A MARGEM DE LÁ
Laerte Antonio
Tudo o que é bom
está na margem de lá:
os pígios de Deolinda,
o sorriso ( puro orgasmo )
da Francisquinha cheirosa
e frágil
que vende lingerie,
o busto da juíza Severina,
os coelhinhos de Regina,
sempre olhando para cima...
( vontade de pegá-los
pelo focinho!... )
De Regina com suas pernas
a bordar quaisquer panos...
Sem dúvida, tudo o que é bom
está na margem de lá.
Inclusive Rosinha —
apocalipticamente em riste
com suas lanças mamárias...
Sim: tudo o que é bom
está na margem de lá.
O andar saltitante
de Laurinha
que delicadamente,
divinamente leve-leve,
levitandante
( com aquele olhar e sorriso
entre o choro e o gozo )
faz deliciosas omeletes
batendo ovos
com saltos finos saltos finos...
Ah, meu Deus, e Teresa,
que enrosca no gingado
os pensamentos dos rapazes
( e os da gente, claro! )
e os faz girar na cabeça,
nos pés, nas pernas, no umbigo...
até lhes dar tonturas?!...
E Biláudia, Minha Nossa?!
Essa tal então mia...
Mia?
Sim: mia, ela mia sobre o muro
chamando os seus muitos gatos —
e começam a derrubar tijolos...
Seu miado lacera
e faz chover.
Chover?!
Chover e relampear.
E tudo na margem de lá,
tudinho.
Sim, senhor: nada pro nosso bico,
pra nossa mão,
pro nosso beiço,
pro nosso sonso
sempre sofrendo de coriza.
E viva,
viva a outra margem,
nossas secretas
alternativas.