PLUMAS DAS ASAS

                                Laerte Antonio

 

Plumas das Asas

Se eu pudesse apagar tudo,

de tudo apagaria

só o que não pudesse

apagar —

tua lembrança:

o bom, o belo

de nos termos conhecido

e aquelas manhãs charmosas

( porque cheias de teu riso )

em que os bem-te-vis

diziam, alto e bom som,

lá por entre os pinheiros —

terem visto...

sem que ninguém acreditasse.

 

Se tudo pudesse

ser apagado —

eu deletava tudo

o que em nada me truncasse

o quanto te lembrasse.

Só apagava

o inapagável:

a tua parte

( aquela que não quiseste )

depois de muito tempo

em que o tempo fizera

dessa parte

pedaços de carne e alma

em mim.

 

Sim, mesmo se pudesse

apagar tudo,

após tudo feito nada,

desse nada nasceria

( lá de suas próprias cinzas )

aquele segredo egípcio

vindo das plumas das asas

da Fênix rediviva —

a gente sonha,

Deus consente

e a vida vai quebrando a casca

de algo que há de ser vôo

e canto.