Plumas das Asas
Se eu pudesse apagar tudo,
de tudo apagaria
só o que não pudesse
apagar —
tua lembrança:
o bom, o belo
de nos termos conhecido
e aquelas manhãs charmosas
( porque cheias de teu riso )
em que os bem-te-vis
diziam, alto e bom som,
lá por entre os pinheiros —
terem visto...
sem que ninguém acreditasse.
Se tudo pudesse
ser apagado —
eu deletava tudo
o que em nada me truncasse
o quanto te lembrasse.
Só apagava
o inapagável:
a tua parte
( aquela que não quiseste )
depois de muito tempo
em que o tempo fizera
dessa parte
pedaços de carne e alma
em mim.
Sim, mesmo se pudesse
apagar tudo,
após tudo feito nada,
desse nada nasceria
( lá de suas próprias cinzas )
aquele segredo egípcio
vindo das plumas das asas
da Fênix rediviva —
a gente sonha,
Deus consente
e a vida vai quebrando a casca
de algo que há de ser vôo
e canto.
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