

E assim é a vida

em verso ou prosa.

LA 05/009

 

 

Toda ação

tem um além de si mesma.

De sorte que trabalhamos

pra nós,

pra Deus

e pro diabo.

LA 0/009

 

 

Feliz da porta

que nunca foi arrombada.

Feliz da horta

que nunca foi pisada.

Feliz do ganso

que se afogou

mas não morreu,

pelo contrário —

foi pro céu.

LA 05/009

 

 

Para morrer basta não estar mais vivo.

LA 05/009

 

 

Teodoro? Caboclo astuto —

faz negócio com o couro

depois pega o canivete

e vai matar a onça.

LA 05/009

 

 

Pelos novos amores

as pessoas se esquecem dos velhos

e sentem uma gostosa

saudade do futuro.

LA 05/009

 

 

Em geral a verdade

é solapada pelas suspeitas,

e tudo cai na correnteza

e vira água turva.

LA 05/009

 

 

Só se morre uma vez

de cada vez.

LA 05/009

 

 

Da própria pele não se foge,

mas se pode sentir

que se é mais que a pele,

mais que o corpo

no sonho-mais da vida.

LA 05/009

 

 

Deseja o melhor e espera

caprichando nas imagens.

LA 0/009

 

 

Se tem pressa, vá na frente,

um dia sem querer a gente o alcança.

Sem querer?

Sim, sem nenhuma ideia fixa

de se estar atrás ou à frente.

O que importa é a persistência,

dedicação e vontade,

o sonho, o alvo e o ousar.

A realização

(o sonho feito coisa)

é decorrência.

LA 05/009

 

 

O insensato aprende de si,

o astuto aprende com quantos possa

numa espera interior positiva

em relação a si mesmo:

ordenar-se e organizar-se

em sua experiência e meta.

LA 05/009

 

 

A cobiça e a inveja

rompem o recipiente

e faz perder toda a semente.

Há que saber

sonhar,

ousar

e calar.

LA 05/009

 

 

Informação:

Terra de cego não há mais —

todos agora têm um par de olhos:

enxergam bem.

Inclusive estão aprendendo

a ler dentro das cabeças,

como alguns de vocês já fazem.

Sexto, sétimo sentidos, intuição

e outros fricotes

também já se praticam.

Experiência

e aparelhagem interior

em funcionamento —

isto é herança humana.

O que cada um faz

não suplanta nem está aquém

do que outros executam.

Em nosso tempo

os ii já vêm pingados.

LA 05/009

 

 

Cada qual é dono de seu nariz,

mas isso nunca foi um grande patrimônio.

LA 05/009

 

 

Quem apanha de mulher não se queixa a delegado,

por isso a lei Maria da Penha

só funciona pra mulher.

LA 05/009

 

 

Quando o diabo reza

a coisa está mesmo feia —

quer te enganar.

LA 05/009

 

 

Só se conhece que era um bem

aquele bem que se perdeu —

talvez porque ninguém o visse

nem como bem nem como nada.

LA 05/009

 

 

O vinho é bom porque amortece

a dor que somos

e só nós a vivemos

em quedas e levantares.

O vinho? Há vários.

O meu é o da literatura.

LA 05/009

 

 

Rosinha era como um domingo

ali pelas duas e meia,

numa penumbra arrepiada

e desfolhável.

LA 05/009

 

 

Se a fé for mesmo da boa,

pede o milagre a qualquer santo.

LA 05/009

 

 

Com dinheiro a gente come belas frutas.

LA 05/009

 

 

Pobre sabido pede ao rico

dentro da igreja e perto do padre.

LA 05/009

 

 

Em vez de protestar

melhor fora aprender a pedir,

em tom inteligente e sem barganha —

assim se pode até ganhar alguma coisa.

LA 05/009

 

 

Bananeira que já deu cacho

ajuda na produção de mais bananas —

depende de adequação.

LA 05/009

 

 

Viveu entre espinheiros,

mas nunca desconfiou

que devia mudar as sementes.

LA 05/009

 

 

A César o que é de César,

a Deus o que é de Deus

e ao pobre... ao pobre o de sempre —

porrada.

LA 05/009

 

 

Aos mortos sepultura,

aos vivos muito trabalho,

aos vivaldinos as benesses prometidas.

LA 05/009

 

 

Quem sabe lidar com as mulheres

sabe lidar com o dinheiro,

e vice-versa.

LA 05/009

 

 

Vá devagar, com classe e calma,

nunca demonstre que jamais comeu

da comida dos deuses.

LA 05/009

 

 

Atrás de morro,

tem morro.

Atrás de moita,

tem coisa.

LA 05/009

 

 

Atrás dos apedrejados

vão pedras em revoadas,

logo atrás dos desejos

há mulheres peladas.

LA 0/009

 

 

“Até marimbondo, SENHORES,

têm as suas moradas!”

O político falava aos sem-teto.

LA 05/009

 

 

Nem toda fruta madura

cai.

Nem sempre adianta

ficar com as mãos espalmadas.

LA 05/009

 

 

Uma palavra azeda

após a leitura de um belo poema

martela todos os dedos

que apalpavam a magia.

LA 05/009

 

 

Quem paga dívidas

é a sensatez ao contraí-las.

LA 05/009

 

 

Se a vida é ruim,

que diríamos da morte?

LA 05/009

 

 

A amor dado

não se contam as fungadas.

LA 05/009

 

 

Quem muito vê

ás vezes vê dobrado,

e sofre.

LA 05/009

 

 

Para quem ama

pode ser brega ou dama.

LA 05/009

 

 

Amor com desamor se paga.

LA 0/009

 

 

Nos cabelos do tolo e do sábio

o amor faz trancinhas.

LA 05/009

 

 

Se tem medo que acabe,

não comece.

Aliás, acabar

pode ser muito bom.

LA 05/009

 

 

Quando a morte vier,

pernas pra que te quero!

Aliás, nem vou estar lá,

mas vendo um filme

de Wood Allen.

LA 05/009

 

 

André era aquele pau

que nasce torto.

Marilda o adorava assim,

e advertia:

Não endireite nunca,

quero você bem torto —

você é uma delícia assim,

assim torto, tortão.

E acrescentava:

Quem ama o torto

direito lhe parece.

E estalava-lhe beijos

que lhe pintavam toda a cara.

Os amigos se babavam

de vê-lo pilotando

aquela nave intergaláctica.

LA 05/009

 

 

Pedir é doloroso,

dar é suave e musical.

LA 05/009

 

 

Amizade é como o vidro,

você não pode

deixar cair.

LA 05/009

 

 

Sim, quem pensa não casa

nem acredita em nada

em forma de asa.

LA 05/009

 

 

Certezas?

Nunca foi proibido tê-las.

LA 05/009

 

 

Gatos ausentes,

piquenique dos ratos.

LA /05/009

 

 

Uma pessoa descalça

ou com os dentes podres

é uma vergonha Nacional.

LA 05/009

 

 

Uma pessoa sem dentes

é uma vergonha odontológica,

antes de ser nacional.

LA 05/009

 

 

Coceira na mão, dinheiro chegando.

Coceira no pé, quem sabe o que é?

LA 0/009

 

 

Preguiça não faz.

Se faz,

não é bem-feito.

LA 05/009

 

 

Quem ri à toa

aprendeu que a vida é boa.

LA 05/009

 

 

Não subestime o inimigo,

mesmo estando enterrado.

LA 05/009

 

 

Estamos aprendendo, mudando...

muito lento,

mas aprendendo, mudando.

LA 05/009

 

 

A mudança exterior dá vertigens,

a interior vai passo a passo,

até porque a maioria

nem quer saber se ela existe.

LA 05/009

 

 

Ah! Mais uma vez o Largo,

o Largo da Boa Morte.

Lolita o atravessava de comprido

duas vezes ao dia —

esvoaçante,

com roupas de vento,

delicadas brisas

e sandálias que a deixavam esguia,

leve e esguia.

Era graciosa, pequena,

de uma beleza simétrica —

um punhado de charme

com pistaches e mumunhas.

À noite namorava o Roberto,

filho do dono do posto.

Sim, namorava o Roberto,

menos às quintas e segundas-feiras

que ele viajava a negócios para o pai.

No alpendre do Rubão, pai da moça,

é que eles armavam o teatro (gratuito)

para nós moleques, de olhos enfiados

pelas fendas da mureta

(sim, a casa ficava bem no fundo).

O moço, frutívoro e apreciador de doçuras,

colhia os favos e amoras

do triângulo de cima.

Depois a avelã do umbigo,

a fatia curta e fina de melancia,

os melões

e, em seguida, com paciência zen,

saboreava-lhe as jabuticabas

por todo o corpo, tudo

degustado devagarinho

e poliglotamente.

Quando Rubão tossia três vezes,

alto e bom som

(era a ordem para a moça entrar),

ambos enfiavam a rabeca no estojo

e o moço ia saindo,

cansado, o rosto pintado como índio em guerra.

Dava-lhe o último beijo afogado

e murmurando amanhã... amanhã, até

amanhã... ele se ia.

LA 05/009

 

 

Às quintas e segundas-feiras

Lolita namorava o Holandês,

um gigante rosado, alto e magro.

Tão alto, que Lolita,

sentada no portãozinho,

ainda ficava menor que ele.

Rubão chegava às sete e meia dos Laticínios Ararat,

e eles já lá estavam abraçados como figueira

a um coqueiro enorme.

Rubão tossia duas vezes e dava volta

pela entrada do corredor da casa.

Dali a pouco os palradores das calçadas,

mulheres, velhos e crianças,

entravam para dormir

com suas cadeiras e banquinhos.

O portãozinho já não rangia

porque o Holandês dava umas moedas pro Juquinha

manter-lhe as dobradiças engraxadas

e a lâmpada do poste sempre quebrada no estilingue.

O teatro era sempre o mesmo com três entreatos

em que só variava a intensidade,

isto é, o abrir-fechar do portãozinho —

metade a gente via, metade adivinhava:

teatro ao vivo e sem censura... 

Quando Rubão tossia forte três vezes

raspando fundo a garganta

e abria a janela lateral para escarrar,

a intensidade daquela máquina singela mas eficiente

chegava ao grau-3, o seu máximo,

e em seguida, como se tivesse acabado o mundo,

tudo cessava.

LA 05/009

 

 

O que é, o que é?

Responde rápido, Marilda:

No começo é caviar,

logo depois sanduíche.

LA 05/009

 

 

Muitas vezes se carrega

o que o diabo não quis.

LA 05/009

 

 

Maturidade precoce —

fruta logo no chão.

LA 05/009

 

 

Entre tolos e sabidos

os dois são igualmente necessários.

LA 05/009

 

 

Venda seu peixe

e deixe-me pescar o meu.

LA 05/009

 

 

O tempo é uma roda gigante.

LA 05/009

 

 

O abstrato é liberdade,

o concreto é opressão,

a menos que o abstraiamos

do abstrato que ele não é,

assim: pela poesia

desvirada do avesso —

a rosa

pelas raízes da roseira.

LA 05/009

 

 

Um “não” a tempo

é piedoso.

Se retardado,

é cruel.

LA 05/009

 

 

Já um “sim” tardio

é como um “não” sem avesso.

LA 05/009

 

 

A gente cai, minha nega,

mas logo se levanta

e bem depressa sossega

e noutro ritmo canta.

LA 05/009

 

 

Dize-me com quem andas

e te direi de onde vem

essa felicidade.

LA 05/009

 

 

Comparar as pessoas

é desprezar diferenças.

Cada um de nós vem buscar

o que lhe falta, e é diferente,

bem diferente o que falta

a cada um de nós.

LA 05/009

 

 

Das crianças se fazem os adultos.

E, resguardadas,

lá dentro de raros adultos,

ainda existem as crianças

que os fazem diferentes —

diferentes e felizes.

LA 05/009

 

 

Um dia a casa cai,

e antes que caia, Rosa,

me dá o vinho

que faço de tuas pétalas.

LA 05/009

 

 

A mentira

é fácil conhecê-la —

nasceu com os pés para trás.

LA 05/009

 

 

A idade de alguém

é quanto ele parece ter.

LA 05/009

 

 

A estrada aberta é caminho exterior,

a que não há se faz pelo trilhar,

a interior se constrói pela busca de um sentido —

sentimento-razão-intuição

são suas bússolas e astrolábios,

e o caminheiro se torna a via andante

de seu duplo caminhar por tempo-espaço

por fora e por si mesmo.

LA 05/009

 

 

Uma mentira traz outra no lombo

que traz outra que traz outra que traz outra...

até a verdade aparecer

e aquelas não serem mais —

não serem mais que vontade

de ser verdade.

LA 05/009

 

 

Nem a psicanálise

fará a sogra lembrar

que já foi nora.

LA 05/009

 

 

Namorar a menina do andar de cima

trará problema na serviçal

além de respingar coriza

no andar de baixo.

LA 05/009

 

 

Se dizes que as uvas ou as bananas

estão verdes,

tome cuidado que os pássaros te desmentem.

LA 05/009

 

 

Mulher feia, gente desonesta

e pessoa narcisista

é o que no mundo mais sobeja.

LA 05/009

 

 

Quem oferece não quer dar,

exceto a bela Marilda

que é sempre muito franca.

LA 05/009

 

 

Tudo tem o seu dia,

tudo tem sua noite —

e isso porque a Terra

vira de lado pra dormir.

LA 05/009

 

 

O meio, não sei se por medo,

vive entre o princípio e o fim.

É um meio que o meio encontra

de conciliar os extremos.

LA 05/009

 

 

Quem tudo quer, tudo perde.

Isto me faz lembrar Marilda:

“Deixei o Carlos, cansei —

queria só para ele.”

LA 05/009

 

 

Segundo a mesma amiga:

“O dar é como diz o Elvis:

não tem futuro,

ou é agora ou nunca,

sim: It’is now or never.”

LA 05/009

 

 

Há pessoas complicadas —

só querem o que não podem.

LA 05/009

 

 

O proibido tenta

porque tirar dos outros

está na natureza

de cada um de nós.

LA 05/009

 

 

Geralmente não me esqueço

das pessoas que fingem

já terem me esquecido.

LA 05/009

 

 

Seguiu o adágio ao pé da letra

e cortou a cabeça

para que o mal não lhe crescesse.

LA 05/009

 

 

Talvez por isso Marilda

me disse que ao telefone

só conversa por metáforas

por saber que ao pé da letra

só dá sujeira:

ácaros, vírus e fungos —

principalmente os fungos.

LA 05/009

 

 

Depois da comida,

minha gata se lambe toda.

LA 05/009

 

 

Muito cuidado, Gabriela,

não deixe que nada caia

ao atravessar a pinguela.

LA 0/009

 

 

Como dizia a Glorinha:

Antes pouco,

um pouco bem apoucado

do que nada.

LA 05/009

 

 

De longe, minha nega,

a gente também se ama.

Se penso muito em você,

naquele dia nem como.

LA 05/009

 

 

Gosto de ver Marilda

como filho de rato —

pelada.

LA 05/009

 

 

A sobremesa de uma transa é outra transa.

LA 0/009

 

 

A verdade dispensa adornos,

mas se os tiver

não há de causar transtornos.

LA 05/009

 

 

A beleza nua e crua

pode até ser chocante,

por isso é que se recomenda

algum paninho com penumbra.

LA 05/009

 

 

Espirro de cabra prenhe

é claro sinal de chuva,

vento forte sob saia

é refresco de viúva.

LA 05/009

 

 

Nada como um dia depois do outro —

assim a gente gasta menos luz.

LA 05/009

 

 

Homem é o bicho

mais parecido com mulher

que Deus deixou no mundo.

LA 05/009

 

 

Seguro morreu de velho, e assim mesmo

por desvio do último boleto.

LA 0/009

 

 

Melhor manter a estrada velha,

nada de outra janela,

nega.

LA 05/009

 

 

Ser corno é um privilégio

dos que amaram dolentemente —

com paixão.

E depois de chorar

os fantasmas de seus genes,

viram que não tinham nada

a não ser deveras nada

e aprenderam a rir de si mesmos

aquele riso bom e catártico,

irmão do riso do arlequim.

LA 05/009

 

 

Nariz e orelhas frias,

coração quente —

amor em pencas.

LA 05/009

 

 

Delícia é ouvir amor falar —

quanto mais fala

mais mente,

quanto mais mente

mais jura.

LA 05/009

 

 

Quem promete não cumpre,

quem cumpre não prometeu.

LA 05/009

 

 

Deixa estar, jacaré!...

Vou contar tudo

pra jacaroa.

LA 05/009

 

 

Se o sono, nega, é irmão da morte,

quando ela vier

tomamos uns rebites.

LA 05/009

 

 

Uns amam e se matam,

outros enchem a barriga.

LA 05/009

 

 

Marilda é uma apaixonada

da arte de amar.

Casou seis vezes,

gosta de não saber

dos ontens e dos amanhãs

e não se cansa de afirmar:

O mais belo do amor

é quando acaba.

Marilda adora

ambiguidades,

poesia

e fazer nada.

Sempre soube fazer

bons amigos,

amigos pra valer —

do peito.

LA 05/009

 

 

E então, comadre,

fica o dito por redito

e me disfarço

de Benedito

que é o teu Dito?

LA 05/009

 

 

Se até as coisas sem pernas

se encontram, minha nega,

por que nós não nos haveríamos?

LA 05/009

 

 

O adorável da missa é a bênção final.

LA 05/009

 

 

Quando a saúde falta,

então sentimos saudade

de nós.

LA 05/009

 

 

Mais adoráveis,

mais belos,

mais infinitos que uma rosa,

só os beijos de Rosa.

LA 0/009

 

 

Tua lindeza, nega,

sobe desce vai não vai

treme ondeia balança —

mas não cai.

LA 05/009

 

 

Queira enquanto pode querer,

e quando já não puder

então verá que um dia

enquanto você podia

pôde realizar

o seu querer.

LA 05/009

 

 

Deus tarda,

a espera tarda,

a mão amiga tarda,

a vida tarda,

mas nem por isso a tarde

deixará de ser noite

e a noite, esplêndida manhã.

LA 05/009

 

 

Muita beleza

é mais do que convém —

assim deixa de ser um bem

o que se pensa que se tem.

LA 05/009

 

 

O sol dá a luz,

a sombra é feita

pelo que à luz

lhe dá as costas.

LA 05/009

 

 

Quando a lei não ressalva

a natural necessidade,

dá lugar à revolta,

à pilhagem,

ao crime.

LA 05/009

 

 

Já que a pressa, minha nega,

é inimiga da perfeição,

façamos bem devagar —

devagar-devagarinho.

LA 05/009

 

 

Não, seu Nava, a experiência

não são faróis para trás.

Pela lei da analogia

ela manda os seus raios

para fora, para dentro

e para todo lado.

LA 05/009

 

 

Se as leis se fazem

excessivamente iníquas,

as armas as calam.

LA 05/009

 

 

Quando a justiça vira iniquidade,

é enforcada pela própria tripa.

LA 05/009

 

 

O coração e a boca

estão sempre em descompasso.

LA 05/009

 

 

Com arte e engano

amor toca piano.

Com manha e arte

dispara o bacamarte.

Com charme e classe

toureia seu impasse.

LA 05/009

 

 

Um beijo, nega,

justifica outro beijo

como uma transa abona outra.

LA 0/009

 

 

Através dos milênios

o homem tem feito duas coisas

não se sabe qual delas

com mais tesão —

o amor

e a guerra.

LA 05/009

 

 

Carregar cruz rio abaixo,

até dá pra montar.

LA 05/009

 

 

Bicho entocado não sai.

Muitos trovões, chuva não cai.

LA 0/009

 

 

Um gambá não sente o cheiro do outro.

LA 05/009

 

 

Se igreja fosse lugar de Deus

não precisava de pregador.

LA 05/009

 

 

Cabra espirrou, choveu.

Comadre enviuvou,

compadre socorreu.

LA 05/009

 

 

É só elogiar

para ver o contrário.

LA 05/009

 

 

Semancol é um xarope

contra as grandes xaropadas.

Tenhamo-lo à mão.

LA 05/009

 

 

Ninguém é profeta em sua terra

porque ali todos querem

que ele não passe de um panaca.

LA 05/009

 

 

Galinha velha dá bom caldo,

mas a nova dá melhor travesseiro.

LA 0/009

 

 

Quando quero, nega, eu vou,

quando não quero, te chamo.

LA 05/009

 

 

Se não há, nega, efeito sem causa,

a cada um que criamos

é bom logo descausar.

LA 05/009

 

 

Com o tempo vem o prejuízo.

LA 05/009

 

 

Tempo é dinheiro —

ganhemos tempo.

LA 05/009

 

 

Há os que não param de enriquecer,

decerto porque pensam

que ganhando dinheiro

ganham tempo.

LA 05/009

 

 

Sim, o problema do dinheiro

é que ele cria um tempo

feito só de libido.

Quem puder que se deslibe.

LA 0/009

 

 

Libei teus favos,

provei teu corpo.

Que mais eu quero?

LA 05/009

 

 

Aproveita que o carro não é teu —

faz roncar o motor e cantar o pneu.

LA 05/009

 

 

A gente se coçar é uma coisa,

procurar sarna, nega, não convém.

LA 05/009

 

 

Venda seu peixe, o meu vou dar para a vizinha.

LA 05/009

 

 

Amor é bom pescador —

pesca peixes que há e os que não há.

LA 05/009

 

 

A mentira é uma delícia

quando vem de uma boca

que retocou o batom.

LA 05/009

 

 

Caridade de rico é barganha.

LA 05/009

 

 

Deu a canoa para o amigo —

tinha mais furos que dois pés podem tapar.

LA 05/009

 

 

Se o diabo pudesse mais que Deus,

deus seria o Diabo.

LA 0/009

 

 

Quem tem governo e perde eleição

não soube governar não.

LA 05/009

 

 

Em geral

as pessoas adoram a mentira —

ela lhes serve de bandeja

o que a verdade nunca serviria.

LA 05/009

 

 

A verdade queima a língua dos poderosos,

quase sempre ela fala

pela boca dos pequenos.

LA 05/009

 

 

Mulher muito bonita não vale as traições.

A maioria dos homens adora

vê-las casadas com seus amigos.

LA 05/009

 

 

Santo Sofósio!

Tudo o que é bom neste mundo,

tudo o que é belo e gostoso

ou é pecado ou faz mal.

LA 0/009

 

A verdade provoca ódios cavilosos

por ameaçar interesses

e exumar o passado.

LA 05/009

 

 

A mentira põe a coroa

e dança como princesa

só enquanto a verdade

vai conversar com o marquês, no quarto.

LA 05/009

 

 

A ambição embota, anestesia

o coração

e aguça a astúcia

que leva à gulatria.

LA 05/009

 

 

Deus dá asas a quem não sabe voar

e boas pernas pra quem sabe usá-las.

LA 05/009

 

 

Deus também tem a fama de dar nozes

aos pobres que jamais tiveram dentes

e sempre escrever certo em linhas tortas.

LA 05/009

 

 

Deus nos dê esperança e paciência

para vermos aquela realizar-se.

LA 05/009

 

 

De boas intenções as pessoas estão cheias,

tão cheias que nem podem mais encher-se.

LA 05/009

 

 

Quando as comadres se zangam,

que se cuidem os compadres!

Coisas podres cairão

sobre a cabeça dos dois lados.

LA 05/009

 

 

A amiga da minha amiga,

além de ser mais bonita

que um pêssego de amostra,

tinha até, muito discreta,

aquela pilosidade

amarelinha.

LA 05/009

 

 

Quem ama vê com olhos interiores,

por isso vê com muito mais sentido.

LA 05/009

 

 

A escrita de Deus por vezes é terrível,

mas temos de interpretá-la

como se não houvesse as letras,

e, sim, pela leitura

de seu espírito.

LA 05/009

 

 

Não é por serem bênçãos

que as bênçãos deixam

de ser conquistas.

LA 05/009

 

 

Nem inferno, nem paraíso,

o amor é essa delícia

de caminharmos juntos —

libando sonhos e desenganos,

venturosas desventuras,

mentirosas verdades

e gostosos enganos

até as certezas incertas

de um ponto zero

que nos aclara e redime.

LA 05/009

 

 

Sim, amar é aprender a andar no arame

que vai de nós ao outro,

que vem do outro a nós —

com a maromba

do sorriso de Deus

treinando as suas criaturas.

LA 05/009

 

 

Não raro jogamos fora

o que temos na mão

para enchê-las de vento.

LA 05/009

 

 

A vaidade é o que temos de mais visível.

LA 05/009

 

 

O coração sabe,

só precisa recordar.

LA 05/009

 

 

O sexo,

pelo querer-amar de duas criaturas,

além de troca de energia e vida,

modulação de arquétipos

e ensaios do recriar,

é o maior prêmio concedido.

LA 05/009

 

 

Toda oração

é um brilho no futuro,

um sorriso para o passado

e um abraço no presente.

LA 05/009

 

 

Se não vemos as coisas como um todo,

seus detalhes nos roubam a unidade —

sua total beleza.

LA 05/009

 

 

Quem pretende escalar um monte

não vê colinas nem outeiros —

mas apenas o monte.

LA 05/009

 

 

Toda injustiça deve ser vista

e analisada por nós com toda a força

do nosso discernimento.

LA 05/009

 

 

Um conselho

é uma arma branca perigosa

e jamais se acomoda na bainha

que não seja a de seu dono.

LA 05/009

 

 

De vez em quando é bom nos desfocarmos

da rotina e de nós mesmos

buscando outros canais de ver.

LA 05/009

 

 

Quando o amor quiser ir, deixa que vá.

Se tentas impedi-lo,

já vira desamor

e se volta contra ti.

Deixa que vá e confia:

tua certa companhia

virá.

LA 05/009

 

 

Há quem sofra, por antecipação e medo,

um sofrimento

por que jamais irá passar.

LA 05/009

 

 

Em geral nossa mente

é a vilã da casa.

Precisamos exercitá-la

para que ela trabalhe

sempre a nosso favor.

LA 05/009

 

 

As potências adormidas

que trazemos em nós

esperam por serem preparadas

em nosso benifício

e de toda a humanidade.

Esta é a lei e o destino

de ser.

LA 05/009

 

 

Na vida temos de mudar

várias vezes a chave do destino —

trocamos caminhos por veredas,

estradas por atalhos

através da via andante

que somos nós —

pela nossa vontade

e aparelhagem de ser.

LA 05/009

 

 

Lutar contra o irremediável

é não saber que o tempo

traz em si o remédio.

LA 05/009

 

 

Estamos a caminho de nós mesmos,

para chegarmos lá não saberemos

por quantos outros-nós teremos de passar

até a essencialização daquele

que nos libertará do autoengano

do círculo e de nós.

Até lá, ajudemos

e peçamos ajuda.

LA 05/009

 

 

Todo ato no presente

ecoa no futuro

e rebate no passado —

e esses três se redimem

trinamente:

tempo-ser-movimento.

LA 05/009

 

 

Se você evolui,

evoluem igualmente

suas células e átomos.

O alimento que se ingere

transforma-se em energia

no animal

e energia e consciência

no homem.

Sim, o metabolismo

é o processo de evolução

por excelência.

LA 05/009

 

 

O indivíduo, vestindo

a consciência de ferro do mundo,

perde a magia do universo

e a graça da vida

e fica com o dois-e-dois-são-quatro

dos que rastejam pelas letras

sem entender o seu espírito.

Apaga em si o dom

de redimir-se no passado

e projetar-se no futuro

pelo fazer sobre o presente.

O sonho de quem sabe

é o realizar-se

pelo ousar de um querer

que essencializa a vida

e faz acontecer o renascido,

incubado e trazido pelo tempo

que o entrega nas mãos do hoje.

Ser e tempo,

tempo e ser

a executar a sinfonia

redentora das esferas.

LA 05/009

 

 

A dúvida é o estímulo da caminhada,

sem ela a certeza

seria uma princesa

em seu castelo de nada.

LA 05/009

 

 

Falamos muito de respeito,

mas não sabemos o que é isso —

só fomos educados

para “vencer” a qualquer preço.

LA 05/009

 

 

De quedas e levantares

vamos fazendo o caminho

que leva a novas quedas

e outros levantares.

Entre cair e reerguer-se

o homem aprimora o passo.

LA 05/009

 

 

Se grandes são as injustiças,

árduas e áridas as nossas lutas,

turvos os males e tribulações,

devemos nos lembrar de que é das nuvens

mais revoltas e negras que nos vem

a água mais fresca e pura.

LA 05/009

 

 

As belas canções não morrem,

ficam silentes na memória

à espera de que as recordemos,

mas morrer não morrem nunca —

antes oram pelas almas

dos amores que embalaram.

LA 05/009

 

 

Engajamento? Só com a vida.

LA 05/009

 

 

Entre xeques e lances, Bem e Mal

jogam o seu xadrez.

LA 05/009

 

 

Bondade às pazadas

tem algo letal —

enterra-nos fundo.

LA 05/009

 

 

A inteligência não sei o que diz,

mas a astúcia nos aconselha

a sermos flexíveis.

LA 05/009

 

 

O bom senso é um pano que cai bem

mesmo pra quem anda pelado.

LA 05/009

 

 

Foge dos que não sabem rir.

LA 05/009

 

 

Nossa alegria,

nossa paz

e felicidade,

ou o contrário desses bens, —

respondem por nosso chamado.

LA 05/009

 

 

Quem não pergunta

vai demorar bem mais

para chegar.

LA 05/009

 

 

Se os risos de bocas e olhares

o melindrarem,

não serves para arlequim —

o que sabe que sabe fazer rir.

LA 05/009

 

 

Pisa o chão com respeito,

com carinho —

tudo começa aqui.

LA 05/009

 

 

Os pequenos vazamentos

derrubam construções gigantes.

LA 05/009

 

 

O tamanho da montanha não importa,

será bem pequenina para o sol.

LA 05/009

 

 

Por serem muito menos duras

as línguas resistem mais que os dentes,

e além disso saboreiam

sabores os mais gostosos.

LA 05/009

 

 

Um falso amigo,

além de lhe fazer mal

pode lhe ser perigoso.

É preciso desativar

o sistema explosivo

desta falsidade —

dizer ao malandro

um tchau mesmo.

LA 05/009

 

 

Espere o melhor, prepare-se para o pior

e do jeito que vier: Três palitos!

LA 05/009

 

 

Fiquei furioso por não ter visto Helena

dentre a multidão descendo as escadarias do museu...

Foi aí que topei com um cego numa cadeira de rodas,

que me detém, pelo tato, e pergunta:

Vês a minha gata? Vê bem aos lados,

á frente, atrás: é fácil reconhecê-la:

A mais bela moça que vires, é ela.

Então me disse: tu a vês? Não —respondi.

O que vejo agora é minha gata!

E como é ela —me pergunta —

como é ela? —Sim, como é ela?

Linda como ela só. Adorável,

a mais adorável das mulheres...

Meu Deus, então me chama essa mulher —

lhe diz que o cego quer, precisa vê-la...

E ele foi lhe fazendo sinais até que ela veio...

E o cego a procurou com as mãos entre as mãos,

passou-lhe a mão no roto, nos braços,

cantaram juntos uma canção

que ambos fazia muito conheciam...

Falaram da comida que faziam,

do jogo de gamão, dominó, do pega-varetas...

E o cego diz ansioso e exultante:

Agora precisamos encontrar a sua —

Procure-a que ela está por perto...

De fato ele a viu descendo as escadarias do museum,

bela perecidíssima com a sua (ou com a outra),

que lhe viu e toda mãos, toda sinais, sisos,

abraçou sua irmã gêmea que estava aos braços

do André (o cego) e as irmãs se abraçaram, se beijaram,

lembraram coisa da infância, do colégio.

Não se viam havia vinte anos

LA 05/009

 

 

O último adversário a ser vencido

chama-se nós-mesmos.

LA 05/009

 

 

Vá devagar com as pessoas,

não se deixe seduzir

pelas papoulas de suas palavras

nem pelos seus gestos refinados.

Muitas têm cobras e escorpiões

no coração

e na boca a meiguice de Jesus.

LA 05/009

 

 

Façamos amizade com os ventos

e aprendamos a navegar

prosperamente assoprados.

LA 05/009

 

 

Quem perdeu a ternura da infância

como irá agora de mão dada

passear com a alegria

pelas praças e parques

e saborear as delícias

de molhar os seus pés num chafariz?

LA 05/009

 

 

Só a boa intenção não basta,

tens que dispor também das ferramentas

para modificar a realidade.

LA 05/009

 

 

A quem tudo quer saber

diz-se a coisa pelo avesso

ou pela água de seu banho.

LA 05/009

 

 

Sim, a união faz a força —

por isso tantas guerras.

LA 05/009

 

 

Amor com desamor se paga

e com desdém se afaga.

LA 05/009

 

 

Com o amigo e com o inimigo,

olho aberto, bem aberto.

LA 05/009

 

 

Devagar e bem baixinho,

as paredes também têm vontade.

LA 05/009

 

 

Burro velho

não pode com mulher nova.

LA 05/009

 

 

Olha, compadre,

isso de razão e gosto —

é cada um ca sua

e cada um cu seu.

LA 05/009

 

 

No começo é difícil, depois não —

longe da vista, longe do coração.

LA 05/009

 

 

Entre a pobreza honrada

e a nobreza aviltada —

prefiro nenhuma delas.

LA 05/009

 

 

Mais vale um pé de porco no feijão

que o seu amor que não é meu.

LA 05/009

 

 

Mais vale saber do que ter,

quando ter não implica grande coisa.

LA 05/009

 

 

A qualidade do pão

vai depender da fome,

a da beleza

de quem a vê.

LA 05/009

 

 

Não, não me venhas, nega,

com tuas meias palavras —

nunca fui bom entendedor.

LA 05/009

 

 

O homem de hoje

com a ajuda da psicanálise

está banindo a culpa.

Não sei o que vai fazer “sem ela”

já que ambos são uma só carne.

LA 05/009

 

 

Quando quiser mentir

fale do fim do mundo.

LA 05/009

 

 

Se quiseres ensinar

o que não soubeste nunca

nem nunca irás saber,

escreve um livro

sobre a arte de amar.

LA 05/009

 

 

Quem deixa o certo pelo incerto

é por que viu decerto

que o incerto pode ser mais certo.

LA 05/009

 

 

O conto se enriquece

com cada um que o conta,

pois ao contar lhe acresce

o que é de sua conta.

LA 05/009

 

 

Desdenhou de você?

Então, nega, segure a venda,

e espere: este paga caro.

LA 05/009

 

 

Numa briga

fala-se o que quer,

ouve-se o que não quer.

Uma delícia —

fica-se sabendo

o que o outro pensa

do outro.

LA 05/009

 

 

Não tenho, nega, do que me queixar —

tenho você (de vez em quando),

o meu cachorro (sempre)

e os bolinhos de chuva

da vizinha de baixo

(quando a mãe dela não está:

ela é guardanoturno).

LA 05/009

 

 

Quem espera sempre alcança,

desde que o sonho não lhe venha

na ponta de uma lança.

LA 05/009

 

 

Quem ri por último,

muitas vezes ri sem lábios.

LA 05/009

 

 

Saudade é o gosto de sofrer

de quem não tem nada melhor.

LA 05/009

 

 

Quem sabe em geral não diz,

quem diz em geral não sabe.

LA 05/009

 

 

O eldorado foi um sonho

que não sabia

não ser tão belo assim.

LA 05/009

 

 

Quem tem grana vai a Roma

lembrar-ouvir as loucuras

do Coliseu,

as suas e as dos que já foram —

uma delícia o tilintar dos gládios,

urros de feras, gritos lacerados

e sanguinosos.

E assim revive o pão e circo,

tão atual e um pouco diferente

por esse mundo pluriteologizado.

LA 05/009

 

 

A vitória nos mima,

nos faz dançar

lá nas nuvens branquinhas.

A derrota nos punge,

nos faz rolar na lama

feita por nossas lágrimas.

Só com o tempo aprendemos

que essas duas não passam

de belas impostoras.

Ganhar, perder,

sair-se bem,

quebrar a cara —

tudo isso pode ser visto

(com calma e riso)

como coisas da vida.

LA 05/009

 

 

Quem se leva muito a sério

não sabe rir de si mesmo.

LA 05/009

 

 

Sempre esquecia seus guarda-chuvas,

com seu nome e endereço gravados.

Um dia foi baleado pelo doutor Cunha,

aliás, seu melhor amigo.

LA 05/009

 

 

Diz-me com quem tem andado

e verei se adivinho

o quanto vais me cobrar.

LA 05/009

 

 

Minha nega era inquieta, era elétrica,

sempre plugada.

Pra desligá-la

era que nem computador —

eu ia lá no iniciar.

LA 05/009

 

 

Ela era tão fofa, era tão doce,

que em pouco tempo comecei a engordar.

LA 05/009

 

 

Não se mate de estudar —

antes burro do que morto.

LA 05/009

 

 

Fracassar é bem humano,

mas botar a culpa no outro

é ainda mais humano.

LA 05/009

 

 

Era bem moço... eu sei, mas

calma... não desespere —

morrer não é o fim do mundo,

é só o fim da vida.

LA 0/009

 

 

Um mundo melhor? Claro que existe,

mas sempre foi caríssimo —

não é pro nosso bico.

LA 05/009

 

 

Existe até um céu,

mas um lugar tão restritivo,

tão exigente e sobre-humano,

tão pecuniário,

que para ir pra lá

só mesmo os donos dele.

LA 05/009

 

 

A pessoa que não tem sorte

com o sexo oposto

nem sabe a sorte que tem!

LA 05/009

 

 

Não, trabalhar não mata,

não mata...

Mas sabe como é...

cada qual é tão diferente do outro...

Isso é que nem remédio:

pra uns faz bem,

pra outros traz reações adversas,

e muitas vezes terríveis.

Mas matar, matar mesmo,

acho que não mata.

ÇA 05/009

 

 

Com puxe e empurre

entrarás em mil e mil

lugares,

inclusive... Sim, inclusive.

LA 05/009



 

Não, não sou um completo imbecil,

para completo falta a pós,

pós-graduação.

LA 05/009

 

 

Faço com quem eu quero

e não com quem me obrigue —

era o lema ante estupro

de Marilda

que desde bem mocinha

carregava uma pochete

encaixada lá embaixo.

LA 05/009

 

 

Cuidado com as alturas —

você tem chifres, não asas!

LA 05/009

 

 

Um prodígio:

trinta anos com a mesma mulher!

Trinta anos

e a esposa jamais desconfiou.

LA 05/009

 

 

Numa palestra zen

o professor se esforçava:

Cuidado, sempre muito cuidado,

para não perderem o controle!

Sem o controle, somos nada,

voltamos a ser bichos,

nos degradamos,

vencidos por nós mesmos,

sem saber o que fazer!

Não é mesmo, bela moça, —

perguntou à Marilda,

que se coçava o joelho,

um tanto desatenta.

Sim, que faria a bela moça —

continuou:

que faria a bela moça

caso perdesse o controle?!...

Marilda, meio acordada,

meio dormindo,

pimbou afoita:

Fácil, mestre:

eu mudaria de canais com o dedo!

LA 05/009

 

 

Para não poucos

a vida é bem mais curta

que o carnaval.

LA 05/009

 

 

Quando chegava a hora

do lobo se entocar,

Marilda dizia ao marido

que estava com disenteria.

Sua amiga do peito, a Gracinha,

ficou muito pê-da-vida:

Coitado, Ma, Coitado! Não devias

ser assim tão fatídica!

Por que não usas, menina,

a nossa frase clássica?

É que eles, Gra, é que eles

nem ligam pra nossa cabeça.

Mas vem cá, ó das Graças,

quem foi que te contou isso?!...!

A Glorinha, Marilda, a Glorinha

da farmácia... a que sempre capitaliza

com gentileza e prontidão

as tuas mentirinhas.

LA 05/009

 

 

Padre Libório era um santo.

As beatas se dividiam

em horas e dias do mês

para sorver-lhe as bênçãos.

LA 05/009

 

 

Se calar fosse ouro,

os mudinhos seriam milionários.

LA 05/009

 

 

Claro que entendo,

às vezes

é melhor não entender.

LA 05/009

 

 

O bocado que era nosso

nem sempre vem no prato,

isto é, vem mordido.

LA 05/009

 

 

Sim, o melhor do bocado

sempre nos roubam.

LA 05/009

 

Quanto mais impoluto o pano,

mais fácil é manchá-lo.

LA 05/009

 

 

No limpo, no muito limpo,

é que se vê bem a nódoa.

LA 05/009

 

 

No sujo o brilho é interior,

se é que o há.

LA 05/009

 

 

Há um jeito de conciliar

ser velho com não morrer novo?

Engraçado...

parece que ninguém quer

nem uma coisa nem outra.

LA 05/009

 

 

Impossível não ser corno.

LA 05/009

 

 

Ódio velho fica malandro —

vira amor.

LA 05/009

 

 

Os extremos se tocam

e podem acender a lâmpada.

LA 05/009

 

 

Os opostos se explicam

como se fossem

uma só coisa.

LA 05/009

 

 

Para quem não quer entender

não há o que explicar.

LA 05/009

 

 

Se não puder ser um pinheiro

no topo da colina,

dê graças a Deus —

não será chicoteado pelos ventos.

LA 05/009

 

 

Palavra de rei não volta atrás,

porque é dada de costas para o abismo.

LA 05/009

 

 

Perguntar não ofende,

sobretudo se a quem se pergunta

é o nosso velho cachorro.

LA 05/009

 

 

Passarinho que anda com morcega

acaba apaixonado.

LA 05/009

 

 

Entre não ser velho

e não morrer novo

a gente vai vivendo

coisas novas e velhas.

LA 05/009

 

 

Em geral procuramos fora

o que só dentro de nós existe.

LA 05/009

 

 

O tempo,

será que foi ele que construiu

o que destrói?

O tempo,

de que doença sofre o tempo,

esse ditador de presentes,

demolidor de passados,

inventor de futuros?

O tempo,

até que ponto o tempo é o ser

e até que ponto o ser o é?

O tempo,

o tempo existe mesmo

ou só é uma desculpa

para podermos ser?

LA 05/009

 

 

É possível não nos pormos

no pouco ou muito que fazemos?

LA 05/009

 

 

Por vezes nos fazemos jegues

de tamanhas preocupações,

que nos privamos (do mesquinho

mas razoável bocado)

da alegria de viver.

LA 05/009

 

 

Se tudo é de Deus,

que tudo fique para Ele e nas mãos Dele!

LA 05/009

 

 

Felicita os que encontraram a verdade,

e segue com a tua.

LA 0/009

 

 

O que você faz no dia-a-dia

mostra bem claro o que você é.

LA 05/009

 

 

Quem muito ouve

de vez em quando aprende,

quem muito fala sempre se arrepende.

LA 05/009

 

 

A vida nos dá o texto,

o comentário é nosso.

LA 05/009

 

 

O bom de não saberes aonde vais

é que não terás ventos a favor

nem contra.

Muitos fazem questão de não saber.

LA 05/009

 

 

Muitas vezes não fazer nada

é fazer o melhor,

mas só nós saberemos disso.

LA 0/009

 

 

Se as sombras estão atrás ou à frente

pouco importa,

o relevante é sabermos que a luz existe,

dentro e fora de nós.

LA 05/009

 

 

Se o ar faltar

ainda tens o sopro,

lembras?

LA 05/009

 

 

O objeto observado tem muito de nós,

do nosso tom

de ver-sentir-pensar o mundo,

e de tal sorte que o que vemos mesmo

somos nós próprios

fossilizados nele.

LA 05/009

 

 

O passado são fantasmas.

Pelo simples viver o hoje,

com certa iluminação interna,

a gente os faz correr.

LA 05/009

 

 

Em geral queremos ser bons

bem mais do que entendemos

o que é ser bom...

Então nos amarramos com os cipós

de uma selva

em que andamos em círculos.

LA 05/009

 

 

Querermos ser melhores do que somos

é louvável, é natural e necessário,

mas daí a corrermos numa maratona

sem ensaios nem preparos —

vai uma distância inglória

e, não raro, desanimadora.

Caminhar, no caso,

será bem melhor que correr.

LA 05/009

 

 

Precisamos, não de complacência,

mas de paciência com nós mesmos.

LA 05/009

 

 

Quem engole sapo é cobra,

que também pica.

LA 05/009

 

 

Para entender,

olhe pra trás.

Para viver,

só olhe para a frente.

LA 05/009

 

 

Nosso caminho

(belo e infinito)

não se encontra fora,

mas dentro de nós.

LA 05/009

 

 

O homem que vence o outro

não fez nada

a não ser vencer o outro.

O homem que vence a si mesmo

derrota o que o impedia

de realizar-se.

LA 0/009

 

 

Nosso fazer reflete

o que somos por dentro.

LA 0/009

 

 

Falarmos de algo ou alguém

implica não só o ângulo de vê-lo,

o modo e a capacidade de entendê-lo,

mas sobretudo o que somos.

LA 05/009

 

 

O muito em geral prejudica —

muito dinheiro, muita luz, muita sombra...

O muito é muito.

LA 05/009

 


Saber que não sabemos

nem é sinal de inteligência.

LA 05/009

 

 

Se você perde o entusiasmo e a força,

quem lhe dará,

onde achará

coisa melhor?

LA 05/009

 

 

Quando você decide e quer

o destino se escreve.

LA 05/009

 

 

Tuas perguntas revelam

onde tens os pés.

LA 0/009

 

 

Você pode, sim, fazer aquilo

que pensa não ser capaz de fazer.

LA 0/009

 

 

Não corrigirmos nossas faltas

é pensarmos que o mundo está errado.

LA 05/009

 

 

Se hoje você não viu nada de belo

amanhã também não verá.

LA 0/009

 

 

Nas festas, muitos amigos;

nas tribulações, nosso cachorro.

LA 05/009

 

 

Quando pensas ter dissecado

uma obra de arte,

só a mataste para ti.

O mais belo de uma obra

é o seu lado inalcançável —

aquele que saboreamos

de lado, sempre de esguelha,

e nos vai abrindo postigos

de um ver em revisões.

LA 05/009

 

 

À medida que o tempo passa

a esperança se torna

a grande amiga da alma.

LA 05/009

 

 

A arte de ser feliz

em meio à infelicidade

não é uma doidice,

mas uma postura de vida.

LA 05/009

 

 

Inimigos não merecem

que gastemos nosso tempo

lembrando-lhes o nome.

LA 05/009

 

 

O amor não tem idade,

apenas nasce em nós

quando menos esperamos

e se vai quando pensamos

que é para a vida toda.

LA 05/009

 

 

O amor só precisa ser eterno

em sua intensidade.

LA 05/009

 

 

A beleza,

por mais fugaz,

é sempre eterna.

LA 05/009

 

 

Quando a saudade dói

está na hora

de telefonar para ela.

LA 05/009

 

 

A mentira é a verdade que se adia.

LA 05/009

 

 

O dia do sábio

é o mesmo do ignorante,

o que o diferencia

é o modo de vê-lo

e vivê-lo.

LA 05/009

 

 

Sempre que exacerbados,

o sábio e o tolo se igualam.

LA 05/009

 

 

Nem sempre se lê um bom livro,

ou se ouve uma linda canção.

Nem sempre os olhos

traduzem os hieróglifos

de um coração que nos olha.

LA 05/009

 

 

O que está no coração

não dá para tirar da cabeça.

LA 05/009

 

 

Desceu ao fundo da alma

e lhe trouxe daquelas flores

que a gente nem sabe que existem.

LA 05/009

 

 

Uma vela no escuro

é toda a luz do universo.

LA 05/009

 

 

Quando o amor morre

ressuscita ainda mais belo.

LA 05/009

 

 

Quem pode faz,

já quem não pode —

ensina.

LA 05/009

 

 

Vê lá se o mundo precisa mudar!

Está tão bom assim.

Só se fosse mudar para melhor,

aí sim

a gente iria pensar

se fora bom mudar.

LA 05/009

 

 

Seja bacana com seus filhos. São eles

que vão abandoná-lo na velhice.

LA 05/009

 

 

E não é que Ricardo

conseguiu passar a mulher pra diante?!

LA 05/009

 

 

A mulher o ajudava muito,

em todos os setores,

aliás, ia sempre na frente,

como uma esposa-mãe,

solícita, destemida,

tomava a dianteira

para dar-lhe coragem —

até pra ele ser corno

ela empenhou-se como nunca.

LA 05/009

 

 

Tem-se a impressão de que o homossexualismo,

aliás, como ocorreu com a cornitude,

se torne obrigatório nesta terra.

LA 05/009

 

 

Mulher faz mal

quando não vem.

LA 05/009

 

 

Competir com os grandes não dá —

não roube.

LA 05/009

 

 

Mulher? Qualquer um tem.

LA 05/009

 

 

Sim, macho come abelha,

machão come ferrão.

E os delicados?

Comem filés de borboleta.

LA 05/009

 

 

Dias virão

em que os dias

não haverão de vir —

apenas nascerão,

sorrindo pela manhã,

tediosos pela tarde,

e se porão,

inúteis —

por já não terem quem os veja.

LA 05/009

 

 

Chove aí, chove aqui,

alagamentos, enchentes,

inundações...

Xi, querida, fudeu!

LA 0/009

 

 

Toda manhã em que acordo

sinto que me foi dado mais um tempo.

LA 05/009

 

 

Quando o caminho da coisa não existe,

a tal coisa é o caminho.

LA 05/009

 

 

Se viu que alguém não serve pra você,

certamente não lhe serve.

LA 05/009

 

 

Se você viu que o amigo é falso,

ele já não é seu amigo.

LA 05/009

 

 

Nasci careca, pelado e sem dentes.

Hoje sou realizado: tenho tudo isso.

LA 05/009

 

 

Da primeira bobeira a gente nunca se esquece.

LA 05/009

 

 

A vantagem de não prestar muita atenção

é a gente transar sempre

e achar que é quase sempre bom.

LA 05/009

 

 

Quando tudo dá errado,

põe-se a culpa no carma, no destino

ou em alguém.

LA 05/009

 

 

Não brinque com fogo, com água —

esses caras não sabem brincar.

LA 05/009

 

 

Em menino, a ver minhas tias, mãe e primas,

pensava que as mulheres eram difíceis.

Depois vi que eram muito mais difíceis.

LA 05/009

 

 

Os desmemoriados têm a consciência limpa.

LA 05/009

 

 

Um pequeno iate,

uma pequena mansão,

um pequeno Rolex,

uma pequena fortuna —

sim, a felicidade

está nas pequenas coisas.

LA 05/009

 

 

Ele tinha um caso para cada desculpa.

LA 05/009

 

 

A calcinha é a coisa

do outro lado.

LA 05/009

 

 

Marilda?

Uma gostosidade exótica.

Mulher pra se comer rezando.

Uma festa ululante.

LA 05/009

 

 

Tive um amigo

que não ria,

não xingava,

não falava

nem via bobagens,

não contava piada,

não fazia

nem deixava fazer nele.

LA 05/009

 

 

Beleza interior, nega, não precisa —

não se consegue ver lá dentro.

LA 05/009

 

 

Melhor que o Príncipe, menina,

é o Lobo Mau —

que te vê,

que te ouve

e pode te comer.

LA 05/009

 

 

Bem lá no fundo, o amor é puro ódio.

LA 05/009

 

 

Todo ser tem um destino cósmico.

LA 05/009

 

 

Se o ser humano é forte ou fraco

vai depender de sua infância.

LA 05/009

 

 

Na construção do homem

é que se chega ao céu.

LA 05/009

 

 

O homem há de ajudar o homem

a sair do seu autoengano.

LA 05/009

 

 

Deus é a nave e seu Capitão.

LA 05/009

 

 

Somos essencialmente cósmicos.

LA 05/009

 

 

Se mudamos as perguntas,

já não sabem nos responder.

LA 05/009

 

 

A ambição é gulatria,

só acaba

quando já não tem boca.

Os gulatras são os donos.

LA 05/009

 

 

O mundo faliu outra vez

com a especulação financeira.

Mais uma vez o pobre vai pagar a conta.

LA 05/009

 

 

Temos altos e baixos como a água,

ora no céu,

ora na terra.

LA 05/009

 

 

Um par de olhos

atrás de uns óculos escuros

fazem o maior estrago.

LA 05/009

 

 

Quem aprende coisas,

desaprende outras,

isto é, reaprende-as no aprender.

LA 05/009

 

 

Em geral estamos sendo

quem escolhemos ser.

LA 05/009

 

 

A alegria tem a cor do ouro,

a transparência do diamante

e o elixir que é a graça e a força

de um coração.

LA 05/009

 

 

Viver é como chamar por alguém que passa...

ou você faz ou nunca mais.

LA 05/009

 

 

Viver esperando um bem

que todo dia salta

para amanhã —

é gostar de ser logrado.

LA 05/009

 

 

Viver intensamente

é saber variar

intensidades.

LA 05/009

 

 

Há quem consiga viver

mais que um dia de cada vez,

esses tais são os aflitos.

LA 05/009

 

 

Somos o quanto sabemos,

já que a verdade

é o quanto podemos suportar.

LA 05/009

 

 

Gostamos de fazer

talvez por que sabemos

que é a forma pessoal

de existir.

LA 05/009

 

 

Não era escravo de ninguém,

só de si mesmo.

LA 05/009

 

 

Quando você consegue fazer

o que pensava não poder —

então subiu aquele degrau

lá em si mesmo:

agora sob seus pés.

LA 05/009

 

 

A um homem não se ensina —

mostra-se-lhe que ele pode

realizar o que sonha.

LA 05/009

 

 

O indivíduo recebe com o dom

a força para realizá-lo.

LA 05/009

 

 

A segunda chance que a vida não nos dá,

é porque não adiantaria —

estaríamos noutro contexto,

em outra sincronia.

LA 05/009

 

 

Você pode adiar,

mas não terá aquela sincronia

a costurar mil coisas que a envolvem.

LA 05/009

 

 

Ao conquistar o que o dinheiro não compra,

você terá o próprio reconhecimento,

e logo depois o de toda a sua volta.

LA 05/009

 

 

Você só é você

quando o que pensa, sente e sonha,

tudo o que faz e escreve

traz sua marca, seu selo.

LA 05/009

 

 

Um homem não se mede pelo seu cargo

ou pelo que faz no momento —

a medida de um homem

será sempre seu coração.

LA 05/009

 

 

Se você tem as palavras

e a magia que as transfiguram,

então construa uma bela história

e venha morar nela.

LA 05/009

 

 

Ver as coisas não basta,

é preciso inventá-las

segundo a nossa parecença

e se dar bem com elas.

LA 05/009

 

 

Volte seu rosto sempre para o norte,

para o norte do ser —

e saiba que é pra lá

o caminho interior da vida.

LA 05/009

 

 

Este é o momento,

goza-o como alguém,

como alguém que o sabe único

e feito para ti —

goza-o com as rosas,

com o vinho e o amor.

LA 05/009

 

 

O ambiente adverso nos desperta a força

para buscar, em nós e fora, algo melhor —

pelo querer-ousar mudamos

a chave do destino.

LA 05/009

 

 

É tudo movimento, dentro e fora.

De dentro para fora,

de fora para dentro.

Viver é estar dentro de Deus

e Deus dentro de nós,

numa viagem-luz: uma viagem

dentro de viagens —

isso é consciência,

a essencialização do Todo.

LA 05/009

 

 

Os abutres, as maitacas

voam em bandos.

A águia

e as aves de canto raro

voam sozinhas.

Até certos animais

precisam do alimento

da solidão —

uma espécie de retempero

e reorganização da vida.

LA 05/009

 

 

A arte é espelho,

sempre o espelho

de um povo com as tintas

de sua mentalidade.

LA 05/009

 

 

A arte é o sonho ressonhado,

é o insistente dizer que a realidade

deve ser outra.

LA 0/009

 

 

A arte saiu da caverna

e manda seus bilhetes

para os que ainda lá estão,

convidando-os a sair,

dar uma espiada cá fora.

LA 05/009

 

 

Pela atenção

vamos discernindo,

comparando —

saindo de nós mesmos

e para fora do casulo...

até quem sabe vermos tudo

em forma de asa.

LA 05/009

 

 

A eternidade da rosa somos nós,

que sabemos que sua beleza

são nossos olhos

que lhe emprestam.

LA 05/009

 

 

A saúde, a paz, a alegria,

árvores de deliciosos frutos,

devem ser zeladas e gozadas

em sua sombra e doçuras,

diariamente e em silêncio.

LA 0/009

 

 

Só se aprende a vencer

com as muitas derrotas

que se foram tornando em vitórias.

Sim, o verdadeiro vencer

é o vencer pelas derrotas.

LA 05/009

 

 

Investir em bondade e mansidão

entre as pessoas

é o que mais terá compensado.

LA 05/009

 

 

A borboleta, a cigarra

e outros vários insetos

dispõem de microtempos

de vida,

e como não sabem disso,

vivem gostosamente

a sua eternidade.

LA 05/009

 

 

Tudo o que mais importa

tem de ser buscado,

construído,

cuidado

e vivido

pessoalmente.

LA 05/009

 

 

Quando buscamos sofregamente

um bem

nós o afastamos de nós —

como afastaríamos um raro pássaro

pela pressa em contemplá-lo.

LA 05/009

 

 

Valorizemos os segundos,

sentindo que eles poderiam

ser segundos de alegria.

E lidemos entre eles

com infinita calma

e espírito de harmonia.

LA 05/009

 

 

A alegria nos purifica,

desintoxica as células

e as fortifica.

Um coração alegre

é um hino à vida

e um ósculo

no amor de Deus em nós.

LA 05/009

 

 

A ciência anda, o amor voa.

Ambos, unidos,

são a ventura da terra.

LA 05/009

 

 

A coerência deve existir,

mas não pode ser uma lei —

caso fosse amarraria,

como já tem amarrado,

sem ser.

LA 05/009

 

 

O mistério é o melhor dos vinhos —

produz um embebedamento-encanto,

ao mesmo tempo em que é o celeiro

e o sopro

de toda criatividade.

Quem o respeita e ama

não fica sem resposta.

LA 05/009

 

 

Muitos pensam que a amizade

é penetrar nas multicâmaras

da intimidade do outro.

Puro engano —

isto é o fim da amizade.

A nossa força

são os nossos segredos.

LA 0/009

 

 

Nós sabemos quem somos

e vivemos fugindo daquele encontro

que teremos com nós mesmos.

LA 0/009

 

 

A verdadeira coragem

é não termos coragem

para prejudicar

a nós e aos outros.

LA 0/009

 

 

A defesa de uma má causa

é puro constrangimento,

conivência deletéria.

Os advogados de pistoleiros

envelhecem e adoecem

precocemente.

LA 05/009

 

 

Não temos para onde ir,

há que ficarmos por aqui,

por aí como a água,

num sobe-desce eterno —

fantasmas vestidos de pó,

até nos libertarmos do mundo

e de nós mesmos

e já tendo tecido

nossas vestes de luz,

e então sim habitarmos

uma nova morada —

uma daquelas

que Ele foi nos preparar.

LA 05/009

 

 

Existe a fase de aprendermos a errar

e aquela de fazermos de nossos erros

um modo de aprendermos a acertar.

LA 05/009

 

 

A autoeducação faz parte

(ou deveria fazer)

do nosso dia-a-dia —

temos que burilar o tosco

em nós

até a leveza e o brilho.

LA 05/009

 

 

A consciência que temos de nós,

de Deus e do mundo

é tudo quanto temos.

Por ela sabemos que não somos

o nosso corpo

e que não estamos presos

a não ser

no que sentimos e pensamos.

LA 05/009

 

 

O mandamento é amar a Deus, a nós e ao outro

(‘esta é a lei e os profetas’, lembras?).

Quanto a sermos amados,

isto é só pretensão,

carência da alma infante.

Se nós amamos,

nos sentiremos e seremos amados

em decorrência do processo.

LA 05/009

 

 

Nossa fé nos liberta de todas as crenças

porque é um caminho que abrimos pelo caminhar.

LA 05/009

 

 

Essa brisa de luz

lá por nosso interior

a que chamamos de felicidade

é mais um modo favorável

de sentir-pensar a vida.

LA 0/009

 

 

Todo bem

quando dividido

se multiplica.

LA 05/009

 

 

A felicidade

é bem mais uma resolução da alma

seguida de um trabalho com as mãos.

LA 05/009

 

 

A felicidade

é uma espécie de decorrência

de um viver bem discernido.

LA 05/009

 

 

O mentiroso,

por ser muito infeliz,

é um tipo de fanfarrão

que precisa mudar a realidade.

Só faz mal

para quem acredita nele.

LA 0/009

 

 

A risada ou a gargalhada

deve liberar alguma substância

que leva à distensão,

ao relaxamento.

Um bom tranquilizante.

LA 05/009

 

 

Marilda citava sempre um provérbio

que ela adorava:

A generosidade

consiste em a pessoa dar

antes de ser solicitada.

LA 05/009

 

 

Não adianta jogar o vício de fumar

escada abaixo. Ele volta.

Todo quebrado, mas volta.

Demorei alguns anos

para livrar-me do tabaco,

mas valeu (e foi a tempo).

LA 05/009

 

 

O tabaco está muito relacionado ao sexo,

lembro que muitas vezes

um era o outro.

LA 05/009

 

 

Sem sonhar

não haverá a árvore

e muito menos os seus frutos.

LA 05/009

 

 

Certas religiões

fizeram do amor pecado,

da salvação uma façanha

e do trabalho um sacrifício.

Criaram dessa forma

e nessa fôrma

o homem infeliz.

LA 05/009

 

 

Há um tipo de infelicidade

buscada de modo estranho —

a pessoa se rala,

faz um esforço enorme

para conseguir algo

que nem sabe o que é!

LA 05/009

 

 

A ingenuidade genuína

é uma espécie de força protetora.

LA 05/009

 

 

A leitura é um fluir por almas

que confluem para a nossa

formando um mesmo e imenso rio

sem nascente nem foz.

LA 05/009

 

 

A liberdade tem sido mais títere

que uma conquista humana

por um caminho claro e confiante.

Dos bens humanos

é o mais depredado.

A liberdade

tem sido irrigada a sangue.

A dominação é uma serpente

filha dos dois primeiros seres humanos.

LA 0/009

 

 

Olhar para dentro de nós

causa medo.

Então a gente olha

para fora.

Mas para fora de nós

não somos nós —

são os outros.

LA 05/009

 

 

A primeira parte da vida

jogou fora,

A segunda

jogaram fora para ele —

que aqui jaz.

LA 05/009

 

 

Se não tem uma causa por que lutar,

invente uma.

Mas se não tem coragem para lutar,

esconda-se na bruma

ou suma.

LA 05/009

 

 

A mente experimenta

e veste

todos os moldes

e modelos

à medida que os cria.

Desveste-os,

veste-os

como se nunca os houvesse

vestido.

A mente é tão maluca

que nem dá tempo

de a vermos assim.

LA 0/009

 

 

A mente não cabe no infinito,

ainda bem que ele mora dentro dela.

LA 05/009

 

 

A mente salta, pula,

vem

e foge,

desaparece

e eis ressurge...

Não devemos ir atrás dela,

basta que calmamente a olhemos,

calmamente a observemos

para que ela se aquiete

e dê uma parada —

cheia de imagens cores sonhos

pensamentos inquietações vertigens...

A mente é a doida necessária,

filha da luz e mãe de criação

da criação.

LA 0/009

 

 

Novos pensamentos, vida nova.

LA 05/009

 

Perdoa o mundo, a vida

e ama-os como eles são.

Agindo assim tu os terás mudado

porque mudaste a ti primeiro.

LA 05/009

 

 

Uma das belezas do amor

é ele não ter pesos nem medidas.

LA 05/009

 

 

A teologia dá ao homem

uma ideia cretina de Deus.

LA 05/009

 

 

Tuas mentiras, minha amiga,

me fazem muito bem, e tanto que,

quando me falas a verdade,

sinto até falta delas.

LA 0/009

 

 

As mentiras de minha nega

têm ricos, finos pistaches.

Que iria fazer, ó fofa,

com tuas tristes verdades?

LA 05/009

 

 

A modéstia é um modo de ser pequeno.

LA 05/009

 

 

A morte não me ensina por que é morte.

Prefiro aprender com a vida.

LA 05/009

 

 

A vaidade é o nosso maior bem —

faz-nos bater tambor a vida inteira

e ainda nos faz crer que não a temos.

LA 05/009

 

 

A vaidade é o mais democrático dos bens —

nos faz rir uns dos outros.

LA 05/009

 

 

Não há repouso completo,

por isso que a morte não é bem morte,

mas migração.

LA 0/009

 

 

Sim, um asno é paciente

e a paciência

nos ensina a ser asnos.

LA 05/009

 

 

Será que um dia, seu Luther King,

far-se-á brado

‘o estarrecedor silêncio dos bondosos’?

LA 0/009

 

 

Existir é estar com problemas.

LA 05/009

 

 

Pensar é fácil para um homem.

O problema é pensar bem —

fazer do pensamento um bem

para a ação transitiva

entre quem pensa e o que é pensado.

LA 05/009

 

 

Não te preocupem os ventos,

nem o granizo,

nem as enchentes —

as sementes estão guardadas

em seu próprio escrínio.

LA 05/009

 

 

A necessidade

se transforma em solução
para o homem de inteligência e fé.

LA 0/009

 

 

Em sua natureza o amor

traz a criatividade

e algum espinho de desassossego.

LA 0/009

 

 

A música nos torna títeres,

quando nos faz doer o passado;

nos faz alegres e fortes,

se nos leva a sonhar e imaginar.

LA 05/009

 

 

A modéstia é perigosa —

a gente sempre percebe

quando alguém está querendo

vendê-la para nós.

LA 0/009

 

 

Se em lugar de pensar, sentimos,

se em vez de sentir, pensamos —

é bom dar uma olhada nisso,

independente do sentir-pensar

tão frequente e normal.

LA 05/009

 

 

Sem saber esperar não se consegue.

LA 05/009

 

 

Dedicar-se e esperar,

esperar e dedicar-se —

parece que esse é o caminho.

LA 0/009

 

 

Se vivemos quebrando a cara,

só nos resta ser tolerantes.

LA 0/009

 

 

Clareza é bom,

claro: menos para os bandidos.

LA 0/009

 

 

Nossas mães deram-nos à luz,

a nós há de caber,

após gestas por nós e o tempo,

parirmo-nos várias vezes,

parirmo-nos outros e melhores.

LA 0/009

 

 

Virtude, pureza, perfeição

e outras muitas meganoias —

tudo precisa de limites

e de um ver em revisões.

LA 05/009

 

 

Tanto a fortuna quanto a adversidade

gozam de prazeres e desprazeres,

confortos e desconfortos,

esperanças e desesperanças

e outras antíteses naturais e humanas.

LA 0/009

 

 

De tanto as tempestades

as vergarem e as contorcerem,

as grandes árvores se fortalecem.

LA 0/009

 

 

Quando a imaginação nos governa,

somos sonhados, não sonhamos,

somos pensados, não pensamos.

Se imaginamos

e não trazemos para a realidade,

apenas virtualizamos o momento

sem o puxarmos para o aqui-agora,

que é aonde a mão tem acesso

e a arte pode

pela beleza e pelo insólito.

LA 05/009

 

 

Se a tua mente é forte,

saberá lidar com a razão.

Se é fraca,

vai escorregar por ela

e escravizar-se.

A mente

é a força dorsal

das palavras.

LA 05/009

 

 

Realidade é o que temos à mão

e aos sentidos:

é o que sabemos viver.

LA 05/009

 

 

Resignar-se

é deixar o sonho para os outros,

é contentar-se com a casca das batatas.

É prometer o céu para o pobre,

se ele for bonzinho.

É acalmar-lhe a fome

e a sede de justiça, inculcando-lhe

que o rico vai para o inferno.

É prometer-lhe

uma ventura póstuma.

É preciso rever esta palavra.

LA 05/009

 

 

Nós sabemos,

todo homem sabe.

O problema é fazer aflorar

essa sabedoria.

Em genes materiais

e espirituais

trazemos esse acervo.

Como fazer

o coração recordar?

Deve haver uma maneira.

O Mestre,

às vésperas de partir,

disse nos mandaria

o Santo Espírito

que nos conduziria

de verdade em verdade

a toda a verdade.

Sinto que aqui está o modo

de movimentar a água

do tanque de Siloé.

LA 05/009

 

 

Entre o eterno querer de Deus

E o fugaz sonhar do homem

mora a magia do inter-realizar:

o nascimento de toda obra.

LA 05/009

 

 

Se a sabedoria não cria o gênio,

cria o modo de ele se expressar.

LA 0/009

 

 

Na beleza aconchegante das labaredas

sempre senti a sabedoria

entre nós e Deus.

O crepitar da lenha,

o tremular das chamas —

tudo isso nos eleva

e vai nos arrebatando...

Sabedoria e mistério

é o de que é feito o universo.

LA 0/009

 

 

Aquilo que morre em nós,

enquanto vamos vivemos,

não queremos como experiência

nem como recordação —

é só aquilo que morre em nós

enquanto vamos vivemos,

defuntos adiados.

LA 05/009

 

 

Hoje é a banqueta da oficina

onde trabalhamos nosso dia.

Ontem foi hoje anterior a hoje,

amanhã está nas mãos do Oleiro,

um hoje antecipado,

que também nos virá

num dia chamado hoje,

que é o dia que o Senhor fez, —

alegremo-nos nele!

LA 05/009

 

 

Toda simplicidade

é bem sofisticada.

Toda mentira

é ricamente embalada.

Toda vaidade

pensa ser bem disfarçada.

LA 05/009

 

 

A solidão é território

exclusivo a cada um de nós.

Só a pessoa tem o privilégio

de ali entrar e sair —

de ali viver.

LA 05/009

 

 

A solidão é a oficina do ser,

onde ele vai se organizando

de caos em cosmos.

LA 05/009

 

 

A sorte é predisposição,

já a felicidade é vocação.

LA 05/009

 

 

No que fazemos hoje

está o melhor de nós.

LA 05/009

 

 

A diferença entre um namoro e um grande amor

é que o namoro é mais interessante

e também dura um pouco mais.

LA 05/009

 

 

Quem considera o sonho bobagem

jamais fará grande coisa.

LA 05/009

 

 

Ninguém precisa ser profeta

para saber que o futuro

será, sim, bem diferente

de tudo o que imaginamos.

LA 05/009

 

 

Quem é incapaz de desaprender

como conseguirá

mudanças importantes?

LA 05/009

 

 

As poucas virgens

devem ter orgasmos especiais

só de pensar que o são.

LA 05/009

 

 

A vaidade é o bem mais democrático

de todos os tempos.

Onde pensamos menos encontrá-la,

lá está ela —

revelada numa palavra,

num sorriso,

num gesto,

numa alegria,

numa lágrima,

numa ausência de choro,

num muxoxo,

num tom de voz,

num castelo,

num barraco,

na doença,

na saúde,

na miséria,

na abastança,

na insanidade,

na loucura,

no santo,

no devasso,

na honestidade,

no latrocínio,

na mentira,

na verdade,

na feiura,

na beleza,

no confirmá-la,

no negá-la…

e interminavelmente

por aí vai

sempre atualizada

a vaidade.

LA 05/009

 

 

Muitas vezes o que chamamos de verdade

serve para esconder a coisa.

E, títeres dos donos deste mundo,

vamos dando demãos de tinta

(cada vez de uma cor)

no castelo vazio da verdade.

LA 05/009

 

 

A verdade e a mentira

são irmãs gêmeas —

ambas donas de cassinos

e bordéis.

LA 05/009

 

 

A mentira social

é a verdade dos homens.

Sim, a verdade dos homens

é uma bela mentira.

LA 05/009

 

 

A inteligência

nos ensina a viver,

não a existir.

Quero gastar meu tempo

vivendo-do-meu-jeito.

LA 05/009

 

 

Grandeza, glória, sucesso

e seus opostos —

até quando nos rastejaremos

entre essas bobagens?

LA 05/009

 

 

A verdadeira liberdade

jamais existirá,

mas viver à sua sombra

já é bastante,

ou seja: isto nos permitem.

LA 05/009

 

 

Se vissem como vivemos

a nossa liberdade

lá bem no íntimo de nós,

certamente nos odiariam.

LA 05/009

 

 

A nossa vida se parece

com o que sentimos,

pensamos

e fazemos

em nosso todo dia.

LA 05/009

 

 

A desonestidade traz em si

os seus escorpiões,

a maldade seus ferrões.

LA 05/009

 

 

Existem até encontros

em meio aos desencontros,

e a vida vai tecendo

com os fios do que fazemos.

LA 05/009

 

 

Estamos só no começo

de uma jornada magnífica.

LA 05/009

 

 

Deus fez a vida curta

porque muito comprida

seria insuportável.

LA 0/009

 

 

A vida é pura incerteza.

Fosse o contrário disso,

só sobraria a morte.

LA 05/009

 

 

Os filósofos da simplicidade

reduzem a vida a palavras:

amor,

fé,

Deus,

luz,

esperança,

conquista,

criação,

evolução...

e estão dispostos sempre

a ensinar a viver.

Será que o que está em processo

de ser

pode ser ensinado?

Acho que não.

Por mais que queimemos etapas

subindo aos ombros dos que passaram,

só aprendemos a vida vivendo.

Sim: viver é o discípulo

e a Vida é o mestre.

LA 05/009

 

 

Palavras? Sempre as palavras,

esses casulos de noite a tecer asas

para amanhã ou depois de amanhã

trespassadas de sol a encher a taça

de vinho azul

com aves molhando o vôo no ainda bruma

do poema que há de abençoar o renascer

do sonho que voltou a fundir-se com a realidade.

Pronto: a hora é madura e traz a sua poesia

que será nosso pão com café a mitigar o frio

dessa manhã que agora é asas,

calmo voo ainda orvalhado levemente

de azul

em que as uvas das palavras escorrem

pisadas pelos pés das raparigas

em flor: poesia.

LA 05/009

 

 

Entre partir e ficar

não sabemos o que é melhor fazer.

Partir nos leva a algum lugar

onde já estávamos bem antes de chegar

e se buscamos algo melhor,

vemos que lá não há, não há nada melhor.

Ficar ao menos nos possibilita

viajar psiquicamente para onde quisermos

e sem nos encontrarmos lá no antecipado

e com os olhos entediados por não vermos

o que pensávamos que sonhar fizesse ver.

Entre partir e ficar a alma sabe

que há uma grande insatisfação em si

que só é aplacada

por fingirmos que um dia

o viver a preenche.

LA 05/009

 

 

A vida é mais que uma arte

porque não há ensaios —
escrevemos a peça

no mesmo instante

em que a representamos

num só tempo-viver.

LA 05/009

 

 

A vida é uma pedra de amolar,

nós somos suas ferramentas.

LA 05/009

 

 

Quem sabe tranquilizar a mente

pode se dizer feliz.

LA 05/009

 

 

A paz tem vários estados e nuanças.

O melhor deles (para mim) é aquele

em que não se pensa em nada —
uma espécie de atempo, amundo, asser.

LA 05/009

 

 

Há vários animais que admiro,

outros que temo

e dois que invejo:

o urubu,

quando veste o manto azul;

o burro,

quando espera.

LA 0/009

 

 

A vida nunca dá tudo que pedimos,

e acho este o seu lado fascinante.

LA 0/009

 

 

Concordo: devagar se vai ao longe,

mas acho que cada um com seu ritmo

e com suas distâncias.

LA 05/009

 

 

A vida não é um jogo,

mas um mistério a ser vivido.

LA 05/009

 

 

Se construímos nosso entendimento

sobre o que a vida nos mostra,

ficaremos, no mínimo, confusos.

A vida jamais responde

ao que lhe perguntamos.

Ao invés de respostas

nos oferece o viver.

LA 05/009

 

 

Mudar sempre é o que há de mais justo na vida.

LA 05/009

 

 

A vida não nos abandona nunca —

ela nos é, nós a somos.

LA 05/009

 

 

A vida é muito mais

que ser vazia ou cheia —

a menos que a confundimos

com estados de ser.

LA 05/009

 

 

Os sentimentos se perdem nas palavras

e acho isso muito bonito —

um brando, doce zumbir de asas

em torno de uma árvore florida...

um dizer musicado

pelo nada dizer.

LA 05/009

 

 

Acima de todas as liberdades

está aquela bem lá no íntimo de nós,

amada e construída aos poucos

no dia-a-dia do nosso viver

e que é a nossa força agora e sempre,

o nosso sonho agora e sempre

de agora e sempre sermos livres.

LA 05/009

 

 

Aquilo que mais desejamos

nos leva pela mão a acreditar

que aquilo é bom, é muito bom para nós.

LA 05/009

 

 

Duvidar é excitante,

acreditar é sonolento.

Entre esses dois,

o ideal é manter o entusiasmo

para o que é belo e verdadeiro

e deixar marulhar as nossas águas.

LA 05/009

 

 

Acreditar no que nos mentimos

pode ser o embrião

de uma bela verdade —

que há de nos manter ocupados

por todos os dias de nossa vida.

LA 05/009

 

 

Entre quedas e levantares

ficamos mais atentos

e aprendemos outros números

do circo.

LA 05/009

 

 

Acreditar que no passado

tudo ia mais a contento

são suspiros poéticos

de todas as gerações.

LA 05/009

 

 

Inúmeras pessoas,

por serem muito sabidas,

não deixam entrar mais nada de novo

nem reciclam as velharias

que dão de graça nas esquinas

ou nas colunas dos jornais.

LA 05/009

 

 

Algo é impossível

até que você comece a fazê-lo.

LA 05/009

 

 

Precisamos organizar a nossa vida,

nos ajustar a nós mesmos,

ter um conceito positivo de nós —

e prosseguirmos, prosseguirmos fortes.

LA 05/009

 

 

Não te acanhes perante o gênio

(que nem te verá),

nem diante do rei

(que nem te verá),

só procura viver

de modo a seres feliz

e a estares em paz

com todas as criaturas.

O mais... Para que mais?

LA 05/009

 

 

Ação e movimento chamam-se vida.

Saibamos bem o que queremos

e então direcionemos nossas forças

para aquele ponto-fé.

Dedicação bem ajustada ao dom

leva o homem a realizar o seu intento.

LA 0/009

 

 

Não abra mão daqueles sonhos,

seus companheiros antigos,

que lhe são o sentido e a força

de viver.

Nem fale deles com ninguém —

o segredo de tê-los

acalentados no teu ser

é gozo para a alma

e mocidade para o corpo.

LA 05/009

 

 

Se fores te afligir,

aflige-te no tempo certo —

naquele em que a aflição existe.

É desaforo sofrer

antes que venha o sofrimento.

Assim mesmo, quando ele vier

não estejamos lá,

mas comendo pipoca com as crianças

nalgum jardim zoológico.

LA 0/009

 

 

Se isso é possível?

Tudo é possível

aos que não creem no impossível.

LA05/009

 

 

Palavra boa chama palavra boa,

palavra má chama palavra má,

e de palavra em palavra

nós vamos escrevendo nosso livro

que nem sabemos que escrevemos.

LA 0/009

 

 

Viver é estar criando,

sabendo ou não de nossas criações.

LA 05/009

 

 

Quanto mais dizemos “sim” a alguém

tanto mais ele se magoará

no dia em que ouvir de nós um ”não”.

LA 05/009

 

 

A ingratidão é um gene —

nasceu humano, nasceu ingrato.

Mas nem por isso a cultivemos.

Vigiar-se é aprendizagem.

LA 05/009

 

 

Podemos pensar com qualquer um dos nossos órgãos.

LA 05/009

 

 

Os sabichões, em suas entrelinhas,

dividem as pessoas em três classes:

as verdadeiras,

as cá-e-lá

e as erradas.

Simplicidade assim

nos causa até inveja.

LA 05/009

 

 

Amamos a vida

porque não temos nada melhor.

LA 0/009

 

 

O amor físico

é o mais belo dos frutos.

LA 05/009

 

 

O amor romântico traz em si

as doenças da alma —

algumas não tão deliciosas.

LA 05/009

 

 

O amor impossível é puro orgasmo.

LA 05/009

 

 

O amor normal é tédio.

LA 05/009

 

 

O amor divino é prancha

e salvação.

LA 05/009

 

 

O amor platônico

é aquele amado infinitamente,

deliciosamente

sempre em banho-maria.

Tem orgasmos por transferência,

fartos e sempre no escuro.

LA 05/009

 

 

O amor social é uma canção

que fala dos chás afrodisíacos

feito com algumas raspas

do chifre do rinoceronte.

LA05/009

 

 

Quanto ao amor filosófico,

é o que se cansa do andar de cima

e passa a viver embaixo.

LA 05/009

 

 

O metafísico

é aquele que sentimos

logo depois que o amor físico

está com a barriga cheia.

LA 05/009

 

 

O amor do celibatário

é aquele que engravida

e só assume no pau.

Gosta também (um jogo antigo)

de passar anel com os meninos.

LA 05/009

 

 

O amor altruísta é o que faz

o que os Estados, A ONU, e os ricos

se negam a fazer.

LA 05/009

 

 

Ruim com a ONU?

Pior sem ela.

LA 05/009

 

 

O amor a si mesmo é o que menos

corre o risco de traições.

Mas aí entra a barbinha grisalha

do analista.

LA 05/009

 

 

Relacionar-se em nome do amor

é o maior dos desafios.

Numa relação sempre existe

uma cigarra e uma formiga.

LA 05/009

 

 

A vida é bem mais que tempo,

mas para o ser ela é tempo —

este o carrega e burila nela.

Sim, ela é a mestra,

ele (o ser) é o discípulo.

LA 05/009

 

 

Amigo seria alguém

com quem poderíamos ser sinceros

sem que nossa sinceridade

se tornasse em arma contra nós.

LA 05/009

 

 

Amigos seriam

os que se gostassem assim mesmo —

do jeito que são.

LA 05/009

 

 

Amor que é amor

não se conjuga em tempo algum.

Se se conjuga é amor mortal.

LA 0/009

 

 

Quem seria capaz de enumerar

vinte de seus defeitos

e vinte de suas virtudes?

Poucos pensaram nessa tolice

durante toda a sua vida,

não é mesmo?

LA 05/009

 

 

Um galo na testa

além de não cantar

ainda dói.

LA 0/009

 

 

Beleza nunca falta,

o que falta é grana para sensibilizá-la

e levá-la ao motel.

LA 05/009

 

 

Nunca ter passado pelo ridículo

é nunca ter sido feliz,

nunca ter amado

ou se  casado.

LA 05/009

 

 

Menos é mais

quando ela é um pouco menor

mas muito mais bonita.

LA 05/009

 

 

Mesmo estando na estrada certa

você tem que saber as manhas

para chegar em paz.

LA 05/009

 

 

Ser casto como o gelo, puro como a neve,

a gente deve bater o queixo

de tanto frio.

Gelo é bom para o uísque,

a neve para esquiar.

LA 05/009

 

 

Esquece o passado

ou ele te esmaga.

LA 05/009

 

 

De repente vemos um lado novo,

um sentido a mais ou diferente

em algo que já tínhamos entendido.

Mais uma vez fica-nos claro

que o entendimento das coisas

tem seus degraus.

Entre mil e mil coisas nos sentimos

uma aprendizagem ambulante.

LA 05/009

 

 

Se damos razões para que alguém goste de nós,

talvez o tempo até nos prepare a ventura

de vivermos um grande amor.

LA 05/009

 

 

Não é por que a graça existe

que as coisas nos venham de graça.

LA 05/009

 

 

Aprender é passar pelos sentidos

e provar com lucidez

o que sabíamos apenas de soslaio.

LA 05/009

 

 

Se não deu certo,

tenta de novo,

sim, tenta sempre uma vez mais,

sabendo que o aprendizado

não traz arrependimento.

LA 0/009

 

 

Aprenda com o erro dos outros,

além de doer menos,

queima etapas.

LA 0/009

 

 

Se dirige bem seu dinheiro,

viverá longe da servidão,

em paz com os homens

e de bem com a vida.

LA 05/009

 

 

Ser feliz há de ser um dever aprazível.

LA 05/009

 

 

Pensar por nós mesmos

ajuda a sermos livres.

LA 05/009

 

 

Não tenho medo do que passou

nem do que virá,

apenas tomo cuidado com meu hoje.

LA 05/009

 

 

Conheci pessoas perfeitas,

mas sempre me dei melhor com os imperfeitos.

LA 0/009

 

 

Antes de escrever o e-mail repreendendo o amigo,

lembre o que você fez e o que não fez

nestas duas semanas.

LA 05/009

 

 

Antipatias violentas

são sempre bem sintomáticas.

LA 05/009

 

 

Se confias teu segredo,

além de perderes a delícia

de tê-lo como teu,

ainda te fazes refém

de quem o ouviu.

LA 05/009

 

 

Ter um amigo confidente,

além de pueril, é perigoso.

LA 0/009

 

 

Em geral usa-se o relógio

para medir os momentos ruins,

até porque os bons momentos

nenhum relógio pode medir.

LA 05/009

 

 

As ideias geniais usam asas,

as normais usam botinas.

LA 05/009

 

 

As grandes realizações 

brotam em várias cabeças

em diferentes lugares —

quem primeiro lhes ajuntar as partes

e montá-las num todo,

assina o Livro.

LA 05/009

 

 

Aquilo que enfeixa a nossa atenção

num só foco

é que comanda a ação.

Assim nascem as idéias

que inseminam os sonhos

que parem seus resultados

em nossas mãos.

LA 0/009

 

 

Se se muda o ângulo de vê-las,

as coisas já são outras.

LA 05/009

 

 

As coisas são como você as quer.

LA 05/009

 

 

Em geral ouvimos

o que queremos ouvir

e vemos o que queremos ver.

LA 05/009

 

 

Uma rosa é uma rosa,

uma pedra é uma pedra,

e por que assim as vemos

e por que assim as sentimos

é que elas existem

e têm um sentido.

LA 05/009

 

 

Sim, para existir

as coisas precisam

do nosso testemunho.

LA 05/009

 

 

Tudo tem nome, alma e sentido

porque a tudo ajudamos a dar

um nome, uma alma, um sentido —

por contaminação ontológica.

LA 05/009

 

 

O silêncio só é bom na hora certa,

fora dela, é omissão.

LA 05/009

 

 

Quantos não se prejudicaram

(ou prejudicaram),

não perderam

(ou fizeram perder),

não são hoje (ou fizeram outros) infelizes

por não terem falado na hora certa?!

LA 05/009

 

 

O silêncio não é de ouro não,

é apenas silêncio —

deve ser mantido ou deve ser quebrado

na hora certa.

Tanto ele como a palavra

podem ser de ouro.

LA 05/009

 

 

Um bem atrai outro bem,

um mal atrai outro mal.

Afins geram afins.

Nossas ações não são brinquedos,

a menos que não tenhamos

nenhum amor por nós.

Nossas ações constroem

o que seremos.

LA 05/009

 

 

Há indivíduos muito baixos.

Você pode passar por eles,

pode lidar com eles,

mas jamais se sentir bem com eles.

LA 05/009

 

 

Amar...

(como seres humanos e cristãos)

devemos nosso amor a todos.

Gostar...

já é uma questão de aura,

de brilho-afinidade.

LA 05/009

 

 

Os malandros falam

das coisas simples,

da pobreza honrosa,

da resignação,

da miséria altiva,

enfim —

da recompensa póstuma,

enquanto se esbaldam

no fausto e na luxúria —

acobertados pelas instituições

que mantêm com os Estados

o domínio sobre o mundo.

LA 05/009

 

 

Cada um tem o jardim

que plantou

ou aquele que não plantou.

LA 05/009

 

 

Os que saíram da caverna

têm que ficar aqui fora,

sozinhos entre os sozinhos.

LA 05/009

 

 

Ainda que não seja nada fácil,

cada um de nós precisa aprender

a ser o melhor amigo de si mesmo.

LA 05/009

 

 

As flores são parecidas

com muitos dos nossos sentimentos.

Nós as amamos porque elas expressam

nosso próprio interior em várias gamas.

LA 05/009

 

 

Sim, amamos as flores

porque se as damos às amadas

e elas dizem por nós

tudo o que não saberíamos

ou não gostaríamos de dizer.

LA 05/009

 

 

Todo homem se diz livre,

e o vemos amarrado em toda parte.

LA 05/009

 

 

Vivemos como se a morte não existisse,

isso revela um medo absurdo dela

por não confiarmos na Vida e em seu Autor.

LA 05/009

 

 

Quem não viveu longevamente

não sabe que a vida é curta.

LA 0/009

 

 

Em geral o deslumbramento

é fruto da ingenuidade.

LA 05/009

 

 

O melhor vinho

é o feito de palavras inspiradas —

faz renovar a mente

e dilatar toda a consciência.

LA 05/009

 

 

Seja bom para você —

deseje, e espere, felicidade a si mesmo,

e não tenha medo de vivê-la.

Sim, passe a gostar de você,

trate-se com respeito,

seja amável com você

e se torne o seu melhor amigo.

Ame-se e sinta-se digno

de amar e ser amado.

Invista na imaginação,

no sentimento e pensamento

de viver uma vida

que você abençoou

e Deus quis abençoada.

LA 05/009

 

 

Se você foi um protozoário,

esqueça. O que importa é você

daqui para a frente.

LA 05/009

 

 

Se Darwin não lhe desce,

esquece esse senhor.

Se o criacionismo o aborrece,

não compre no seu shopping.

O caminho se constrói caminhando,

tal como antes de nós

inúmeros o construíram.

Um dia você terá curiosidade

sobre os teus antepassados,

então é só dar uma olhada

no que a ciência diz sobre nós —

para chegarmos aqui

muitos ombros nos carregaram

tal como acontece agora.

De tudo o quanto importa

é nos sabermos a caminho

do entendimento.

Quanto a mim empeendi

minha jornada em Cristo —

estar com Ele já é ter chegado.

LA 05/009

 

 

Não é preciso variar de coisas —

apenas vê-las com um novo olhar.

LA 05/009

 

 

Sim, não precisarás trocar de cônjuge,

basta vê-lo por ângulos

e com olhos diferentes.

LA 05/009

 

 

Enquanto as nuvens mudam de lugar e forma,

também os nossos pensamentos e sonhos

vão sofrendo novos arranjos

das assíduas experiências

e naturais vivenciações.

Acertos e enganos

são nossos velhos companheiros.

LA 05/009

 

 

Os homens gostam de banalizar,

tornar tudo normativo,

tudo pão, pão; queijo, queijo.

O ser humano é um fazedor de normas,

normas que o amarram

numa realidade que foge dele.

LA 05/009

 

 

Como saber se tal ou qual oportunidade

(que você deixou passar)

era boa ou  era má?

Se já passou, que vá com Deus, —

outras (melhores) já vêm vindo.

LA 05/009

 

 

Os que são contra as paixões

são pobres incapazes de se apaixonar.

Um amor vivido com paixão,

um livro escrito ou lido com paixão,

um trabalho feito com paixão

são coisas muito diferentes

que amar,

que escrever,

que ler,

que trabalhar.

A paixão (para os que a podem suportar)

dilata e limpa os sentidos

e faz mil anos ser vividos

em poucos dias, meses ou anos.

LA 05/009

 

 

Sim, quem não pode com mandinga

não carrega patuá.

Assim também a paixão

é pra quem pode se apaixonar.

LA 05/009

 

 

Quem constrói sua casa de verdades

deve fazer as paredes de isopor

e o telhado de sapé —

quando ela vier abaixo

não lhe machuca muito.

LA 05/009

 

 

Em geral, sofre-se pelo que é

e pelo que se imagina ser,

de sorte que muita gente

elabora para si

um sofrer pelo sofrer.

LA 05/009

 

 

O lado suportável ou quase insuportável

de engolir sapos, cobras e lagartos

vai depender muito

da qualidade do molho.

LA 05/009

 

 

A gente emprega “por acaso”

para falar do que não sabe.

LA 0/009

 

 

Quando o cara se leva muito a sério,

não o leio, não o ouço, não o vejo.

LA 05/009

 

 

As pessoas criam fantasmas

e depois, haja pernas!

LA 05/009

 

 

Nós criamos mulheres ideais,

elas homens fantásticos,

depois dá no que dá —

apenas homens e mulheres.

LA 05/009

 

 

Se a palavra nos distingue de um bicho,

nossas ações deviam fazer o mesmo.

LA 05/009

 

 

Já que as verdades não são tantas

todo falar tem sua cota de mentiras.

LA 05/009

 

 

Invejo muito os vapores

que vivem lá nas nuvens

e só mudam de prateleiras

quando elas já não se aguentam.

LA 05/009

 

 

Só podemos sacar da vida

o quanto e o que investimos.

LA 0/009

 

 

Livremo-nos das intenções alheias,

principalmente das boas.

LA 05/009

 

 

Há desgraças profícuas e desgraças inúteis —

vai depender de se aprender ou não com elas.

Claro: aprendamos  — de preferência —

com a graça.

LA 05/009

 

 

Os momentos em que mais sonhamos

é quando executamos tarefas desagradáveis.

LA 05/009

 

 

Respostas boas são aquelas

que tiram as perguntas de dentro d’àgua.

LA 05/009

 

 

Muitas vezes não compreender

é uma sábia compreensão.

LA 05/009

 

 

Não jogue tal ou qual defeito fora,

um dia você pode precisar dele.

LA 05/009

 

 

Enquanto o sol não vem

uma vela é mais que o dia.

LA 05/009

 

 

Quem tem muitas incertezas

tem um bom potencial

para alcançar verdades.

LA 05/009

 

 

Belo é tudo o que os olhos assim veem

e os sentidos aprovam.

LA 05/009

 

 

Se não tens medo de ti,

então entra em ti mesmo,

examina, reflete —

vê se aprovas o que andas sendo.

Se aprovas, sorri. Se não aprovas,

empreende estratégias de mudança,

mas sempre com respeito,

com amor por ti mesmo.

LA 05/009

 

 

Mágica? Não conheço nenhuma

a não ser a que opera no amor.

LA 0/009

 

 

Quem jamais teve que lidar

com sentimentos e advogados

por certo nunca foi casado.

LA 05/009

 

 

Todos falamos de liberdade

de mil e mil maneiras,

modos e idiossincrasias,

poéticas e filosofias —

talvez uma estratégia

de sentirmos ao menos

um certo gosto longe

de sermos livres.

LA 05/009

 

 

Cada um tem a idade

que sente e pensa ter.

LA 05/009

 

 

Nenhum destino se constituirá contra você,

a menos que você o construa.

LA 05/009

 

 

Todo oeste é melancólico

após as loucuras em chamas

do sol que se põe.

LA 0/009

 

 

Todo fracasso tem seu lado belo —

nos ensina a mudar.

LA 0/009

 

 

Tudo o que mais importa

temos de aprender sozinhos.

LA 05/009

 

 

Coisa terrível e desastrosa

é não deixar uma criança falar,

se explicar —

não importa seja mentira

o que deseja dizer.

LA 05/009

 

 

Chega uma hora em que a pessoa

tem de abrir a mão e deixar cair

o que mais ama.

Só então ela consegue prosseguir.

LA 05/009

 

 

Nosso cachorro vai se humanizando

enquanto vamos nos enriquecendo

com o prazer da companhia

que se enraíza em mútua convivência.

LA 0/009

 

 

Jamais perca o entusiasmo,

a alegria, o sonho, a força.

Peça a Deus jamais tal desgraça

ocorra em sua vida.

LA 05/009

 

 

Desejo chegar à perfeição

talvez pela certeza

de que ela é inalcançável.

LA 05/009

 

 

Sim, o impossível

é o natural desafio

de fazê-lo possível.

LA 05/009

 

 

Alfinetar os que afligem

e fazer rir os aflitos:

tarefas para dois profissionais —

o humorista

e o palhaço.

LA 05/009

 

 

Matar o tempo fere o sonho

do matador.

LA 05/009

 

 

As loucuras do amor

são maravilhas

que a vida nos concede.

LA 05/009

 

 

Para fazer um poema

retire do dicionário

tudo o que é desnecessário...

e pronto: você tem o poema.

LA 05/009

 

 

Inúmeras coisas temos como certas,

sem que jamais nos fossem comprovadas.

LA 05/009

 

 

Precisamos amar a morte como alguém

que vai nos livrar de um vexame.

LA 05/009

 

 

Depois que se cai neste mundo de dementes

tudo se torna possível,

sim, até ser feliz.

LA 05/009

 

 

Fale bem de seus inimigos em público,

e ficarão num beco escuro.

LA 05/009

 

 

Conhece-te a ti mesmo,

e dá no pé!

LA 05/009

 

 

Ah! O amor, sempre o amor!

Voltemos ao Largo da Boa Morte

que de morte não tinha nada.

Sem televisão,

sem computador

o Largo da Boa Morte

estremecia de amor.

LA 05/009

 

 

O mais belo do amor

são seus hieróglifos.

Lembro (era bem menino):

a minha prima e o André

pareciam Champollion

a decifrá-los

(anos e anos de estudo!)

no escurinho macio da varanda

da casa da minha avó.

LA 05/009

 

 

Rosinha noivou seis anos.

Algumas vezes a vi

da varanda para o seu quarto —

toda sem graça, cabisbaixa,

levezinha, apressada,

amassadinha,

sempre bem desfolhada.

Um sorriso de feliz,

que dava inveja.

LA 05/009

 

 

Pudéssemos ser o outro,

só por poucos minutos,

por certo não o invejaríamos.

Esta é a frase dos carentes.

LA 0/009

 

 

Queiramos enquanto podemos,

para que quando não pudermos

então termos de memória

o sabor bem vivo e calmo

do que já não podemos.

LA 05/009

 

 

Se conselho fosse bom,

até eu os daria

por um preço acessível.

LA 05/009

 

 

Sempre digo aos meus contratempos

que não se voltem contra os tempos,

mas que naveguem a seu favor.

LA 05/009

 

 

Quem Vê Cara...

 

O amor tem bem a cara

de quem sabe fazer política —

não desagrada a ninguém:

prós e contra, hoje;

contra e prós, amanhã.

Sim, no amor e na política,

quem vê cara não vê coração.

E entre amados e não amados —

todos fazem amor.

LA 0/009

 

 

Sabido é o cara que,

numa encrenca,

sabe pensar com as pernas.

LA 05/009

 

 

Afobar-se não adianta,

é preciso calcular o tempo.

LA 0/009

 

 

Já encontraram a verdade?

Bom proveito!

LA 0/009

 

 

Mandaram a gente dizer a verdade,

jamais mentir.

Trabalhar duro.

Ouvir e calar.

Sofrer calado.

Aceitar.

Ser honesto.

Devolver o achado

ou o troco a mais.

Olhar para trás

e vendo os desgraçados,

dar-se por bem feliz.

Sim, dar graças a Deus

por não ser bem pior.

Disseram que Deus dá

a cada um o que merece.

Sim, que cada um tem o que merece.

Que Deuspai gosta

dos pobres de espírito.

Que há um céu pra quase ninguém,

um purgatório pra muitos

e um inferno pra quase todos.

Que Deus ama os obedientes,

os puros, os castos,

os que obedecem àqueles

que Ele pôs para mandar no mundo.

Há, sim, mais umas coisas

(eu era tão menino),

mais umas terríveis coisas,

que até me amedrontavam

e que hoje faz rir lembrar.

LA 05/009

 

 

Cego e desdentado,

o mundo perguntará:

De que nos valeu tanto olho por olho,

tanto dente por dente?

LA 05/009

 

 

Para o olho chorar

há que estar vivo o coração.

LA 05/009

 

 

Não inveje nenhum de seus amigos

que fazem pose de felizes.

Dê uma espiada em sua alma:

são os mais tristes.

LA 05/009

 

 

Se o livro não existisse,

o homem como tal também não existiria.

LA 05/009

 

 

Desse ponto adiante há um vale

(você não o verá, mas é um vale)

ninguém sabe a sua largura

nem a sua fundura.

Daí adiante,

você deve ser a sua ponte.

É só atravessar-se.

LA 05/009

 

 

O mundo jamais precisou de mudanças,

o mundo é apenas o que somos.

LA 05/009

 

 

Quando a gente joga fora

a obsessão de ser feliz,

aí, sim, é que se vive

bem menos infeliz.

LA 05/009

 

 

Muitos dos que fracassam

buscam justificar-se

com o carma, com o destino.

Se isso os alivia, tudo bem!

LA 05/009

 

 

Temos tempo de sobra

para as nossas bobagens.

Nossas sublimes bobagens.

LA 05/009

 

 

Quando caímos de nós mesmos,

até olhar para as alturas

nos dá vertigens.

LA 05/009

 

 

Para que os cabelos brancos

colham sabedoria,

antes, bem antes de serem brancos,

devem ter se dedicado

a muito estudo e aprendizagem.

LA 05/009

 

 

Desejos todos temos, muitos desejos.

Onde estaríamos agora,

ou: que seria de nós

se dez por cento deles

tivessem sido realizados?

LA 05/009

 

 

A verdade é discreta, não se impõe.

A mentira é barulhenta, faz-se ouvir e ver.

LA 05/009

 

 

Se o mal é imaginário

vai durar por muito tempo.

Se é real

não dura muito.

LA 0/009

 

 

Diplomas, títulos, PhDs —

e as obras, onde, cadê?!

LA 05/009

 

 

O amor é, sem dúvida,

e em todas as classes,

o maior bem de consumo —

financiado até depois da morte.

LA 05/009

 

 

O orgulhoso não aprende

porque pensa que já sabe.

LA 05/009

 

 

Querer ver ou saber

depende de você.

LA 05/009

 

 

O abismo é um mago

que fez desaparecer o chão.

LA 0/009

 

 

Duvidar de tudo é o primeiro dever

de quem está buscando.

LA 05/009

 

 

Tu és a luz que procuras,

apenas deixa que ela brilhe.

LA 05/009

 

 

Se duvidas do amante,

estás certo.

Se duvidas do amor,

estás sozinho.

LA 05/009

 

 

Duvidar de tudo é tão pueril

quanto crer em tudo.

LA 05/009

 

 

Há pares que sujam

nossa alegria de dor:

Finito, infinito.

Fugaz, eterno.

Céu, inferno.

Vida, morte.

E outros e outros

que fazem doer

senti-los e pensá-los.

LA 0/009

 

 

Hoje estou com vontade

da minha nega.

Vou ver se ela concorda

em me deixar degustá-la

devagar-devagarinho.

LA 05/009

 

 

A multidão age como cardume,

galvanizada

por uma consciência massiva.

O que ela aplaude eufórica

uma pessoa sozinha

talvez não aplaudisse.

LA 05/009

 

 

Na multidão o fanatismo, a crendice, o delírio,

a loucura se fazem bem visíveis.

LA 05/009

 

 

A quem está preparado

uma oportunidade é preciosa,

mas a quem não está —

uma oportunidade

é só uma coisa duvidosa.

LA 05/009

 

 

Em geral só se pensa para o gasto,

pois de pensar morreu um burro.

LA 05/009

 

 

Prever o futuro é fácil,

difícil é chegar lá.

LA 05/009

 

 

Com histórias da carochinha,

temperadas com muito medo

e póstumas promessas —

o rebanho vai sendo guiado.

LA 05/009

 

 

Nem leão nem cordeiro,

apenas uma pessoa

que sabe o que quer, o que não quer

e para onde deve ir.

LA 05/009

 

 

Inveja não mata ninguém,

ao contrário, vem confirmar

que temos alguma coisa

que o outro adoraria.

LA 05/009

 

 

Enquanto me invejam sei que estou bem.

LA 05/009

 

 

Entre meu imperfeito já feito

e o teu perfeito não feito —

fico com a minha imperfeição.

LA 05/009

 

 

Por vezes lembro Sofósio:

“Da vida quero a moleza.

Sua dureza

vou levando em fogo brando.”

LA 05/009

 

 

Se quer amar seus inimigos, ame.

Só não esqueça que também pode fazê-lo

com seus amigos.

LA 05/009

 

 

Quanto mais você corre atrás da verdade,

mais ela some de você.

Quando você a despreza e lhe vira as costas

então você a vê.

LA 05/009

 

 

De poucos rostos me esqueci na vida.

O teu faço questão de ir esfumando

até tornar-se vento,

vento que, assoviando,

me lembre uma canção

que apague o tom de tua voz.

LA 05/009

 

 

Para enganar e trair

é antes necessário

duas assíduas estratégias —

primeira: caluniar.

Segunda: caluniar.

LA 05/009

 

 

Água de poços

envenenados.

Amores moços

e já finados.

LA 05/009

 

 

Não iria à fogueira

por nenhuma verdade,

aliás, os tais senhores

que por doutrina matam,

jamais se interessaram

pela verdade da verdade,

mas pelo mando e poder

que a coisa lhes confere.

LA 05/009

 

 

Princípios? Como cuecas e calcinhas,

todos temos,

e pelas mesmas razões.

Por isso, não queiramos tirar,

ou que alguém vá usar

os princípios dos outros.

Vamos com calma —

são outros os tempos.

LA 05/009

 

 

Resumo os tais princípios

na velha frase (não praticada):

Respeito a tudo —

ao ser humano,

aos animais,

aos vegetais

e aos minerais.

LA 05/009

 

 

Um coração decidido,

um espírito reto

sabem o que querem.

LA 05/009

 

 

Um coração compassivo,

um espírito reto

sabem o que fazem.

LA 0/009

 

 

Se o estudo não for passado

pelo crivo do pensamento,

de que vale ter estudado?

LA 05/009

 

 

Teu pensamento

deve morrer várias vezes

e renascer de seus escombros —

sim, muitas e muitas vezes,

para poder

essencializar a vida

e ter outros olhos

de ver a ti mesmo e o mundo.

LA 05/009

 

 

O pensamento

é a semente de uma grande árvore —

do nascimento à morte do seu tronco,

passa por inúmeros estágios:

muitos nasceres e morreres

na essencilização da vida

que se constrói e reconstrói

no silêncio do mistério.

LA 05/009

 

 

Os que se têm como mestres

vão fechando para si mesmos

o seu leque de aprendizagem —

não admitem ser ensinados.

LA 05/009

 

 

Vivemos poetizando o eterno,

isto é, o fugaz em eterno.

Ainda não queremos ver

que quanto mais fugaz

mais delicioso.

Algo eterno

seria a maior desgraça.

Sim, falta-nos entender

que a morte é um presente —

como nascer e viver.

LA 05/009

 

 

A humanidade sempre foi

criminosamente explorada

em todas as épocas

por aqueles que a governam.

LA 05/009

 

 

Desejar o impossível é o mais alto

de todos os nossos desejos.

LA 05/009

 

 

Pensamos e sentimos de soslaio

para atingir o meio: o ponto intento.

A metáfora é feita de tabela —

sim, um pegar a coisa pelas penas do seu vôo.

Sempre assim: ao querer dizer tal coisa

invocamos uma outra que, “no ar”,

compara as duas que já são uma outra coisa.

LA 05/009

 

 

 

Geração Do Ar

 

Poesias e romances

todos escrevem,

ensaios todos os fazem.

O duro é lê-los, já que a qualidade

mesmo na mundial literatura

é coisa muito rara.

A Internet promete

salvar a boa palavra escrita

das mãos dos editores e dos críticos,

não raro, escandalosamente coniventes.

Um tchau aos feudos clãs castelos.

E já podemos ver,

ao lado de toneladas de coisas-lixo,

muita beleza genuína no ar —

sites mostrando uma literatura

de qualidade.

De muito boa qualidade.

Gente que faz literatura

como crescimento pessoal.

Sim: autoconhecimento, devoção artística

e intercâmbio entre os que amam e buscam

as vias do estudo, da pesquisa e da autoexpressão.

Era mais que hora

de já poder surgir a Geração Do Ar

em sua abominável inteligência

a exigir um texto de qualidade —

impresso (sem preço) na atmosfera do Planeta.

LA 05/009

 

 

Toda fase, toda idade, toda época

serão boas, muito boas,

se se souber o que fazer com elas,

LA 05/009

 

 

A sociedade

precisa ir derretendo devagar,

devagar e continuamente,

a sucata de seus valores

e reciclá-los em valores atuais —

ao molde de seu tempo e realidade.

LA 0/009

 

 

Só quem muito nos estimasse

poderia se dar ao luxo

de nos aconselhar.

LA 05/009

 

 

Os bons amigos sabem

que devem se ver pouco,

e jamais se dizerem uns aos outros

que (no mais íntimo de suas almas)

lhes desejam ventura, paz e êxito

e que oram uns para os outros.

LA 05/009

 

 

 

Tempos

 

Não se preocupe muito com o tempo,

ele foi inventado por quem tem casas de aluguel.

Pague em dia suas contas, cumpra seus contratos,

entre e saia na hora certa em seu trabalho,

acerte o seu relógio com o de sua nega

e quanto ao mais, jamais se aflija com o tempo.

Ele foi inventado por agiotas, por banqueiros

que o transformaram em dinheiro: time is money.

Tempo carnudo e material que mata e que atropela,

tempo de angústia e de aflição.

Mas há outras e outras dimensões de tempo —

aquele que se liga ao ser, o tempo metafísico,

este, sim, é o ser e o ser o é: ambos são a semente e a árvore.

E em ambos temos todo o ensino-aprendizagem

no processo de ser: tempo e memória.

Esse tempo dilata os odres da consciência

por entre renasceres e morreres —

de verdade em verdade,

de esperança em esperança,

de entendimento em entendimento

naquela Casa em nós (a viajar em nós)

em que Deuspai sempre nos foi, nos é e nos será

por-entre-os-tempos-dos-tempos-pelos-tempos

em que a Vida é o mestre e o viver o discípulo.

LA 05/009

 

 

Há os que se lamentam por ter nascido

e os que se aproveitam de tal fato

para fazer da vida

muito mais que uma boa limonada.

LA 05/009

 

 

Vivi bastante para ver que para uns

a vida é bem fácil,

para outros muito difícil.

Mas não vivi bastante

para entender isso.

Claro que sei tecer conjeturas

sobre isso, como todos os homens,

mas conjeturas, quem é que não as faz?

Sim, fazer conjeturas

é como ter nossas razões,

nossas boas intenções,

belas ideias,

fortes intuições...

Mas mesmo assim,

nunca vivemos tanto

para entender o que se vê,

embora muitas vezes seja

de um visível gritante.

LA 05/009

 

 

Quando vemos alguém lutando com o impossível,

ficamos fascinados —

não sei se de dó

ou de vermos tanto heroísmo.

Mas de um jeito ou de outro

aprendermos às custas alheias,

além de cômodo,

é igualmente bom aprendizado.

LA 0/009

 

 

Eu não posso ensinar nada a ninguém,

mas posso dizer a ele

que podemos aprender um do outro.

LA 05/009

 

 

Tomé, hoje? Nem pondo o dedo.

LA 05/009

 

 

Se o sentir não vem junto com o pensar,

nem um dos dois é bom.

LA 05/009

 

 

Exige quanto queiras de ti, e nada dos outros.

LA 0/009

 

 

Depende dos outros

só o que não puderes não depender.

LA 0/009

 

 

Concordo: o fracasso pode ser

mais interessante que o sucesso...

mas hoje não estou filósofo —

fico com este último.

LA 0/009

 

 

Marilda me disse que perder o controle

é normal, contanto que um dia

a gente volte a controlar-se.

LA 05/009

 

 

Existem tantos tipos de mentiras:

finas, inteligentes, insinuantes,

quase honestas, charmosas, verdadeiras —

que a gente até nem sabe

qual delas é a mais bela.

LA 05/009

 

 

Há verdades tão belas, que dizê-las

seria cometer luxuosos sacrilégios.

LA 05/009

 

 

Experiência é bom, pois quase sempre

já não servem para os tempos de hoje.

Aí a gente vive até ter outras

que logo precisamos reciclar.

Experiências valem experiências.

LA 05/009

 

 

Bom seria ter mil razões para viver

e uma só pra não morrer.

LA 05/009

 

 

Faça o que pode,

o que não pode a vida faz.

LA 05/099

 

 

Construímos o que somos

e tolamente chamamos isso de destino.

LA 05/009

 

 

Sossega: o mundo está salvo —

cada povo tem lá seu salvador.

Cuidemos bem da vida

e frequentemos sua escola.

Demos a Deus, a nós e ao próximo

o melhor de nosso amor.

Exercitemos o altruísmo.

E prossigamos livres

(ao menos lá dentro de nós),

sim, prossigamos livres, leves, soltos...

coçando gostosamente os mimos

e sabendo que em tudo cabe

a alegria, o riso e o humor.

LA 05/009

 

 

Se em geral fazes

de cada dia

um bom dia —

praticas a melhor das artes.

LA 05/009

 

 

O homem precisa aprender o que ensina,

daí esse fascínio em cada um de nós

por querer ensinar.

LA 0/009

 

 

Entre os sonhos do futuro

e as histórias do passado

trabalho na oficina dos meus dias.

LA 05/009

 

 

Não tenhamos medo de fazer vibrar

o nosso coração —

busquemos um ritmo bem de casa

e ao som de suas cordas

dancemos nas varandas lá em nós.

Sim, dancemos, sabendo

que é preciso viver —

urgentemente viver.

LA 05/009

 

 

Um castelo edificado no ar

tem a graça e a beleza

de ter sido assim sonhado.

Sim, o fascínio flutuante

do cai, não cai dos sonhos.

Já quando edificado sobre o chão

tem a melancolia

das paranoias já cansadas.

LA 05/009

 

 

Há coisas na vida que não se compram com o dinheiro,

mas nem por isso deixam de custar menos caro.

LA 05/009

 

 

Muita coisa que eu não soube de minha vida

tenho certeza me foram

a causa de eu seguir em frente

impulsionado pela força

de uma alegria companheira

que ia comigo o tempo todo

e nunca me deixou a vida inteira.

LA 05/009

 

 

Sua paz social vem de você gastar

um pouco menos do que ganha.

LA 05/009

 

 

Marilda tinha defeitos encantadores,

desses que todo homem adora.

LA 05/009

 

 

Se contássemos cada dia

como uma vida separada,

nem passado nem futuro

iriam nos apoquentar.

LA 05/009

 

 

O passado é um tirano,

o futuro é um malandro —

um vive nos punindo,

outro vive prometendo.

Não sei qual presta menos.

Mas já que são parentes,

temos que toureá-los

vivendo bem o presente.

LA 05/009

 

 

As qualidades de um homem

não o fazem agradável,

como os defeitos de alguém

não lhe roubam os encantos.

LA 05/009

 

 

Um tanto de loucura,

outro tanto de razão —

eis o velho e delicioso

condimento do amor,

arrazoado de doidices.

LA 05/009

 

 

É preciso viver

para ver o preço de tudo

na consistência de nada.

LA 05/009

 

 

Metamorfoses do conhecimento —

isto o que temos sido.

LA 05/009

 

 

Investir em conhecimento

há de resultar em soltura interior,

melhor manejo da realidade

e crescente construção da liberdade.

LA 05/009

 

 

A vida não dá respostas,

mas oferece a graça

de ser vivida.

Nós é que devemos à vida

as respostas de viver.

LA 05/009

 

 

A convicção nos cimenta no tempo e no espaço —

perdemos o dom da metarmofose,

nossa consciência se engessa:

o pensamento perde as asas,

o coração não tem suas razões.

Já não podemos arrazoar com Deus

sobre nossos caminhos e descaminhos.

Convicção petrificada

serve para calcetar ruas

e coletar o trânsito e a enxurrada.

LA 05/009

 

 

O Senhor está no céu

e assim mesmo nos chamou de irmãos

na pessoa do Filho.

LA 05/009

 

 

As canções, as flores, o vinho, a dança,

a alegria a bailar no coração

e o amor a incendiar as nossas almas —

as raparigas a pisar as uvas

vão dando o ritmo.

LA 05/009

 

 

Por certo um dia encontraremos

em nossa mente

a tal fonte da juventude.

La 05/009

 

 

Sabedoria é ganho

pelos poros do tempo,

conhecimento é construção

e suporte de vida.

LA 05/009

 

 

Amor dos bons é o que mente

e prova as suas mentiras

como verdades.

LA 05/009

 

 

Amor? Sim, sempre o amor

em suas várias gamas.

O que não crê no amor

não terá companhia

para saborear

suas sublimes mentiras.

LA 05/009

 

 

O ódio não anula o ódio.

Só o oposto de uma coisa

poderá anulá-la.

LA 05/009

 

 

Uma guerra não termina

quando o ódio acaba,

mas quando uma parte dele

é vencida por ele.

LA 05/009

 

 

Chamar-se a si mesmo pequeno

ou o menor que todos

é não gostar dos pequenos,

dos simples, dos humildes.

Até isso o nosso orgulho

nos faz fazer.

LA 05/009

 

 

Oriente e Ocidente

são duas jarras pela metade —

precisamos misturar

seus conteúdos.

LA 05/009

 

 

As experiências vividas

formam o nosso aprendizado —

uma espécie de mestre anético

a quem podemos recorrer.

LA 05/009

 

 

Reativar o passado

é queimar-se em suas brasas

ou libar seus licores.

Repassar esses filmes

é um modo de organizar

o tempo

e ordenar a nossa alma.

LA 05/009

 

 

Esperar muito de alguém

é como pressioná-lo para um lado

aonde talvez ele não queira ir.

LA 05/009

 

 

Os que têm um ar de inteligentes

em geral não o são.

LA 05/009

 

 

Um coração liberto

é um caminho iluminado.

LA 05/009

 

 

Até há pouco tempo

dizer-se agnóstico ou ateu

dava status de inteligente.

LA 05/009

 

 

Badernar o Sagrado

dá boa bilheteria.

LA 05/009

 

 

Jesus, Nosso Senhor,

só ainda não foi filmado

como boiola e bêbado.

LA 05/009

 

 

Para um livro ser bom

vai depender de quem o lê.

Sim, mesmo prestando pouco,

ou não prestando,

poderá ensinar muito.

LA 05/009

 

 

A grande maioria dos meus sonhos

nunca vão se realizar,

mas me têm dado força e entusiasmo

e isto é uma espécie

de realização por tabela.

LA 05/009

 

 

Orar é uma grande força,

quando você não fala que ora.

LA 05/009

 

 

Quando sinto que “posso”,

oro por mim ou por alguém

lá em alma-coração.

LA 05/009

 

 

Não sei orar,

nem me deixo ensinar —

apenas oro.

LA 05/009

 

 

Orar é galvanizar as células

numa só

e expandir o espírito

até ele agarrar o que precisa.

LA 05/009

 

 

Lutar contra um mal

é aumentar-lhe a força.

Vibrando leve, a gente o põe

nas mãos do bem

que estamos precisando.

LA 05/009

 

 

O amor se alcança com amor.

LA 05/009

 

 

Sucesso é bom e natural

para quem sonha e ousa.

Já a fama

é uma lâmina afiadíssima

e sem bainha.

LA 05/009

 

 

O que o trabalho deu

a gente não arrisca.

LA 05/009

 

 

Galo na testa canta

quando dói muito.

LA 05/009

 

 

Ao menos uma vez por dia

é bom pensar que estamos caminhando

no meio da humanidade

e que de certo modo a somos.

LA 05/009

 

 

Há tantas maravilhas

que uma vida é bem pouco

para senti-las e aprender com elas.

LA 05/009

 

 

O fracasso pode não ser fracasso

como a vitória pode não sê-la —

tudo depende do contexto.

LA 05/009

 

 

O muito é muito,

o pouco é falta.

A luz e a sombra suficientes

é que vestem o ver de charme.

LA 05/009

 

 

Uma pitada de doidice

ao talento

vai bem, vai muito bem.

LA 05/009

 

 

Banalizar o erro

como estímulo de aprendizagem

e afoiteza aos desafios

traz em si muitos perigos.

LA 05/009

 

 

Milagre é aquilo que achamos que é milagre.

LA 05/009

 

 

Nem sempre as coisas más

são para o nosso mal,

nem sempre as boas

são para o nosso bem.

LA 05/009

 

 

O meu futuro não é lá,

ele começa aqui.

LA 05/009

 

 

Não, o meu futuro é lá,

lá onde não sei.

LA 05/009

 

 

Ninguém sabe quanto já caminhou —

o caminho é interior,

ou melhor: nós o fazemos em nós.

LA 05/009

 

 

Se estamos vazios,

então é hora do banquete.

LA 05/009

 

 

A estrada certa é aquela

que tem o por fora e o por dentro.

LA 05/009

 

 

As grandes almas se mantêm acima

das tempestades,

tal como as procelárias voam

por sobre as ondas.

LA 0/009

 

 

Meia-idade é quando

a gente começa a admirar

as pessoas mais novas.

LA 05/009

 

 

Vivamos nossas alegrias,

nossos momentos mágicos,

nossos bocados de prazer —

amemos e sonhemos,

degustando segundo por segundo

o tempo que nos foi dado.

Saboreemos a beleza e a arte

e os voos ariscos da poesia.

Amemos a Deus, a nós e ao outro.

E tudo o que façamos

não esqueçamos de fazê-lo

com um sentimento de verdade.

LA 05/009

 

 

Quando os detalhes

forem mais interessantes que o todo,

demore-se neles —

a beleza e o prazer

não precisam de regras nem medidas.

LA 05/09

 

 

Um gesto, uma delicadeza, um olhar,

um sorriso —

no amor é tudo grandioso.

LA 05/009

 

 

No amor,

tão belo quanto encontrá-lo

deverá ser perdê-lo.

LA 05/009

 

 

Vivamos as coisas como elas são

e não como gostaríamos que fossem.

LA 05/009

 

 

Graças a Deus, poucas vezes

nossos desejos são atendidos.

LA 05/009

 

 

A verdade das coisas

é a ideia que fazemos dela.

LA 05/009

 

 

A melhor maneira de ser amigo

é agir como amigo.

LA 05/009

 

 

Essa fome de afeição

que jamais é satisfeita,

isto se chama amor.

LA 05/009

 

 

Em nossos belos e folgados dias

nossos amigos nos conhecem,

em nossas provações

somos nós que os conhecemos.

LA 05/009

 

 

Aprendemos pela vida afora

e nos apoiamos nesse aprendizado

para não só aumentá-lo

como i-lo transmudando

e organizando em nós —

aliás, somos aquilo que conhecemos.

LA 05/009

 

 

Aprendi das pessoas

o que e como devo responder-lhes.

LA 05/009

 

 

Na guerra

só vai prestar a vitória.

LA 05/009

 

 

As grandes ilusões

impedem a felicidade possível.

LA 05/009

 

 

O que há de mais íntimo que nossos sonhos?

Bem por isso é que revelá-los

sempre lhes quebra o encanto —

sua força e magia se evolam.

LA 05/009

 

 

O amor é como a lua —

cheio de fases,

marés baixas,

marés cheias,

nuvens e brejos.

E não há outro jeito,

senão ficar já embarcado —

quando a água sobe a gente rema

para o castelo de Luana.

LA 05/009

 

 

Sim, o amor é um velho lunático

encarnado em pessoas de todas as idades.

LA 05/009

 

 

No último congresso sobre o amor,

sábios e sábias provaram

que o amor não existe,

por dedução claríssima:

jamais nos satisfaz.

Que nem jabuticaba —

a gente quer chupar a cesta.

Verificaram que lá no hipotálamo

existe sempre um desejo

bem debaixo da cama (tálamo) —

sempre pronto a subir.

Sim, um desce, outro sobe,

um desce, outro sobe...

Conclusão: O amor não é mais

que um hábito atávico cronificado:

uma droga ineficaz —

por isso tão amada.

LA 05/009

 

 

Tratemos bem das nossas ilusões —

se elas se vão, que é que vamos fazer

com os cascalhos da realidade?

05/009

 

 

Essa coisa de gratidão e ingratidão

é mais uma maneira de querermos

prender as pessoas a nós.

LA 05/009

 

 

Pra se sair dos pés de alguém

é preciso ser ingrato com ele —

já que pra continuar bom moço e grato

seria bom só para o tal herói.

LA 05/009

 

 

Plantei flores no meu jardim

e as borboletas não vieram.

Ingratas!

LA 0/009

 

 

Quem não precisa de badalações

também não vê desprezo.

LA 05/009

 

 

Não case por dinheiro.

Qualquer banquinho aí

lhe empresta a juros

que você pode quitar

bem antes de morrer.

LA 05/009

 

 

Muito elogio à exceção

faz confundir a regra.

LA 05/009

 

 

Entre verdade e mentira

está a mentira da verdade

e a verdade da mentira.

LA 05/009

 

 

Estão matando o Planeta

e os elementos dando seu troco.

LA 05/009

 

 

Em geral nossos desejos

não sabem o que desejam.

LA 05/009

 

 

Na vida tudo é processo —

vai do primeiro passo

a não sabermos quantos.

LA 05/009

 

 

As pessoas mais covardes

exortam os outros a fazer,

a ousar, a aventurar-se...

e ficam espiando  — resguardadas —

a ver o que acontece.

LA 05/009

 

 

Mudar de ideias é fácil,

triste é não saber o que fazer

com as novas ideias.

LA 05/009

 

 

Não espere por que esperar

é difícil,

espere por que adora esperar

que a vizinha abra a janela.

LA 05/009

 

 

Não esperar é não temer,

o problema é que não temer

é não ter nada pela frente.

LA 05/009

 

 

Ser mestre é fácil

e, para alguns, até prazeroso.

O difícil, para alguns, é passar

de mestre a aluno —

para continuar a aprender.

LA 05/009

 

 

Há livros que são poderosas naves —

levam-nos em viagens atemporais,

por dentro e fora de nós,

do mundo e da vida —

viagens dentro de outras viagens

por um partir-chegar, por um chegar-partir

onde o tempo e os portos se dissolvem

nas mãos da vida,

sonho de Deus feito ousadia e graça.

LA 05/009

 

 

Entre a sabedoria e a ignorância

arma-se o palco

e os atores constroem

um tempo exterior: sua realidade,

e um tempo interior: aquilo que lhes falta.

LA 05/009

 

 

Peço a Deus que em minha vida

sempre me procurem

estas três criaturas:

Simplicidade

Bondade

Verdade

LA 05/009

 

 

Bobo de você se acredita na idade que tem.

LA 05/009

 

 

Não há maior bem que a liberdade

de não ir,

não fazer,

cair fora,

rir e gargalhar —

sem dosar a altura.

LA 05/009

 

 

Coisas eternas,

verdades absolutas —

não as há.

A vida não cristaliza,

mas sempre, sempre se expande.

LA 05/009

 

 

Não devemos confiar

na responsabilidade dos homens,

ainda é cedo para isso —

caminha-se mais inconciente

que conscientemente.

LA 05/009

 

 

Ações e palavras através do tempo

se tornam espelho do homem.

LA 05/009

 

 

Para o amor nada é

invencível,

irredimível,

impossível.

LA 05/009

 

 

O sábio e o tolo

lambem melzinho

na mão da amada.

LA 0/009

 

 

Saibamos degustar os intervalos,

e a vida fica suportável.

LA 05/009

 

 

Caminhos retos

são apenas metáforas

de quem já andou perdido.

LA 05/009

 

 

Não sou ovelha desgarrada,

sou do rebanho

dos devotos do Amor —

minhalma tem um Amigo:

Jesus é meu Pastor.

LA 0/009

 

 

Não assovies

perto do triste.

LA 0/009

 

 

Inteligência sem bondade

é desgraça.

LA 0/009

 

 

Não é de hoje que deixamos

nossas pegadas pelo tempo.

LA 05/009

 

 

Mesmo para os reencarnacionistas

a vida é uma só.

LA 05/009

 

 

Nosso coração é quem mais nos engana,

e, no entanto, sempre foi a nossa bússola.

LA 05/009

 

 

A solidão de um ser é o que o aparta

de amar e sentir-se amado.

LA 05/009

 

 

Quanto mais misericórdia

pedires a um homem

tanto mais deliciosamente

ele o verá morrer.

LA 05/009

 

 

O minuto que vem é meu,

agradeço por ele e o vou somando

aos outros minutos do dia.

LA 0/009

 

 

Muita filosofia,

pouca sabedoria.

Muita teologia,

fé em agonia.

LA 05/009

 

 

Há os que estão em posição desfavorável,

tenhamos paciência com eles, demos-lhes a mão —

sem deixar que nos arrastem para onde estão.

LA 05/009

 

 

O que faço de mim anula e positiva

o que fizeram de mim.

LA 0/009

 

 

O que falam de um homem

raramente condiz com o que ele é.

LA /05009

 

 

Se alguém lhe pediu perdão

o perdão está pedido.

LA 05/009

 

 

Para uns, a vida é um bichinho bonito e adorável,

para outros, um burro a não aguentar com a carga.

Pra maioria, um lago azul com belos cisnes

de mistura com mares tempestuosos —

tudo isso viajando em castelos, mansões,

palacetes, moradias, barracos, bancos de praças,

florestas...

Não faltarão gurus que nos expliquem

a razão disso tudo e seus porquês.

São bizarros defensores do status quo do mundo,

paladinos do tudo-está-certo-como-está,

filósofos enfermos da justiça da injustiça,

da equidade da desiguladade —

filósofos enfermos,

teólogos doentes

para sempre coniventes com o Sistema.

LA 0/009

 

 

Se fomos dotados

de uma aparelhagem de percepção

em expanssão e desenvolvimento —

o Criador há de querer

que usemos tais sentidos

em todos os sentidos

que nos engrandeçam a nós

e aos outros.

LA 05/009

 

 

O fazer não depende apenas do saber fazer,

senão também da fé de se poder fazer.

LA 05/009

 

 

Pense o que quiser,

faça o que quiser,

sinta o que quiser,

negue ou conceda o que quiser

sem medo de acertar ou errar —

se no momento de agir,

você agir com todo o seu amor.

LA 05/009

 

 

Nem satisfeito, nem descontente —

apenas um transeunte

buscando sempre.

LA 05/009

 

 

Quando se sabe muito, não se faz.

LA 05/009

 

 

Os que não se deixam adentrar

pela impossibilidade de vencer,

agem sem medo

e vencem.

LA 05/009

 

 

Arrostar a dificuldade,

o inimigo,

ao invés de considerá-los de lado,

medi-los com respeito e sem medo,

e agir para vencê-los —

esta a diferença entre vencedores

e vencidos.

LA 05/009

 

 

Se o que tens é segredo,

não o reveles —

revelá-lo por certo

iria te enfraquecer.

Há coisas que são nossas —

guardá-las em nosso íntimo

é a nossa força.

LA 05/009

 

 

Melhor que ficares filosofando

sobre o destino

será usares tua vontade

e todas as tuas forças

para conseguir o que queres —

sabendo bem o que queres,

ousando e calando.

LA 05/009

 

 

Aquela alegria espiritual

do justo: o que foi justificado

pelos méritos do Filho

(e O aceitou e creu Nele) —

esta eu invejo e quero,

quero que sua chama

arda em mim

como ardeu nos discípulos

da estrada de Emaús.

LA 0/009

 

 

Quando menino,

brincava com minha sombra,

ficava fascinado, encantado

de ver

como ela conseguia me imitar.

Depois que me explicaram,

o encanto se quebrou.

Nunca mais brinquei com ela.

LA 05/009

 

 

Não termos muitas das coisas

que adoraríamos ter —

este é o charme da vida.

LA /05009

 

 

O Hubble

e a teoria dos quanta

nos mostram

um bilionésimo de um pingo

das maravilhas de Deus

(se bem que mesmo assim,

nos faz cair o queixo),

mas nosso sentimento de Deus

e suas criaturas

nos faz ver muito mais.

LA 05/009

 

 

O Universo é nós por dentro:

o micro espelhando o macro

e o macro espelhando o micro.

LA 05/009

 

 

Os chamados amigos íntimos

mais se atrapalham que se ajudam.

Cada qual vem buscar o que lhe falta

e para tal lhe é preciso

desenvolver a sua aparelhagem —

os caminhos serão outros.

LA 05/009

 

 

Quanto mais vívida a experiência

mais eficaz e duradoura a aprendizagem.

LA 05/009

 

 

Devíamos ter muito medo

de prejudicar os outros.

LA 05/009

 

 

A dor existe,

mas um viver cuidadoso

vai reduzi-la bastante.

LA 05/009

 

 

É perigoso

ficarmos catalogando as pessoas

entre normais e isto e aquilo...

já que todos nós somos meio loucos.

LA 05/009

 

 

Planejar o futuro pelo passado

terá sido errar duas vezes.

LA 05/009

 

 

Só aquilo que compreendemos

faz parte de nós.

LA 0/009

 

 

Se você pode fazer muita coisa sem ser rico,

então é dos mais ricos.

LA 05/009

 

 

Fazer ou deixar de fazer

pode igualmente implicar

responsabilidade.

LA 0/009

 

 

Sem a alegria,

que te dá a força de viver,

que vais fazer com a verdade e a razão?

LA 05/009

 

 

As coisas têm sentido

se você está bem.

Invista em sua alegria,

em sua paz.

LA 05/009

 

 

Uma sugestivo quadro,

uma linda canção,

um belo poema

só têm sentido

quando lhes emprestamos

nosso sentido.

LA 05/009

 

 

O soberano (que está de cima),

o humilde (que está no chão)

são atitudes

que todo ser humano

deveria evitar.

LA 05/009

 

 

Para não ser amado

o indivíduo dependeu

de pessoas,

já para amar

vai depender apenas dele.

LA 05/009

 

 

Se nossa canção já não soa,

nosso poema  já não diz,

nosso quadro já não sugere,

nosso rosto não ilumina,

nossos lábios não barganham,

nossa voz não cativa,

nossos olhos não abençoam —

peçamos de joelhos a Deuspai

que tudo isso,

tudo isso nos volte a acontecer.

LA 05/009

 

 

Há países que buscam chifres

em cabeça de cavalo.

Perturbam o sono da região

e a paciência do mundo

com seus mísseis de curto alcance,

com explosões subterrâneas

e ameaçam potências

com os tais mísseis-bravatas.

Tomara que tudo acabe em risos

como aqui acaba em pizza —

com ou sem dança.

LA 05/009

 

 

As palavras carregam a humanidade.

LA 05/009

 

 

Quando era moço dizia que a vida,

em sua média geral,

era até muito longa,

mas vivi bastante para achar que não —

viver nunca é demais quando se tem a graça

de arder em entusiasmo,

em alegria e altruísmo.

Viver é sucessão de ensaios

de um santo aprendizado.

LA 05/009

 

 

Há caminhos, e caminhos.

Caminhantes, e caminhantes.

E caminhos-caminhantes.

LA 05/009

 

 

Para nós, o vencedor é o que chega primeiro.

Para a vida, é o que chega em si mesmo.

LA 05/009

 

 

Trabalhar sem entusiasmo

é fazê-lo sem ferramentas.

LA 05/009

 

 

Nossa vida não seria tão curta

se não a desperdiçássemos tanto.

LA 06/009

 

 

A felicidade é ainda malcompreendida —

ela não cai do céu: é construída.

LA 06/009

 

 

Você só pode ser você —

não abra mão!

LA 06/009

 

 

As tempestades são muitas,

mas nosso barco tem aguentado.

LA 06/009

 

 

Incutiram-nos um terror milenar

sobre o antes e o pós-morte:

sacrifícios de sangue, infernos

com horrores eternos,

e até um céu, um céu muito engraçado.

Literatura opressiva e de dominação.

Fico com o Nazareno descalço

e suas palavras:

Na casa de meu Pai há muitas moradas.

Amo a Deus, a mim e ao outro.

Deus é espírito e verdade

e Seu templo é no homem que o ama.

Renasço em Cristo todos os dias

e vivo para melhorar-me a mim,

aos meus e o mundo,

tendo a vida como mestre

e o viver como escola.

LA 06/009

 

 

O que me importa é a oficina do presente

onde vivo cada dia com cuidado e calma,

desentorto os pregos enferrujados do passado

e moldo com o plasma do meu hoje

aquilo que por certo me virá.

Confio em Deus, em mim e trago acesa

a fé em que amanhã serei melhor que hoje

e mais feliz.

Os outros? Não sei o que eles querem.

Cabe-me desejar-lhes ardentemente

que realizem os seus sonhos

e saibam construir sua felicidade.

O que sei é que somos companheiros de viagem.

LA 06/009

 

 

Vemos as coisas como elas nos parecem,

jamais como elas são,

nem poderia ser diferente —

se tudo está a caminho de ser,

as coisas são o que parecem.

LA 06/009

 

 

Nas horas muito difíceis

só uma coisa nos ajuda —

a calma: nossa cabeça

a comandar serena.

LA 06/009

 

 

Idas e vindas,

e sempre para frente,

esta é a lei.

LA 06/009

 

 

Nem tudo, minha nega, pode dar certo.

Tem dia que é de noite,

tem noite que é de dia —

aprendamos também a agradecer

pelo que nos dá errado.

LA 06/009

 

 

O trabalho precisa ser dividido,

como a renda,

o lazer

e o prazer.

LA 06/009

 

 

Sejamos bons aprendizes,

isto é: felizes.

LA 06/009

 

 

Ensinar e aprender são revesados

pelo mestre e o aprendiz,

pelo aprendiz e o mestre.

LA 06/009

 

 

Num mesmo instante,

quem ensina aprende

e quem aprende ensina.

LA 06/009

 

 

Falamos tanto em ser livres,

damos tantas lições de liberdade...

Será que alguém sabe,

já experimentou ser livre?

LA 06/009

 

 

Aprender a não ser isto,

mas aquilo,

sempre aquilo de aquilo,

num processo contínuo

entre isto e aquilo

(num isto mais que isto

num aquilo mais que aquilo) —

é isto o aprender?

LA 06/009

 

 

Ninguém deve cometer

a mesma tolice duas vezes,

mas três, quatro, cinco...

se achar que tal tolice vale a pena.

LA 06/009

 

 

Somos mestres em nos enganar.

LA 06/009

 

 

Muitos (inconscientemente?)

usam o coração como oráculo

do que desejam fazer...

e recebem como resposta

que é isso mesmo, isso mesmo

o que devem fazer.

LA 06/009

 

 

Quem ama à primeira vista,

à segunda já nem liga.

LA 06/009

 

 

Ousar é ir além de si mesmo,

e saber voar nesse espaço.

LA 06/009

 

 

O amor é aquele bichinho

que quando você pensa tê-lo

já não tem.

LA 06/009

 

 

Os ventos são bajuladores —

só sopram a favor

dos que sabem aonde querem ir.

LA 06/009

 

 

O melhor tempo é o que não vivemos

e o lugar mais agradável

é o que vemos na telinha.

LA 06/009

 

 

O mais belo amor

é o que poderia ter sido.

LA 06/009

 

 

Quando os prazeres se tornam hábitos,

você depende deles;

quando se tornam vícios,

você é seu refém.

LA 06/009

 

 

Está na índole de nossos dias

amar as coisas

e usar as pessoas.

LA 06/009

 

 

O pessimista é aquele indivíduo

que orbita em torno de seus males,

mas não sabe que são seus males.

LA 06/009

 

 

Aprendemos com tudo e todos,

mas o núcleo-semente do entendimento

está no íntimo de cada um de nós —

só nos dão o que já temos.

LA 06/009

 

 

Não há nenhuma ilha

cujas águas não a integrem

a todos os continentes,

cuja atmosfera não seja o mundo.

LA 06/009

 

 

Viver afastado é uma coisa,

ser solitário é outra.

Um certo distanciamento

ajuda a ver melhor as coisas

e vendo-as assim mais claras,

também ficamos mais visíveis

a nós mesmos. Em outras palavras:

nos afastamos

para nos conhecer,

sim: conhecer a nós e o mundo.

Assim ordenamos a nossa alma,

organizamos o nosso ser,

alinhamos a nossa vida

e aprendemos que o nosso rumo

é irmão da razão com a intuição,

irmão do coração com aquele

saber de esguelha:

tino interior.

Nesse caso, afastar-se

é estar bem mais perto —

de nós mesmos e dos outros:

saber que somos os outros

e que os outros nos são.

LA 06/009

 

 

Solitário? É quem não sabe

florescer os seus minutos,

frutificar as suas horas.

A solidão não é um mal necessário,

é um mal dos que baniram a poesia.

Solitário é o que não tem

a própria companhia.

LA 06/009

 

 

Quem diz ter belas ideias

é o que nunca vai fazer

nada com elas.

Ideias não fazem nada,

são apenas um pré-ter

e um pretexto —

uma nota percutida em nós

ouvindo ou lendo uma palavra,

um ruído, uma voz, uma imagem,

qualquer mínimo incidente —

uma nota a gerar outra nota outra nota outra...

mas nem por isso a gerar uma canção

ou muito menos uma sinfonia.

LA 06/009

 

 

Se eu ficar esperando

não vivo o meu dia.

LA 06/009

 

 

Esperar? Só bem de esguelha,

uma espera impermeável

à aflição ou angústia.

LA 06/009

 

 

Esperar? Só na fila.

Meu dia é mais precioso

do que qualquer espera.

LA 06/009

 

 

Faço o que quero,

não o que acham —

pelo menos lá em mim.

LA 06/009

 

 

Goste de você —

você é que se fez assim.

LA 06/009

 

 

Somos humilhados, desprezados

quando queremos nos punir

e usamos as mãos dos outros.

Sim, ninguém poderá nos humilhar

sem a nossa permissão.

LA 06/009

 

 

Fugir do amor

é tão tragicamente impossível

quanto fugir da morte.

LA 06/009

 

 

Mudemos de hábitos

de vez em quando,

senão nos tornamos um maço

de figurinhas repetidas.

LA 06/009

 

 

Tenhamos em mente

que pensar é uma função

e a função preserva o órgão.

Façamos fluir este rio

chamado pensamento —

suave, apressado, tempestuoso,

ligeiro, jovial, aflito, alegre...

tal como a vida gosta...

límpido, barroso, escuro,

turvo, pardo, cristalino

fluindo flavo, flâmeo...

assim: como a vida gosta.

LA 06/009

 

 

Tornamo-nos especialistas

em coisas que não existem,

e tentamos vivê-las teatralmente

em detrimento daquelas

que existem.

E queremos ser felizes!

LA 06/009

 

 

Queremos ser ridiculamente bons,

sem nem saber o que é isso.

LA 06/009

 

 

Lembro-me dele

sentado à sombra

de grandes dores —

nos olhos turvos,

tediosos meandros

de um rio lento,

lento e pesado,

entre montanhas

tristes, despidas

de acenos verdes,

mãos ressequidas

do rijo inverno.

Sua alma estava

como que solta

dentro do corpo —

feito semente

a ser levada

pelo vento.

LA 06/009

 

 

No meio das dificuldades

sempre encontramos a saída.

LA 06/009

 

 

O fim tem seus acertos

que começaram

desde o começo e meio,

por isso nele

tudo dá certo.

LA 06/009

 

 

No fim de todo medo

está a mão de Deus.

LA 06/009

 

 

O amor é o grande garimpeiro,

as mais belas pepitas

é sempre ele que traz à tona.

LA 06/009

 

 

Não cometa o pecado

de viver sem a alegria.

LA 06/009

 

 

Tudo passa tão depressa

que a maior arte

é a gente fazer dar tempo.

LA 06/009

 

 

Os amigos gostariam

de nos ver sempre os mesmos,

mas há os que não têm medo de mudar.

LA 06/009

 

 

Congelar a felicidade

seria transformá-la

em seu oposto.

LA 06/009

 

 

Já tive amigos

que comentavam a beleza

das obras que iriam realizar.

LA 06/009

 

 

Tome meu braço e meu lenço.

Como posso entender-lhe a dor,

se angústia assim nunca vivi?

LA 06/009

 

 

Bom e mau, o mundo é o mestre.

Após teu mais alto diploma,

nele farás teu mestrado.

O resto é resto.

LA 06/009

 

 

No amor, cinco mais dois são nove.

No desamor, são sete.

Na reconciliação, são dois.

LA 06/009

 

 

Quando moços, sabemos tudo.

Mais maduros, sabemos pouco.

Pouco depois, sabemos nada.

LA 06/009

 

 

A virtude suprema

é aquela de cujo dom

estamos mais precisando.

LA 06/009

 

 

Como o corpo precisa de exercícios,

também as nossas várias faculdades

precisam se adestrar e harmonizar-se.

LA 06/009

 

 

Em nosso trabalho entre os homens

ganhamos dinheiro e experiência —

o primeiro levamos na carteira,

a segunda, na alma.

LA 06/009

 

 

A intransigência no interagir

conduz à solidão,

aos escuros da alma.

LA 06/009

 

 

A nossa mente

vive estabelecendo fronteiras,

e toca-nos viver entre elas!

LA 06/009

 

 

O que é que nós ganhamos

querendo ser um melhor que o outro —

será que já somos bons?

LA 06/009

 

 

Falou da equação de Einstein,

do Juízo Final,

das viagens intergalácticas,

dos ETs,

do céu e seus opostos,

dos poderes paranormais,

do mundo digital,

do analógico,

do virtual,

das últimas de Gates,

do Bing que vai competir

com o Google,

da Feira de Hannover,

das máquinas movidas a pensamento,

da bomba de urânio, de fósforo...

e na hora de sair... não sabe

onde pôs a chave do carro...

a chave!... a chave...

e toca procurar, procurar...

enfim: a atendente a acha —

estava no banheiro, enfiada

no rolo de papel higiênico.

LA 06/009

 

 

Não sei o que acontece lá na rua,

nem logo ali na copa...

e com a maior cara de pau,

falo de Deus, da eternidade!

LA 06/009

 

 

Tenho tecido sonhos

como o bômbix tece a seda,

mas ainda não sei voar.

LA 06/009

 

 

Somos o próximo de outros próximos

que de tão próximos,

não nos conhecemos.

LA 06/009

 

 

A gravidade diz

que tudo deve cair,

potanto, não te envergonhes.

LA 06/009

 

 

A pessoa deve desistir.

A pessoa não deve desistir.

A pessoa deve e não deve desistir.

LA 06/009

 

 

Se não sabe o que fazer,

apenas viva,

já é um bom negócio.

LA 06/009

 

 

Paciência é bom.

Mesmo excessiva,

há quem adore.

LA 06/009

 

 

A minha pátria

é onde eu pago

os meus impostos.

Jamais negaria o meu País

nem meu Estado

nem a Terra da Jabuticaba.

LA 06/009

 

 

Paz é aquilo que quando falta

é só dobrar o pão, ampliar o circo

e ela já volta a dominar.

LA 06/009

 

 

Se nossa vida, nega, é uma comédia,

demos nós dois graças a Deus,

já que podia ser uma tragédia.

LA 06/009

 

 

O riso é o desabafo,

ou, se quiserem: vingança

dos que ainda têm lábios.

LA 06/009

 

 

Nossa vida pode ser

o que deixamos fazer dela

ou o que fazemos dela.

LA 06/009

 

 

Nossos delírios,

nossas doidices

são jóias da realidade.

LA 06/009

 

 

Os caminhos dos outros

não nos podem levar

a não ser a esses tais —

que já não estão lá.

LA 06/009

 

 

Em geral falam de fracasso

com uma terna complacência —

como fossem se justificar.

LA 06/009

 

 

Quando o caso é nos encararmos

lá no fundo de nós —

não sabemos quem vamos ver.

LA 06/009

 

 

A semente é a vida

com sentido programado.

O homem é consciência que tem mãos

para se reprogramar e construir destinos.

LA 06/009

 

 

Do homem vai saindo

tudo o que ele precisa

conhecer e saber recriar.

LA 06/009

 

 

Nosso caráter

é o que vai sendo moldado

sobre a nossa conduta.

LA 06/009

 

 

Não se envergonhe do passado,

todos nós já fomos tolos mais que um dia

e para alguns seremos sempre ridículos.

LA 06/009

 

 

Não filosofes muito sobre o amor —

se ele não fosse cego

não poderia nos amar.

LA 06/009

 

 

Jamais subestime o outro —

ele tem qualidades

que nos deixam até sem graça.

LA 06/009

 

 

Não queira tirar as coisas

em pratos limpos —

tais pratos sempre se quebram.

LA 06/009

 

 

Nossas opiniões

são pregos enferrujados —

mais entortam que entram.

LA 06/009

 

 

Discutir não leva a nada,

até porque, se levasse,

nos cobraria o frete.

LA 06/009

 

 

Com o ignorante sempre aprendo

que é bom estudar bastante.

Já o sábio me ensina

que os estudos não bastam.

LA 06/009

 

 

Agradeça pelo bem,

esqueça o mal

e busque ir além dos dois.

LA 06/009

 

 

A unidade

de toda a diversidade

só pode ser Deus.

LA 06/009

 

 

Inventamos (sem ganhar nada com isso)

que o amigo certo

é o das horas incertas.

LA 06/009

 

 

Subir na vida é bom,

contanto que se tenha

uma rede bem firme

lá embaixo.

LA 06/009

 

 

Um morto

é um sorriso eterno.

LA 06/009

 

 

Morrer é a coisa mais sem graça.

LA 06/009

 

 

O alimento da alma

é a verdade e a justiça,

mas magras, quase sem gordura.

LA 06/009

 

 

Termos sido traídos

nos há de doer muito —

mas só até aprendermos

a nos amar.

LA 06/009

 

 

O acaso, minha nega,

às vezes é o que há de melhor.

LA 06/009

 

 

Falam tanto em sabedoria

como se fosse coisa

que se compre na esquina.

LA 06/009

 

 

Caso um asno falasse,

talvez a gente descobrisse

que ninguém é assim tão especial.

LA 06/009

 

 

Se é amor,

não troque —

os céus não brindam sempre.

LA 06/009

 

 

Pensar, sonhar, voar...

Voar é muito bom,

o único problema é o chão.

LA 06/009

 

 

Se for tentado,

dê graças a Deus,

muita gente nunca teve essa honra.

LA 06/009

 

 

Não se preocupe com o futuro,

cuide bem do presente,

aquele jamais se atrasa.

LA 06/009

 

 

Perder-se

é encontrar-se

em outro caminho.

LA 06/009

 

 

Existir é uma delícia,

além de muito divertido.

LA 06/009

 

 

Cada um com seu passo

em seu compasso

no seu espaço.

LA 06/009

 

 

Mandar alguém não mentir nunca,

é mais uma maneira

de chamar-se de verdadeiro.

LA 06/009

 

 

Cada fruto

é uma flor

que precisou

cair.

LA 06/009

 

 

Dizer as coisas,

ou redizê-las,

aí é que entra a arte.

LA 06/009

 

 

O sol sempre veio,

não veio?

Tudo está em boas mãos.

LA 06/009

 

 

O amor e o universo

geram a poesia

do movimento.

LA 06/009

 

 

Se o amor tivesse idade

não vivia nascendo.

LA 06/009

 

 

O mais belo no amor

é nem precisar saber

o que ele é.

LA 06/009

 

 

Esse viver vidrado

é um jeito de amar.

LA 06/009

 

 

Não tema,

o amor é um tema

sem tema.

LA 06/009

 

 

No amor

sentir é saber,

saber é sonhar.

LA 06/009

 

 

O amor não se define,

se sabe.

LA 06/009

 

 

O amor é como a água —

se infiltra

e flui a conduzir.

LA 06/009

 

 

O amor é arte

que dispensa o artista.

LA 06/009

 

 

O amor é esse olhar

que só se vê no outro.

LA 06/009

 

 

Mesmo no desamor

há amor —

amor contrariado.

LA 06/009

 

 

O amor transforma as pessoas,

fá-las criar em si mesmas

outras gamas de ser:

energias fluindo

pelas fibrilas dos sonhos

florescendo sinapses

neuropsicoespirituais.                                      

LA 06/009

 

 

As loucuras do amor

são as mais belas razões

de amar.

LA 06/009

 

 

O amor

quando você o explica

é porque não é mais.

LA 06/009              

 

 

O amor é a mais bela ilusão

de ter

e o mais alto sentimento

de ser.

LA 06/009

 

 

O amor é o demiurgo

que faz do tempo espaço

e faz do espaço tempo.

LA 06/009

 

 

Se não dá pra fazer da vida

uma bela limonada —

então não corte o limão.

LA 06/009

 

 

O amor não dorme de botinas,

senão machuca os pés da amada.

LA 06/009

 

 

O beijo é o começo de uma conversa.

LA 06/009

 

 

O bom... Quem é bom?

LA 06/009

 

 

Sim, quem está indo para Ítaca

não deve ter pressa de chegar —

deve aprender-se.

LA 06/009

 

 

Acumular dinheiro

é querer substituir

o outro lado das coisas.

LA 06/009

 

 

O que está além da nossa mão,

está além da nossa mão —

não deve se tornar angústia.

LA 06/009

 

 

Estudar, pesquisar, conhecer.

Nosso saber sempre um barquinho

num oceano de mistério.

LA 06/009

 

 

O destino não se espera —

conquista-se.

LA 06/009

 

 

Com o dom da fala

o homem se fez incomensurável —

com a palavra

fez a maior arma de guerra.

LA 06/009

 

 

Sempre que o egoísmo nos fermenta

é porque estamos mortos de amores

por nós mesmos.

LA 06/009

 

 

Dentro das nossas irrealidades

a esperança é o que há de mais real.

LA 06/009

 

 

Se você é livre,

nem se preocupa em saber disso.

Se não o é,

só vai falar de liberdade.

LA 06/009

 

 

A gente é livre

quando pensa que é.

LA 06/009

 

 

Viver pode ser tão simples

que dá dó de quem complica.

LA 06/009

 

 

Pra aliviar uma dor profunda

só fingindo que não é nada.

LA 06/009

 

 

Dor de corno dói até

arranjar chifre maior.

LA 06/009

 

 

Mulher minha facilitou —

já sabe que nem ligo.

LA 06/009

 

 

Mulher de amigo meu,

só se for a pedido dele.

LA 06/009

 

 

Rico é que nem pipoca —

esquentou, salta fora.

LA 06/009

 

 

Mulher é um pau com formiga —

coitado de quem carrega.

LA 06/009

 

 

Comadre viúva e sanfona

a gente canta e toca.

LA 06/009

 

 

Bem melhor não saber

do que saber e doer.

LA 06/009

 

 

A mulherada chora

de xiranha sempre cheia.

LA 06/009

 

 

Meu compadre me visita

quando viajo e deixo a Dita.

LA 06/009

 

 

Tem hora que é bem difícil —

você tem pões em suas mões

ou tem mãos mas não tem pães.

LA 06/009

 

 

A comadre:

Saudade do meu Tibúrcio!

Faz hoje um mês. Deitou cheiroso,

deu uma bem devagar,

devagar e amoroso,

virou pro canto contente

mas se esqueceu de acordar.

LA 06/009

 

 

Rosinha é tão fraquinhazinha,

que a gente até tem medo

de a esfarinhar num abraço.

LA 06/009

 

 

Já a mãe é bem sarada —

se dá uma chave

na gente, ave! —

ninguém abre.

LA 06/009

 

 

Te mandei uma rosa sem espinho

pra você ver, minha nega,

que eu quero paz.

LA 06/009

 

 

Cansei da vida safada,

quero mais é voltar pra casa

e ser um corno bem manso.

LA 06/009

 

 

A gente é feliz, compadre,

quando imagina que é.

LA 06/009

 

 

A vida é que nem um vinho —

vai ficando mais gostoso

lá no finzinho da garrafa.

LA 06/009

 

 

Verdade é como mentira —

ninguém sabe o que é.

LA 06/009

 

 

Mulher boa é sempre a nossa,

que sabe trocar com a gente

desde chifres até conselhos.

LA 06/009

 

 

Agradeço sempre aos céus

por ter emprego, endereço

e uma xiranha à minha espera.

LA 06/009

 

 

Ser feliz é uma questão

de boa imaginação.

LA 06/009

 

 

Laurinha tinha um rosto calmo,

um sorriso tão de bem com a vida,

que aparentava sempre

ter acabado

de fazer safadeza.

LA 06/009

 

 

Minha comadre, a Deolinda,

enviuvou faz um ano,

mas tenho dito a ela

(com todo o meu respeito)

que entendo o claro-escuro

que fica nos sentimentos...

que entendo as manhas do luto

e da bandeira a meio pau —

até porque sou cabo do exército

e corneteiro-mor.

Luto é coisa melindrosa,

recobre todo o sentimento —

tem que ir tirando aos poucos

e ir muito devagar... até

que a assombração do finado

vá se tornando rarefeita

como nuvem de inverno...

e tudo volte às claras

e ao cara a cara.

LA 06/009

 

 

Cornelinho sempre diz

que mulher é feito mato —

dá mesmo não se plantando.

LA 06/009

 

 

Não fosse o bobo manso, —

dizia Tião Jeitoso,

adonde, homem, que a gente punha

a nossa baita preocupação?

LA 06/009

 

 

Mulher braba, xiranha ácida,

dizia o Chico Padeiro.

E olha que o homem distribuiu bengala

(era um tipo de pão da época)

a sua vida inteira

pra toda esta bela e mansa cidade, —

e mais fizera

se vida houvera.

LA 06/009

 

 

O homem e a mulher

se fizeram tão malandros

que hoje não se suportam mais —

a não ser nas suas malandragens.

LA 06/009

 

 

Há os que preferem amar

apenas a si mesmos —

para não terem rivais.

LA 06/009

 

 

Fingir e refingir que é realidade

a realidade que construímos —

não é isso que tem sido

nosso fazer?

LA 06/009

 

 

Quem se despisse

de todas as suas tolices

ficaria muito sem graça.

LA 06/009

 

 

Quem conseguisse despojar-se

de todas as suas vaidades,

por certo se mataria.

LA 06/009

 

 

Quem só mostra seu lado certo

vai ficar muito envergonhado.

LA 06/009

 

 

Quem com você debocha

dos amigos que tem,

por certo com os outros

debochará de você.

LA 06/009

 

 

O preguiçoso não cresce como pessoa.

LA 06/009

 

 

O riso, o humor, a gargalhada

são o apanágio do homem normal.

A seriedade (gravidade) é doença,

enfermidade,

cinismo simulado —

os indivíduos sérios (graves)

são falsos e impostores.

LA 06/009

 

 

Se não pode entender alguma coisa,

tente sentir o mistério

de não entendê-la —

um brilho, um

sabor de sonho,

um modo de vivê-la.

LA 06/009

 

 

Trate o ignorante com inteligência,

o maldoso com distância e bondade,

o mentiroso como quem respeita a verdade,

o desonesto com honestidade,

o sábio com paciência —

ou será pior que eles,

porque você conhece outros caminhos.

LA 06/009

 

 

Quem não arrisca não tem medo,

não tendo medo

não precisa de esperança.

LA 06/009

 

 

O adulador também é mestre em caluniar.

LA 06/009

 

 

Quem conhece os próprios erros

já pode errar sem culpa.

LA 06/009

 

 

Quem quiser se livrar de alguma coisa

deve conhecer bem essa coisa.

LA 06/009

 

 

Se você não souber fazer silêncio,

não poderá ouvir o seu íntimo.

LA 06/009

 

 

Para se ir longe

é preciso conhecer o perto.

LA 06/009

 

 

Quem procura um amigo sem defeito

certamente nunca parou para ver-se.

LA 06/009

 

 

O melhor pensar é o que caminha com a obra —

muito pensamento provoca um vento estéril,

vento que enche os olhos de areia.

LA 06/009

 

 

Saber viver com pouco

é inteligência e disciplina.

LA 06/009

 

 

Quem espera a derrota

é só esperar mais um pouco

que ela vem.

LA 06/009

 

 

A paixão é um estado de queimor,

é uma inspiração —

brota de dentro

e não de fora.

LA 06/009

 

 

Minha força,

minha alegria

e meu melhor amigo

sempre foram meu coração.

LA 06/009

 

 

Jesus Cristo é o meu Senhor,

meu amigo,

meu salvador.

LA 06/009

 

 

Que valeria o teu martelo

se os pregos não fossem bons?

LA 06/009

 

 

Razão é bom,

mas é só uma ferramenta.

Se você a deixa dominar

seus sentimentos,

desejos, paixões

e intuições —

então essa fulana

está escravizando

você,

que devia ser o dono

de sua casa.

LA 06/009

 

 

Somos uma universidade —

as nossas faculdades

formarão uma equipe hamônica

fazendo da diversidade

uma unidade.

LA 06/009

 

 

Os homens e as mulheres sempre se pegaram.

Agora mais que nunca.

Fiquemos bem de lado

aparando os bocados ressentidos

do amor que nos dão por vingança ao outro

e  — portanto —  com muita gentileza e ternura.

LA 06/009

 

 

Alguém se chamar a si mesmo

de iluminado

provoca um mal-estar,

como alguém se chamar de gênio

provoca risos.

Entre o Ocidente e o Oriente

há muitas gamas e trejeitos

no funcionar da mente.

LA 06/009

 

 

A gente até entende:

os que semeiam espinhos

têm as botinas

de sola grossa.

LA 06/009

 

 

Saber o que se quer

e caminhar para o alvo

com um sentimento de que já deu certo —

esse segredo (sem segredo)

tem dado certo para muitos.

LA 06/009

 

 

Conhecimento é aquilo

que quanto mais você tem

mais vê que falta.

LA 06/009

 

 

Todo o tempo do mundo

é dado aos que o semeiam

em terras do fazer e do criar,

mas nenhum tempo têm

os que não fazem nem criam.

LA 06/009

 

 

Quanto mais eu me dedico

mais os santos me ajudam.

LA 06/009

 

 

À nossa volta

ou a relva verdeja

ou morre.

LA 06/009

 

 

Viramos nuvens

para os que, não nos entendendo,

procuram nos banir.

Mal sabem que de lá descemos água

e verde, muito verde exuberante.

LA 06/009

 

 

Tire as máscaras dos homens

e já não saberão quem são.

LA 06/009

 

 

O homem?

Tire-lhe o lado nobre,

seu lado altruísta,

sua vontade de ser bom,

seu sonho de transcender-se —

e só encontraremos um bicho

entre bichos.

LA 06/009

 

 

Tudo o que Sua mão tocou

sarou,

ressuscitou,

fez-se harmonia

e vida.

Tudo o que Sua palavra

tocou

se iluminou,

virou perdão,

fez-se caminho e vida —

fez-se a verdade que redime.

E assim foi ontem,

é hoje

e será amanhã.

LA 06/009

 

 

Quem deseja chegar ao simples

tem que passar pelo diverso —

conhecer o multiverso

para encontrar o uno,

o simples —

o que traz tudo:

uno e verso.

LA 06/009

 

 

Quando teu olho for simples

todo o teu corpo será luz.

Por aí é que se pode entender

quando, em arte, alguém consegue

atingir a simplicidade.

LA 06/009

 

 

Mudarmos por fora e por dentro —

nos transformarmos

do nascimento até a morte

é, não apenas destino,

como uma espécie de misericórdia

da vida.

LA 06/009

 

 

Mudança é movimento interior,

movimento exterior é espaço,

espaço e intensidade da mudança.

LA 06/009

 

 

A arte é a vida

transformada em mensagens.

LA 06/009

 

 

Tecnologia, natureza e humanidade —

um trinômio à procura de unidade.

LA 06/009

 

 

O chamado poder

é decidir sobre outros.

Quando vemos um homem decidindo

ele deixa desnudo o seu caráter —

e em geral o que claramente se vê

é muita doença.

Muitos dos poderosos 

deviam se inscrever

em futuras internações

de futuros hospitais.

LA 06/009

 

 

Morre-se muito bem de doenças

e dos remédios que as curam.

LA 06/009

 

 

Ser feliz, além de decisão mental,

é uma predisposição

para a felicidade.

LA 06/009

 

 

O que é velhice para a juventude,

para a velhice é mocidade.

Estar lá ou aqui

faz toda a diferença.

LA 06/009

 

 

Opiniões são como safras

de jabuticaba,

que têm o preço combinado

e por isso

a gente deixa as frutas cair.

Aí o problema é limpar o chão.

Mas isto é fácil.

LA 06/009

 

 

Em inúmeras pessoas

falar compensa pensar.

LA 06/009

 

 

Saber demais determinada coisa

é entendê-la pouco.

LA 06/009

 

 

Se estou num vale profundo,

disponho do meu pensar.

LA 06/009

 

 

Tanto mais um homem aprende,

tanto mais terá de desaprender

para poder reaprender.

LA 06/009

 

 

Quando todos os dias ficam iguais,

é bom dar uma parada,

repousar,

pensar com simpatia em nós mesmos,

praticar aquele robby que nos mostra

o outro lado das coisas,

ver aqueles programas nossos afins:

os que geram sinergia de transcendência —

mostram o sonho-mais da vida.

Cuidar do sono e do descanso,

alimentar-se com prudência

e só falar (assim mesmo rapidinho)

com aqueles com quem possa haver

uma troca compatível de alegria,

uma troca: para os vampiros não esteja.

Ler textos de qualidade, trabalhar bastante,

dormir bastante,

fazer gostosas caminhadas,

e o mais... o mais é pô-lo em Boas Mãos,

aquelas que sustentam o cosmos.

E não demora vem a cura —

os dias voltam a ser

ricamente diferentes

uns dos outros.

LA 06/009

 

 

Até hoje não sei se pensar nela

é melhor que estar com ela,

ou se nada disso é que é o melhor.

LA 06/009

 

 

Quando penso ter acertado

aí me mostram que errei,

quendo penso que errei

aí me dão meio certo.

LA 06/009

 

 

Só sei que agradar aos outros

é um luxo dos mais caros.

Mas não nego: tudo isso

é muito mais que divertido.

LA 06/009

 

 

Vivendo,

até a morte a gente aprende.

Já viver não se aprende —

nem numa vida nem em mil.

LA 06/009

 

 

Não queira ser sábio nem ignorante —

esses dois são muito chatos.

LA 06/009

 

 

Ninguém lhe tire a alegria de viver —

esse alguém não valeria

nem a mais mínima tristeza.

LA 06/009

 

 

Aquilo que se tem é bem melhor

que os régios sonhos do que não se tem.

LA 06/009

 

 

De todos os deuses o Dinheiro

faz balançar todo o Olimpo

e o mundo de vassalos.

LA 06/009

 

 

Veja uma floresta:

verde, exuberante verde.

Raríssimas árvores secas

se tornam quase invisíveis

dentro de tanto verde.

Pensemos que a saúde,

a felicidade,

a riqueza

também devem ser assim —

normais e naturais.

LA 06/009

 

 

Mau ambiente, maus pais

podem nos ensinar a não fazer

o que eles fizeram

e a fazer o que não fizeram.

LA 06/009

 

 

Para fazer

precisamos fazer

com todo o nosso corpo e alma.

Agindo assim

aprendemos a ter.

Os deuses só nos ajudam a rir.

LA 06/009

 

 

Nosso amor é do nosso tamanho.

Nós podemos o que pode

nossa capacidade de amar.

LA 06/009

 

 

A necessidade e a ambição

mantêm assiduamente a luta diária —

tudo bem temperado de libido.

LA 06/009

 

 

Quero estar bem ordenado

em alma-coração,

organizado em meu ser,

de bem com Deus, comigo, o próximo

e a vida

a partir de hoje e até que a morte venha.

LA 06/009

 

 

O sucesso é contingente,

o valor é ontológico.

LA 06/009

 

 

Há bichos perigosíssimos.

Você sabe de um exemplo?

Eu também sei.

LA 06/009

 

 

O dia em que se empregar para a saúde,

educação e bem-estar social

o que se emprega e gasta com a guerra —

a humanidade não só será bem mais feliz

como terá subido inúmeros degraus

lá dentro de si mesma.

LA 06/009

 

 

Deixemos brilhar a luz que somos,

sabendo que a vida é nosso único bem —

um bem indestrutível e eterno

que iremos essencializando em nós

pelos tempos dos tempos.

LA 06/009

 

 

Muita luz atrapalha,

muito escuro confunde.

Deus demais nos faz mal,

de menos nos faz perder.

Temos de nos recriar

com o pouco que nos deram

para termos o que fazer.

Sim, o que temos de fazer

é de nós para conosco:

de um para todos,

de todos para um.

LA 06/009

 

 

A vitória é um peso

com que muitos não podem —

fica-lhes insuportável ver

que era tão pouco aquilo

por que deram a vida.

LA 06/009

 

 

Ser superficial é o menor dos males,

aliás, em termos pessoais,

é quase sempre um bem.

LA 06/009

 

 

Que pena!

Não há satisfação oral completa.

As coisas bem que podiam

ser bem mais simples.

A natureza é antes de tudo astuta.

LA 06/009

 

 

Eu nunca me liguei a ela

senão ela se tornaria

a mulher da minha vida —

e acabaria aquela graça,

a graça de ser-não-ser.

LA 06/009

 

 

Por que chorar, minha amiga,

se chorar só te impede um outro amor

bem mais depressa do que não chorando?

LA 06/009

 

 

Ter que rir pra não chorar

transforma as coisas —

as coisas que não sorriem

mas gostam de risadas,

principalmente as dadas

depois que a graça acabou.

LA 06/009

 

 

Pegue o pincel da mente

e pinte telas bonitas —

de cores favoráveis,

vibrações positivas.

Pinte bondade, paz

em festões de alegria —

um viver abençoado

de crescimento e luz

por fora e dentro de você.

LA 06/009

 

 

A Caminho

 

Natural surjam mudanças

na vida que planejamos —

reorganizações

durante todo o percurso.

Esse estar a caminho

desdobra-se em paisagens

(interiores e externas)

com seu tanto de névoas

a depender da luz

que no-las vá descrevendo.

Estamos sempre a caminho —

nossos diários de bordo,

guias de navegação,

aparelhagens interiores,

rotas, arquivos... são reestudados

e os vemos sempre insuficientes —

sim, há que refazê-los

e aproveitar-lhes apenas

a sombra de suas asas —

são arquivos de vida

tatuados na pele de experiências

já enrugadas de tempo.

E o tempo não permite

o piloto automático —

o que nos impulsiona

são as quedas e os levantares.

A cada fase do caminho

vamos nos alijando

do casulo de velhos sonhos

que se vão ressonhando

(renascidos de si mesmos)

para se adaptarem

a outras gamas de ser,

a novas realidades.

Das angústias e das penas

transformadas em vôos

vamos fazendo a travessia

deste lado para o outro

de nós.

De tudo terá restado

a graça de ter vivido

entre os nossos acertos

e nossos assíduos enganos —

pais do nosso aprendizado

passado pelo filtro

do que teremos sido e criado,

sim: o que teremos feito,

sempre em busca de um sentido,

um sentido maior —

o sonho-mais da vida.

Para os que buscaram sem medo,

haverão de poder contar

com amigos fiéis

(e essa é a força desses tais),

aqueles três companheiros —

a fé, o amor e a esperança.

LA 06/009

 

 

Perdoe, sim, seus inimigos,

mas passe longe deles por muitas ruas.

LA 06/009

 

 

Para o ser humano mudar

é preciso, primeiro, querer mudar,

depois, empreender o paciente processo

da mudança desejada.

LA 06/009

 

 

Se você recolhe

quem já o defraudou,

vai ter o mesmíssimo problema outra vez.

LA 06/009

 

 

Quem se gaba de não ter vícios,

já está nos mostrando o maior deles —

gabar-se de não tê-los.

LA 06/009

 

 

Os elogios nos desarmam,

pouco a pouco nos desarmam,

aí o astuto — gentilmente —

nos sangra.

LA 06/09

 

 

Há os que adoram viver no escuro,

e odeiam ouvir falar da luz.

LA 06/009

 

 

Poder não é dominação,

mas quanto o nosso amor pode fazer.

LA 06/009

 

 

Quem tem coragem

para enganar alguém o tempo todo,

certamente perdeu-se em seu viver.

LA 06/009

 

 

Muitos trocaram o conhece-te a ti mesmo

por conhecer a vida dos outros

bem mais do que a si mesmos.

LA 06/009

 

 

Fazer o que o outro fez para vingar-se dele

é fazer o que sempre gostaríamos de ter feito.

LA 06/009

 

 

Se cometer velhos erros já é bom,

imagine o que não será

cometer os bem novos —

aqueles que podemos escolher.

LA 06/009

 

 

À noite ponho a peconha

e vou comer açaí

entre as palmas de minha nega.

LA 6/009

 

 

Às vezes me dá vontade

de saborear pitangas

nos lábios da minha nega.

LA 06/009

 

 

Um dia ela me disse adeus,

pegou a mala e se foi.

Não demorou nada, voltou.

Pedi-lhe que me arrumasse a cama,

que eu estava com vontade de não dormir.

LA 06/009

 

 

Por vezes a realidade fica tão macia,

tão doce- maleável,

que a enrolo numa colher

e dou para a minha amiga comer —

ela se regala de virar os olhos

para dentro de si mesma.

LA 06/009

 

 

Por vezes esqueço o que fiz

e minha nega também —

então fazemos tudo de novo.

LA 06/009

 

 

Vou tirando de mim bem lá dentro

coisas que nem sabia estavam lá...

e até me assusto quando as vejo

cheias de orvalho e de espanto,

abrindo os olhos ao mundo

pela primeira vez.

LA 06/009

 

 

Já não me lembro em que lugar eu li

que as palavras sabem coisas antigas —

e é só ter jeito de coçar-lhes a barriga

que vão caindo de seus bolsos

sons de todas as cores

em histórias que os tempos já sabiam

mas mesmo assim riem muito de ouvi-las

recontadas de um outro jeito —

quanto mais recontadas mais belas

porque num outro corpo e alma.

LA 06/009

 

 

Não raramente mudamos o tom,

a plateia percebe e ri...

Não percebem que é apenas um modo

de a gente descansar.

LA 06/009

 

 

Nada de estado civil,

só um estado de espírito —

se temos um amor,

bem poucas coisas nos faltam.

LA 06/009

 

 

Quando Cupido dança em nós,

a festa só acaba

se a gente para de lembrar.

LA 06/009

 

 

Vale a pena não ter amor.

Sim, não ter amor de mentirinha

vale a pena não tê-lo,

se já se tem um grande amor.

LA 06/009

 

 

Tive muita inveja do caramujo —

conseguiu esporrar farto

esfregando-se no muro.

LA 06/009

 

 

Picasso desfigurava a natureza

para dizer que estava certa,

isto é, que o homem é que a estupra.

LA 06/009

 

 

Viver? Nada mal,

contanto que se viva do avesso.

LA 06/009

 

 

Elas por elas?

Não. Elas para os homens

e os homens para elas.

LA 06/009

 

 

Bom é quando o tempo passa

e a gente se vê com o mesmo amor.

LA 06/009

 

 

Bom é quando nos beijamos

naquela hora, tempo e lugar —

e só usamos o hoje

para estarmos lá.

LA 06/009

 

 

O ontem leva-se para o hoje,

o hoje para o futuro,

o futuro para o hoje

e o hoje para o ontem  —

na verdade há um só tempo

que a gente vai deslocando

para ter a sensação

do tempo em movimento.

LA 06/009

 

 

Gostaria de descobrir sem procurar,

tropeçar na coisa e tê-la já nas mãos,

sem nenhuma força ou heroísmo.

Dizem que coisa fácil não tem graça,

mas, para mim, tem, sim, senhor! —

aí eu fazia chiquê

(pra não dizer cu doce)

e as deixava correr atrás de mim.

Não é disso que a gente gosta?

LA 06/009

 

 

Namorei Dorothy trinta e nove dias,

meu Rolex, algumas ações

e os últimos mil dólares.

Olhei pra ela e disse:

My money is over.

Ela sorriu amável, beijou-me

tragicamente linda,

beijou-me um beijo eterno.

Pediu-me que continuasse deitado

enquanto ia buscar uns pistaches

pra gente saborear com Champanhe.

Claro que ao me levantar

ela já não estava.

Já embarcado liguei para a minha mãe:

Velha, tô voando pros teus braços!

Respondeu:

Só com o ex-dinheiro da passagem,

não é mesmo?

Devolvi:

Com o ex-dinheiro da passagem

e o sorriso da aeromoça.

LA 06/009

 

 

Não poucas vezes sento-me à beira das águas

e fico a ouvir o que dizem às pedras.

Longas palavras sem corpos falando coisas almas

a deslizar entre a neblina

que veste as pedras de fantasmas,

fantasmas que percutem seu corpo claro e macio:

música de marulhos e gorgolejos

na rabeca das pedras e da areia a frigir...

Sons de mil e mil tons que vão lavando

meus pensamentos,

meus sentimentos

e minhas sensações

que falam uma língua visual

e permitem ver-ouvir o Espírito de Deus

andando sobre as águas

tal como era no princípio e agora e sempre —

nas águas que marulham dentro de nós

e nos ligam a todas as criaturas.

LA 06/009

 

 

Disse a minha Rosa que as águas

falam coisas que conversam com os nossos poros,

ela me respondeu que sim e tanto

que até se despetala

de ouvir seu marulhar.

A água nos repõe

o que o cansaço nos tira.

LA 06/009

 

 

A guerra é uma maneira

de o homem fazer o que quer

e gosta de fazer:

roubar, oprimir, matar o outro.

A ideia de pecado,

antes de ser ética,

é essencialmente política.

LA 06/009

 

 

Os macacos são nossos primos

e não nossos irmãos —

os macacos nunca foram tão maus assim.

LA 06/009

 

 

Os evolucionistas são engraçados —

sempre cheios de macaquices

e coloridas mutações.

Já os criacionistas são hilários —

pregados em suas semprices,

adoram queimar acrobatas

de ideias em evoluções.

Ambos vão ter de se engolir

pelos tempos dos tempos.

Améns.

LA 06/009

 

 

O homem? Um trípede vaginícola implume.

LA 06/009

 

 

Celibato é coisa boa —

come-se o que é dos outros

e nem precisa lavar o prato.

LA 06/009

 

 

Brasileira do Leblon,

numa entrevista (e já idosa),

uma das amigas do pintor —

deixa escapar que Picasso,

além de magnífico pincel,

também fazia jus ao nome.

LA 06/009

 

 

Quando menino, invejava o urubu

em sua prancha de vento

vagabundeando no azul.

E perguntei:

Mãe, não tem jeito de eu ser um urubu?

Ouvi:

Ficou leso, diabo? Não vê que é um bicho fedorento,

comedor de carniça e tido como agourento?

Insisti:

A senhora acha que ele sabe o que come

e o que a gente pensa dele?

Repasse:

Claro que não, pentelho, claro que não,

senão seria gente e não esse padre antigo:

vestido de preto e no meio de seus podres.

Devolvo:

Mas olha, mãe, olha a pose dele —

parece o super-homem com sua capa azulzinha

olhando vitorioso lá de cima

pra ver se está tudo em paz aqui no chão...

Não acha bonito, mãe, não acha bonito?!...

Torpedo:

Acho bosta nenhuma, moleque!

Vai buscar mais água, vai vai vai...

ainda falta esse pedaço de calçada.

LA 06/009

 

 

Muitas vezes jogamos fora

o que a vida nos dera de melhor.

E isso é tão antigo e atual

na humanidade

que repeti-lo soa sempre novo

e faz doer na gente.

LA 06/009

 

 

Sempre existem aqueles tais

que trocam um sonho realizado

por um punhado de olhares

(musicados por saltos

fazedores de omeletes)

a prometer-lhes celestiais chiliques.

LA 06/009

 

 

O vizinho de cima aproveitou

que o vizinho de baixo era de pedra

e namorou a mulher dele

durante vinte e oito anos.

Quando o homem de pedra adoeceu,

ficaram noivos.

Quando morreu —

casaram.

LA 06/009

 

 

O dia em que sentirmos

na mesma proporção em que pensamos,

vamos ter o sentir-pensar ou pensar-sentir —

aí quem sabe grande parte da gente

possa até ser um pouco mais feliz.

LA 06/009

 

 

Sempre a caminho,

passso a passo chegaremos —

não há máquinas que possam nos ajudar,

a caminhada é nossa: é interior.

Por degraus de nós mesmos

subiremos por nós e pela vida

até não sabemos quando ou onde,

sempre a caminho.

Um dia chegaremos àquela Casa em nós

onde Deus nos espera

com o Filho

e o Espírito.

Alegres, veremos

que nunca estivemos longe Deles,

nem jamais Eles deixaram de nos ser

em nossa travessia de nós mesmos

para igualmente sê-Los —

acordados do sonho,

renascidos de nós

e livres do autoengano.

LA 06/009

 

 

Oxalá vivamos sem ódio,

porém, jamais sem amor.

LA 06/009

 

 

Quioto.

Tema: Aquecimento Global.

O tratado foi ignorado por aqueles países

a que as propostas de Quioto

não eram favoráveis e tais senhores

continuam a ser os maiores poluidores.

É que a Ciência fala

em detrimento dos interesses

dessa gente.

O homem é um animal ratiopecuniário

e para continuar assim

põe fogo até na própria casa,

no caso, casa da sogra.

LA 06/009

 

 

Adoro mentir para você

nas mínimas, mínimas coisas —

é uma maneira de me aliviar

daquele charme esnobe e nobre

das mentiras que me dizia

e não raramente jurava.

Sim, eu mentir para você

é como pôr debaixo da torneira

um utensílio engordurado.

LA 06/009

 

 

Conhecê-la foi adorável,

deixá-la não foi menos que libertador.

LA 06/009

 

 

 

Desde moço prefiro os loucos —

os lúcidos são muito sem graça.

LA 06/009

 

 

Estou agora tão confuso

e tão lúcido de mim,

que estar confuso e lúcido

é uma só coisa inútil.

A alma tem seus momentos

vazios de dor e tempo,

mas cheios de sentimentos

que doem de um quando sem onde.

Uma esperança em se poder

viver sem que nos doa a espera,

uma fé em se encontrar

só o que não se buscou,

um amor a nos dizer

que há de valer a pena viver.

LA 06/009

 

 

Bela como um soneto antigo

a tarde desce.

Lembrar-te é qual perder o amigo

que raro nos esquece.

LA 06/009

 

 

Mais fria que a madrugada

é a dor que sinto em meu ser.

A alma sonha cansada

entre sonhar e esquecer.

LA 06/009

 

 

Onde está quem me socorre

nesta hora tão sozinha?

Sinto-me (em alma) de porre

de uma saudade que é minha.

LA 06/009

 

 

Os acentos lisboetas

que me possuem nesta hora

são meus olhos a ouvir a aurora

que é um mugir de róseas tetas.

LA 06/009

 

 

Ai, que saudade de mim!

Ai, que saudade de Deus!

Todo começo é um fim

reiniciado entre véus.

LA 06/009

 

 

Verdade a fingir mentira,

mentira a fingir verdade —

muito mais bela é a mentira

que esconde a feia verdade.

LA 06/009

 

 

Um frio de fim de outono,

frio tão branco que engelha.

Vem, nega, que estou sem sono

pra poder morder-te a orelha.

LA 06/009

 

 

Não sei nem se vale a pena

o que estamos a fazer.

Só sei que o fazer engrena

sem nem precisar saber.

LA 06/009

 

 

Bem-te-vi lá longe pia...

e o daqui já lhe responde.

Quem ia e achou não confia —

antes de avaliar, esconde.

LA 06/009

 

 

Ah! Quem diria que a bunda,

coisa que nem mais se cobre,

saltasse de coisa imunda

pra parte mais bela e nobre?

LA 06/009

 

 

Inventei tanta coisa, tanta história,

talvez para fugir de mim,

talvez para mostrar pra mim

coisas que já sabia mas não via —

coisas que não sabia que sabia.

Escrevi tanta coisa, tanto texto,

contei-me e recontei-me a vida e o mundo,

talvez para ajudar a suportar,

talvez pra me impedir de sei lá quê...

Sim, escrever foi isto:

uma modo de preservar-me.

Texto puxando texto —

e a gente vai escrevivendo.

LA 06/009

 

 

O paraíso deve ter bastante gente,

sim, muita, muita gente —

praquilo não ficar insuportável.

LA 06/009

 

 

Se você vive um grande amor,

tudo quanto fizer

vai espelhar esse brilho.

LA 06/009

 

 

Se espera por tranquilidade

para iniciar sua obra,

você nunca a fará.

LA 06/009

 

 

Se começou sua obra

tendo certeza de que pode fazê-la,

então começou certo.

LA 06/009

 

 

Aquilo a que aspiramos

é bem maior

que aquilo que já fizemos.

LA 06/009

 

 

Para evitar críticas, seja estéril:

não faça nunca nada.

Pensando bem... não adianta —

você será criticado

por não fazer.

LA 06/009

 

 

Você pode ajudar as pessoas

quando consegue fazê-las entender

o que não conseguem

entender de si mesmas.

LA 06/009

 

 

A maioria dos grandes homens

aprendeu filosoficamente

aquele rir-pensar

nas horas mais difíceis.

LA 06/009

 

 

As dificuldades recuam

ante a paciência e a perseverança.

LA 06/009

 

 

Se não encontras um caminho,

inventa um.

LA 06/009

 

 

Os demônios do coração

travam batalhas que nos angustiam,

até que a gente aprenda

a desmaterializá-los.

LA 06/009

 

 

Aquilo de que mais fugimos

com certeza está em nós.

LA 06/009

 

 

O maior perigo é não perceber.

LA 06/009

 

 

Nossos conhecimentos têm todo o mundo neles.

São nossos no sentido de que os adaptamos

ao filtro de nossas idiosincrasias,

nossos no sentido de os estilizarmos

e essencializarmos

ao nosso jeito de viver e ser:

sim, são como contos recontados.

LA 06/009

 

 

Nossos méritos e reconhecimentos

nos revestem daquela proteção,

melhor: abonação social.

LA 06/009

 

 

Os amigos devem saber se situar.

Conhecer-lhes os segredos e intimidades

leva, em geral, ao desprezo e ao ódio.

LA 06/009

 

 

O amor adora minhocas,

não só para pescar

peixes que há e os que não há,

mas ainda porque as tais minhocas

quando rompidas ou partidas,

se refazem tranquilamente —

fato que o impele

a ele, o amor,

a ser um otimista.
LA 06/009

 

 

O amor coleciona nuvens,

gosta de andar por elas,

mas não vive nas nuvens —

vive entranhado nas pessoas.

LA 06/009

 

 

O amor é cego —

para não ver demais.

LA 06/009

 

 

O amor adora mentir,

não porque odeie a verdade,

mas porque em suas mentiras

todo o mundo acredita.

Quando muito raramente

diz a verdade

todos o olham assim

meio de lado.

LA 06/009

 

 

Amor carrega dólares na cueca

(ou na calcinha)

para comprar as suas malandragens,

dólares que tira diuturnamente do povo,

e como ninguém vê

não tem problemas com a justiça —

ou se alguém viu,

foi só um pio de tiziu.

LA 06/009

 

 

As CPIs são belas comédias

que terminam em pizza

e dança,

dança da pizza.

Hoje nas pizzarias

o cara pede:

Manda uma CPI com calabresa,

e que o garçon a traga bailando!

LA 06/009

 

 

Há aqueles que, mesmo pedindo,

ordenam.

LA 06/009

 

 

Os que morrem de pé

podem rachar a cabeça.

LA 06/009

 

 

Ninguém passa a lua-de-mel num chiqueiro,

nem corta cana de terno e gravata.

LA 06/009

 

 

Toda amizade acaba.

Se não acaba,

tem algo muito errado.

LA 06/009

 

 

Duas cabeças

não podem voar juntas.

Dois corações

até que podem.

LA 06/009

 

 

Duas pessoas dão certo

quando não se levam muito a sério.

LA 06/009

 

 

Amizade boa

é a que se vê de lado,

jamais de frente.

LA 06/009

 

 

Se você olha de frente,

desmonta, desmorona tudo —

a beleza, a verdade, o amor, a amizade...

nada fica de pé

quando olhado de frente.

LA 06/009

 

 

Hoje a coisa mudou, embora uns poucos

ainda finjam não saber.

O mundo todo está assistindo,

diuturnamente assistindo

ao teatro dos homens —

dirigentes e dirigidos

estão em tela:

seus atos e intenções,

suas verdades e mentiras

saltam cotidianamente,

desnudamente

para dentro de nós.

A consciência pessoal e coletiva

fermenta e se expande

tal como ocorre

com o que está do lado de fora dela

e com todo o universo.

Outros tempos.

O mundo hoje vê —

está assistindo.

LA 06/009

 

 

A beleza destes tempos

é nos mostrar outros tempos —

tempos de ver.

LA06/009

 

 

Ah, que delícia que era,

quando a gente ia catar pedrinhas

lá no mundo da lua!

Íamos sempre pelo perigeu,

que era mais perto,

lembra, Rosinha?

LA 06/009

 

 

O lado bom de não haver felicidade —

dizia-me Sofósio,

é a gente poder inventá-la

e ser feliz às escondidas.

LA 06/009

 

 

O lado bom de não haver amor —

dizia-me Marilda,

é a gente poder fruí-lo

enquanto procura aquele

que entre muitos de muitos

um dia sonha encontrar.

LA 06/009

 

 

Não permita que sua vida acabe

antes que você morra.

LA 06/009

 

 

Se Deus lhe deu asas

e não sabes voar —

peça à vizinha que lhe ensine.

LA 06/009

 

 

A amor dado

não se contam as fungadas.

LA 06/009

 

 

Antes um copo de vinho

entre amigos bêbados

que conversas brilhantes

maquiando bocas e olhos cínicos.

Antes um sonho que é nada

que a promessa de tudo

boiando no amanhã.

Antes o encanto de antes

que a saudade de depois.

LA 06/009

 

 

Se não acredita em príncipe,

venha então morar comigo,

que de príncipe

não tenho nem o cavalo.

LA 06/009

 

 

O que o coração não vê

os amigos mostram no olhar e nos lábios.

LA 06/009

 

 

Quantas vezes, Rosinha,

nos sapecamos!

E que delícia foi brincar com fogo!

Chamuscadas de leve,

outras mais demoradas:

línguas de fogo, labaredas, chamas,

digitações flambadas —

hoje gostosamente saboreadas

lá nos cantinhos da memória.

LA 06/009

 

 

As coisas não acabam,

apenas mudam,

mas mudam de tal forma,

que seu mudar atinge um clímax

que faz pensar

que elas acabaram.

LA 06/009

 

 

Se alguém pudesse cair

e tropeçar em teu lugar,

te cobraria tão caro

que tais quedas e tropeços

seriam o ouro desprezado

do teu adiado aprendizado.

LA 06/009

 

 

Não se ensina o pai-nosso ao vigário,

mas pode se lhe ensinar

a ser menos vigarista.

LA 06/009

 

 

 

É já chegada a hora

em que Deus seja adorado

não no monte nem no templo,

mas no coração das pessoas

como espírito e verdade.

Sim, sendo espírito e verdade,

assim importa amá-Lo —

como espírito e verdade.

E não busquemos longe

O que está em nós —

O que nos é

antes ainda que pudéssemos

balbuciar-Lhe o nome.

Deus é amor

e somente pelo amor

podemos percebê-Lo em nós

(como podemos perceber-nos Nele)

e em toda criatura.

LA 06/009

 

 

Por vezes arriscar o incerto

é preferível a ficar com o certo.

É sempre ‘você que sabe’ —

e arca com o resultado.

LA 06/009

 

 

Tome cuidado! O covarde

sempre quer levá-lo a ousar,

a ousar, ousar, ousar...

Claro que para ver o resultado —

ver se pode empreender a salvo

(também ele!) uma pitada

do que ele chama de ousadia.

LA 06/009

 

 

Conhece coisa mais ousada

que alguém lhe perguntar

qual é a sua religião,

ou em quem é que você vai votar?

Existe maior desplante?!

Não entanto, fazem isso

com a maior cara de pau

e a pior das intenções.

LA 06/009

 

 

Pensar todo homem pensa,

difícil é pensar o que presta.

LA 06/009

 

 

Do pensamento só me interessa ver

aquilo que ele pariu.

Se tem luz, e se essa luz me presta,

tento trazer uns de seus raios

para dentro do meu ver.

LA 06/009

 

 

Penso,

logo sou alguém numa teia

feita de todos os pensamentos.

Sim, locomovo-me por ela

excretando frágeis trilhas

do que ela me ensinou

a ingerir —

a ingerir e excretar.

LA 06/009

 

 

Tudo é dúvida,

por isso pensamos —

sim: pensar é duvidar.

LA 06/009

 

 

Pelo pensamento

escapamos dos outros

e, se podemos,

de nós.

LA 06/009

 

 

Pelo pensamento

somos o que somos,

temos o que temos,

vivemos o que vivemos.

LA 06/009

 

 

Pelo pensamento

sabemos o que sentimos,

pelo sentimento

pensamos o que sabemos.

LA 06/009

 

 

Pensar-sentir,

sentir-pensar

são a mesma semente

original

da árvore da vida.

LA 06/009

 

 

Pensamento é poesia —

todos pensam,

todos escrevem:

a qualidade

é do tamanho

de cada um.

LA 06/009

 

 

Pensar é ser o que se vive.

LA 06/009

 

 

Pensar leva a um porre

sempre a exigir outros porres.

LA 06/009

 

 

Pensar faz sentir

que é preciso pensar,

sentir faz pensar

que é preciso sentir.

LA 06/009

 

 

O pensamento é a nave da consciência.

LA 06/009

 

 

O pensamento é a nossa maior glória —

com ele viajamos mais rápido que a luz,

fora e dentro de nós.

LA 06/009

 

 

O pensamento nos ensina,

pelo pensar,

a irmos nos suplantando

por toda a nossa vida.

Sim, vamos nos sentindo outros

no cotidiano do pensar.

Por isso quem pensa espera.

sim: pensar e esperar

fazem o homem crescer,

crescer, sempre crescer —

não pode ser pequeno

quem inventou a esperança.

LA 06/009

 

 

A palavra ensinou

o pensamento a existir.

LA 06/009

 

 

Sim, pensar

tem seu anjo da guarda —

a palavra.

LA 06/009

 

 

Ou a palavra é o corpo

do pensamento?

LA 06/009

 

 

O pensamento é esperma

na palavra.

LA 06/009

 

 

O leitor é o obstetra

entre o pensamento e a palavra.

LA 06/009

 

 

Pensar é viajar na Palavra —

o pensamento expressivo de Deus.

LA 06/009

 

 

O maior tesouro da humanidade

é a palavra escrita.

LA 06/009

 

 

Pensar é saber

que a distância não existe.

LA 06/009

 

 

Pensar é estar a seu lado, minha Nina, —

tanto mais perto de você

quanto mais distante esteja.

LA 06/009

 

 

E é bom sempre lembrar:

De pensar morreu um burro.

LA 06/009

 

 

O que profetizamos não acontece.

O que esquecemos de profetizar,

isto sim: acontece.

LA 06/009

 

 

Esperar pelos fins dos tempos

deve ser uma delícia —

desplanta o cara da realidade,

vaporiza suas angústias,

como a lhe dizer:

Esta vida é uma droga,

deixai-a para os tolos!...

.........................................................

Fim dos tempos...

 

O próprio Senhor Jesus

ensina de modo claro

a não acreditarmos

em data alguma

da escatológica

anunciação.

LA 06/009

 

 

Tudo o que é bom

será bom de vivê-lo

e bom de recordá-lo.

LA 06/009

 

 

O que é belo não morre —

é arrebatado pelo tempo.

LA 06/009

 

 

Imoral é ter deixado o tempo passar

e não se ter investido nada

em ser feliz.

LA 06/009

 

 

Velejar há de ser com muito axé —

com plenas, bochechudas velas

e mulheres, além de belas,

peladonas e de boné.

LA 06/009

 

 

Já para voar preferimos

comandantes antigos

e aeromoças novas.

LA 06/009

 

 

O principal sonho de um piloto

é ter tantas aterrissagens

quantas forem as suas decolagens.

LA 06/009

 

 

O impossível

é para quem já conseguiu

alcançar o possível

LA 06/009

 

 

O que não construímos, nós não temos,

o que não entendemos não é nosso.

LA 06/009

 

 

Jamais deixo manobrarem meu tempo —

cuido dele com  zelo e certo ritual.

LA 06/009

 

 

Se você quer sucesso,

tem que se determinar a isso —

desenhe, pinte o que quer

na tela de sua mente

e sonhe tudo isso

como se já fosse seu —

e trabalhe, trabalhe, trabalhe,

dedique-se diuturnamente

a materializar o que quer,

sentindo uma alegria

de já estar vivendo

a parição do seu sonho.

Ah! E sinta que Deus quer,

sim, que Deus quer

que o seu desejo se realize.

LA 06/009

 

 

Agrada-te do Senhor

e Ele satisfará aos desejos

do teu coração.

Sabes onde estão estas palavras?

Isto não importa —

desde que as faças tuas.

LA 06/009

 

 

Pela realidade nos limitamos,

pela imaginação nos libertamos.

LA 06/009

 

 

As coisas são coisas,

os fatos são vida

e interação.

LA 06/009

 

 

Se o homem é o que pensa,

o bom pensamento faz o homem.

LA 06/009

 

 

O pensamento é um modo

de o homem transcerder-se:

pelo constante refletir.

LA 06/009

 

 

O passado é experiências,

o futuro: esperança

de que o hoje o construa

com bem mais discernimento.

LA 06/009

 

 

O otimismo é um tipo de coragem

que ofende os fracos e desanimados.

LA 06/009

 

 

A esperança é uma espécie de cimento,

sem ela não se constrói.

LA 06/009

 

 

Se o que chamamos de rotina

sabe a repetição, a tédio,

fomos nós que não soubemos

torná-la diferente:

diferente e agradável.

LA 06/009

 

 

Qualquer situação

pode ser um livro —

e isso depende

da capacidade do leitor.

LA 06/009

 

 

Sim, ler sempre depende de um suporte

que o leitor tem ou não tem

para intropsiar

o que lhe passa aos olhos.

LA 06/009

 

 

O óbvio nem sempre é visto,

porque julgamos vê-lo

e conhecê-lo.

LA 06/009

 

 

Muitos correm atrás dos sonhos

e soltam o que têm nas mãos...

Quase sempre ficam segurando vento.

LA 06/009

 

 

Sonhar não é delirar,

mas plantar imagens

de um desejo lúcido e consciente

e com persistência e vontade

trabalhar muito para lhe dar corpo

de realidade.

LA 06/009

 

 

Uns vão por outro caminho —

o da fé

que lhes transporta o desejo

(ou sonho)

para as mãos de Deuspai,

numa confiança serena

em que o Demiurgo

lhes quer o sonho feito obra —

e assim lhes será,

porque assim creram.

LA 06/009

 

 

Uns vão pelo lado mágico do universo —

pelo saberem o que querem

e desejá-lo levissimamente:

vibrando o sonho ternamente

nas mãos bem quentes do querer —

já a vê-lo possível

e a transpor seu casulo

para o lado de cá

de sonhá-lo.

LA 06/009

 

 

Esse tipo de magia (citado acima)

não tem a ver com nenhuma bruxaria

nem violação das santas leis,

mas tem a ver, isto sim,

com um pouco do conhecimento

dos mecanismos do fazer-criar.

LA 06/009

 

 

Enquanto permitirmos a maldade

ela estará em vigência.

LA 06/009

 

 

Honduras, Honduras,

Não deixes não, Honduras,

que as sombras da caverna

te encubram.

Tiranias, ditaduras

não caibam mais em nosso tempo,

Honduras!

LA 06/009

 

 

Agora que vemos os quintais uns dos outros,

sem dúvida essa mútua vigilância

há de diminuir violações, massacres,

maldades, arbitrariedades...

Chegou a hora em que o mundo

não pode mais calar.

LA 06/009

 

 

Hoje as tropas americanas

começam a deixar o Iraque

dentro do Iraque:

vão deixando os grandes centros

na esperança de que volte a ordem

e o governo torne a se exercer

por mãos iraquianas (sic).

A História falará dessa guerra,

dessa loucura cínica

enquanto houver quem pense.

Os dias Bush-Blair passaram.

Obama veio montado

no cavalo do destino —

não por acaso o mundo

o viu e vê com bons olhos.

Tomara que não se engane!

LA 30/06/009

 

 

Se deixarmos a luz apagar

seremos inundados pelas trevas.

E isso acontece sempre que esquecemos

que somos luz.

LA 06/009

 

 

Quem precisa de muita teologia

em geral perdeu a fé.

LA 06/009

 

 

Se a fé ilumina,

basta a fé

para sabermos aonde estamos indo.

LA 06/009

 

 

A verdade nos entra pelos olhos,

posto que é luz,

e pelos olhos ilumina

nosso caminho.

LA 06/009

 

 

A alegria é saúde

para o corpo e para a alma.

LA 06/009

 

 

O ócio traz doenças,

a atividade oxigena a vida.

LA 06/009

 

 

Se o mundo é um palco,

cadê a plateia?

LA 06/009

 

 

O mundo cava fossos

para abater o homem

que sabe para onde vai.

LA 06/009

 

 

Os loucos abrem o caminho

para os sábios e os santos passar.

LA 06/009

 

 

O modo mais seguro de falhar

é não acreditar no que se faz.

LA 06/009

 

 

Perguntar

faz mudar as respostas.

LA 06/009

 

 

Os livros são o maior bem.

Só existe um problema —

a gente precisa lê-los.

LA 06/009

 

 

O melhor dos dias é hoje,

se temos consciência dele.

LA 06/009

 

 

Engana-se os outros

até um certo ponto.

Engana-se a si mesmo

até onde não se sabe.

Entre engano e autoengano

há só um revezamento.

LA 06/009

 

 

Se você vende a sua saúde

para o comer e beber

e outros excessos,

meus pêsames!

LA 6/009

 

 

Dona Alba, nossa vizinha,

era craque: tiro e queda

para benzer quebrantos.

Já nossas dores de dente,

de cabeça ou de barriga —

benzer, ela benzia:

rezava, se deslabiava,

mas a dor continuava.

A meninada adorava

ouvir as suas orações

(seus bisbilhos com Deus)

e os dois raminhos aspergindo água

pelos cabelos, orelhas e pescoço —

dava um friozinho tão gostoso!

LA 06/009

 

 

Se você acredita,

pode dar certo.

Se não acredita,

será um mau negócio.

LA 07/009

 

 

Sim, acreditar

abre possibilidades.

LA 07/009

 

 

Não, não substituam o homem —

pode vir um ladrão bem maior.

LA 07/009

 

 

Mais um dia se foi. Sobrevivi.

LA 07/009

 

 

Precauções excessivas,

vida amarrada.

Muita promessa,

seu cumprimento é nada.

LA 07/009

 

 

Se a imagem distorce

é para assinalar

(e fazer fixar)

o que se tem em mente.

LA 07/009

 

 

A realidade não serve,

preferimo-la transformada

por laivos-alma de irrealidade.

LA 07/009

 

 

Nós humanos acabamos de chegar.

Trabalhemos, ousemos com paciência —

a gente chega lá,

lá onde a alma ganha asas

e nos conduz ao sonho que seremos —

está guardado em nós nosso destino,

sim, trazemos em nós a vida a modelar-se

em várias gamas.

LA 07/009

 

 

Sous le pont Mirabeau coule la Seine

Et nos amours.

Faut il qu’il m’en souvienne.

La joie venait toujours après la peine.

Vienne la nuit, sonne l’heure.

Les jours s’en vont, je demeure.

(Guillaume Apollinaire)

 

 

Somente as pedras que têm alma

rolam.

Às outras só lhes resta aguardarem

que o tempo vá lhes construindo uma.

Mas as pedras, as pedras não têm pressa —

elas sabem não sonhar com nada,

ou melhor: sabem não saber.

Testemunhas silenciosas

num bocejo onde o tempo se albergou.

LA 07/009

 

 

Se você conseguiu

acender algumas velas

que estão andando por aí

por onde você nem sabe —

parabéns! Você não é qualquer um.

LA 07/009

 

 

Fina no trato e na aparência.

Era muito, muito bonita.

Fazia o tipo fêmea irresistível,

solteiríssima.

Tinha um robby-paixão,

conhecido e descantado —

fazer amor uma só vez

com cada homem casado,

mas atenção:

casado com mulher madame,

madame e bonita.

E assim viveu e fez —

sem um só flagra.

Claro que alguns machinhos

não resistiam e mostravam

(aos amigos boca-de-túmulo)

seu selinho com três fios colados:

ruivos, ruivos como os de uma espiga.

LA 07/009

 

 

Cabe a nós sabermos quando o medo

será melhor que a coragem.

LA 07/009

 

 

Coragem e medo,

medo e coragem

devem ser apenas estratégias.

LA 07/009

 

 

Quando menino,

tinha medo de defunto

e de fantasmas.

Hoje, reviver os meus medos

é divertido,

além de ter sabor de infância.

LA 07/009

 

 

Se uma coisa vale ou não a pena,

isso depende de como a sinto,

do que a julgo ser.

LA 07/009

 

 

O homem?

Ainda não pode amar ninguém

que não seja a si próprio no outro.

LA 07/009

 

 

Nossos sonhos devem ser trazidos

do mental para a terra

e aí brotar, enraizar

e produzir a sua obra.

LA 07/009

 

 

O livro da vida está escrito

em linguagem ontológica.

Só podemos folheá-lo

pelo dedo de Deus.

LA 07/009

 

 

O que não acho bom no meu passado

de modo algum eu o faria de novo.

Quando erro me arrependo,

peço perdão a Deus e ao outro

(quando existe um outro

e ele me permite abordá-lo) —

e sigo em frente

deixando a minha culpa

(já perdoada)

nas mãos de Deuspai:

se já sou diferente do que errou,

então já não me cabe carregar

sentimento de culpa.

LA 07/009

 

 

Sim, não me vejo outra saída

a não ser continuar vivendo

de fé em fé,

de esperança em esperança,

de renascer em renascer —

de consciência em consciência.

LA 07/009

 

 

Quanto mais o homem tem

tanto menos ele se tem.

LA 07/009

 

 

Corremos mais riscos com nós mesmos

que com os outros.

LA 07/009

 

 

O insucesso nos oferece

tentarmos outra vez

com mais inteligência.

LA 07/009

 

 

Perdermos a empatia

deve ser uma desgraça.

LA 07/009

 

 

A burrice pode irritar

ou pode divertir.

LA 07/009

 

 

Os livros me encantavam —

eu os cheirava

e comia,

depois os rumina

aos amigos —

já assimilados

e metabolizados.

Sim, declamava-os,

dizia-os —

guardava-os em mim:

tornava-os minha carne.

LA 07/009

 

 

Para o homem ser infeliz

ele precisa ser mau,

uma vez que mesmo na infelicidade

a gente pode ser feliz.

LA 07/009

 

 

Quem não consegue se expressar

é seriamente triste.

Quem fez a sua obra

é sempre alegre.

LA 07/009

 

 

Quem espera oportunidades

se frustra,

quem as cria

as tem.

Ninguém se iluda —

somos os criadores do nosso destino.

LA 07/009

 

 

Tudo o que você pensou no dia de hoje —

exatamente isso é o que você é.

LA 07/009

 

 

O homem recusa ser o que é,

recusa ter o que tem

e troca por um punhado de sonhos

tudo o que conseguiu com muito suor.

LA 07/009

 

 

Todo homem tem seu lado de arlequim

e esta é sua parte mais humana.

LA 07/009

 

 

O imortal no homem

são os sonhos que ele realiza,

já seu lado mortal são os seus medos.

LA 07/009

 

 

O repouso não existe,

a vida é interação dinâmica

e autopreservativa.

LA 07/009

 

 

O homem só aprende

por acréscimo ao que já sabe

e só muda

sem perceber que está mudando.

LA 07/009

 

 

Quem edificou em si a paz

será discretamente alegre

e sempre equilibrado

por onde quer que ande.

LA 07/009

 

 

Somos umas gotas de conhecimento

e um oceano de mistério.

Aí, talvez, o lado suportável da vida.

LA 07/009

 

 

O conhecimento faz marulhar as nossas águas,

oxigena a nossa vida,

faz respirar mais forte

nosso desejo de ser mais.

LA 07/009

 

 

Uma pessoa que se ama

desperta em si o jardineiro:

seu coração, e este lhe planta

as flores-alegrias

que fazem bem ao corpo e à alma.

LA 07/009

 

 

Marilda sempre diz

que se vier a se casar

há de ser com paleontólogo —

adora escavações.

LA 07/009

 

 

Primeira página:

O senhor Obama,

saindo do G-8,

sucumbe aos dotes calipígios

de uma passante

(por sinal brasileira) —

aliás, só deixou escapar

que também é chegado.

Ante uma bela bunda,

não há mortal

que pare em cima

do pedestal.

LA 10/07/009

 

 

Os homens são todos iguais —

sim, todos prestativos.

LA 07/009

 

 

Todas as mulheres infelizes

são iguais.

As felizes são diferentes

quanto interessantes —

cada qual a seu modo.

LA 07/009

 

 

Em geral quando justificamos um erro

ele fica ainda maior.

LA 07/009

 

 

Botar tudo em pratos limpos

faz os pratos quebrarem.

LA 07/009

 

 

Sim, há erros

que devem ser vistos como erros.

LA 07/009

 

 

É vital não confundir

a tal luz no fim do túnel

com uma jamanta na banguela.

LA 07/009

 

 

Ter asas é bom —

se alguém o empurra

para dentro de um riso frio

de abismo,

de abismo sem fim —

você voa você voa você voa...

LA 07/009

 

 

Quando pequenos,

querem nos matar no ninho.

Já crescidos,

se temos asas interiores,

querem nos matar voando.

LA 07/009

 

 

A vida é o que temos,

mesmo quando estamos de costas para ela.

LA 07/009

 

 

A vida?

Não sei o que é.

Só sei que será sempre vida.

LA 07/009

 

 

 

Nossa história

são as plumas e penas;

nossa imaginação

são suas cores e voos.

LA 07/009

 

 

De uma paixão

ninguém sai sem arranhões

e cicatrizes,

mas a solidão os faz bem mais fundos.

LA 07/009

 

 

Sim, não viver um sonho

é morrê-lo

com vontade.

LA 07/009

 

 

O homem tem dominado

a natureza e a seus irmãos.

Tem dominado tudo —

menos a si mesmo.

LA 07/009

 

 

Quase tudo você pode

deixar para fazer depois —

menos viver.

LA 07/009

 

 

Quando ninguém está olhando,

então, sim: nós somos nós.

LA 07/009

 

 

Uma mudança vai puxando outra,

uma palavra outra,

um beijo outro,

uma mentira outra —

tudo outramente outro

em outros de outros.

LA 07/009

 

 

Buscamos os exepcionais

para aprender.

Os normais

para as ululâncias

do óbvio.

Os loucos

para ousar.

E a vida é isso,

ou seja:

nada disso.

LA 07/009

 

 

Uma paixão forte

traz o fogo

para queimar as amarras

e dar forma aos metais do sonho.

LA 07/009

 

 

Se você consegue,

deverá aos medíocres

o que eles não podem.

LA 07/009

 

 

Os que têm razão,

estes já a têm.

Agora precisamos dá-la

aos que não têm.

LA 07/009

 

 

A alguém que esteja com muita pressa...

poderemos dizer que

se considerar as alternativas

há de ver que viver

não é um mau negócio.

LA 07/009

 

 

Uma palavra ou expressão

bem do povo

(que o dicionário chama de chula)

é muitas vezes o sal

e o tesão do texto.

LA 07/009

 

 

A palavra é sempre um perigo.

Daí os covardes, os cínicos e os sábios

preferirem o silêncio.

LA 07/009

 

 

Há os que não agem

por medo de errar

e os que erram

por excesso de ação.

LA 07/009

 

 

Quando a gente compreende

é por que mudou o ângulo

de ver

e o ver nos transformou.

LA 07/009

 

 

Uma piada é sempre coisa séria,

tanto que nos velórios

elas ajudam a confiar na vida.

LA 07/009

 

 

Quer olhar para trás, olhe,

mas saiba que o caminho é para a frente.

LA 07/009

 

 

Uma vida é um poema.

Deus deu o tema —

o mais é com a gente.

LA 07/009

 

 

Viver-sonhar, sonhar-viver —

precisamos de um sentido

que seja o rumo de ser.

LA 07/009

 

 

Saberemos quem somos

pelo nosso fazer.

LA 07/009

 

 

Aqui, um pio,

um marulhar.

Ali, um chiado,

um farfalhar.

Além, um canto harmonioso

entrecortado de cricris.

A alma da mata

cicia em cores,

cheirando a ervas

pingando orvalho.

LA 07/009

 

 

Talento sem dedicação

e muita paciência

é nota que já não vale.

LA 07/009

 

 

Fale o melhor,

o resto apenas pense,

sorrindo.

LA 07/009

 

 

Procure viver da melhor maneira —

aquela em que se sente feliz

e não infelicite a ninguém.

LA 07/009

 

 

Não mascaremos a tal felicidade,

nem a incensemos de filosofias

e chiliques etéreos.

Tratemos de construir bons, belos momentos,

porque os maus e feios não nos faltam.

Felicidade é construção —

pessoal e coletiva.

LA 07/009

 

 

Escolhemos vida e morte

para podermos viver

diferentemente em nós mesmos

e chegarmos, talvez, mais rápido

à essência de nos sermos.

LA 07/009

 

 

Hoje é dia do Amigo.

Reconheçamos que eles são

o melhor dessa vida.

E que Deus os abençoe

por suportar nossos chiliques.

Possamos oferecer a eles

e eles a nós

uma honesta e depurada amizade.

LA 20/07/009

 

 

Tive o prazer de conhecer Marilda

muito antes de ela não ser virgem.

Pródiga em beleza e gentileza,

uma amiga paradisíaca.

Jamais confundiu amigos

com amizade.

Uma tragibeleza —

mulher 9.9

na escala Freud.

Tinha um charme emblemático-

-fulminante.

Quando contrariada

usava a frase:

Não se deve confundir a roupa

com o que ela cobre.

Sim, era tão hormonal

que a gente nem atinava

se usava roupas ou não.

Esquecê-la era difícil

para as mulheres

e impossível para os homens.

Sim, Marilda era Marilda —

sempre um estremeção.

LA 07/009

 

 

Seus olhos

e seus pígios e míjios

tinham a forma de $ $.

Até suas fungadas

tilintavam, tiniam

feito moedas

ou joias nobres.

 

E só dava para a elite.

Pelo menos é o que diziam

os velhinhos ricos e peidorreiros

que passavam tardes e noites

jogando no velho clube

de esquina com a praça,

falando dos suicídios

e das mortes charmosas

com que o amor tinha brindado

a Terra das Boçorocas.

LA 07/009

 

 

Não, madame não fode,

madame aceita jantar com você.

LA 07/009

 

 

É sempre assim: quem tem desdenha,

quem não tem rasteja por ter.

Quem perde pensa em se matar,

quem não perde

desconhece a delícia de perder.

Mas não tentemos entender

o que não é para entender.

LA 07/009

 

 

Quando consigo fazer,

vem alguém e me diz

que já não é assim.

LA 07/009

 

 

O saldo das filosofias

e outras “ias”

é aquele de — após lê-las,

relê-las e translê-las —

nos ter restado o riso.

LA 07/009

 

 

Um palavrão, na hora certa,

pode não soar bem

entre os puros e os cínicos,

mas entre as pessoas normais

é uma boa catarse.

LA 07/009

 

 

Os melhores textos de nada servem,

se ao menos em pensamento

já não os tivermos vivido.

LA 07/009

 

 

Um médico vê o inverno

de uma forma diferente

de um comerciante de agasalhos.

LA 07/009

 

 

Se você pudesse salvar o mundo uma vez,

teria de faze-lo a sua vida toda.

O mundo adora precipícios.

LA 07/009

 

 

Sem o amor e o perdão

não sairemos daqui.

LA 07/009

 

 

A cruz cristã

é sacrifício (o último)

e esperança.

O passado redimido

no hoje —

para sempre.

LA 07/009

 

 

As ações do passado

de alguém que vive hoje

são redimidas e apagadas

por quem delas se arrependeu

e pediu a Deuspai

que lhas perdoe

em nome do Senhor Jesus.

Sim: quem se fez nova criatura

já não carrega seus defuntos

(aliás, já não lhe são afins) —

se assim crê e entende.

LA 08/009

 

 

Deus abençoe os nossos passos

e os nossos descompassos.

LA 08/009

 

 

O perfeccionismo

é um estado escorregadio

de desequilíbrio.

LA 08/009

 

 

Tenhamos sempre o cuidado

de entre dois males

não escolhermos ambos.

LA 08/009

 

 

Quando o vento mudar,

ajuste as velas

e continue assoviando

a canção do marujo

que fala de amar amar amar

e se esconder no mar.

LA 08/009

 

 

O poeta é aquele indivíduo

que tem sonhos de futuro

e só evoca o passado

para poder remoldá-lo

na oficina do presente.

Mas o poeta é um mentiroso

que só diz a verdade.

LA 08/009

 

 

Fazer o bem para alguns

constrói felicidade para todos.

LA 08/009

 

 

Subjugar o outro

é ser seu escravo depois.

LA 08/009

 

 

O maior prêmio de uma boa ação

é praticá-la.

LA 08/009

 

 

Temos o dever de desconfiar

das nossas ações.

LA 08/009

 

 

As pessoas erram em classificar os outros

porque pensam que eles são a imagem

das imagens que aqueles tais lhes passam.

LA 08/009

 

 

Se você sabe desaprender,

então é um bom aprendiz.

LA 08/009

 

 

Há pessoas que são de palha,

outras de madeira de lei —

o fogo que têm em si

é que dão a qualidade

de sua criatividade.

LA 08/009              

 

 

O passado é a base da pessoa,

é o que a sustenta como pessoa.

Esse passado é ou pode ser

refeito

no seu agir de cada dia —

entre o presente e o futuro:

as nossas projeções.

Sobre a banqueta do hoje

remoldamos o tempo.

LA 08/009

 

 

Precauções demais

são como o medo —

amarram.

De menos, faz perigar.

Tê-las na medida certa —

só Deus.

Viver é estar com problemas.

LA 08/009

 

 

Repetir o passado?

Será que isso é possível?

Não, não vejo ninguém repetindo o passado.

Vejo coisas que nascem velhas de si mesmas —

sem fôlego de travessia.

LA 08/009

 

 

O dependente do álcool

revela duas pessoas:

uma que faz,

outra que desfaz —

não sei qual delas age pior.

LA 08/009

 

 

Quem sempre tem um tempinho

aprendeu a ser mais que alguém sempre ocupado.

LA 08/009

 

 

Quando aproveito experiências

(minhas ou dos outros)

não só queimo etapas

como poupo a minha cara.

LA 08/009

 

 

O progresso é a realização

do que era impossível.

LA 08/009

 

 

A beleza da juventude

é sempre aquele palrar

num ousado não fazer.

LA 08/009

 

 

A borboleta

é o que restou

do apocalipse

de uma lagarta.

LA 08/009

 

 

O que o amor tem de bom

é que depois de ter sido

ainda é prazer

no recordá-lo.

LA 08/009

 

 

O que fazemos por dinheiro

é muito mais do ele faz por nós.

LA 08/009

 

 

Um sorriso na hora certa

mantém em órbita todo o universo.

LA 08/009

 

 

Se acreditamos no que os outros pensam de nós,

nos tornamos pequenos e magoados.

LA 08/009

 

 

Por fora, muitas luzes,

muito luxo.

Por dentro, o mesmo estado

de porta de caverna.

LA 08/009              

 

 

Vontade e dedicação

fazem a diferença.

LA 08/009

 

 

O amor sabe ir além

de toda polaridade.

LA 08/009

 

 

O coração sabe o caminho,

a razão mostra como palmilhá-lo.

LA 08/009

 

 

Já que a culpa nos será cobrada,

tolice é esquentá-la

com nosssos sentimentos.

Arrepender-se e não tornar ao vômito

é o caminho de quem se ama —

a si e ao outro.

LA 08/009

 

 

Há coisas que fiz

que jamais voltaria a fazer —

tanto as que julgo más

como as que tenho por boas.

LA 08/009

 

 

Aprendi muito mais

com os que querem aprender

do que com aqueles tais

que vivem a ensinar —

empapados de ciências,

bondades e religião.

LA 08/009

 

 

Do material para o imponderável

só se leva

o que se vive.

LA 07/009

 

 

Precisamos saber o que faremos

daquilo que nos fizeram.

LA 08/009              

 

 

De tanto pisar

fazemos o trilho.

De tanto pensar

nos vamos moldando.

LA 08/009

 

 

Assim como não se vê o ar

nem o peixe vê a água —

não vemos nossos defeitos.

LA 08/009

 

 

O que somos é dom da vida,

o que seremos

é construção toda nossa.

LA 08/009

 

 

Sempre haverá alguém

doido pra descer o martelo

no que você constrói.

Apenas não deixe de construir.

LA 08/009

 

 

Fuja do cínico.

Você o conhece fácil:

não sabe distinguir

o bem do mal,

o justo do injusto...

sempre acima dos opostos...

LA 08/009

 

 

O saber vem dos mestres.

A sabedoria, dos simples.

A tolice, de todos.

LA 08/009

 

 

Caminhar sobre as ondas é fácil,

veja os surfistas...

O difícil é caminhar sob elas.

LA 08/009

 

 

O segredo da felicidade

é ser feliz.

LA 08/009

 

 

O segredo do amor

é amar

sem pensar em segredos.

LA 08/009

 

 

A conquista é uma rara delícia.

O problema é o dia seguinte —

o que fazer com ela?

LA 08/009

 

 

Para magoar, diga tudo.

Para continuar amigo,

diga um pouco e pense o resto.

LA 08/009

 

 

Infeliz é o que rasteja

pela felicidade.

LA 08/009

 

 

Viver já traz em si um grande sentido,

aliás, o maior deles —

basta pensar na morte.

LA 08/009

 

 

Somos o que fazemos.

LA 08/009

 

 

As coisas só têm sentido

quando buscamos um sentido nelas.

LA 08/009

 

 

O significado das coisas

será o resultado de nossas buscas.

LA 08/009

 

 

O segredo da criatividade

é sabermos somar nosso suor

a todos os suores já evaporados.

LA 08/009

 

 

O silêncio nos atraiçoa

sempre que pensamos que a palavra

não vai resolver.

LA 07/009

 

 

O silêncio tem sido

o argumento dos covardes.

LA 07/009

 

 

Sempre que aprendemos alguma coisa

perdemos outra —

o aprendizado nos recicla:

muda-nos de dentro para fora.

LA 08/009

 

 

Acalentamos a grande aspiração

de ver o mundo mudado,

e em geral nos esquecemos

de cultivar essa mesma aspiração

também em relação a nós.

LA 08/009

 

 

Por vezes é bem difícil

aceitar isto:

Vivemos o que escolhemos viver.

LA 08/009

 

 

Somos o que sabemos ser.

LA 08/009

 

 

Quem não faz não existe.

LA 08/009

 

 

Só aprendemos

quando sabemos ensinar.

LA 08/009

 

 

Vivemos para conquistar

o que o dinheiro não compra.

LA 07/009

 

 

Você não sabe,

mas é dono de todas as estrelas.

Claro que, como eu,

você não sabe o que fazer com isso.

LA 08/009

 

 

Sombra e luz: sombraluz,

esse duplo oposto

faz a realidade macia.

LA 08/009

 

 

O agora é seu,

o daqui-a-pouco

não pertence a ninguém.

LA 08/009

 

 

Se você está na roda,

ora está em cima,

ora embaixo.

É preciso sair da roda.

LA 08/009

 

 

Terno e gravata

já não conferem poder.

O velho Sapiens

vai precisar arrumar

uma outra fantasia.

LA 08/009

 

 

A vida é vento,

mas um vento

que move os nossos moinhos.

A vida gera luz.

E a luz

é o caminho de Casa.

LA 08/009

 

 

Quem está nas alturas

está à beira de precipícios.

LA 08/009

 

 

Contra o desmando e a força

só mesmo a astúcia.

LA 08/009

 

 

Se a dificuldade é muita,

também muita

deve ser a força de vontade.

LA 08/009

 

 

Com o fim do mundo nem ligo,

o duro é o fim do mês.

LA 08/009

 

 

Edir-te-ia Mais Cedo que imaginas:

Prova, irmão, a prodigalidade de Deus —

dá-nos teu carro e apartamento,

teu sítio e os dois motéis da serra —

e terás uma jamanta e um prédio,

um pedação da Floresta

e os dízimos e doações

(em futuro bem próximo)

das igrejas que vais construir...

Tudo isso pela fé de abrires mão

dessas tolices materiais!...

............................................................

E nosso André, pobre trípede implume,

estaria depenado,

depenado do pescoço ao rabo,

não fosse a sua diligente sogra

tê-lo arrancado de lá pelas orelhas

e aos berros:

“Vamos pra casa, homem,

senão o pastor o depena

que nem um frango-d’água!”

Benditos berros!

Bendita sogra!

19/08/009

 

 

Há os que negociam com Deus,

mas Deus nem sabe disso.

LA 08/009

 

 

O religioso é o lobo

do que crê sem discernimento.

LA 08/009

 

 

Religião, Estado e Ética

devem ser livres uns dos outros.

LA 08/009

 

 

O homem que segue homens

acaba por se quebrar.

LA 08/009

 

 

Esse lixão de idéias que somos

tem que aprender a reciclar-se —

pensar, não ser pensado;

sonhar, não ser sonhado.

Deixar o caminho das cabras

pelo do caminhar-se por si mesmo.

LA 08/009

 

 

As tempestades fazem os bons navegadores.

LA 08/009

 

 

Todos os grandes sonhos

são traspassados de inveja e obstáculos.

LA 08/009

 

 

Perdoar um inimigo

é arrancá-lo com raiz e tudo

da nossa vida.

LA 08/009

 

 

Para seguirmos livres

temos que nos blindar

com as doçuras do amor.

LA 08/009

 

 

Os machinhos

que não se vigiam

são miseravelmente competidores.

LA 08/009

 

 

O relacionamento

será sempre aquele lidarmos

com cristais e porcelanas.

LA 08/009

 

 

Os pequenos

são grandemente orgulhosos.

LA 08/009

 

 

Não sei qual a diferença

entre os homens e as crianças.

LA 08/009

 

 

Conheci muitos espiritualistas

que não tinham nem espírito de humor.

LA 08/009

 

 

As profecias mais incompreensíveis

são as mais citadas e amadas.

LA 08/009

 

 

As pessoas adoram

tudo aquilo que não entendem.

LA 08/009

 

 

Mexer com o que não se entende

confere status de gênio.

LA 08/009

 

 

Gostamos de prometer

e ouvir promessas.

LA 08/009

 

 

A uns o envelhecer azeda,

a outros adoça.

LA 08/009

 

 

Os que se vendem por sábios

são muito chatos.

Aprendo mais

com os que não se levam muito a sério.

LA 08/009

 

 

Prudência é como palavra de mãe —

se não ajuda,

também não prejudica.

LA 08/009

 

 

Os homens oram para Deus fazer

o que eles já deviam ter feito.

LA 08/009

 

 

Os homens seriam melhores

se as mulheres também o fossem.

LA 08/009

 

 

Os homens seriam mais felizes

se as mulheres também o fossem.

LA 08/009

 

 

Os homens sonham mil e mil sonhos,

mas quando desabrocham

veem que já não é isso o que desejam.

LA 08/009

 

 

Rápidos em devolver a ofensa,

tardos em retribuir o bem —

mesmo assim desejamos ser felizes.

LA 08/009

 

 

Muitas vezes sermos felizes

somente dependeria

de um gesto, de uma palavra.

LA 08/009

 

 

Tudo o que de melhor nos ocorre

sempre nos acontece

entre a vida e o saber vivê-la.

LA 08/009

 

 

Os fortes tomam dos fracos,

os espertos, dos fortes.

E o mundo é um empilhamento

de pilhagens.

LA 08/009

 

 

Se a coisa não tem jeito,

então sua saída

será pelo não ter jeito.

LA 08/009

 

 

Os bons livros são como espelhos —

ao lê-los a gente se vê.

LA 08/009

 

 

Quem precisa dos louvores do mundo

tem medo dos seus deboches.

LA 08/009

 

 

Os maiores enigmas do universo

cabem num grão de areia.

Não fosse assim, o Sonho-Quem

não caberia nas estrelas

nem nos átomos.

LA 08/009

 

 

Os sonhos são os filmes do sono —

a expansão da subjetividade.

LA 08/009

 

 

O universo também sonha —

por isso se expande.

LA 08/009

 

 

Para os machões —

filés de escorpião.

Para os sérios —

filés de abelha.

Para os delicados —

filés de borboleta.

Para os chatos —

filés de pernilongo.

Dica: à milanesa

e vinho branco.

LA 08/009

 

 

Quando for morrer,

morra em paz —

só fazemos falta

para nós mesmos.

LA 08/009

 

 

Entre as pessoas de valor

e as de sucesso,

eu fico com as primeiras.

LA 08/009

 

 

Seus problemas não devem impedi-lo

de ser feliz.

LA 08/009

 

 

A vida não é uma metáfora —

a vida é a vida.

LA 08/009

 

 

Criamos nossos hábitos

e eles nos adotam.

LA 08/009

 

 

Aprendi que sonhos

devem ser bem cuidados,

como quem cuida de flores,

e que se eles anteceder

todo fazer,

colhem-se frutos

os mais auspiciosos.

LA 08/009

 

 

Sim, os sonhos são a seiva

do nosso fazer-criar.

LA 08/009

 

 

Nossos objetivos

devem estar à altura

de a vida valer a pena.

LA 08/009

 

 

Se não nos libertarmos

da vida que sonhamos,

como viver aquela que nos espera?

LA 08/009

 

 

Quem não muda,

não se renova,

não se atualiza —

por certo se cristaliza.

E deve ser duro a um ser humano

sentir-se uma estalactite.

LA 08/009

 

 

Não havendo um sentido humano

no que fazemos e sonhamos,

viver será uma história fútil.

LA 08/009

 

 

De vez em quando uma pausa

ajuda a nos reorganizarmos,

nos realinharmos —

nos dá fôlego,

confirma e rearranja o rumo.

LA 08/009

 

 

Enredo antigo:

Os que acham que tudo podem explicar

tropeçam em si mesmos.

O mais belo da vida

é o seu lado inalcansável.

LA 08/009

 

 

Ele nos mandou o Paráclito,

o Consolador,

o Espírito de Cristo,

o Dedo de Deus —

que nos guiará

de verdade em verdade

a toda a verdade.

Sim, não estamos sozinhos:

o Espírito de Deus

é nosso companheiro.

LA 08/009

 

 

Melhor que estar acompanhado

é estar sozinho,

melhor que estar sozinho

é estar acompanhado.

A vida é sempre aquele pêndulo

que aprendeu a gostar

dos dois lados.

LA 08/009

 

 

Ninguém aprende a morrer,

como também não se aprende

a viver.

LA 08/009

 

 

Quando sei o que quero

o mundo me respeita.

Quando não sei,

me debocha.

LA 08/009

 

 

As coisas fazem sentido

principalmente

quando fazem sentido.

LA 08/009

 

 

Se o assunto é dinheiro

todos têm um só Deus.

LA 08/009

 

 

O ato de desejarmos uma coisa

já é estarmos a caminho dela.

LA 08/009

 

 

Sonhar a dois ou mais

em geral faz o sonho

incorporar a realidade.

LA 08/009

 

 

Se alguém nos revela um grande sonho

(em geral uma criança),

quem somos nós para dizer-lhe

que é impossível o que sonha?

LA 08/009

 

 

Que o mundo, os familiares, os amigos

nos abandonem,

tudo bem.

Mas nós, nós não devemos nos abandonar jamais.

LA 08/009

 

 

O nosso genial amigo?

Continua aquele rei sozinho

em seu castelo em chamas

sentadinho em seu trono de nadas.

LA 08/009

 

 

Quando queremos melhorar,

não só a nós, mas nosso entorno,

desde então tudo, tudo mais

vai ficando melhor.

LA 08/009

 

 

Quando tudo vira tédio

com aquela trágica mesmice

é por que estamos muito doentes.

Busquemos então ajuda.

Saibamos nos socorrer.

LA 08/009

 

 

Quando o seu grande, magnífico amor

o abandonar,

procure por aquele que você achava pequeno.

LA 08/009

 

 

Tomara que o que podemos ser

seja melhor do que o que agora somos.

LA 08/009

 

 

Se perdemos muita coisa

é por que ainda não tínhamos

estrutura para vivê-las.

LA 08/009

 

 

Quando uma porta se fecha

outra se abre pela nossa fé —

o sentimento de que tudo é possível.

LA 08/009

 

 

Quando algo não nos convence,

devemos prosseguir à espera

de um maior entendimento

ou cabal discernimento —

prosseguir tranquilamente

com um sentimento de verdade.

LA 08/009

 

 

Quando a angústia for muita,

recolha-se —

descanse uns minutos

nas varandas de Deuspai.

LA 08/009

 

 

Quanto mais conhecemos

mais vemos que não sabemos.

E o que agora não sabemos

tem lá suas vantagens.

LA 08/009

 

 

Quem sabe muito

entende pouco.

LA 08/009

 

 

Raciocinar demais

impede a criatividade —

porque inibe a intuição.

LA 08/009

 

 

Quanto mais se cria

menos se tem medo de morrer.

LA 08/009

 

 

Há os que pensam com a bunda

e defecam com a boca.

LA 08/009

 

 

Ninguém se engane:

simplicidade é síntese,

síntese de tudo

o que se pôde viver.

LA 08/008

 

 

A paz nos seja o caminho.

A alegria a finalidade.

O amor o propósito.

A esperança o entusiasmo em fazer.

A fé a consciência

de que tudo é possível.

Nosso viver se impregne

de um sentimento de verdade.

Nossos pés iluminem o caminho.

E Deus nos seja a trilha,

a bela trilha sonora

a nos guiar para Casa.

LA 08/009

 

 

Quem conheceu a ventura

há de saborear sua lembrança

mesmo nas horas de infortúnio.

LA 08/009

 

 

Conhecer a própria ignorância

é precioso conhecimento.

LA 08/009

 

 

Conhecer os outros é necessário,

conhecer a si mesmo é imprescindível.

LA 08/009

 

 

Se tem na mão um martelo,

saiba que nem tudo é prego.

LA 08/009

 

 

Aspirar à bondade

é ser livre.

Praticar (ou só pensar)

a maldade

é estar preso aos maus.

LA 08/009

 

 

Semelhantes criam semelhantes,

afins geram afins.

LA 08/009

 

 

Dominou seus desejos,

suas paixões —

ficou escravo da razão.

LA 08/009

 

 

Como o silêncio e o som,

a escuridão é tão terrível

quanto a luz excessiva.

LA 08/009

 

 

Matar o tempo

é sabotar a si mesmo.

LA 08/009

 

 

Saber recordar é uma arte

que nos desamarra de nós mesmos.

LA 09/009

 

 

Quem na vida nunca foi louco

não sabe o que perdeu.

LA 08/009

 

 

Uma bela mulher

é sempre uma pré-satisfação.

LA 08/009

 

 

 

Todos temos nossas paixões não consumadas,

hoje folhas levadas pelos tempos,

tempos em que sua consumação

nos parecia tão magnífica,

que consumá-las agora

(fosse isso possível)

seria o maior ridículo.

Há um tempo em que já não dá tempo.

LA 08/009

 

 

Chupar manga é bom

quando sujamos a boca.

Como Marilda sempre repetia

pelo doce prazer de desbocar-se:

Não há excretar sem se sujar o atrás,

nem pinxotar sem se molhar.

LA 09/009

 

 

Antes assim, minha nega,

antes assim que assado ou frito.

A vida é mesmo esssa botina

deixada por pés avoengos —

sempre um número menor.

LA 08/009

 

 

Como pode dirigir pessoas

quem não se tem a si mesmo?

LA 09/009

 

 

Aprendi que o legítimo aprender

requer um desaprender

e que aqueles que ensinam,

ensinam por que não sabem

que devem desensinar:

a si e aos outros.

LA 09/009

 

 

Quem não agradece o que tem

não merece ter mais.

LA 09/009

 

 

Se reconheço que tenho errado,

tenho ensejo de errar menos.

LA 09/009

 

 

O rico um dia descobre

que só pode comprar

o que o dinheiro compra —

apenas isso.

LA 09/009

 

 

Quem deseja as alturas

não pode ter medo de quebrar-se.

LA 09/009

 

 

Passamos de escravos a livres

quando viver com pouco

nos é mais que suficiente.

LA 09/009

 

 

Se não me quero bem,

como querer aos outros?

LA 09/009

 

 

Quem não tem aqueles três companheiros —

a fé,

o amor,

a esperança —

certamente,

não está bem na vida.

LA 09/009

 

 

Se me gabo de meus acertos,

vou acabar pensando

que tudo o que faço é certo

LA 09/009

 

 

Quando o pensamento é meu,

as ações também são minhas.

LA 09/009

 

 

Quem não sabe que pode vencer,

a derrota o espreitará.

LA 09/009

 

 

Quem sabe o quanto ama

não ama nada.

LA 09/009

 

 

A vida não é um jogo,

mas construção nossa.

LA 09/009

 

 

Quem sabe o que quer

não precisa arriscar-se.

LA 09/009

 

 

A mão que dá tapinhas no ombro

também sabe usar o punhal.

LA 09/009

 

 

Só podemos nos curar de nossas misérias

quando as vemos cara a cara em nós.

LA 09/009

 

 

Sem um silêncio respeitoso

não se ouve a consciência.

LA 09/009

 

 

Se a caminhada é longa,

ir devagar é mais seguro.

LA 09/009

 

 

Quem deseja as alturas

deve saber onde apoiar os pés.

LA 09/009

 

 

Quem procura um bom amigo

não vai ter nunca amigos.

LA 09/009

 

 

Quem já queimou a língua

sabe lidar com a xícara.

LA 09/009

 

 

Imaginação é asas,

raciocínio é pés,

sentimento é flutuar,

pensamento é caminhar.

LA 09/009

 

 

Quem faz pouco

erra muito.

LA 09/009

 

 

As pessoas mal entram em nossa casa

e já nos sugerem uma outra disposição

para os nossos móveis...

e, com o tempo, uma outra

maneira de sermos.

LA 09/009

 

 

Quando nos despimos de nossas vaidades

ficamos totalmente nus.

LA 09/009

 

 

Conheço muitos

que jamais terão um rival —

vivem apaixonados por si mesmos.

LA 09/009

 

 

Quem lhe fala mal dos outros,

com os outros,

que falará de você?

LA 09/009

 

 

Quem justifica,

não raro acaba confessando.

LA 09/009

 

 

O que confia em si atrai os outros.

LA 09/009

 

 

Filho de peixe, será, no mínimo, sardinha.

LA 09/009

 

 

Quem ama o feio tem fartura.

LA 09/009

 

 

Quem ama o belo

tem companhias.

LA 09/009

 

 

Contra o óbvio não há ululâncias.

LA 09/009

 

 

Aqui temos

o Futebol,

o Carnaval

e agora —

o Pré-sal.

LA 09/009

 

 

Tomara que o Pré-sal

não venha salgar ainda mais

a nossa vida.

LA 09/009

 

 

Segundo a qualidade de nossos feitos,

assim nos será o futuro.

LA 09/009

 

 

As justificativas

requerem muito tato

e  — no mínimo —

50% de verdade.

LA 09/009

 

 

Vivamos nossas alegrias

gostosamente  — uma a uma,

nossas pequenas felicidades

encarecidamente —

uma lembrando a outra...

e se o nosso sonho-mais

jamais acontecer,

mesmo assim teremos sido felizes.

LA 09/009

 

 

O sexo,

como barganha de prazer,

é bom investimento.

LA 09/009

 

 

Demos graças a Deus

por não ter nos concedido

aqueles muitos desejos

que ardendo em sonhos

Lhe rogamos.

LA 09/009

 

 

Se perdes tempo pensando nos inimigos,

que te sobrará para os amigos?

LA 09/009

 

 

Os medíocres querem fazer coisas impossíveis,

os sábios se comprazem com as singelas.

LA 09/009

 

 

Em geral, na maturidade

vamos buscar

o que jogamos fora

na mocidade.

LA 09/009

 

 

Quem foi feliz um dia

foi feliz a vida inteira.

LA 09/009

 

 

A vitória dos outros não nos serve,

seu fracasso também não.

LA 09/009

 

 

Cada um de nós precisa

de suas vitórias,

bem como de seus fracassos.

LA 09/009

 

 

O que há na guerra

é ganhá-la ou perdê-la.

LA 09/009

 

 

Entre os homens,

o que há por trás da verdade

é uma grande mentira.

LA 09/009

 

 

O ditador existe

onde os homens e mulheres

são muito pequenos.

LA 09/009

 

 

Tanto mais durona uma pessoa

tanto mais ela tem fome de afeto.

LA 09/009

 

 

Quem se esqueceu de agir como amigo

jamais terá um de confiança.

LA 09/009

 

 

Há aquelas que se enternecem

citando Madalena

e o carinho e o perdão de Cristo,

mas não citam jamais a frase final:

“Vai, e não peques mais.”

LA 09/009

 

 

Quem ama o outro

só espera uma coisa:

continuar amando-se no outro.

LA 09/009

 

 

Não há amor pequeno nem grande,

o que há (ou não há) é amor.

LA 09/009

 

 

Há pessoas que falam tanto,

que nunca dizem nada.

Já as maritacas não sei

se conseguem dizer.

LA 09/009

 

 

Nunca vi pescador

que achasse suficientes

os peixes que pegou.

LA 09/009

 

 

O que é que são mais nossos

que nossos sonhos?

LA 09/009

 

 

Um homem sério

faz rir.

Uma reunião de gente séria

faz gargalhar.

LA 09/009

 

 

Quem teme não compreende,

não entende

nem (muito menos) aprende.

Para entender

há que haver empatia,

empatia e confiança

de ambos os lados.

Para aprender

é preciso um pouco mais —

amor.

LA 09/009

 

 

Se nada dura

que seja saboreado

na parte que nos cabe.

LA 09/009

 

 

Passe ao largo daqueles que não gostam de você.

No mundo há muita, muita gente.

Procure quem o suporte

e lhe tenha simpatia —

um jeito de se amar

e amar o outro.

LA 09/009

 

 

Quando o desprezo das pessoas

nos valer tanto quanto os seus elogios —

teremos nos conhecido um pouco mais.

LA 09/009

 

 

Se tivéssemos um pré-conhecimento

do que desejamos,

haveria muito menos ardores por aí.

Mas a vida é bem maquiavélica

e nos usa principalmente

na mocidade.

LA 09/009

 

 

Uns ardores de heroísmo

até que vão bem,

mas o anti-herói

é igualmente necessário.

LA 09/009

 

 

Sem Sancho não há Quixote,

sem Quixote não há Sancho —

um é o outro

e os dois são um.

LA 09/009

 

 

Os bons sentimentos

fazem toda a diferença.

LA 09/009

 

 

Se não teve uma infância feliz,

comece a tê-la a partir de agora.

LA 09/009

 

 

O órgão sexual mais à mão são os olhos —

tenha mil e mil orgasmos por dia.

LA 09/009

 

 

O que os outros pensam de você

é problema deles.

LA 09/009

 

 

Perseverança é coisa rara,

quem a tem chega lá.

LA 09/009

 

 

Onde é lá?

Lá é lá,

um lugar no sonho.

LA 09/009

 

 

Na mocidade

por vezes me assaltava

um medo dolorido de morrer...

que era assim mais ligado ao medo

de não dar tempo —

eu queria sentir profundamente

o gosto encorpado da vida.

LA 09/009

 

 

Entre picadas e mel

prefiro este último.

Se bem que pela vida

não tive escolha:

foram picadas e picadas.

Talvez por isso

não seja diabético.

LA 09/009

 

 

Se você tem medo

ou se espanta

com o passar dos anos —

aí você caminha rápido

para a velhice.

Se jamais se preocupa com a idade

nem acredita nela —

então não envelhece nunca

até a sua morte.

LA 09/009

 

 

Não assovie nem cante

perto do desgraçado.

LA 09/009

 

 

Ao amigo você perdoa

um punhado de canalhices.

Se ele tenta repetir a dose,

é hora de deixá-lo só —

curtindo as suas vilezas.

LA 09/009

 

 

— A gente, padre, só se entendia

na horizontal.

— Uai, meu filho, e acha isso pouco?

LA 09/009

 

 

O pensamento é que faz

uma coisa ser boa ou má.

LA 09/009

 

 

Um sonho nasce no futuro

e  — se inseminado pelo ousar —

dá seus frutos no presente.

LA 09/009

 

 

Não há nada mais ridículo

que a ignorância julgando-se culta.

LA 09/009

 

 

Um busca o prazer extremo,

outro, o espinho mais doído —

os dois estão doentes

de excesso.

LA 09/009

 

 

Viver esperando é o mais belo,

mais doce, mais nobre engano, —

todos o amamos.

Sim, amamos tanto esperar

que essa é a nossa maior posse.

LA 09/009

 

 

Muitas vezes ordenhei as pedras

para o café da manhã —

claro: só tomei café com silício.

LA 09/009

 

 

Quando você vê o cinismo,

toca-o, estima-lhe o tamanho —

você o desativa.

LA 09/009

 

 

Toda gentileza é um brilho da alma.

LA 09/009

 

 

Iluminar-se

é saltar do tempo

para o ser —

sem negar o que é

nem sair do lugar.

LA 09/009

 

 

Um gesto de amor

não se perde nunca —

tempo nenhum o anula.

LA 09/009

 

 

Ainda bem que não se pode

negar o passado

nem vender o futuro.

LA 09/009

 

 

O mundo que temos é este,

para melhorá-lo

precisamos melhorar.

LA 09/009

 

 

Muita e muita coisa

não precisamos

experimentar —

nos empobreceriam,

só isso,

ao passo que outras experiências

acrescentam:

fazem queimar etapas,

fazem crescer

e transcender.

LA 09/009

 

 

A vida não pula a amarelinha,

não joga dados

nem tem certezas —

mas transforma dúvidas

e mentiras

em certezas e verdades,

frieza e rancor

em amor e perdão,

rastejos

em asas —

sonhos

em venturas vividas.

LA 09/009

 

 

As sombras? Despreza-as,

e fugirão de ti.

Agarra-te à luz —

ela traz e leva

o sentido magnífico

da vida.

LA 09/009

 

 

Quanto amor ainda me tens?

E o tempo...

quanto tempo foi dado ao tempo?

Que a alegria preencha os intervalos

das nossas incertezas

enquanto o nosso navegar

se perde,

cada vez mais se perde

em si mesmo...

Quanto amor ainda temos?

Enquanto, Nina, o tivermos,

teremos a sensação

de que estamos em casa —

uma casa que tem alma

em suas vozes quentes e alegres.

LA 09/009

 

 

Pensar muito é amarrar-se,

é não usar (ou não ter)

o pensamento intuitivo —

que traz em si o como e o que fazer.

LA 09/009

 

 

A vida e a morte

é uma só no multiverso.

LA 09/009

 

 

Toda felicidade

tem a forma de asa.

Fora bom aprender

a gozá-la no ar.

LA 09/009

 

 

Ler e pensar nos liberta

de sermos servos de homens.

LA 09/009

 

 

Se não está blindado nosso carro,

o nosso coração está.

São os tempos,

o começo dos tempos.

Quem puder ser prudente, que o seja —

evite trancafiar o humano

lá dentro de si mesmo.

LA 09/009

 

 

O muro e o atrás do muro.

Que haverá atrás do nosso medo

que não seja o nosso medo de morrer?

Sempre esse incômodo

até que venha a hora

em que veremos que nada

era absolutamente nada

daquilo.

LA 09/009

 

 

A fome e o sonho de saciá-la

entre duas colunas.

Nossa fome de pétalas

nos faz fugir da morte

e reinventar as formas —

soprar nelas o nosso medo

de morrer.

LA 09/009

 

 

Nesta vida de altos e baixos

muitas vezes se é mais feliz

lá nos baixos.

LA 09/009

 

 

Ou você ama,

suporta,

ou odeia.

Pode também negar,

sim, negar tudo isso

sendo indiferente.

A escolha é sua.

LA 09/009

 

 

Sintimos dores,

logo: vivemos.

LA 09/009

 

 

Come rápido,

antes que te comam —

foi assim que nossos ancestrais

chegaram até nós.

LA 09/009

 

 

A evolução é imprescindível —

assegura sobrevivência.

LA 09/009

 

 

Existo e não penso,

lá vem Descartes —

“Então és pedra, parente!”

LA 09/009

 

 

— Sou o Homo Sapiens.

— Muito prazer!

Seu caminho é por aqui —

pelas trilhas de Darwin.

LA 09/009

 

 

Se você permitir

a calúnia poderá fazer-lhe mal.

LA 09/009

 

 

Tão impossível fugir do amor

quanto da morte.

LA 09/009

 

 

Se se pudesse congelar,

parar no tempo,

a ventura, a felicidade

já não seriam ventura, felicidade —

as coisas para ser

precisam do tempo fluindo:

precisam de movimento.

O inefável há de ser saboreado

enquanto foge —

sim, enquanto não se sabe

muito bem o que é.

LA 09/009

 

 

Não há mudar,

mas mudares e mudares —

cada mudar é apenas mais um salto

a um patamar

a exigir sempre um outro salto

constantemente para outro espaço.

Sim, a estrada de viver

chama-se mudanças.

LA 09 /009

 

 

Você só compreende o outro

quando tiver vivido o que ele viveu.

LA 09/009

 

 

Mestre não é só o que busca entendê-lo,

o que tem paciência,

empatia com você,

o que procura uma complicidade

de ensino-aprendizagem —

mas tembém quem o desafia,

quem compete com você

em constante instigação —

mestre é também o mundo,

a vida, o viver.

LA 09/009

 

 

Um mais um pode ser um —

você já viveu isso.

LA 09/009

 

 

Somos aquilo que de hábito fazemos.

A persistência nos dará um estilo,

uma marca registrada.

LA 09/009

 

 

Quando nos defrontamos com um problema,

só então vemos que temos em nós a sua solução.

LA 09/009

 

 

Ver fantasmas é o passatempo dos homens —

a grande maioria das pessoas

detesta a realidade:

trocam sonhos pelo que têm na mão.

LA 09/009

 

 

O perfeccionista é o que deixa de fazer —

pois não sabe fazer

da maneira que não sabe.

LA 09/009

 

 

Os deuses estalam suas risadas

principalmente para os sábios.

LA 09/009

 

 

Os sonhos têm que voltar,

passar por nossas mãos

para serem tocados e fruídos.

LA 09/009

 

 

No verdadeiro amor

ninguém manda —

obedecem os dois.

LA 09/009

 

 

Um dia todos veremos

que não ser feliz

é o maior pecado.

LA 09/009

 

 

Quando estiver em dúvida,

chame as suas certezas,

divide-as pelas incertezas

e dê um passo do tamanho

do quociente.

LA 09/009

 

 

A vida

com uma das mãos

nos dá, com a outra nos tira,

mas o melhor é vivê-la

sem discutir com ela.

LA 09/009

 

 

A vida é tão curta,

que nem dá tempo.

Imagine se perdermos tempo

em odiar!

LA 09/009

 

 

Use o dinheiro como senhor,

não como escravo

do que ele compra.

LA 09/09

 

Se numa conversa ociosa

alguém quiser vencê-lo pelo argumento,

diga-lhe que só discorda dele

para desempatar o jogo.

LA 09/009

 

 

De vez em quando chorar é bom,                                                

mas não se esqueça que o riso é bem melhor.

LA 09/009

 

 

Melhor é ficar bravo com Deus do que com o cônjuge.

Deus perdoa, o cônjuge não.

LA 09/009

 

 

Uma poupança vai lhe fazer bem mais tarde —

faça-a de grão em grão como a galinha.

LA 09/009

 

 

Veja se consegue chegar a um acordo

com o seu passado —

o ressentimento pode lhe estragar o presente.

LA 09/009

 

 

Não procure saber segredos dos outros,

eles fedem como banheiros públicos.

LA 09/009

 

 

Tudo não é mais que um pisco,

mas se estivermos nas mãos de Deus,

estamos bem: Ele não pisca.

LA 09/009

 

 

Respire fundo, coce os mimos —

isso relaxa e refaz.

LA 09/009

 

 

Corra atrás do seu sonho,

mas não diga a ninguém.

LA 09/009

 

 

Use aquela calcinha bonita hoje —

trate a cada dia como a um príncipe.

LA 09/009

 

 

Na maré baixa,

entra dentro do teu barco

e espera.

Na maré cheia,

então navega —

vai comer brioches

no castelo de Antonieta.

LA 98/009

 

 

Não deixe pra fazer certas coisas

quando envelhecer —

faça-as agora

e depois.

LA 09/009

 

 

Sua felicidade não é brinquedo

para que outras mãos o quebrem.

LA 09/009

 

 

Perdoe a si e aos outros,

não por bondade,

mas por astúcia ou estratégia

para se livrar de si e dos outros.

LA 09/009

 

 

Trate a morte com desprezo

e a vida com veneração

e dom supremo.

LA 09/009

 

 

Acredite no agora,

no daqui a pouco

e no amanhã —

plante sua semente de fé

em todos os momentos.

LA 09/009

 

 

Deus sempre nos ama

por amor de Ele ser amor.

LA 09/009

 

 

Envelhecer não será um problema

quando você não o vê um problema.

LA 09/009

 

 

O que fizemos de nossa vida,

isto, sim, terá importância no final.

LA 09/009

 

 

Espere todos os dias

coisas maravilhosas na sua vida —

se não chegarem hoje,

pelo menos estão a caminho.

LA 09/009

 

 

Se há uma dificuldade,

há um modo de solucioná-la.

LA 09/009

 

 

Só o amor sabe

quais são os verdadeiros tesouros.

LA 09/009

 

 

Dê linha ao tempo...

e ele lhe mostra

que o que você perdeu

foi apenas uma pipa.

LA 09/009

 

 

Muda o bom,

muda o ruim —

nada é tão belo

ou tão feio assim.

LA 09/009

 

 

Se soubesse dos problemas dos outros,

pediria perdão a Deus

por achar os seus tão grandes.

LA 09/009

 

 

Quando rirmos do que os outros têm

ou são —

já não teremos inveja.

LA 09/009

 

 

Creia: o melhor sempre está por vir.

LA 09/009

 

 

Seriedade deve ser como sal,

como açúcar —

na medida certa.

LA 09/009

 

 

Um pouco de amor é bom.

Demais, já vira desamor.

LA 09/009

 

 

Cuidado com o ciúme.

Ele te faz virar um bobo

com as mãos vazias.

LA 09/009

 

 

Amor é como manga —

bom enquanto não vira caroço.

LA 09/009

 

 

A boca que te beija

e contigo suspira orgasmos

já fez isso com muitas bocas.

Exclusivo,

só o nascer e o morrer.

A liberdade

começa nos sentimentos.

Libertemo-nos do que sentimos

e pensamos —

e verdadeiramente

seremos livres.

LA 09/009

 

 

Jamais abandone os seus rituais —

tudo aquilo que você faz

e lhe é a alegria,

a força de viver.

LA 09/009

 

 

Aprenda a amar a arte

(qualquer um dos seus ramos),

ela o ensina a organizar-se,

a analizar a vida,

a conhecer a si e ao mundo.

LA 09/009

 

 

Viver é o mais belo

e o mais útil dos presentes.

LA 09/009

 

 

Corpão não basta: há de ser corpo com femineza.

LA 09/009

 

 

Quer queiramos quer não,

estamos condenados à eternidade —

o tempo são nossas máscaras.

LA 09/009

 

 

O psiquismo humano

foi se tecendo de seus sonhos.

LA 09/009

 

 

O inteligente e o tolo

vivem num mesmo ser humano.

LA 09/009

 

 

Quixote e Sancho se completam —

são o equilíbrio em nós.

LA 09/009

 

 

O bobão realça o mocinho —

charme e lucidez.

LA 09/009

 

 

Nossa glória não é só vencer,

mas fracassar e já nos reerguer.

LA 09/009

 

 

Se conhecemos o outro

melhor do que a nós mesmos,

estamos com um grave problema.

LA 09/009

 

 

Não se saber o que fazer com a vida

é estar-se na ponta de uma torre

apoiado num só pé.

LA 09/009

 

 

Nosso lugar ideal

é onde nos sentimos bem.

LA 09/009

 

 

Nosso melhor amigo

é o que nos procura

pelas nossas grandes diferenças.

LA 09/009

 

 

A paz dos vitoriosos

é só a que nos serve.

LA 09/009

 

 

Nossos pensamentos devem ser guiados

por uma razão lúcida,

por sentimentos serenos

e uma vontade que sabe o que quer.

LA 09/009

 

 

Não é pela longa representação,

mas por ser bem representada

que a comédia de nossa vida

deixa seu rastro e respeito.

LA 09/009

 

 

Nossas ações são o escriba

em nós

a escrever um diário.

LA 09/009

 

 

Somos traídos pelas nossas dúvidas

e aplaudidos pelo que chamamos

de nossas certezas.

LA 09/09

 

 

Em geral a realidade

são as metáforas de nossos sonhos.

LA 09/009

 

 

Adoramos as alegorias

que nos dão a imprenssão

de termos conseguido inculcar

nossas alucinações.

LA 09/009

 

 

Nossas profecias autorrealizadoras

podem elevar ou aniquilar

aqueles que se deixam permeabilizar.

LA 09/009

 

 

Há em nós um desejo sequioso

de saber a verdade.

LA 09/009

 

 

Nos Evangelhos

a verdade, o caminho e a vida

é Jusus, o Cristo.

LA 09/009

 

 

No mundo

a verdade tem mil máscaras

e muitas vezes

são elegantes mentiras.

LA 09/009

 

 

Nossas riquezas

não cabem no mundo material.

LA 09/009

 

 

Nossa vontade

traz em secreto o que somos.

LA 09/009

 

 

Nosso cérebro é a  rica e bela caixa de surpresa que se criou,

nele se encontram todos os segredos e mistérios —

inclusive o de seu Criador,

o Sonho-Quem.

LA 09/009

 

 

Vencermos o que está dentro

é o maior dos desafios.

LA 09/009

 

 

Nosso maior achado será descobrirmos

que Deus nos é.

LA 09/009

 

 

Fracassos podem ajudar bastante,

depende do modo como os interpretamos.

LA 09/009

 

 

A escolha de um rumo errado

é um dos maiores desastres já vistos.

LA 09/009

 

 

Quando os sonhos são legítimos

eles ganham corpo de realidade.

LA 09/009

 

 

Os montes de feno

são apenas montes de feno —

foram tirados os seus germes,

as suas sementes de vida.

Sevirão de forragens,

de húmus.

LA 09/009

 

 

Até onde os outros foram

não há nenhuma transcendência —

precisamos ir além

e nos ultrapassar.

LA 09/009

 

 

Nunca dê as suas costas,

use os seus olhos,

sua atenção:

examine todas as coisas

e situações.

LA 09/009

 

 

As experiências são aprendizagem

que se corporificam pelas células

e se assimilam pela alma.

LA 09/009

 

 

Ouve os dois lados,

e saberás quem mente mais.

LA 09/009

 

 

Há momentos em que viver dói tanto,

que até diverte.

LA 09/009

 

 

Não tenhas na palavra o desestímulo

nem jamais o desencanto

ante aquele que segue devagar,

mas segue.

LA 09/009

 

 

O ambicioso sobe tão alto

que depois não sabe como descer.

LA 09/009

 

 

O sentimento de verdade e de justiça

é a força-alimento da jornada.

LA 09/009

 

 

Sabedoria

é observação da natureza.

LA 09/009

 

 

O asno ganha voz

quando o ser humano o mediuniza.

LA 09/009

 

 

Um grande amor

prescinde de aventuras.

LA 09/009

 

 

Quem sabe voar

não rasteja nem caminha.

LA 09/009

 

 

Quem tem luz própria

não leva velas ao vento.

LA 09/009

 

 

Nossos sonhos são dínamos

que nos mantêm iluminados.

LA 09/009

 

 

Há um futuro sendo vivido,

um que recicla o passado

e outro logo adiante

de nosso ser a ser-se.

LA 09/009.

 

 

Entre os passos anteriores

e o seguinte

há um intervalo de reflexão

de que podemos nos valer

ou não.

LA 09/009

 

 

Não há bem ou mal absoluto —

se a flor cai, nasce o fruto.

LA 09/009

 

 

Quanto mais obstáculos,

mais doce o amor.

LA 09/009

 

 

Jamais lembre a alguém

um bem que lhe tenha feito:

ele rapidamente arranjará um modo

de humilhá-lo.

LA 09/09

 

 

A diversidade é o que há de mais belo

entre as pessoas, os animais e as coisas.

LA 09/009

 

 

Discussão é prego enferrujado —

em vez de entrar

entorta.

LA 09/009

 

 

Dizer como ser feito

é subestimar o que os outros fazem.

LA 09/009

 

 

Amor que enxerga muito

desama.

LA 09/009

 

 

Se você não acredita em milagres,

azar seu, —

eles nunca acontecerão com você.

LA 09/009

 

 

Ter-se por especial,

ou muito inteligente,

mais dia menos dia

tira a máscara do cara.

Tal narcisismo

só não faz rir

a defunta mamãe do supernoia.

LA 09/009

 

 

Ter-se por “burro”

vai prejudicar o cara.

Sua mente lhe passa

uma autoestima de vencido.

LA 09/009

 

 

Ter-se como quem se constrói

no dia-a-dia,

busca se organizar

tranquilamente

em si, no mundo, no que faz —

com humor-riso-seriedade

no intento de conhecer

a si, ao outro, o universo...

isso talvez ajude o cara.

LA 09/009

 

 

Há mais átomos num copo d’água

do que copos d’água

em todos os oceanos do mundo.

A vida, o cosmo, o ser são sempre mais

do que o mais amplo imaginar.

LA 09/009

 

 

Uma coisa é uma coisa,

outra coisa

pode até ser um coiso.

Tenho dó

dos que não gostam de “gracinhas”.

LA 09/009

 

 

Como dizia padre Umberto:

Tá tudo certo,

já que na vida

é tudo incerto.

LA 09/009

 

 

Mudando de pato pra ganso,

Quixote ou Sancho —

vai depender da hora.

LA 09/009

 

 

Amor é como amora —

há de ser agora,

ou passa.

LA 09/009

 

 

O licor Chambord

(que tem seu berço

lá no vale do Loire)

feito de framboesas vermelhas

e pretas,

com seu gênio sonhando

em garrafas trabalhadas

em ouro e diamantes,

custa 1,4 mi euros.

LA 09/009

 

 

Lembra-se, Rosinha,

daquele amor gótico flamejante

com que flambávamos nossos lençóis?

Chique, chique no último,

minha nega, —

nosso tesão e mocidade

é que eram nosso Liqueur Chambord.

LA 09/009

 

 

A poesia dos sentidos

que o mundo busca saborear

chama-se sexo, amor, felicidade —

caras vertigens,

raros chiliques,

portanto: caros.

LA 09/009

 

 

Muitos acham até bonito

dizer o que pensam e sentem —

sim, “usam de franqueza”...

O mundo, os amigos e inimigos

adoram os francos, é claro.

LA 09/009

 

 

O que chamam amor

é um vexame:

uma infinda floresta —

galhos de todo tipo

camuflados por exuberantes folhas

e, não raro, por inocentes flores.

LA 09/009

 

 

Hoje as mulheres

estão mais infelizes

e nós, os hetero,

bem mais aliviados.

LA 09/009

 

 

O amor é bem mais pleno

quando nenhum dos dois lhe rouba força,

mas, ao contrário: ambas as partes

trabalham para conservá-la

e acrescentar-lhe,

mas isso é muito raro.

LA 09/009

 

 

O amor faz o tempo e o espaço possíveis

para uma grande festa.

LA 09/009

 

 

O amor não tem idade —

está sempre nascendo

como a água em sua fonte.

LA 09/009

 

 

O amor te leva ao inferno,

ao paraíso

e aonde mais queiras ir.

LA 09/009

 

 

Inventaram que o amor é cego

só para dar coragem.

LA 09/009

 

 

O amor, esse pobre não tem folga

nem descanso ou férias

e ainda faz horas extras.

LA 09/009

 

 

Há os que falam tão mal da paixão,

que dá para desconfiar.

LA 09/009

 

 

A paixão é doença gostosa.

Quando se cura

a gente fica até sem graça.

LA 09009

 

 

Muitas vezes não ter tempo

para ser infeliz

é toda a nossa ventura.

LA 09/009

 

 

Concordo com você, Marli:

O pessimismo é hobby

de pessoas felizes.

É preciso (elegantemente)

arranjar o que fazer,

e mentir a si mesmo

é a delícia das delícias.

Como é que um pobre infeliz

(desses que estão lutando

por um galho mais acima

na árvore social),

como é que um miserável desses

pode se dar ao luxo

de ser alegre ou triste?!

Não dá para chiquês,

a luta é muito braba.

Só quando o cara vence

(isto é: consegue o seu pedaço do mamute)

é que pode respirar —

então olha em redor e ri:

morre de rir.

LA 09/009

 

 

Somos um povo diferente:

vamos à luta,

ou à preguiça,

e deixamos pra chorar amanhã.

LA 09/009

 

 

Hoje, os hetero sabemos

que não podemos contar com as mulheres

nem elas contar com os homens

e isso nos deixa livres

e com prazeres matizados.

Viva o pós-feminismo

e o pós-machismo!

Vivaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!...

LA 09/009

 

 

Nada como um dia atrás do outro

e poucas contas no fim do mês.

LA 09/009

 

 

As mulheres e os homens

acusam-se uns aos outros

por não serem felizes.

Ainda estão no tempo

em que a felicidade

vinha de um reino encantado.

LA 09/009

 

 

O bom de ser separado

é que você se levanta

dos dois lados da cama.

LA 09/009

 

 

Cuidado, nega,

é galho seco!

LA 09/009

 

 

A juventude da alma

está em pertencermos ao nosso tempo

apoiados no maior conhecimento possível

do passado.

LA 09/009

 

 

Se você vive contente

é uma pessoa rica,

se vive descontente

é uma pobre pessoa.

LA 09/009

 

 

Todo mundo já fez uma frase

sobre o coração,

sobre a vida,

sobre Deus.

As frases são um vinho

que bebemos do avesso.

LA 09/009

 

 

Amor manuseado

dói até em safado.

LA 09/009

 

Engraçado... dói na gente

ser corno,

não é mesmo?

Precisamos nos desmimar.

LA 09/009

 

 

A gente paga caro

pelo que não tem preço.

LA 09/009

 

 

Fingir que não dói

machuca muito mais.

LA 09/009

 

 

Voltou pra casa era quase noite,

molhado, sujo de barro

até que viu que a enxurrada

tinha bebido a casa e tudo em volta.

LA 09/009

 

 

O coração só morre

quando os sonhos se cansam.

E o tesão só se vai

quando ela não vem.

 

 

LA 09/009

 

 

Cabra velha não busca ervas

junto à cratera dos vulcões.

LA 09/009

 

 

Bebemos a filosofia

no leite montês da velha Grécia.

E até hoje o mundo todo

se delicia com seus queijos

e aquele doce encaroçadinho.

LA 09/009

 

 

As ruínas da Antiga Grécia

estão tão vivas

quanto o seu glorioso idioma

em multifárias línguas

a marulhar pelo mundo.

LA09/009

 

 

O coração tem razões

que o ensinam a pensar.

O pensamento

tem sensações

que o ensinam a sentir.

Pensar-sentir,

sentir-pensar.

Visão e tato —

tato-visão.

Ouvir e ver —

ver-ouvir.

Cheirar-gostar-saber.

Intuir-ousar.

E tudo em convergência

com fazer-criar.

LA 09/009

 

 

Cada degrau convida a mais um,

até enquanto se ousar —

e os há exteriores

e interiores

ao mundo e a nós.

O mais longo da jornada

fazemos

lá por degraus em nós mesmos.

LA 09/009

 

 

Hoje o mar falava grosso,

ria, gargalhava eufórico,

espumando, não de raiva,

mas de satisfação —

o Rio venceu Chicago,

venceu Madri,

venceu Tóquio.

Vai sediar em 2016

aqueles jogos

vindos da casa de Platão.

Por isso hoje o mar beijava

num outro tom,

beijava os pés,

os lindos pés

da Princesinha do Mar.

Aproveita, Brasil, —

todo o teu mar está pra peixe!

LA 10/009

 

 

Jamais serão inglórias

minhas saudades de você —

são saudades que têm espinhos

feitos de rosas.

LA 10/009

 

 

Chorar? Só de alegria.

LA 10/009

 

 

Para consumo próprio,

Marilda sempre me diz

preferir o amor parnasiano —

o que finge não ser romântico:

sempre bem acabadinho

e com gostosos emjambements.

LA 10/009

 

 

Se for canja de ninfas,

Bérlus come.

— Come ou toma?!

— Bérlus come.

Berlusca e pede mais.

Pois que Bérlus

tem a cara de cone.

LA 10/009

 

 

Enem veio

e já o venderam.

Mas logo volta:

Enem vem,

e já ninguém

pode levá-lo

na cueca,

na meia.

É moda,

moda da casa —

levar na cueca,

na meia.

Eta nóis!

Plural do cínico Etanol.

LA 10/009

 

 

Cuecas elásticas,

meias compridas

são bem operacionais

cá na Cabrália

de nossos dias.

LA 10/009

 

 

Se podemos pensar uma coisa,

tal coisa pode acontecer.

LA 10/009

 

 

O que se pode imaginar

só precisa de um tempo

para gestar-se e nascer.

LA 10/009

 

 

Novo homem,

novoestilo,

novo clima:

novas brisas

reacendendo esperanças —

eis o senhor Obama,

não por acaso,

Nobel da Paz.

LA 10/009

 

 

A vida dá com a direita

já tomando com a esquerda,

mas no instante em que toma

a gente já deu o passo.

LA 10/009

 

 

Ser enganado é bem menos terrível

se quem o engana

não é você mesmo.

LA 10/009

 

 

Prudente é preservar a saúde,

esbanjá-la não é só um erro,

mas erro e estultícia.

LA 10/009

 

 

O homem nasce para se suplantar —

 no esporte, na profissão, na arte.

LA 10/009

 

 

As dificuldades

nos fazem crescer,

o sofrimento e a solidão

nos fortalecem,

a subpobreza nos dá

uma espécie de raiva-impulso,

raiva abençoada —

que nos leva a vencer.

LA 10/009

 

 

A revolução entre facções

modifica as coisas,

mas a do coração

nos faz nascer de novo.

LA 10/009

 

 

A ansiedade demasiada

nos impede.

A vontade serena,

esta, sim, nos ajuda.

LA 10/009

 

 

Abençoado o homem que exorta

e faz brilhar a esperança

no coração desfalecido.

LA 10/009

 

 

Os relógios familiares

canibalizam as pessoas

gerações após outras,

tal como os quadrúpedes

devoram o verde dos campos.

LA 10/009

 

 

O espelho é um amigo

(talvez o único sincero)

que conversa com nossos olhos —

que nem sempre querem ver.

LA 10/009

 

 

Nossa consciência é um livro de brochura

de que ainda não abrimos

aquelas páginas coladas.

LA 10/009

 

 

O que se julga muito esperto

tem maior probabilidade

de ser enganado.

LA 10/009

 

 

O que me dá prazer

é ver que posso aventurar-me,

e não fazê-lo.

LA 10/009

 

 

Tudo, tudo sobre a terra

é apenas terra.

LA 10/009

 

 

Aos que aprenderam a doçura

não lhes importa a vida seja amarga.

LA 10/009

 

 

Se estás sereno,

as pessoas irritadas

são apenas pessoas irritadas.

LA 10/009

 

 

Quando aprendemos que Deus nos é,

saímos do deserto.

LA 10/009

 

 

Quem tem em si o Adorado

não anda atrás de CDs de adoração.

LA 10/009

 

 

Se estás Nele,

Ele te é.

Fora Dele,

há o nada

que é impossivelmente nada.

LA 10/009

 

 

Sim, abandone a idéia

de como chegar a Ele —

e já terá chegado.

LA 10/009

 

 

O efêmero

só é um modo

de compreendermos

o eterno.

LA 10/009

 

 

Passe-se a limpo,

copie-se —

até achar que ficou bom.

LA 10/009

 

 

Viver é tão bom

que a gente devia

deixar de ser bobo —

e nunca morrer.

Mas já que a bobeira

é dom incurável

façamos do hoje

um belo pretexto

pra sermos felizes.

LA 10/009

 

 

Se o teu amor for como uma grande árvore,

não tens o que temer —

vives em cada uma de suas sementes.

LA 10/009

 

 

O dia em que soubermos

quanto é um mais o infinito,

teremos conhecido a Deus.

LA 10/009

 

 

O amor e a fé

são os dois pilares

na entrada do templo.

LA 10/009

 

 

Freud:

Aonde quer que eu vá

descubro que antes de mim

um poeta esteve lá.

LA 10/009

 

 

Marilda? Fora prendada

pela vida

com aquele travesseirinho

ortopígio —

tornando altura,

ângulos, graus,

rotação e translação —

tudo perfeito.

Os que tinham a honra —

ululavam.

LA 10/009

 

 

Não raro falamos aos outros

o que precisamos ouvir,

vemos nos outros

o que pensamos não ter

e ensinamos

o que precisamos aprender.

LA 10/009

 

 

Só conseguimos falar com nós mesmos

quando fingimos falar com os outros.

LA 10/009

 

 

Com o tempo, falar

nos torna conhecidos

de nós mesmos.

LA 10/009

 

 

Calúnias e elogios andam juntos,

e isto se aplica aos vivos e aos defuntos.

LA 11/009

 

 

O mundo, a vida —

poste mijado de cachorros.

LA 11/009

 

 

Apagão.

Sem eletricidade

a civilização acaba.

LA 11/009

 

 

Bela, Tão Bela Estava...

 

Bela, tão bela estava no caixão...

Um brilho no semblante, uma leveza

de flor caída mas ainda acesa

de brisa e luz, florir não fora em vão

 

Entre o grisalho a rósea lassidão

das pálpebras cobrindo com fineza

os sonhos de rainha ou de princesa

que, já morta, em memória excitarão

 

Do calmo rosto o belo, o rico porte

não conseguiu roubar-lhe nem a morte,

nem o meio-sorriso e seu frescor

 

O rosto da defunta sugeria

o belo de um pós-gozo: parecia

ter acabado de fazer amor

LA 11/009

 

 

Nesta Altura Da Estrada...

 

Nesta altura da estrada, minha Zefa,

estamos mais pra lá do que pra cá

A qualquer hora a vida ri e blefa —

e adeus amor e pé de manacá

 

Por isso nada de triunfal tarefa —

dar em ladrão, lutar com arapuá,

discutir com o chefe ou com a chefa,

agora ser leão, depois gambá

 

A vida é o que ia, mas não foi,

não foi porque estava de pileque,

portanto foi só amolar o boi

 

Por isso, Zefa, nunca ponha em xeque

o valor da consciência organizada

Logo seremos vento e o pó da estrada

LA 11/009

 

 

Ao povo: pão e teatro.

À elite: caviar e sacanagem.

LA 11/009

 

 

Onde estiverem uma xota e um pênis

dá pra ver a fumaça

do charuto do dr. Freud.

LA 11/009

 

 

Se a vida te esnoba

e não te vem às mãos,

vai até ela, cara.

LA 11/009

 

 

Tem muita gente que sabe tudo,

e muito mais.

Sim, sabe tudo —

menos o que devia saber.

LA 11/009

 

 

— Não gosto mais de você.

— Nem eu da ex-amada.

Mas como diz o poeta:

Paris sempre nos fará sonhar —

principalmente aos que não foram lá.

LA 12/009

 

 

Mais uma vez Natal

nos faz comprar, pensar, sonhar.

E como diz uma amiga:

Nem vamos exigir mais.

Muita saúde, cambada,

e um bom punhado

de dinheiro no bolso

pra comprar bastante amor.

O amor, mesmo comprado,

é coisa chique.

LA 12/009

 

 

Seus problemas acabaram:

vem vindo aí Roxxxy,

a amante robô

com inteligência artificial.

O resto não lhe conto, imagine,

descubra você mesmo.

Roxxxy True Companion —

muito mais que uma Amélia.

As mulheres não se irritem:

vem vindo logo atrás Rocky —

Rocky True Companion.

Fartem-se!

Uns terão o gozo

da exclusividade

que tanto procuraram.

Outros perderão a delícia

de naquele tal momento

se perguntarem:

com quem será que dividi

e ando dividindo

o regalo desta hora?

LA 12/009

 

 

 

De vez em quando disque,

mande um e-mail.

Assim você conserva

os laços quase rotos

(eternamente quase rotos)

da amizade.

LA 12/009

 

 

Um dia ela me disse que não viesse mais.

Dei uma de babão:

Mas por que, meu anjo?

— Porque tenho agora namorado fixo.

— Fixo?!

— Sim, como trabalhar para ministro,

não se pode jogar fora.

Nunca mais lhe joguei pedrinhas na janela.

LA 12/009

 

 

 

Amor Com Trufas...

 

Amor com trufas, minha nega, é bom,

bem mais que bom, assim bem fatiado

e ao fogo brando e já depois flambado

num degustar marcado de batom

 

Um amor musical em vário tom

e jeito de futuro do passado

mas no momento-agora degustado

com um frufru de descascar bombom

 

Amor outono-inverno e com pantufas,

mas nem por isso a desprezar as trufas

e os pistaches de muita fantasia

 

Gostoso ual ouvir longes mugidos

que vêm acariciar nossos sentidos

ao fresco dealbar de um novo dia

LA 12/009

 

 

 

Eu? Vivo Amando...

 

Eu? Vivo amando, minha cara, vivo,

aliás, amando amores que eu invento,

tão frágeis, passageiros como o vento

Sim, no amor sou bem pouco afirmativo

 

porque aprendi a ver seu dom nevoento:

basta afirmá-lo e dele já me privo,

basta negá-lo e o vejo bem ao vivo —

além de doido, amor é fingimento

 

Mas um fingir bem mais que interessante —

dá um sentido sem sentido e em cores:

um lindo sem-sentido a cada instante

 

Quanto menos lhe exijo mais o entendo:

o amor é nebulosa em seus albores —

algo que ainda não é: futurescendo

LA 12/009

 

 

A Noite Inteira, Nega...

 

A noite inteira, nega, revirei

que revirei você em minha mente

tentando despejá-la inutilmente,

mandá-la para o quinto e mais nem sei,

 

nem sei pra que país nem tribo ou grei,

contanto me deixasse bem urgente

em paz e a sós comigo eternamente,

eternamente sem ninguém nem lei

 

E fizeram-se eternos os segundos:

me reentrava de lado e pelos fundos

de toda a mente, sem nenhum chiquê

 

Aí (que alívio!) o telefone toca,

fui atender (que alívio: me desfoca...),

fui correndo atender: era você.

LA 12/009

 

 

Ah! Onde Estão As Rosas...

 

Ah! Onde estão as rosas petulantes

que ontem riam das simples margaridas?

Bastou um vento irado, e o régio de antes

são lágrimas no chão esmaecidas.

 

Lembrei-me de teus ares elegantes,

teus gestos e palavras desmentidas...

sempre como andorinhas em rasantes

em giros de subidas e descidas.

 

Entre rosas e espinhos moram lhanos

olhares e ditosos fiéis enganos

qual labaredas de uma mesma pira.

 

Já a fala e a intenção têm um só ventre

a gestar em conluio quase sempre

um sorriso que adorna uma mentira.

LA 12/009

 

 

Viver é a mão que colhe —

vai bem além que o dicionário.

Todos querem nos ensinar,

mas só o viver é mestre.

LA 12/009

 

 

A vida pode ser uma Guantânamo,

quando você é o seu próprio carcereiro.

LA 12/009

 

 

Sou como você não me vê,

isto é, alguém bem diferente

do que se vê.

LA 12/009

 

 

O amor que invento é bem mais belo,

por isso não tenho medo de vivê-lo.

LA 12/009

 

 

Amar não é nada fácil.

Em geral não amamos o outro,

mas a nós mesmos no outro.

Não amamos as coisas,

mas o que elas nos proporcionam.

Enganoso é o coração

e o que dele procede.

LA 12/009

 

 

Se acreditas num ser ou coisa,

então te existe tal ser ou coisa.

LA 12/009

 

 

Amar alguém apaixonadamente

nos consome, desorienta —

faz viver uma felicidade

muito infeliz.

LA 12/009

 

 

Desconhecer é ter medo.

LA 12/009

 

 

Todos temos o direito

de gritar por não termos direito.

LA 12/009

 

 

Pensar nos mostra,

sentir faz ser.

La 12/009

 

 

Sim, não negue: dê a sua mão,

mas que ela seja sempre sua.

LA 12/009

 

 

Claro, dê também esmolas,

mas que não se transformem em boletos

pagáveis em dia e hora.

LA 12/009

 

 

Uma parte da humanidade

é podre, podre de rica,

de modo que só nos resta

a sua podridão.

LA 12/009

 

 

Pensava que sabia as coisas.

Depois fui vendo que se as soubesse

elas estariam mortas, aliás: eu e elas,

mortos no atempo.

Sim, viver é fluir e mudar:

um ser-viajar-se pelo tempo —

a vida é sempre outra coisa.

LA 12/009

 

 

Aceitemos o hoje

fazendo dele o material

de moldarmos o futuro.

LA 12/009

 

 

A vida,

desde o vírus até o homem e além-homem,

a vida é inteligente, astuta, maquiavélica:

atriz do palco-ser.

Só ganha sentido cósmico

quando o ser a essencializa em consciência —

em consciência a ver-se e suplantar-se,

dentro do Sonho-Quem,

no sonho-mais da existência.

LA 12/009

 

 

Muitas vezes somos um muro intransponível.

Há que termos paciência,

mas temos de passar —

pulando ou atravessando-o,

temos de passar por nós.

LA 12/009

 

 

 

Há Um Medo Gostoso...

 

Há um medo gostoso, se te espero.

O amor é sempre aquela porcelana

tão frágil sempre, sempre tão humana —

o amor é e não é: tal como um zero.

 

Sim, um medo gostoso, mas severo

como o olhar que proteje, mas esgana...

como a alma que sonha, mas se engana...

pedra rara incrustada sem esmero.

 

Sempre um medo gostoso na esperança

de se alcançar a flor que ao vento dança...

Sempre um suor a rorejar a espera.

 

Sim, um suor gostoso, mas medroso

a ponto de tirar da espera o gozo...

O amor é sempre aquilo que não era.

LA 12/009

 

 

 

Pra Te Encontrar...

 

Pra te encontrar, Amor, fui pelo avesso

das coisas, por detrás do coração,

lá onde tudo tem o seu começo,

um quase brilho num sentir razão.

 

Pra te encontrar queimei teu endereço,

rasguei mapas e fui sem direção

em andanças por mim que já nem meço

porque as andei na mão e contramão.

 

Pra te encontrar, Amor, viajei lonjuras

azuis como as que moram no horizonte

das pessoas, azul a lhes fugir.

 

E não te achei em nada que se encontre

ou que demande ânsias e procuras,

mas em apenas te deixar florir.

LA 12/009

 

 

 

Os hetero são hetero, os homo são homo.

Que assim seja e ninguém encha por demais a paciência.

Por que o exibicionismo, a imposição?!

Que apareça o humano nessas diferenças

e não as noias das desavenças.

O que importa termos em vista é que o ser humano

deve e precisa se superar:

qualquer que seja a sua situação.

Sim, minha gente: o que somos não serve —

precisamos nos superar.

LA 12/009

 

 

Não se sabe tudo

porque tudo e nada

é a mesma coisa para Deus.

O verdadeiro saber tudo

é saber nada.

Nós fingimos haver sempre outras coisas

para podermos nos enganar.

O autoengano é sempre uma delícia:

adoramos fazer que não o percebemos.

Criamos caminhos

para chegar aonde já estamos:

nem percebemos

que somos a nave e o sonho

de navegar para um aonde

que já foi nós em multitempos

de ser.

LA 12/009

 

 

No fundo sei

que me conheço mais do que eu.

LA 12/009

 

 

A beleza da vida

é que a gente corre perigo.

LA 12/009

 

 

Morrer devia ser

o único pecado.

LA 12/009

 

 

Só teremos sucesso

quando deixarmos de rastejar por ele.

LA 12/009

 

 

O sucesso dura pouco,

o fracasso também —

e este é o bem durável

que ri entre esses dois.

LA 12/009

 

 

Se Deus não existisse

teria que inventá-Lo

pra conversar com Ele

com o meu sentimento

intuindo sensações

de vê-Lo e viajar com Ele

em alma-coração

para aquela Casa em nós.

LA 12/009

 

 

Sempre nos chega a hora de sabermos

que tudo o que não sabíamos

tinha um charme irresistível

que chamávamos de felicidade.

LA 12/009

 

 

Amar é equivocar-se —

não amamos o outro,

e, sim, a nós mesmos no outro.

Porém, se isso é feito com charme,

dentro de um sonho apaixonado,

nesse caso o tal equívoco

se torna em vero amor.

LA 12/009

 

 

Os motivos não são tão bons assim,

se não temos combustível

pra levá-los a ser realidade.

LA 12/009

 

 

Morrer não é tão terrível assim,

quando o morto não é nós.

LA 12/009

 

 

Sempre que tinha saudade

corria para os meus sonhos

e a abraçava e a abraçava até o galo cantar

bem mais que três vezes.

Sim, naquele tempo havia galos

e você tinha um namorado enorme,

magro e enorme como um pé de eucalipto,

com quem você se casou

e foram felizes para sempre.

LA 12/009

 

 

Você foi minha aurora boreal

a coruscar loucuras no meu coração —

indo e vindo por mim

na trilha sonora dos seus saltos.

Além de aurora,

foi o meu pé de amora

e eu o seu bômbix,

o seu bichinho da seda

a desfolhá-la inteira,

e os nossos sonhos se teciam

devagar-devagarinho.

LA 12/009

 

 

Quando a noite é demais

é que nasce a primavera

florindo de tal modo o céu

que os olhos adoecem de desejos.

LA 12/009

 

 

— Esse Deus de que você fala, existe mesmo?

— Isso não posso lhe provar,

mas me ensina a ser melhor,

a amar ao outro e a mim,

a fazer o que é bom para mim

e ruim para ninguém,

a praticar a solidariedade, o altruísmo:

saber-me um entre os muitos

que formam a Humanidade.

— E isso basta?

— Se basta não sei,

mas estou certo

de que é o suficiente.

Agora, O que bastará

já está de volta

(em cada um que é Dele.)

E o mais é transformação,

superação

e transcendência.

LA 12/009

 

 

A poesia é a única maneira de se arrancar

algum sentido das coisas.

Sem a ousadia da poesia

tudo está fechado.

Sem ela a vida

é coração sem sangue.

LA 12/009

 

 

Com colher de sobremesa,

pequena e niquelada,

degustei um a um os teus poemas —

sabor de nina-moça despida

de si e de suas rendas

entre o macio da penumbra

e a mão florindo à espera

O branco de muitos jasmins

dão uma alma que trescala

por dentro do sonho das amadas

E a poesia gorjeia quente,

quente de queimar

coisas de seda em decotes ousados

Bela, linda a sua poesia

porque não fala nem afirma —

apenas insinua

que a vida tem razão

enquanto o amor vai pintando

com vários pincéis de luz

as paredes

que murmuram suas paisagens

e nos contam como os amantes

sabem cantar pelo nariz

uma canção bela e feliz.

LA 12/009

 

 

Os homens e as crianças

querem coisas maravilhosas,

mas assim que as conseguem,

logo se mostram displicentes —

detestam conservá-las.

Não que eu ache

que não devam fazer isso.

LA 12/009

 

 

As pessoas felizes

inventaram maneiras de ser assim

e nós as invejamos muito

por não sabermos inventar.

LA 12/009

 

 

E se Newton tivesse se assentado

debaixo de uma jaqueira?

Deveríamos estar a muitos passos lá atrás.

LA 12/009

 

 

A certa altura disse aos meus sapatos:

E agora, amigos, pra que lado vamos?

O da direita se apressou —

Por este lado aqui!

O da esquerda discordou —

Tenho certeza de que por aqui!

Coube a mim desempatar —

fomos pelo caminho do meio.

LA 12/009

 

 

Sintamos o Universo como nosso amigo,

como alguém que incuba nossos sonhos

e nos satisfará aos desejos de nosso coração —

desde que tenhamos disciplina

e usemos a vontade ativa e paciente

em direção ao alvo

do nosso saber-querer-ousar

e calar.

LA 12/009

 

 

Sim, a Vida ama e ajuda

o que é reto de coração

e tem um espírito inquebrantável.

LA 12/009

 

 

De tudo o que você é

amo a flor que você floresce

porque esta posso colher

quando quero e de muitos modos

e desejos —

sem medo de murchá-la

nem de desfolhá-la,

já que por si mesma

se refolha.

LA 12/009

 

 

Dentre as pessoas a quem você admira

inclua você —

para que se respeite

e assim cresça aos próprios olhos

para aprender a amar-se.

Seja paciente com você mesmo.

Ouça as suas razões,

conheça os seus sentimentos

e os motivos dos seus sins e nãos.

Aliás, você é aquele outro

que mais pode cuidar de si

e que cuidando de si está aprendendo

a como cuidar dos outros.

Não seja complacente nem severo

com você mesmo,

nem com ninguém —

apenas veja,

e veja-se sem medo.

Assim conseguirá amar

a si e aos outros

e nesse amor verá que Deus o é

antes de tempo-espaço —

lá onde o sonho se fecunda

de todos os possíveis.

LA 12/009

 

 

Invista bem seu tempo —

seja feliz

e ajude o outro a sê-lo.

LA 12/009